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Quando um profissional pretende fazer uma intervenção numa comunidade a fim de a desenvolver, nos parâmetros que pretende, deve de ter em conta o indivíduo que faz parte da mesma. Segundo a UNESCO, comunidades “são as redes de pessoas cujo o sentido de identidade ou ligação deriva de uma relação historicamente partilhada que está enraizada na pratica de transmissão, ou envolvimento, do seu património cultural imaterial” (Cabral, 2009, p.12). Como tal deve de ter em conta as pessoas que dão sentido à comunidade e para isso o profissional terá de se aproximar do Outro “aquele que, como nós, é também um sujeito e, como tal, detentor de uma vida interior e de uma história radicalmente singular” (Baptista, 2006, p. 244).

Como acima referi, há que ter em conta que o Outro faz parte de uma comunidade. Segundo Baptista (2006) a “comunidade é o lugar humano onde se aprende a ser próximo do próximo. Um lugar feito de vizinhanças e de histórias comuns” (idem, p. 245), este lugar não está limitado por fronteiras físicas, muito pelo contrário, trata-se de um espaço rico em valores, normas, hábitos que pertence a pessoas que lhe conferem a sua identidade.

A comunidade, no que toca à terceira idade, tem um papel fulcral na promoção de bem-estar e qualidade de vida da pessoa idosa. É na comunidade que se criam laços de vizinhança e relações pessoais para toda uma vida. “A existência de relações sociais significativas é considerada como protectora da saúde mental dos indivíduos, actuando como “almofada” e/ou facilitadora da cura em situações de descompensação” (Paúl, 2005, p. 37). O ser humano é um ser social, e por isso sentirá sempre, ao longo da sua vida, necessidade de relacionar-se com os outros. Neste sentido Araújo & Melo (2011) defendem que se

“o envelhecimento for acompanhado por um investimento e um interesse nas relações com os outros, promover-se-á um sentimento de plenitude e de preenchimento do dia-a-dia. Na realidade, a capacidade de interagir socialmente é fundamental para o idoso conquistar e manter as redes de apoio social e garantir uma maior satisfação com a sua vida” (p. 142).

31 Ao ser promovido o desenvolvimento comunitário, está também a ser desenvolvida a qualidade de vida da população. “Por tudo isto, é necessário investir em oportunidades de miscenagem social e cultural, o que, em termos educativos, se traduz na promoção de uma multiplicidade de interações pessoais diversas, surpreendentes, plurais” (Baptista, 2006, p. 246), ou seja, é necessário investir no desenvolvimento comunitário.

Ander-Egg (1980) carateriza desenvolvimento comunitário como sendo

“uma técnica social de promoção do homem e de mobilização de recursos humanos e institucionais, mediante a participação activa e democrática da população, no estudo, planeamento, e execução de programas ao nível de comunidades de base, destinados a melhorar o nível de vida” (Ander-Egg, 1980 citado por Carmo, 2007, p. 84).

Logo

“é fundamental investir no desenvolvimento local das comunidades devendo a animação ter um papel fundamental na motivação e na consciencialização das pessoas, para que sejam elas próprias a ter noção do que é preciso mudar e estar directamente implicadas no processo de mudança” (Fontes, 2011, p. 206).

Nos dias de hoje, em que o tempo (para as pessoas mais novas) passa a correr, é na pessoa idosa que reside esse tempo para manter viva a sua memória são estes os informadores que o profissional de desenvolvimento comunitário deve de privilegiar é fundamental que nestas intervenções o vetor de relação vá no sentido de trabalhar com as pessoas e não apenas para as pessoas, assim o trabalho realizado na comunidade tem sentido, pois são os próprios indivíduos que escolhem o caminho que querem seguir promovendo assim o seu desenvolvimento, construindo o seu projeto de vida (Baptista, 2006).

A intervenção na terceira idade terá de ser contextualizada, queremos dizer com isto que, é importante o profissional entender o contexto onde o idoso está inserido para poder intervir da forma mais adequada, ou seja, a comunidade à qual pertence o indivíduo tem um papel fulcral pois é nela o idoso participa. Assim sendo a

“a participação na vida comunitária é importante em todos os momentos, mas particularmente, para a pessoa que chegou à idade de reforma se manter activa, sendo que esta participação é importante porque permite, entre outros aspectos, novas relações sociais, redes de contacto, associativismo e voluntariado e um melhor conhecimento de si próprio” (Galinha, 2009, p. 98).

Para Talesco (2004),

“sentir e contar histórias em comum significa dar possibilidade de criação e fortalecimentos comunitário. Os idosos por nós entrevistados determinam um tempo de pertencimento, que

32 não é o de “hoje”, tempo esse de criação e participação ativa no seio comunitário, de identificação de um sentimento de um agir regido pela profunda autodeterminação de si” (Talesco 2004, citado por Bezerra e Lebedeff, 2012, p. 1297).

Neste trabalho, o animador deve de ter em conta que está a trabalhar com os indivíduos para assim provocar o desenvolvimento dos mesmo e da comunidade, neste sentido há que ter em conta que é um trabalho sociocultural e não cultural que está a ser promovido.

É neste sentido, de ouvir as pessoas e perceber o quão é importante para elas reviver e recordar as memórias da sua história de vida que enquanto investigadora, fui ao encontro de três idosas que narraram partes da sua vida. Nesse momento

“o narrador está presente ao lado do ouvinte. Suas mãos, experimentadas no trabalho, fazem gestos que sustentam a história, que dão asas aos fatos principiados pela sua voz. Tira segredos e lições que estavam dentro das coisas, faz uma sopa deliciosa das pedras do chão, como no conto da Carochinha. A arte de narrar é uma relação alma, olho e mão: assim transforma o narrador sua matéria, a vida humana” (Bosi, 1994, p. 90).

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Capítulo 2