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Desenvolvimento de trabalho pessoal

No documento Acção gráfica do(no) quotidiano (páginas 137-141)

No primeiro dia da segunda semana procedeu-se a uma discussão de grupo com vista a elucidar os elementos da turma da prossecução de um objeto de trabalho que seria desenvolvido de forma pessoal. Os workshops que iriam acontecer durante as manhãs (manhãs de terça, quarta e quinta feiras) seriam facultativos e serviriam de complemento a esse desenvolvimento de trabalho pessoal, proporcionando novas ferramentas, novas formas de experimentação e, por conseguinte, novas abordagens a considerar para o objeto de trabalho. Considerando os meus objetivos iniciais quando me inscrevi neste curso decidi rebuscar algum do trabalho que já havia sido desenvolvido no âmbito da dissertação. Peguei, por isso, no elemento dos sacos plásticos. O Processo subsequente encetado nos 4 primeiros dias desta semana encontra-se já descrito no cap. III da dissertação, e constitui pate integrante do processo criativo da sua componente prática.

Paralelamente, decorreram os workshops que na verdade não resultaram num contributo direto para o desenvolvimento do presente trabalho.

No primeiro workshop, que ficou sob a orientação da artista Sarah Mcdonald, fez-se uma minúscula introdução à preparação de superfícies em papel para pintura. No decorrer do workshop, houve lugar a uma conversa informal sobre o prisma pessoal daquela artista acerca da definição de desenho, com particularidade para os trabalhos de preparação que ela executa antes das obras em pintura definitivas. Essa conversa foi mais tarde formalizada por e-mail e recuperada para as conclusões do cap. II desta dissertação.

No workshop do dia 3, foram introduzidos métodos de moldagem de baixa tecnologia, sendo o gesso o principal material em exploração. A experimentação produziu um trabalho de resultados interessantes, com potencial para serem explorados no futuro, mas que infelizmente não tinham enquadramento para o trabalho que eu estava a desenvolver (fig. 32).

a) b) c)

Fig. 32 – Três etapas de uma experimentação com gesso e uma das réplicas dos sacos (para alcançar the ‘bagness’ of the bag).

Segundo Max Holdaway, o monitor deste workshop, a intenção desta experimentação era criar uma condição que mostrasse the ‘bagness’ of the bag6. O conceito era interessante, mas, como referi, sem aplicação imediata.

No dia seguinte, Jim Hobbs orientou um workshop sobre a dimensão do tempo no desenho. Essencialmente, abordaram-se várias técnicas de projeção (projeção vídeo digital, 16 mm e com retroprojetor), demonstrando várias possibilidades dentro de cada técnica, e desenho direto em película cega de 16 mm (figs. 33 e 34).

a) b) Fig. 33 – Demonstração de possibilidades de projeção.

Fig. 34 – Desenhando diretamente em película cega de 16 mm com um estilete.

Apesar de o trabalho em película de 16 mm se ter revelado interessante, este

workshop permitiu executar a obra da fig. 35, mas, em última análise, não contribuiu para

um resultado assertivo que pudesse ser integrado no trabalho que estava a desenvolver para a dissertação.

a) b) Fig 35 – Duas possibilidades de trabalho com projeção.

O último dia da semana foi reservado a uma crítica/discussão em conjunto dos trabalhos e dos processos efetuados ao longo da semana. A parte relevante dessa discussão encontra-se apontada no cap. III.

Atividade extracurricular: a palestra de Neil Spiller.

Durante o curso, e fora do horário de laboração das aulas, tiveram lugar diversas palestras ministradas tanto por autores convidados pela escola como por antigos alunos (também convidados). Nesse conjunto de palestras apenas ressalvo como digna de nota a palestra proferida por Neil Spiller. O potencial contributo da obra deste arquiteto confirma-se na forma de uma referência efetiva quando se discute a evolução dos paradigmas do desenho (ver cap. II da dissertação).

De postura serena e humor subtil, Neil Spiller construiu para si um mundo de arquitetura ideal – e idealista – que só teria concretização possível no acaso do encontro de uma conta bancária multimilionária e uma grande dose de loucura numa mesma pessoa. Desse seu mundo arquitetónico chegam-nos apenas os desenhos que ele executou ao longo dos anos, produzidos por si ou, em certas ocasiões, em colaboração com outros artistas e arquitetos. Esses desenhos são a única concretização – para já – possível da sua arquitetura, constituindo per se autênticas obras de arte.

Considerações finais

Os exercícios do segundo dia foram bastantes desafiantes ao retrataram a racionalidade da noção de observação, transferindo-a ou transpondo-a para outra dimensão, para a dimensão de perceção de coisas globais, de imagens, de espaço e não de regras ou símbolos. A cognição do mundo à nossa volta é feita por um misto de interpretações processadas por ambas as partes – direita e esquerda – do cérebro. Porém, nos exercícios do segundo dia ao colocar o foco na observação do espaço que nos rodeia com o lado direito do cérebro, afetaram o modo como agora observo esse espaço: como orientar a minha consciência quando observo uma porção desse espaço?

O potencial do desenho como construção (ver exercício do terceiro dia) evidenciou bem a importância da materialidade na execução de uma obra gráfica. Esta foi uma componente importante para os meus trabalhos futuros, tomando em linha de conta a superfície e a sua materialidade na representação. A exploração desta componente contribuiu também para a minha parametrização do desenho no campo expandido. Além disso, o exercício do terceiro dia mostrou também que se ultrapassou a fronteira entre duas e três dimensões numa obra gráfica, transpondo elementos do desenho (linha, textura, tom, valor) para a materialidade do papel (dobra, corte, rasgo, rugosidade). Definitivamente, um desenho não mais se detém nos limites da moldura folha de papel. A folha de papel, ela própria, passa a ser uma componente gráfica da obra.

A questão subjacente ao curso era enfrentar e conseguir explicar os novos paradigmas formais das construções do desenho. No meu entendimento, pelo que observei para mim próprio e pelo que observei através dos meus colegas, o curso foi bem-sucedido, tendo sido capaz de partir os pés de barro – pelo menos os meus – e dessa forma contribuir para um melhor entendimento da disciplina do desenho. Apesar de ter sido necessária uma certa clivagem de assuntos, técnicas e abordagens, o curso também serviu como agente coadjutor da componente prática da dissertação.

No documento Acção gráfica do(no) quotidiano (páginas 137-141)