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Desenvolvimento / Construção Sustentável

2. ESTADO DO CONHECIMENTO

2.2. Desenvolvimento / Construção Sustentável

Como é consabido, a indústria da construção representa uma grande fatia no consumo de recursos naturais e produção de resíduos, gerando enormes impactos ambientais. Sendo este setor uma peça fundamental para o desenvolvimento económico das sociedades, revela-se um veículo indispensável para implementar e desenvolver um mundo sustentável (MMA, 2012).

Segundo Sage (1998), um mundo sustentável depende do progresso económico, social, cultural e tecnológico. Para o alcançar é necessário ter especial atenção à preservação dos recursos naturais. Aqui assenta o conceito de desenvolvimento sustentável, pois este refere-se, em essência, ao cumprimento das necessidades humanas através dos progressos simultâneos – socioeconómico e tecnológico – sem descurar a conservação dos sistemas naturais da terra.

A referência a desenvolvimento sustentável surgiu, pela primeira vez, em 1987, no Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, intitulado “Nosso futuro Comum”. Este notável relatório veio estabelecer uma ligação entre uma redução da pobreza, uma melhoria do estado do ambiente e justiça social, através do crescimento económico sustentável. Dentro das medidas de ação propostas, destacam-se as seguintes (Dolceta, 1987):

 Garantir a provisão de alimentos a longo prazo;

 Preservar a biodiversidade;

 Diminuir o consumo de energia e melhorar as tecnologias baseadas nas energias renováveis;

 Desenvolver a produção industrial nos países não industrializados, com tecnologias de impacte ambiental reduzido.

A partir do lançamento deste relatório foram desenvolvidas várias iniciativas (a nível local, nacional e global), no sentido de abordar estes problemas. Este documento tornou mais nítido o longo caminho a percorrer para atingir um futuro sustentável.

O conceito de desenvolvimento sustentável foi, entretanto, adquirindo um estatuto de elemento chave no desenvolvimento político, tanto no plano nacional como internacional, passando o Desenvolvimento Sustentável a ser entendido, a partir da definição contida em tal relatório, como sendo um “desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”. Ou seja, o visar atingir um nível satisfatório de desenvolvimento social e económico e de realização humana e cultural, mediante um uso razoável dos recursos naturais, preservando as espécies e os habitats naturais.

O Desenvolvimento Sustentável divide-se em três frentes:

Sustentabilidade Ambiental

Consiste na manutenção sustentável das funções e componentes do ecossistema.

As Nações Unidas procuram garantir ou melhorar a sustentabilidade ambiental, através de três objetivos principais (Senado, 2005):

1. Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos naturais;

2. Reduzir para metade a proporção de população sem acesso a água potável e saneamento básico;

3. Alcançar, até 2020, uma melhoria significativa em, pelo menos, cem milhões de pessoas, ainda a viver abaixo do limiar da pobreza.

Sustentabilidade Económica

É entendida como a capacidade de produção, distribuição e utilização equitativa das riquezas produzidas pelo Homem. Incorpora um conjunto de medidas políticas que visam a incorporação de preocupações e conceitos ambientais e sociais.

Os conceitos tradicionais têm como mais-valia ou ente maior a vertente financeira. Há que adicionar as vertentes, ambiental e social, que vão determinar um uso mais correto dos recursos usados na construção (Media, 2007).

Sustentabilidade sociopolítica

Centra-se no equilíbrio social, tanto na vertente social como socioeconómica. Neste sentido, foram desenvolvidos dois grandes planos: Agenda 21 e Metas de desenvolvimento do Milénio (Silva & Shimbo, 2002).

A Agenda 21 foi adotada, em 1999, pela CIB (Internacional Council for Building). Consiste num documento assinado por vários governos, incluindo o Português, e que procura ligar a proteção do ambiente ao desenvolvimento económico e coesão social. Esta Agenda determina que o poder local deverá dialogar com os seus cidadãos, organizações locais e empresas privadas e adotar uma “Agenda 21 local”. (Media, 2007) A “Agenda 21 local” estará preenchida com recomendações e referências específicas, adequadas à realidade e contexto de cada região, sobre como alcançar um desenvolvimento sustentável (Casagrande, Lima, Silva, & Robaina, 2003).

As “Metas de desenvolvimento do Milénio”, documento desenvolvido pelas Nações Unidas e que consolidou várias metas estabelecidas nas diferentes conferências realizadas ao longo dos anos 90, originou um conjunto de objetivos para o desenvolvimento e a erradicação da pobreza no mundo. Foram identificados oito objetivos e, destes, destaca-se a necessidade de garantir a sustentabilidade ambiental (PNUD).

O sector da construção surge com um papel de destaque no desenvolvimento sustentável, em qualquer das três frentes em que o mesmo se subdivide, ou não fosse este um sector que proporciona um forte incremento na qualidade de vida das pessoas e é fundamental para potenciar o desenvolvimento económico.

Como já se referiu, a construção tem grande impacto no que respeita ao consumo de recursos, sendo, por isso, indispensável explorar o conceito de Construção Sustentável.

Em 1994, realizou-se, na Florida, a Primeira Conferência Internacional sobre Construção Sustentável ("The First International Conference on Sustainable Construction"), então patrocinada pelo Rocky Mountain Institute, da Universidade da Florida, e a CIB - International Council for Building Research Studies. Aí surgiram diversas propostas no sentido de definir o conceito de construção sustentável (Pinheiro, 2006).

A partir deste embrionário esforço foram desenvolvidos alguns conceitos de construção sustentável.

Segundo o relatório de Bruntland / ONU, Construção Sustentável “consiste num sistema construtivo que promove alterações conscientes no entorno, de forma a atender as necessidades de edificação, habitação e uso do homem moderno, preservando o meio ambiente e os recursos naturais, garantindo qualidade de vida para as gerações atuais e futuras” (Aqualung).

Já Charles Kibert, em 1994, define Construção Sustentável como a "criação e gestão responsável de um ambiente construído saudável, tendo em consideração os princípios ecológicos (para evitar danos ambientais) e a utilização eficiente dos recursos" (Pinheiro, 2006).

Existem seis princípios para a Construção Sustentável, segundo Khalfan (2002):

1. Minimização do consumo de recursos; 2. Maximização da reutilização de recursos; 3. Uso de recursos renováveis e recicláveis; 4. Proteger o meio ambiente;

5. Criar um ambiente saudável e não tóxico;

6. Promover a qualidade em todas as fases do ciclo de vida no ambiente construído.

São sugeridos três moldes de atuação por via dos quais a indústria da construção pode contribuir para realizar os princípios da construção sustentável supra mencionados (Khalfan, 2002):

 Criar um ambiente construído para uma melhor qualidade de vida;

 Restaurar ambientes danificados e/ou poluídos;

 Melhorar ambientes áridos.

Verifica-se, assim, que a expressão “construção sustentável” é normalmente usada para descrever a aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável à indústria da construção; indústria da construção, nos moldes em que aqui é caracterizada, engloba todos os que produzem, desenvolvem, planeiam, projetam, constroem e / ou alteram o ambiente construído, fornecedores, fabricantes dos materiais, clientes, usuários finais e ocupantes. Portanto, a construção sustentável pode, e deve, ser descrita como um subconjunto do desenvolvimento sustentável.

Khalfan (2002) sugere que, para atingir a construção sustentável, a indústria tem de mudar os processos de criação dos ambientes construídos. A indústria usa energia, material e outros recursos para criar edifícios e outros projetos de engenharia civil, sendo que um dos resultados – este, nefasto – que deriva destas atividades é a produção de um grande volume de resíduos. O converter deste processo linear num processo cíclico trará um aumento do uso de materiais reciclados e / ou reutilizados e de recursos renováveis, bem como uma redução no uso de energia e recursos naturais poluentes e / ou finitos.

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