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A constituição de novos paradigmas científicos impõe outras dinâmicas também à análise dos dados das pesquisas científicas. De modo geral, as transformações sucessivas pelas quais têm passado a ciência evidenciam irregularidades e também rupturas, sobretudo no que tange às ciências sociais, que exigem revisitar nossas abordagens metodológicas. Nessa lógica se insere a Análise de Conteúdo, a qual cada vez mais conquista legitimidade nas pesquisas qualitativas.

Desse modo, na etapa de análise de dados dos documentos pesquisados objetivei via Análise de Conteúdo, atribuir significados a respeito do objeto de investigação, sendo a interpretação o eixo para a tessitura das tramas e das compreensões acerca dos resultados. Nesse processo, busquei a explicitação das “falas” que se constituíram em registros escritos dos sujeitos da pesquisa de onde foram extraídas as interlocuções sobre os significados de ser tutor presencial, fazendo-se as inferências necessárias para evidenciar as categorias de análise. Para tanto, no tratamento de dados da pesquisa tomei Bardin (2008) como referência principal, apoiando-me na sua proposta de Análise de Conteúdo, cuja explicitação técnica de pesquisa se constitui em:

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (...) destas mensagens. (BARDIN, 2008, p.38)

A finalidade dessa metodologia foi permitir que se sobressaíssem dos documentos analisados suas grandes linhas, suas principais regularidades e suas contradições, fornecendo indicadores úteis aos objetivos desta pesquisa. Assim, as três grandes etapas assinaladas por Bardin (2008) foram básicas nesta etapa vivida: a pré-análise, a descrição analítica com

exploração do material e a interpretação referencial com o tratamento dos resultados. A primeira etapa foi constituída pela organização do corpus da investigação, a partir da leitura flutuante dos relatórios produzidos pelos tutores. Os momentos iniciais de leitura flutuante desses documentos foram demorados, mas essenciais para o conhecimento dos textos, e a partir das minhas primeiras impressões que foram sendo delineadas, proporcionando a sistematização das ideias iniciais. Nesse processo, pouco a pouco a leitura se tornou mais precisa. Além das subseqüentes leituras flutuantes, de forma cuidadosa, comecei a extrair os aspectos que despontavam como fortes evidências nos registros de experiências vividas e significadas na tutoria presencial, e fui então delineando formas para o tratamento dessas informações e as estratégias de organização dos dados.

A etapa seguinte foi mais longa e cansativa, quando digitei e cataloguei todos os trechos dos documentos que caracterizavam episódios indicadores de significação de tutoria. Assim, os dados catalogados foram codificados a partir do desmembramento do texto em unidades menores, nas quais fui desvendando os diferentes núcleos de sentido. Essa ação investigatória constituiu-se em elencar as características pertinentes ao conteúdo expresso nos textos que evidenciaram regularidades e contradições ligadas às questões da pesquisa. Esse processo caracterizou-se pela organização das unidades de contexto, composta por parágrafos dos textos produzidos que foram frequenciais, subsidiando de forma mais organizada a transformação dos dados brutos em unidades agregadas de sentido, seguindo um processo de codificação que, segundo Bardin (2008, p.129), é pautado na transformação desses “dados brutos” em uma real representação do conteúdo, por meio de “recorte, agregação e enumeração, proporcionando ao pesquisador uma representação do conteúdo, ou da sua expressão, susceptível de esclarecer o analista acerca das características do texto, que podem servir de índices”. Dessa forma, a seleção das regras de contagem dos índices e unidades de registro, a classificação e a eleição das categorias foram os passos subsequentes.

A categorização complementou o processo, uma vez que as categorias emergiram da codificação, etapa que a autora sublinha como “uma operação de classificação de elementos

constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos” (BARDIN, 2008, p. 117). Essa presente investigação, depois de seguir todos os passos anteriormente descritos para proceder à análise dos dados obtidos, utilizei a categorização semântico-léxica, a fim de delinear suas categorias. Assim, a reflexão sobre o material reunido foi mais aprofundado, sendo orientado

pelo referencial teórico adotado, num processo contínuo de idas e vindas nos documentos analisados. Sobre essa questão, Oliveira et al (2006, p. 5) ainda ressaltam:

toda a análise de conteúdo que se faz de um texto está fundamentada em princípios filosóficos e teóricos que permeiam a estrutura de pensar de um pesquisador. A produção científica está diretamente relacionada às demandas do contexto histórico, assim como às possibilidades oferecidas ao seu desenvolvimento. O conhecimento científico resulta da ação dialógica entre as complementaridades e antagonismos da razão, da experiência, da imaginação e da verificação. Esse conhecimento não pode assim ser dissociado da vida humana e da relação social.

O processo de sistematização de dados se deu a busca do entrelaçamento com o conhecimento científico já produzido, sedimentando a investigação em andamento. May (2004) esclarece que os documentos não existem isoladamente, mas precisam ser situados em uma estrutura teórica para que o conteúdo seja entendido. Para alcançar tal entendimento na análise de dados, recorri também a contribuições de diversos autores sobre o tema, atentando para as fontes secundárias que possuem conhecimentos e informações que foram trabalhadas por outros estudiosos e por isso de domínio científico, o chamado estado da arte do conhecimento. Destarte, elaborei um quadro de referências, em que busquei agrupar sínteses coincidentes e divergentes de ideias expressas pelos tutores presenciais e após essa etapa, esses indicadores fundamentaram as inferências realizadas. Em se tratando da inferência, Bardin (2008, p. 41) enfatiza:

Se a descrição (a enumeração das características do texto, resumida após tratamento) é a primeira etapa necessária e se a interpretação (a significação concedida a estas características) é a última fase, a inferência é o procedimento intermédio, que vem permitir a passagem, explícita e controlada, de uma à outra.

Nessa etapa, a inferência promove a intercessão da descrição e características das falas e da interpretação e significação concedida a essas características. Em outras palavras, nesse momento, conforme Bardin (2008, p.43) “(...) não se trata de atravessar significantes, para atingir significados, (...) mas atingir através de significantes, ou de significados (...), outros significados de natureza psicológica, sociológica, política, histórica etc.” Dialoguei também com Triviños (1987, p. 162) para fundamentar a análise dos dados visto que o autor expõe que “(...) não é possível que o pesquisador detenha sua atenção exclusivamente no conteúdo manifesto dos documentos. Ele deve aprofundar sua análise, tratando de desvendar o conteúdo latente que eles possuem”. Em complemento, Bardin (2008) acrescenta que, para proceder ao estudo da representação de um fato deve-se apreender o que está nas entrelinhas, o não dito, é considerar a fala além da veracidade das palavras e das atitudes do interlocutor.

Assim, as inferências realizadas aprofundaram as conexões de ideias e demarcaram as condições de interpretação, dando origem a ultima etapa da análise dos dados, que exigiu um trabalho bastante denso.

Foi preciso ir além, analisando o social e o individual e a mútua relação e interposição entre ambos, considerando o indivíduo dentro um grupo social, em um contexto de múltiplas facetas e variáveis. Cabe ressaltar que, nesse contexto os dados expressos foram interpretados e contextualizados à luz da dinâmica social mais ampla, seguindo este entendimento de Teixeira (2005, p.140):

Na pesquisa qualitativa, o social é visto com um mundo de significado passível de investigação, e a linguagem dos atores sociais e suas práticas, as matérias primas dessa abordagem. É o nível dos significados, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores, que se expressa pela linguagem comum e na vida cotidiana, o objeto da abordagem qualitativa.

Assim, no tratamento dos dados, reflexões contínuas, de caráter metodológico sobre os instrumentos e a forma de análise se fizeram necessárias na busca de uma construção epistêmica coerente que subsidiasse a investigação. Partindo dos dados coletados, emergiram duas grandes categorias referentes às produções de sentidos dos tutores em relação ao “ser tutor presencial”, construídas através do processo de categorização dos registros dos sujeitos que foram as seguintes:

 a superação da inicial indefinição de uma função desconhecida para a significação da tutoria presencial como “elo” potencializador das interações, intimamente ligada à docência;

 a consciência sobre a necessidade de formação contínua alicerçando o entendimento de “ser tutor presencial como sujeito em construção”.

Ao considerar que não é objetivo desta investigação quantificar a ordem nem a frequência que ocorreram as unidades de registro, e sim, compreender as representações dos aspectos estudados, optei por analisar as categorias com base em um encadeamento lógico de pensamento estruturado, partindo dos registros dos sujeitos da pesquisa presentes nos relatórios elaborados. A seguir, emanam as categorias. Com a palavra os tutores presenciais.

5 COM A PALAVRA OS TUTORES PRESENCIAIS

Pelo menos este deveria ser nosso esforço comum: abrir o ângulo do olhar para que este possa abranger novamente todos os seres humanos, tornando-os de igual direito fruidores das conquistas do desenvolvimento. Goergen (2005)

A presente investigação proporcionou-me a apreensão de alguns significados de “ser tutor presencial” no Curso de Pedagogia a distância, a partir dos registros localizados nos relatórios elaborados pelos próprios tutores presenciais no ano de 2002. Os elementos mais potentes nesses significados perpassam o reconhecimento das fragilidades que acometem o campo educacional e que significativamente interferem no processo de ensino e de aprendizagem, nesse caso mais especificamente na modalidade EaD. Tais fragilidades correspondem à crise de um modelo de educação, estruturado no Século XIX, cujo objetivo era prover os alunos do saber acumulado. Esse saber, concebido num periodo histórico em que o acesso às informações era ainda restrito, implicava um tempo e um espaço de aprendizagem bastante rígidos. Embora amplamente combatido ao longo do Século XX, esse modelo de educação, difundido nos sistemas educacionais, apesar de discursos renovadores pelos quais vem passando, ainda estruturam os curriculos, avaliações e práticas de sala de aula, tanto na modalidade presencial quanto na modalidade a distância. Essa constatação é base para as categorias da análise que emanam, dentre elas a que segue.