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DESENVOLVIMENTO E EXECUÇÃO DÉ PRODUTOS

Biblioteca Universitária UFSC

DESENVOLVIMENTO E EXECUÇÃO DÉ PRODUTOS

EXPERIM ENTAIS O E B I G N E T E C N O L O G I A A P L I C A D O S A P R O D U T O S D O M É S T I C O S E M G R Ê 8 . c e r â m i c o'

Este capítulo está dividido em três partes, sendo a primeira referente ao estudo, com corpos de prova, da relação forma-mate- rial, realizado no Brasil; a segunda, ao d e ­ senvolvimento e produção experimental de uma linha de “louça de mesa"; e a terceira, referente a um estudo de decoração, reali­ zado no Brasil e em Portugal.

Descreve atividades experimentais realiza­ das com o objetivo de mostrar a possibili­ d a d e do uso do d e s i g n no de senvolvi­ mento de novos produtos em cerâm ica. Avalia as relações entre material e forma, e a p re s e n ta o desenvolvimento e execução de uma linha experimental de louça de me­ sa, utilizando metodologia e técnicas já sis­ tem atizadas, a p licadas a m atérias-primas c erâm icas diversas, comparando-as entre si e com aquela formulada com a matéria- prim a proposta, a n a lis a d a no capítulo 2. Também a p r e s e n ta um breve estudo de d ecoração experimental realizado.

Estes estudos foram realizados no Brasil (na UFSC, em Santa Catarina, na UFPR e na UEPG, no Paraná), bem como no estágio em Portugal, no Centro de Formação Profissional p ara a Indústria C erâm ica - CENCAL. Contou ainda com uma p e s q u i­

sa da “tendência internacional do d e s ig n de produtos cerâm icos para uso dom ésti­ co", realizada no norte da Itália (em Milão, Verona, Bolonha e Faenza), na Espanha (na região da Galícia), e em Paris, na França, além do contato com tecnologia e sp e c ífi­ ca pa ra a produção de louça de m e s a e metodologias de d e s i g n aplicadas a esta área, em Portugal.

3 . 1 R E L A Ç Ã O F O R M A - M A T E R I A L 3 . 1 . 1 . C O N C E I T O

A relação forma-material já é bastante ex­ p lorada em diversos m ateriais, com o os polímeros, os metais e os vidros. N estes materiais, diversos estudos têm sido d e ­ senvolvidos, visando reduzir custos d e c o r­ rentes de formas ou pro ce sso s in a d e q u a ­ dos, em produtos industrializados. Na área de polímeros, estudos relativos à g e o m e ­ tria das peças, e spessuras mínimas razoá­ veis, ângulos de desm oldagem , utilização de recursos formais que auxiliam o aum en­ to da resistência das pe ç as são c a d a vez mais detalhados e disponibilizados.

Na área do vidro, utilizado de forma abun­

□ E S I G N E T E C N O L O G I A A P L I C A 0 0 8 A P R O D U T O S D O M É S T I C O S E M Q P Ê 8 C E R Â M I C O

dante na indústria de embalagens, seja de produtos a lim e n ta re s ou outros, estudos

avançados chegam ao lançamento de soft-

wares associando propriedades físico-quí-

m icas e m ecânicas do material à g e o m e ­ tria geral da peça, que auxiliam designers e e n g e n h e iro s a reduzirem o p e s o e a quantidade d e material utilizada, reduzin­ do custos.

Na á re a d a c e râm ica, e s te s e studos têm ficado restrito s ao se g m e n to de pisos e revestim entos, s e n d o que nos segm entos de louça sanitária ou mesmo louça de mesa a c a b a m limitados às e m p re s a s que, pela e x p e riên c ia , minimizam p ro b le m as de

g e o m e tria e conform ação, utilizando

conhecimentos empíricos, não sistematiza­ dos e tão pouco divulgados.

Na literatura da área, poucos autores explo­ ram o tema, e os que o fizeram de forma g e n é ric a são limitados e antigos, como NORTON (1975) e KINGERY (1963), não aten­ dendo à demanda atual.

Durante a c o n c ep ç ã o de novos produtos, profissionais da área de design ressentem- se da falta de orientação e de bibliografia que trariam esclarecim entos quanto às li­ m itações e p o ssib ilid a d es formais e p r o ­ dutivas, permitindo ultrapassar as frontei­ ras do "déjà vu" e conduzindo ao d e s e n ­

volvimento de novas formas e conceitos. Partindo-se destes pressupostos e visando preencher esta lacuna, esta tese formulou uma

pequena abordagem comparativa, rela­

cionando algumas formas básicas, utilizadas em peças cerâmicas, com o material estudado, visando o desenvolvimento e a obtenção de peças com geometria e desenho adequado, minimizando os riscos de deformação, normal­ mente verificados somente após todo o estu­ do e desenvolvimento dos produtos.

Basicamente, foram e s tu d a d a s as formas p r e s e n te s em g ra n d e núm ero de p e ç a s que utilizam o p r o c e s s o de enchim ento com massa líquida em sua conformação.

3.1. S. M A T E R I A I S , T É C N I C A S E P R O C E S S O S

A partir de três formas volumétricas, esférica, cilíndrica e cúbica, foram definidas sete "subformas" usuais em produtos cerâmicos. São elas: uma calota esférica, um cilindro e dois troncos de cilindro, um cubo e dois tron­ cos de pirâmide. Estas formas estão presen­ tes em vasos, xícaras e travessas.

Foram definidos corpos de prova com estas formas, com capacidade para 250 ml de mas­ sa líquida cada um, e experimentados pelo processo de enchimento em moldes de g e s ­ so (figura 3.1).

Os corpos de prova foram enchidos com mas­ sas líquidas resultantes dos ensaios realiza­ dos com barbotina formulada com a matéria- prima F-R, descritas no capítulo 2. A barboti­ na F-R l foi preparada com densidade de 1,42, utilizando 49,49% de água e 49,49% de argila F-R, além de 1,02% de silicato de sódio. A barbotina F-R 2 foi preparada com densidade de 1,59, com 38,22% de água, 60,07% de argila F-R e 1,71% de silicato de sódio.

Foram verificados os tempos de formação de parede e secagem , a facilidade de des- moldagem e acabamento e, após secagem a 110°C e realização de queimas a 1080°C e 1130°C (fixadas com base nos estudos rea­ lizados no capítulo 2), foram verificadas as contrações, em penos e rachaduras a p r e ­ sentadas.

Foram preparados dezesseis corpos de p ro ­ va de c ada m odelo, com c a d a um a das

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P )

GO LO 4.00 tronco detone 8 00 <--- > oq ’T m i 600 s íliliil: tronoode prâmde 8.00 < ....-> r-- (O 400 tronoode pirânide

FIGURA 3.1 - C orpos d e Prova

c o m p o s iç õ e s . Oito c o rp o s de prova de cada modelo rec e b e ra m remoção dos c a ­ nais de enchim ento e d a s r e b a r b a s , nos pontos de união do molde, e acabam ento com esponja. Oito r e c e b e r a m a p e n as r e ­ m oção dos bordos dos canais de e n c h i­ mento e das r e b a r b a s de união, além do acabamento com lixa, após secagem. A di­ ferença é que nestes as bordas apresenta­

ram -se com reforço de e s p e s s u r a . Estes últimos não foram sistematicamente anali­ sados.

3 . 1 . 3 . R E S U L T A D O S

Os resu lta d o s a p r e s e n ta d o s e stã o ilu s­ trados pelas figuras 3.2, 3.3, 3.4 e 3.5.

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F IG U R A 3.3 - Resultados d e corpos d e prova F - R 2 em diversas temperaturas.

D E S I G N E T E C N O L O G I A A P L I C A O O B A P R O D U T O S D O M É S T I C O S E M G R É S C E R Â M I C O ' FO RM A IN ICIAL Tempú dê Formação de parede Tempo de Secagem Facilidjde de desmoldd^ern 1080UC 1130JC Aspecto após queima 1/ 2 e s fe ra 10 minutos 10 minutos 30 minutos úmido 40 minutos bom 20 7% 26 8% Deforma na boca c il in d ro 10 minutos 10 minutos 30 minutos bom apresenta rachaduras na divisão do molde 21 2% 28.3% Deforma na boca

E

1/2 c u b o 10 minutos 10 minutos 30 minutos bom apresenta rachaduras na divisão do molde 24 5% 20 96% Deforma muito naboça

□ O

tro n co de c o n e

10 minuto 10 minutos 30 minutos bom 15,1% 28 04% nâo deformam na boca

a

®

Ir o n co de c o n e

10 minutos 10 minutos 30 minutos bom 20,2% 27 91% Deforma m é

y

tr o n co d e p ir â m id e 10 minutos 10 minutos 30 minutos úmido 40 minutos bom 24,0% 24 42% Deforma l l l l l i l l i ! na boca tr o n co d e p ir â m id e 10 minutos 10 minutos 30 minutos úmido 40 minutos bom 23.7% 27 2% Deforma na boca

F IG U R A 3.4 - Re su ltad o s obtidos para barbotina F -R 1.

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FIGURA 3.5 - Resultados obtidos para barbotina F-R 2.

!

3 . 1 . 4 . D I S C U S S Ã O D O S R E S U L T A D O S

0 tempo de formação de parede foi similar entre as duas formulações, bem como nas diversas formas.

As peças com F-R l, tronco de cone, solta- ram-se com facilidade e apresentaram -se secas após 30 minutos. As formas esférica e de tronco de pirâmide soltaram-se com fa­ cilidade e apresentaram -se se ca s após 40 minutos. As paredes das peças ficaram com espessuras entre 1,5 e 2 mm, após a queima. As peças em forma de cilindro e cubo, que necessitaram de molde bipartido, apre se n ­ taram pequ e n as rachaduras na costura do molde, por isso foram produzidas mais p e ­ ças, até obterem-se oito corpos de prova sem estas rachaduras. As peças formaram p are­ des-não muito uniformes.

Após queima, estas pe ç as apresentaram elevadas contrações a 1080°C e a 1130°C, o que originou deform ações nas bocas das p e ç as.

Interessante observar que os corpos de pro­ va com p a re d e s mais grossas, 3mm após queima, não apresentaram deformação. As formas que mais apresentaram defor­ mações foram a cúbica e em tronco de pirâ­ mide, ou seja, com boca quadrada.

As paredes das peças com F-R 2, pela m e­ nor quantidade de água presente, a p r e ­ sentaram -se mais uniformes, com menos aparência de tixotropia (que tende a formar uma parede interna áspera).

Formaram parede após 10 minutos e s e c a ­ ram e desmoldaram com facilidade após 30 minutos. □ E 8 I G N E T E C N O L O G I A A P L I C A D O S A P R O D U T O S D O M É S T I C O S E M O R ê S C E R Â M I C O

As c ontra çõe s mantiveram-se e le v a d a s e após queima as peças apresentaram defor­ mação nas bocas, embora não tenha sido notada d iferença significativa de d e fo r ­ mação entre as formas.

Cabe ressaltar que nenhum corpo de prova trincou ou rachou, exceto naqueles cuja quei­ ma exedeu 1150°C, por problemas no forno. A melhor tem peratura p ara queim a é em torno de 1080°C. Em bora as c o n tra çõ e s não sejam muito inferiores nesta tem p e ra ­ tura, as deform ações são menores que as de tem p e ra tu ra s mais ele v a d a s. Alguns corpos de prova foram queim ados previa­ mente a 800°C, para receberem vidrado, e nesta tem p e ra tu ra o com portam ento das peças foi muito bom, sem deformações. Alguns corpos com reb a rb a na borda, ao

s e re m q u e im a d o s à tem p e ra tu ra de

1080°C, não apre se nta ram deformações.

3.1. 5. C O N C L U S Õ E S

A execução dos corpos de prova permitiu verificar o que acontece com algumas for­ mas de revolução e prismáticas.

Pode-se dizer que indicaram que:

a) espessuras acima de 3mm podem ser d e ­ sejáveis;

a) abas como reforço nas bordas são d e s e ­ jáveis para a manutenção da geometria ge ­ ral da peça;

b) compensações podem minimizar, e até eli­ minar, problemas com formas prismáticas; c) a passagem do ar pelas peças durante a

queima interfere na geometria das peças. Peças queim adas com boca para cima a p re se n ta ram m enos deform ação que aquelas que foram q u e im a d a s com a boca para baixo.

= 1 D E S I G N E T E C N O L O G I A A P L I C A D O S A P R O D U T O S D O M É S T I C O S E M G R Ê S C E R Â M I C O '

Este experim ento com c orpos de prova contribuiu para a ntecipar o que acontece em p e ç a s , a p e s a r d e se constatar que a avaliação formal, em nível experimental, com corpos de prova, ou mesmo com p e ­ ç a s - em e s c a la reduzida, não n e c e s s a r i a ­ mente se repetirá em peças dimensionadas e confeccionadas em escala real.

3 . E. E X P E R I M E N T O -

D E S E N V O L V I M E N T O D E L I N H A OE L O U Ç A D E M E S A

A tese parte da hipótese de que é possível d e sen v o lv e r produtos de uso dom éstico com uso de grês cerâmico, utilizando como matéria-prima o folhelho. Abundante e lo­ calizado próximo à Região Metropolitana de Curitiba, o folhelho tem baixo custo na pro­ du ç ã o de b e n s que p o d e m s e r atraentes aos consumidores, competitivos em termos de custo e estéticos, a p e sa r da coloração verm elha.

No Brasil, um dos m aiores m erc ad o s em produtos cerâmicos de uso doméstico é o d e “louça de mesa", constituído de p r o ­ dutos utilitários amplamente utilizados pela população, e um dos principais produtos d a s indústrias d e cerâ m ic a da região de Campo Largo, abordada na tese.

Conforme pesquisa realizada por algumas indústrias, como a Oxford, o m ercado de louça de mesa no Brasil e para exportação caracteriza-se por uma grande venda, em torno de 80%, de produtos avulsos, p re d o ­ minantemente pratos rasos, fundos e de s o ­ brem esa e xícaras de chá e café. Em m e ­ nor proporção, vêm as travessas, seguidas dos a c e s s ó r io s que co m p õ e m os típicos "jogos de jantar", “jogos de c h á ’ e "jogos de café”, como sopeiras, leiteiras e bules.

A utilização da matéria-prima proposta s u ­ gere um produto de baixo custo em p r o ­ dução de massa, reforçando sua utilização em louça de mesa de uso diário, portanto, composta de pe ç as mais básicas: pratos, tigelas e xícaras.

C abe s alientar que a linha d esenvolvida contrapõe aspectos tecnológicos, rela cio ­ nando as possibilidades formais às c aracte­ rísticas dos materiais cerâmicos e às p o s ­ sibilidades produtivas.

3. S. 1. C O N C E I T U A Ç Ã O

Após realizar p e s q u is a bibliográfica e vi­ sitas a feiras, instituições e em presas, v e ­ rificando as tendências do design em p ro ­ dutos utilitários, foram definidos alguns conceitos que nortearam o desenvolvimen­ to do projeto experimental dentro dos a s ­ pectos norm alm ente tra b a lh a d o s e m d e ­ sign: a) Estético/Formal; b) Funcional/Lú­ dico; c) Econômico/Tecnológico; d) E c o ­ lógico.

C abe r essa lta r que, em q u a lq u e r projeto de produto, todos e s te s a s p e c to s in te r a ­ gem diretam ente e incorporam os a s p e c ­ tos simbólicos, culturais e socioeconômi- cos do mercado ao qual se destinam, s e n ­ do aqui pon tu ad o s e s e p a r a d o s a p e n a s para favorecer sua análise.

a) Aspecto Estético/Formal

O aspecto estético tem nesta proposta um p a p e l relevante, principalm ente p e la n e ­ c e s s id a d e d e rom per com o p rec o n c e ito existente no Brasil em relação ao produto cerâmico de cor vermelha. Esta coloração cerâmica está associada aos produtos p o ­ pulares de produção artesanal ou mesmo à q u e le s produtos d e m enor q u a lid a d e , como tijolos e telhas.

A hipótese de a gregar valor formal a p ro ­ dutos feitos de c e râ m ic a verm elha, que e stá a s sociada a produtos populares, ori­ ginou um levantam ento dos indícios for­ mais que levam à percepção de maior s o ­ fisticação, por exemplo, em produtos de porcelana.

Verificou-se que os produtos feitos em m a s s a d e p o rce lan a , além da c oloração bran c a , a p re s e n ta m uma e le v a d a r e s i s ­ tência mecânica, que permite que tenham e s p essu ras delgadas, de 2 a 3 mm, o que contribui d e c id id am e n te para a sua valo­ rização formal. Outra característica destes produtos são as formas mais e la b o ra d a s que apresentam , mesmo quando possuem um estilo "limpo" (clean).

Neste sentido, feito um levantam ento de te r m in a ç õ e s e bord o s nos produtos em p o rce lan a , p o d e -s e c onsta tar a c a r a c t e ­ rística dominante de espessuras finas, prin­ cipalmente nas bordas, bem como uma ten­ d ê n c ia a a p r e s e n ta r e m um d im e n s io ­ namento maior, em p e ç a s como pratos e xícaras.

Em c o n tra p artid a , os produtos de baixo custo, mais populares, voltados para s e g ­ mentos de massa mais amplos, que utilizam m a s s a s c e râ m ic a s mais ba ra tas, como a faiança calcítica e inclusive a faiança felds- pática, apresentam coloração creme e e s ­ p e s s u r a s g r o s s a s , além de reforços nas b o rd as.

Estas m as s a s possu em resistência m e c â ­ nica mais baixa que a porcelana e a fra­ gilidade do material é com pensada com o reforço das espessuras das peças, em tor­ no de 4 a 6 mm.

As p e ç a s em cerâm ica verm elha existen­ tes no m erc ad o , vindas d a s p ro d u ç õ e s

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artesanais e semi-artesanais, também a p re ­ sentam e s p e s s u r a s maiores. Sua queima, a baixas tem peraturas, não perm ite obter uma cerâ m ic a com r e s is tê n c ia m ecânica elevada, ou seja, um grês.

Partiu-se do pressuposto de que seria pos­ sível trabalhar com e s p e s s u r a s mais d e l ­ gadas, com uma resistência mecânica com­ patível, considerando que os ensaios r e a ­ lizados com as matérias-primas se le c iona ­ das apresentaram comprovada resistência mecânica, similar e até superior à de diver­ sas porcelanas.

A utilização de espessuras finas também foi reforçada pelo contato mais próximo com os resq u íc io s da civilização romana. Em Portugal, na E spanha e na Itália, pode-se constatar que os romanos já produziam p e ç a s de c e râ m ic a verm elha, em série, sendo uma de suas características as “fi­ nas e s p e s s u ra s " , que lhes conferiam um maior requinte formal. Com o p a s s a r dos anos e a invasão moura, estas c erâm icas desapareceram , dando lugar a outras bem mais rudim entares e primitivas, com argi­ la pouco processada e formas toscas, além de e s p e s s u r a s grosseiras.

Em Conímbriga, aldeia romana próxima a Coimbra, em Portugal, b em como em La Coruna, na Espanha, junto aos m useus ar­ queológicos existentes, pode-se ter contato com estas peças cerâmicas. Segundo LLO- RIS (1990), as pe ç as de cerâm ica romana denominada "cerâmica de p aredes finas" eram confeccionadas com grande varieda­ d e e grau de d e p u ra ç ã o de argila, com base nas distintas produções identificadas até o momento. Destacam-se nesta d e n o ­ minação os copos denominados “c a sca de ovo", do norte da Itália, cujas e s p e s s u r a s são inferiores a 0,5mm.

As pe ç as encontradas em Conímbriga, s e ­ gundo o MUSEU MONOGRÁFICO DE CONÍMBRIGA (1994), e que podem ter sido ali fabricadas, apresentam e s p essu ras em torno de 1 a 2 mm em peças de pequenas dim e n sõ e s, de 80 a 112 mm de diâmetro por 45 a 58 mm de altura. Estas peças a pre­ sentam coloração vermelha e algumas d e ­ las r e c e b e m d e c o ra ç ã o em relevo, feito provavelm ente p o r barbotina (argila em c o n s is tê n c ia líquida). Entretanto, LOPEZ (1991) aponta para fragmentos que dão in­ dícios de pe ç as que poderiam ter de 20 a 40 cm de diâmetro, como pratos e traves­ sas, e e s p e s s u ra s de 3 a 4 mm, provavel­ mente confeccionados em roda (torno, com argila em consistência plástica).

Com relação à forma em si, a tendência em trabalhar com formas puras e simples vem ganhando um papel relevante na indústria cerâmica, tanto pelos atributos formais in­ trínsecos, como pela facilidade e otimi­ zação de produção. Para a definição formal final das p eças, a spec tos lúdicos, funcio­ nais, tecnológicos e econômicos foram d e ­ cisivos.

Os resultados obtidos no estudo, relacio­ nando o comportamento do material c e râ ­ mico a formas, também indicou caminhos mais seguros para a obtenção de resulta­ dos positivos.

Procurou-se tra b a lh a r as formas c o n s i­ derando tendências internacionais, já que a internacionalização da informação, bem como a globalização da produção, a c aba criando um padrão formal e estético q u a ­ se universal, mas com a preo c u p a ç ão de não abandonar as características regionais, a exem plo da te n d ê n c ia do d e s i g n contemporâneo, que busca atender e p ro ­ mover uma maior d iv e rs id a d e cultural a nível dos produtos.

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Neste sentido a análise das características culinárias da alimentação brasileira foram determinantes e também contribuíram para as definições formais.

O conceito da diversificação tam bém foi explorado na produção e na decoração das peças. Embora este experimento não tives­ se como objetivo inicial trabalhar a d e c o ­ ração, apontou alguns caminhos novos no campo da exploração deste aspecto, pela p e rc e p ç ã o d a importância que a d e c o r a ­ ção tem na louça de mesa.

Na Europa, atualmente, os temas de d e c o ­ ração, na cerâmica de mesa e decorativa, são ditados pela indústria têxtil, articulada com a indústria da decoração e da moda. Atualmente, as e m p re s a s de c e râ m ic a a- companham os lançamentos das coleções outono-inverno e primavera-verão e nelas baseiam seus padrões de cor e decoração. Um pouco na contramão desta tendência, mas sem abandoná-la totalmente, surge a proposta de, com base em temas regionais, desenvolver uma d ecoração com p a d rõ e s mais “exportáveis" em nível de design, vi­ sando criar uma certa linguagem “tupini- quim" a sso c ia d a àquela internacional, ou global, s e g u in d o a linha do d e sen v o lv i­ mento de um d e s ig n e n d ó g e n o e local. Dentre os temas levantados, um que apela para o acréscim o de valor, pelo uso que dele era feito pela “nobreza" européia, até há poucos anos, é o da renda, e s p e c i ­ ficamente, a renda de bilros. Produzida em Florianópolis e trazida pelos açorianos, a renda de bilros contém tem as eruditos e populares, in tegrando as culturas luso- brasileira. Este tema foi explorado a s s o ­ ciado à tecnologia e a novos processos.

b) Aspecto Funcional/Lúdico

É inegável a importância do aspecto fun­ cional em uma linha de produtos utilitári­ os, principalmente em louça de mesa. Os produtos devem cumprir ou atender a um mínimo de requisitos necessários à sua utilização. Neste caso:

1) conter os alimentos, sólidos, líquidos e pastosos, incluindo aqui a análise do tipo de alimentação culturalmente adotada e as características da culinária existente no segmento de mercado a ser atingido; 2) apresentar os alimentos ao usuário, esti­

m ulando s e u consum o, c o n s id e ran d o que o ato de alimentar-se não é m e r a ­ mente fisiológico, mas também está a s ­ sociado ao prazer;

3) possuir uma boa interface com o u s u á ­ rio e outros produtos, atendendo a requi­ sitos e rg o n ô m ico s e de inter-relação com outros produtos existentes que fa­ zem parte do ritual alimentar, como ta­ lheres, por exemplo;

4) estar apto à limpeza, seja na pia ou nas m áquinas de lavar louças, tendo neste caso dim e n sõ e s compatíveis;

5 ) perm itir um bom a rm a zenam ento, por e m pilham ento ou encaixe, ocupando o menor e sp aç o possível quando fora de uso;

6) permitir uma boa utilização no forno de microondas, atualmente muito utilizado, não só para a cocção dos alimentos, mas para o aquecimento em pratos pré-mon- tados e de c ora dos com os alimentos já p re p a ra d o s.

Neste sentido, muito pouca alteração com ênfase funcional tem sido vista no mercado de louça de mesa. Os pratos apresentam- se com pequenas variações de dimensões e formas, as xícaras com p e q u e n as varia­ ções de formato e asas, além de algumas

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melhorias nas c ondições de uso, p o s s i ­ bilidades de empilhamento, ou estéticas. Se, por um lado, as pe sso a s comem para sobreviver, ingerindo a quantidade n e c e s ­ sária de calorias, de proteínas, de líquidos, por outro lado, existe na alimentação uma dimensão fundamental, litúrgica e ritual, já que as pessoas se alimentam para ter pra­ zer.

Sentar em torno de uma m esa p a ra a li­ mentar-se constitui-se, atualmente, um dos

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