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O desenvolvimento de entrevistas com docentes: critérios para sua realização

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CAPÍTULO IV COMPREENSÃO DA RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E TRABALHO

4.1 O desenvolvimento de entrevistas com docentes: critérios para sua realização

Em linhas gerais, o ensino integrado traz o desafio de congregar, em um único curso, a educação geral (ensino médio), que tem como finalidade a preparação para o ingresso no curso superior, com foco na continuidade de estudos, e a educação profissional (ensino técnico profissional), que tem como meta a inserção no mundo do trabalho. Nesse sentido, os ensinos médio e técnico foram expressos de formas distintas pelos professores sujeitos desta pesquisa.

Esses professores trabalham com disciplinas do ensino médio, que é denominado como núcleo comum, e, também, pelos professores que ministram componentes curriculares do ensino técnico da área de agropecuária. Tratam-se de docentes que estão em contato, direto ou proximal, com a questão da formação profissional presente no curso, referente à relação entre educação e trabalho, e, ainda, são incumbidos de trabalhar com essa relação em sua atividade profissional.

No quesito tempo de atuação no curso, buscou-se o entendimento desses sujeitos sobre a questão do ensino integrado e da relação entre educação e trabalho, tomando como ponto de reflexão sua prática docente, o ensino que desenvolvem no curso. Assim sendo, o critério inicial de se entrevistar seis docentes, sendo três que ministram aulas a maior tempo no curso pesquisado e três que têm menor tempo atuação, não se efetivou devido ao fato de terem sido voluntários professores que iniciaram sua atuação no curso há cinco anos, em 2010, ano de ingresso da terceira turma do curso estudado na instituição.

No tocante à interlocução com professores que atuam na área da educação geral e técnica profissional, destaca-se que a intenção inicial de ouvir os docentes das duas áreas (ensino médio e ensino técnico), que formam a totalidade do ensino integrado, também não se concretizou conforme se havia proposto. Dessa forma, dois professores da educação técnica

profissional e um professor da educação geral dispuseram a participar da pesquisa. A abrangência do estudo sobre o curso Técnico em Agropecuária integrado, no que diz respeito à relação entre educação e trabalho, está relacionada ao fato de englobar a educação escolar entendida, neste estudo, por um prisma integral.

Ter como informantes professores implica em “[...] saber qual a sua formação, tempo de magistério, um pequeno percurso profissional e o que mais for necessário conforme os objetivos da pesquisa [...]” (SZYMANSKI, 2004, p. 25). A autora, apoiando-se em Sodelli (1999), acrescenta que é fundamental saber sobre a(s) disciplina(s) que lecionam, a idade e os fatores que levaram à escolha da profissão. Essas informações, em conjunto, podem explicar, em parte, os posicionamentos apresentados por esses sujeitos pesquisados.

Fraser e Gondim (2004, p. 148) esclarecem que a “[...] escolha dos entrevistados deve recair sobre aqueles que estão diretamente implicado [...]”, o que Poupart (2012) entende como sendo os atores que estão no centro da questão investigada, de maneira que ocupam uma melhor posição para falarem sobre o objeto pesquisado. No caso desta pesquisa, os professores do curso são as pessoas mais indicadas para falarem sobre como se processa o ensino, os desafios enfrentados nesse processo, e como percebem a relação entre educação e trabalho, haja vista que estão no centro do processo ensino-aprendizagem. Essa escolha assentou-se no critério de expressividade, que requer “[...] explorar e compreender os diferentes pontos de vista que se encontram demarcados em um contexto [...]” (FRASER; GONDIM, 2004, p. 147).

A realização de entrevista, para Duarte (2004), pressupõe a definição dos objetivos da pesquisa, conhecimento aprofundado do contexto em que pretende realizar a investigação, associado ao expressivo conhecimento das produções existentes sobre o objeto de estudo, bem como domínio do roteiro. De forma semelhante à opção pelo procedimento de observação de campo, a entrevista também suscita a necessidade de explicitar, segundo pontua Duarte (2004),

a) as razões pelas quais optou-se pelo uso daquele instrumento; b) os critérios utilizados para a seleção dos entrevistados; c) número de informantes; d) quadro descritivo dos informantes - sexo, idade, profissão, escolaridade, posição social no universo investigado etc; e) como se deram as situações de contato (como os entrevistados foram convidados a dar seu depoimento, em que circunstâncias as entrevistas foram realizadas, como transcorreram etc.); f) roteiro de entrevista (de preferência em anexo) e, g) procedimentos de análise (anexando, no final do texto ou relatório, cópia de uma das transcrições - desde que não haja a necessidade de preservar a identidade do informante) (DUARTE, 2004, p. 210).

O conhecimento do público entrevistado torna-se importante por revelar quem são os informantes, de que lugar eles falam, que conhecimentos apresentam sobre o tema relação entre educação e trabalho, o que permite estabelecer um diálogo com as produções acerca do tema e a realidade vivenciada no meio escolar. A entrevista seguiu algumas características apresentadas por Szymanski (2011, p. 20), como a busca de esclarecimento sobre a finalidade da pesquisa, e abertura de “[...] espaço para perguntas e dúvidas estabelecendo uma relação cordial”. Assim, no contato inicial, a compreensão dos objetivos do trabalho de pesquisa foi ponto fundamental para que os participantes pudessem ter condição de contribuir com o estudo.

Para esse empreendimento, foram adotadas entrevistas individuais semiestruturadas, que têm caráter flexível e permitem ao pesquisador, ao longo da aplicação, interagir com o entrevistado (FRASER; GONDIM, 2004), a fim de angariar mais informações e clarificar pontos de vista apresentados pelos informantes. Dessa maneira, a entrevista vai sendo construída à medida que acontece. A entrevista semiestruturada, para Tura (2003), difere da entrevista estruturada por possibilitar uma comunicação mais livre entre pesquisador e entrevistado, assim como o ajustamento de rota, em caso de situações inesperadas.

Para fins de análise, o roteiro de entrevista está organizado em três partes. Na primeira, contempla o quadro de identificação dos professores, com questões que versam sobre aspectos como idade, naturalidade, sexo, formação, titulação, tempo de atuação na educação e no curso, carga horária semanal (em horas/aula), área de atuação no curso, e disciplinas que ministra. Na segunda, estão reunidas questões alusivas à escolha da profissão, relação entre formação e atuação profissional, desafios que a instituição de ensino tem enfrentado no dia a dia, e percepção em relação ao público estudantil que busca o curso Técnico em Agropecuária integrado. Já a terceira parte da entrevista apresenta questões que buscam compreender a concepção de educação e de integração entre ensino técnico e médio, a forma como adquiriu conhecimentos sobre ensino integrado e suas legislações, a relação entre educação e trabalho no curso estudado, a utilização de materiais impressos que abordam a temática estudada e, ainda, o modo como percebem a manifestação da relação entre educação e trabalho entre os alunos, dentre outras.

O estabelecimento de contato com os professores para convidá-los a participarem como voluntários desta pesquisa foi realizado durante o período de observação na instituição de ensino pesquisada, sobretudo, nas visitas feitas às salas dos professores ligados ao curso Técnico em Agropecuária integrado ao ensino médio. O convite foi feito individualmente.

Ao longo do processo de desenvolvimento da pesquisa e realização das entrevistas, foram percebidas dificuldades expressas em questões como: ausência de tempo para concederem entrevista; carga horária extensa (em aulas); e problemas pessoais, comuns à condição humana e as muitas funções sociais exercidas pelas pessoas (mãe, pai, filho(a), esposo(a), trabalhadores, entre outras). Esses fatores impossibilitaram alguns professores de colaborarem com a pesquisa, o que inviabilizou o cumprimento da proposta inicialmente apresentada, de serem entrevistados seis professores. Diante disso, apenas foi possível obter entrevista de três docentes, que desenvolvem atividades no curso há mais de três anos, e dos quais dois estão ligados ao ensino técnico e um ao ensino médio.

As entrevistas foram realizadas em locais diferentes, conforme proposição dos entrevistados, a saber: sala de estudo em grupo, localizada na biblioteca; salas dos professores de física, vinculada ao laboratório de física; e sala dos professores da área de agropecuária. Os locais de entrevista tiveram como característica em comum serem mais reservados, e, por assim ser, contarem com pouca interferência de barulhos externos e de outras pessoas.

O registro da entrevista, neste estudo, efetivou-se mediante gravação em áudio, que foi posteriormente transcrito. A respeito da gravação, foram consideradas as ponderações de Tura (2003), segundo as quais esse procedimento deve ser consentido pelo interlocutor, uma vez que são capturados aspectos relevantes de seus relatos e da forma como os fatos são por ele apresentados, e também, das concepções que se manifestaram em resposta às proposições feitas pelo pesquisador, no decurso da entrevista. A importância da gravação no campo investigativo se dá por ela tornar possível o acesso à fala dos interlocutores, a qualquer momento, para revisão de pontos de vista e explicações apresentadas.

Além da gravação, contou-se, ainda, com anotações do pesquisador quanto à linguagem não verbal e não audível, elementos impossíveis de serem captados na gravação. Disso decorre a necessidade de as entrevistas serem registradas logo após seu término, para que o intervalo de tempo entre sua efetivação e transcrição seja curto, afim de que as informações importantes não sejam esquecidas pelo pesquisador.

Nas transcrições, foram considerados os relatos dos entrevistados, as pausas para organizarem as respostas, as dúvidas que apresentaram e as ênfases dadas a determinados aspectos. Em momento posterior, essas transcrições foram editadas para que as falas fossem mais bem estruturadas, o que se deu por meio da retirada de termos repetidos e supressão de expressões de ligação comuns na linguagem oral.

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