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2.2 ECONOMIA CRIATIVA NO BRASIL

2.3.2 Desenvolvimento Baseado em Conhecimento e Cidades do Conhecimento

A necessidade de inventar e implementar abordagens eficientes e eficazes, de modo a gerir o conhecimento tornou-se evidente principalmente no mundo organizacional- é o desafio permanente da Gestão do Conhecimento (GC). No entanto, com o passar dos anos, a GC se tornou uma abordagem estratégica não apenas em negócios, mas em outras organizações humanas e, posteriormente, em toda sociedade. No nível organizacional, devido à complexidade e à natureza intangível do conhecimento, se percebe uma importante inadequação de padrões e escalas de avaliação.

Além disso, o surgimento das sociedades do conhecimento multiplicou a dimensão na qual a produtividade das inovações e as transformações sociais dependem do capital do conhecimento. Para Ergazakis, Metaxiotis e Psarras (2006), marcos como o discurso de Truman, o Rio 92, e tantos outros, bem como instituições internacionais orientaram no sentido de que o conhecimento poderia ser um fator crítico na busca de uma sociedade ambientalmente sustentável, economicamente próspera e equitativa e, portanto, suscetível de

ser socialmente e politicamente estável. Essas instituições internacionais - como a Comissão Europeia, a Organização das Nações Unidas e a OCDE - adotaram estruturas de GC em suas orientações estratégicas sobre o desenvolvimento global. Isso indica claramente o vínculo entre GC e DBC. Ocorre que, quando a GC passa do nível individual para organizacional e para o social, surge o DBC, em maiores âmbito e objetivo. Assim, a GC pode colaborar em um esforço multidisciplinar para desencadear o desenvolvimento potencial de indivíduos, organizações e sociedades (ERGAZAKIS, METAXIOTIS e PSARRAS 2006; CARRILLO, 2006).

Os estudos direcionados ao tema do conhecimento no âmbito local são as Cidades do Conhecimento e o Desenvolvimento Urbano Baseado no Conhecimento. Os primeiros estudos desses temas remontam a 2002, em meio ao ambiente favorável criado pela popularização da GC. Ressalta-se que a formulação de políticas ou estratégias direcionadas ao DBC e ao planejamento urbano integrado são procedimentos complexos e seu sucesso exige ao menos as seguintes condições: uma liderança comprometida com o bem-estar sustentável de sua comunidade; uma massa crítica de agentes de mudança com compreensão suficiente das diferenças qualitativas de DBC; capacidade conceitual e técnica para articular e desenvolver o sistema social de capitais; um estado rigoroso e transparente de capital social baseado no conhecimento; uma série de iniciativas estratégicas para alcançar um equilíbrio de capital ótimo; e uma rede internacional de relações com entidades líderes em inovação baseada no conhecimento (CARRILLO, 2003; 2007; ERGAZAKIS e METAXIOTIS, 2011).

Os desafios que enfrentam as sociedades modernas demandam estratégias de desenvolvimento que são baseadas em conhecimento. Segundo Ergazakis, Metaxiotis e Psarras (2006), o conceito de Cidades do Conhecimento é a estratégia que melhor cumpre esta demanda, pois pode preservar o caráter local que respeita e leva em consideração a história, as particularidades, as mentalidades e as necessidades da região em questão.

A Cidade do Conhecimento é um lugar onde novos conhecimentos são constantemente criados, possui excelência em pesquisa, estabelece um fluxo de conhecimento, investe constantemente no desenvolvimento do capital humano e na atração de imigrantes qualificados, além de ser propícia a vários tipos de inovação: tecnológica, organizacional e institucional. Por isso, a cidade do conhecimento fornece um ambiente que promove a inovação e favorece a aquisição e disseminação do conhecimento, bem como de aprendizagem (ERGAZAKIS, METAXIOTIS e PSARRAS, 2006).

O DBC visa propiciar um meio de vida simples, significativo e produtivo e que suporte a democracia participativa, onde os cidadãos compartilham as responsabilidades pelas

decisões acerca do bem-estar social. Por isso, as cidades do conhecimento se enquadram como estratégia do DBC, já que distribuem - pelo design - o conhecimento de forma eficiente entre a população; são estruturadas de forma a oferecer acessibilidade, compartilhar conhecimentos on-line entre todos os agentes do conhecimento; oferecem um ambiente onde as pessoas podem aprender, compreender e criar significado, criando cultura de aprendizagem e sustentabilidade; oferecem aos cidadãos o contexto social para a cooperação, as competências para moldar as suas condições atuais e para influenciar o seu futuro, e a possibilidade de fazer escolhas com informações, educação e formação asseguradas (ERGAZAKIS, METAXIOTIS e PSARRAS, 2006).

Além disso, as cidades de conhecimento partem da identificação, avaliação e do desenvolvimento sistemático e integrado, do seu capital de conhecimento, além do seu capital tradicional e oferecem maiores possibilidades para o Desenvolvimento Urbano (CARILLO, 2006).

Yigitcanlar (2013) adverte que regiões urbanas, para atingirem competitividade, se tornarem destino de talentos e investimentos e providenciar prosperidade e qualidade de vida para seus habitantes, precisam assumir estratégias urbanas de desenvolvimento baseado no conhecimento eficiente. O paradigma do Desenvolvimento Urbano Baseado no Conhecimento (DUBC) sugere que o futuro econômico das cidades depende cada vez mais da capacidade de atrair, gerar, manter e fomentar a criatividade, o conhecimento e a inovação e de se criar espaço e lugar para a geração de conhecimento e de comunidades de conhecimento.

O DUBC não trata apenas do processo de transformar conhecimento em desenvolvimento local, mas das dimensões envolvidas e da operacionalização desse processo. Visa gerar uma cidade propositadamente concebida para incentivar a geração, a difusão e o uso do conhecimento de forma economicamente segura, socialmente justa, ambientalmente sustentável e com um cenário de capital humano bem governado (YIGITCANLAR, 2013).

O ideal é que as estratégias de DUBC estejam no planejamento metropolitano da cidade. No entanto, até agora existe dificuldade em assumir estas estratégias e incorporá-las totalmente nos planos e projetos locais. Em outras palavras, a implementação limitada do planejamento e da prática do DUBC ou a falta deles é um dos principais problemas para alcançar as metas de desenvolvimento das cidades. (YIGITCANLAR, 2013).

Sob o aspecto de o desenvolvimento baseado no conhecimento representar “sistemas de valores e não algo concreto” reside um dos motivos da sua dificuldade de mensuração. Maciel e Albagli (2004) afirmam que a dificuldade em se determinar instrumentos capazes de

verificar e avaliar os processos e a intensidade da circulação de informações e conhecimentos, bem como seu papel para o dinamismo socioeconômico local, reside em captar e avaliar os fluxos de conhecimento tácito, especialmente os gerados de maneira não intencional. Assim, um dos desafios de mensurar o DBC deriva das dificuldades da dificuldade de medir valores não monetários, uma vez que não se constitui em fenômeno baseado no material:

Enquanto o primeiro (fenômeno baseado no material) conta com motivos muito mais familiares e realidades físicas relativamente melhor compreendidas, o último (fenômeno baseado no conhecimento) conta com territórios menos formalizados e comparativamente inexplorados de realidades representadas (psicológicas ou baseadas no conhecimento), tais como sinais, figuras, textos, imagens, memórias, iniciativas e visões (CARRILLO, BATRA, 2012, p.2, tradução nossa).

Nesse sentido, são necessárias ferramentas diferenciadas de mensuração para melhor capturar, diagnosticar, planejar, acessar, aprimorar e reconhecer as políticas e programas de DBC. A mensuração é uma parte integral da pesquisa, desenho e aplicação de atividades. Carrillo (2006) propõe uma taxonomia para um sistema de categorias de valor formado por uma estrutura de capitais. O sistema de capitais é um constructo que desdobra medidas específicas de DBC. Por isso, pode ajudar a compreender onde está o valor e o potencial existente em vários setores da economia nacional (CARRILLO e BATRA, 2012; ERGAZAKIS e METAXIOTIS, 2011; CARRILLO, 2006).

Além do sistema de capitais, proposto nesta pesquisa, existem outras iniciativas de mensuração do DBC, como as pesquisas de Passerini (2007), mencionadas por Ergazkis e Metaxiotis (2011). Além disso, têm surgido esforços de colaboração internacional relacionados ao tema, a exemplo do programa de pesquisa em métricas de DBC do Tecnológico de Monterrey, no México, patrocinado pelo World Capital Institute, que iniciou em 2009 com o objetivo de suplementar a consulta anual para determinar os vencedores do prêmio Most Admired Knowledge City (MAKCI). O prêmio MAKCI iniciou em 2007 e foi criado para identificar e reconhecer essas comunidades de todo o mundo que estão se engajando com sucesso nos processos formal e sistemático de DBC sob a bandeira das Cidades do Conhecimento (CARRILLO e BATRA, 2012; ERGAZAKIS e METAXIOTIS, 2011).

De forma a fomentar o processo de DBC, o SC foi o meio de análise escolhido, já que se apresenta como forma de construir uma taxonomia que seja completa e consistente o suficiente para englobar a identificação, classificação e avaliação do valor do conhecimento. Isso com o objetivo de que o pensamento econômico tradicional possa progressivamente abranger as reduzidas práticas de gestão do capital intelectual e, assim, construir uma cultura

de conhecimento. E, ademais, o próprio prêmio MAKCI utiliza uma taxonomia adaptada do SC, por se apresentar mais adequada à aplicação do estudo do DBC.

2. 4 SISTEMA DE CAPITAIS

O sistema de capitais é um constructo que desdobra medidas específicas de DBC. O SC propõe uma taxonomia completa e consistente para englobar a identificação, classificação e avaliação do valor do conhecimento social e organizacional. A taxonomia está integralmente apresentada em Apêndice A. Isso, com o objetivo de que o pensamento econômico tradicional possa progressivamente abranger as reduzidas práticas de gestão do capital intelectual e, assim, construir uma cultura de conhecimento. Por isso, pode ajudar a compreender onde está o valor e o potencial existente em vários setores da economia nacional (CARRILLO e BATRA, 2012; ERGAZAKIS e METAXIOTIS, 2011; CARRILLO, 2006).

Essa sessão tem o objetivo de apresentar o embasamento teórico do sistema de capitais, já que ele integra um campo do conhecimento abrangente, o desenvolvimento baseado no conhecimento. Mesmo assim, o SC, antes de uma teoria, constitui-se numa metodologia, a qual será aplicada pela presente pesquisa, razão pela qual está também incluído no capítulo dos aspectos metodológicos.