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2 DESENVOLVIMENTISMO VERSUS COLONIALISMO

2.2 Desenvolvimento e dependência.

Em 1940 o Brasil participou da I Reunião de Consulta de Chanceleres das Repúblicas Americanas, para definir a estratégia de defesa do hemisfério ocidental, quando decidiu pela neutralidade e garantia do suprimento de matérias-primas aos EUA.

A Segunda Reunião de Consulta de Chanceleres, em Havana, também em 1940, produziu a Declaração de Assistência Recíproca e Cooperação para a Defesa das Nações Americanas, garantido a aliança dos Estados Americanos, no esforço de guerra.

Em março de 1942, na Terceira Reunião de Consulta de Chanceleres Americanos foram fechados os acordos em represália ao torpedeamento de cinco navios brasileiros, por submarinos supostamente alemães. Na Conferência Pan- Americana do Rio de Janeiro de 1942, o Chanceler Oswaldo Aranha, anunciou o rompimento de relações com as potências do Eixo.

Historiadores revisionistas atualmente crêem que foi uma pressão dos EUA para que o Brasil rompesse com os países representantes do Eixo, ameaçando tomar o Nordeste do Brasil, militarmente, caso Getúlio tivesse ficado do lado do Eixo. O historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira afirmou que os Estados Unidos invadiriam o Nordeste, caso Vargas mantivesse a neutralidade do Brasil. Para não perder o arquipélago de Fernando de Noronha para os americanos, que desde o século XIX vinha sendo assediado, dada sua importância geográfica para a

construção de bases militares, Vargas negociou a aliança do Brasil aos Aliados (ISTOE, 2010).

A estratégia de barganha adotada pelo Brasil, que acreditava ser possível naquele momento de cooperação político-militar em troca de ajuda econômico- financeira e técnica foi frustrante para o governo Vargas, o que não deixou de contribuir essa experiência de cooperação bilateral para o desenvolvimento econômico brasileiro. A Comissão Mista Brasil – Estados Unidos (CMBEU) evidenciou a desproporção de poder nas negociações entre os dois países, e as suas concepções divergentes sobre o desenvolvimento econômico para a América Latina. Enquanto o governo norte-americano empenhava-se na vertente estratégico- militar, os latino-americanos queriam resolver seus problemas sócio-econômicos e estimular seu desenvolvimento (DALIO et al., 2010).

Conforme as exigências norte-americanas, o apoio financeiro só poderia realizar-se após a assinatura de um polêmico acordo militar, no qual se obteria material bélico dos EUA em troca de minerais estratégicos. Este mecanismo, na visão dos nacionalistas brasileiros, representaria para o país trocar muito por nada porque o armamento entregue ao Brasil já se encontrava obsoleto, enquanto que as matérias-primas enviadas eram de excelente qualidade (HAFFNER, 2002).

O diálogo assumiu caráter de urgência no começo de 1951, motivado pela Guerra da Coréia. A promessa das autoridades norte-americanas, em julho de 1950, de conceder ao Brasil crédito de US$ 250 milhões e outro adicional de US$ 100 milhões, junto ao Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) e com a esperança de créditos do Export & Import Bank (EXIMBANK), tomaria forma em exigências de compromissos do governo brasileiro com o esforço de guerra dos EUA (HILTON, 1981 apud DALIO et al. 2010). Ao término da II Guerra Mundial, houve um movimento radical de transformações na lógica da produção capitalista mundial e o papel reservado a América Latina era de ser fornecedora de matérias-primas aos países centrais.

No pós-guerra, os EUA eram a maior potência econômica e industrial do ocidente, tendo substituído a Inglaterra a partir dos anos 20. Com a guerra, este papel de potência mundial ficou ainda mais claro o que permitiu estabelecer uma nova ordem econômica comandada por este país.

Em fevereiro de 1951, o Secretário Adjunto para Assuntos Latino- Americanos, Edward Miller, veio ao Rio de Janeiro referendar às autoridades

brasileiras a promessa de concessão de créditos e as expectativas de formação de uma comissão técnica mista, feita ainda sob o governo Dutra, que tratava de pôr em execução o famoso Ponto IV, anunciado no discurso de posse de Harry S. Truman, na presidência da república dos Estados Unidos da América, em janeiro de 1949. Esse pronunciamento previa mais assistência técnica para o mundo inteiro, já que os EUA não dispunham de recursos para atender a demanda de cada país. Assim enviariam especialistas, que pudessem fornecer um diagnóstico para os investimentos privados. Para Campos (1994 apud DALIO et al. 2010) o Ponto IV não alterou nem ampliou a ajuda americana para as economias menos desenvolvidas da América Latina. Ao Brasil caberia, em retribuição, facilitar a remessa de minerais estratégicos para os Estados Unidos, ainda que desejasse a instalação no país das indústrias ligadas ao processamento de tais recursos (GV 51.02.19/1 apud DALIO et al. 2010). A CMBEU era composta pelo economista e diplomata Roberto Campos, como conselheiro econômico, pelo geólogo e diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Glycon Teixeira, pelo executivo da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) Lucas Lopes, pelo ex-funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU) Vitor da Silva Alves representando o BIRD, o embaixador dos Estados Unidos Merwin Bohan e pelo economista do Banco Mundial J. B. Knapp (CAMPOS, 1994 apud DALIO et al. 2010). Eles produziram o relatório ABBINK, cujo objetivo era apresentar os entraves econômicos que emperravam o desenvolvimento econômico brasileiro. Otavio Gouveia de Bulhões e Eugenio Gudin foram os técnicos brasileiros responsáveis pela elaboração e apresentação do relatório ABBINK, que indicavam a necessidade de investimentos em ferrovias, energia elétrica, modernização de portos e construção de silos e armazéns (IDEM, 2010).

O Eximbank e o BIRD aprovaram financiamentos, para serem aplicados na construção de ferrovias e fornecimento de energia elétrica, recursos de valor inferior ao esperado pelo governo brasileiro. A três meses antes das eleições americanas, que dava certo a vitoria do Partido Republicano, opositor do governo de então, o EXIMBANK autorizou mais um novo financiamento ao Brasil, destinados a exploração de manganês no Amapá; ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), que financiava compra de equipamentos no exterior; e a construção de usinas siderúrgicas, sendo o ultimo projeto da CMBEU, aprovado pelo EXIMBANK, destinado a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em 1952 (GV

52.05.26 apud DALIO et al. 2010). Em fevereiro de 1953 a divida externa brasileira chegava a US$ 450 milhões, referentes aos projetos advindos da CMBEU, sendo empréstimo de US$ 300 milhões pagáveis em três anos, obtidos do EXIMBANK, sendo apenas US$ 120 milhões concedidos, US$ 52 milhões em fase final de negociação, US$ 100 milhões para projetos em estudos nos bancos e US$ 138 milhões para projetos em elaboração no Brasil, totalizando US$ 410 milhões e US$ 40 milhões advindos do BIRD (CRUZ, 1983 apud DALIO et al. 2010). Ainda assim, a CMBEU, em acordo com o Plano de Reaparelhamento Econômico, elaborou quarenta projetos individuais dos quais seriam financiados em cruzeiros pelos governos federal e estaduais, e os outros seriam concedidos pelo BIRD ou pelo EXIMBANK.

Vargas estava ciente da oportunidade transitória que a Guerra da Coréia oferecia para negociar com os EUA. O Brasil deveria ganhar tempo. Com o fim do conflito asiático em 1953, o poder de negociação do governo brasileiro se enfraqueceu ao mesmo tempo em que a oposição interna ganhava força. Apesar do fracasso político e econômico da CMBEU, foram aprovados importantes projetos de industrialização do governo Vargas (DALIO et al., 2010).

O ano de 1954 manifestou uma grave crise política no Brasil, quando o ex-ministro João Neves da Fontoura trouxe a público uma correspondência secreta entre Vargas e o presidente da Argentina, Juan Domingo Perón, na qual se cogitava a formação de uma república sindicalista no Brasil e também a de um pacto entre Brasil e Argentina, em conjunto com o Chile, o PACTO DO ABC, que teria como objetivo formar um bloco continental de oposição aos Estados Unidos (CPDOC-FGV, 2014). Getúlio convocou uma reunião ministerial na noite do dia 23 de agosto de 1954, assistida por sua filha Alzira e João Goulart, quando ao final, Vargas decidiu licenciar-se do governo por 90 dias.

No dia 24 de agosto, Getúlio foi informado que estava sendo investigado pela "República do Galeão", nome dado à operação da Aeronáutica que se investira de funções policiais para apurar o atentado da Rua Toneleros contra Carlos Lacerda. Foi-lhe comunicado que os militares consideraram definitivo o seu afastamento do poder. A licença fora convertida em veto militar. O Palácio do Catete já estava protegido com trincheiras de sacos de areia. A possibilidade de uma guerra civil era considerada uma ameaça real. Por volta das 8:30h Getúlio Vargas se suicidou (CPDOC-FGV, 2014).