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Desenvolvimento fenológico e os ciclos da cana-de-açúcar

3.1 Aspectos da produção e qualidade da cana-de-açúcar

3.1.4 Desenvolvimento fenológico e os ciclos da cana-de-açúcar

Entende-se por fenologia o estudo das sucessivas etapas do desenvolvimento da cultura ao longo do tempo. Representa, portanto, o entendimento de como a planta se desenvolve no decorrer de suas diferentes fases e pode ser dividida, para a cultura da cana-de- açúcar, em: (i) emergência; (ii) estabelecimento da cultura; (iii) desenvolvimento e (iv) maturação, conforme mostra a Figura 2.

Figura 2 - Fases do desenvolvimento da cana-de-açúcar (Adaptado de DOORENBOS; KASSAM, 1979)

Normalmente, em cultivos comerciais, a cana-de-açúcar é propagada assexuadamente por meio de pedaços de colmos, os toletes, com 2 a 3 gemas, os quais podem ser: “toletes de ponta”, denominados “toletes sementes”, ou os toletes de colmos mais maduros (CASTRO et al., 2008). O seccionamento da muda em toletes visa eliminar a dominância apical proeminente em colmos maduros com 11 meses ou mais de idade, exercida pela gema do ápice que, por meio da produção e manutenção de um fluxo basípeto (do ápice para a base) de auxina, inibe a brotação das gemas laterais, mantendo-as em estado de dormência.

Após o plantio, e sob condições ambientais favoráveis, inicia-se o entumecimento das gemas. Algumas células reiniciam sua atividade meristemática, desenvolvendo-se num pequeno broto que emerge pelo poro da gema em direção à superfície do solo (colmo primário). Simultaneamente, meristemas dos primórdios radiculares, também em atividade, dão início ao desenvolvimento das raízes do tolete (CÂMARA, 1993). Após determinado estádio de desenvolvimento, as gemas localizadas na base do colmo primário se intumescem, originando novas brotações que se dirigem à superfície do solo. A fase de brotação é bastante influenciada pela qualidade da muda, ambiente de produção, época e manejo do plantio (RIPOLI et al., 2006).

Segundo Castro et al. (2008) existem variedades cuja emergência é rápida, em outros mais tardia; alguns em que as gemas brotam antes das raízes, em outros o contrário - características essas de ordem genética e que poderiam, também, sofrer influências das condições edafoclimáticas. Dentro da mesma variedade, a brotação varia de acordo com a idade da muda, diferença da idade da gema, grau de umidade do tolete, concentração de açúcares e nutrientes minerais, sendo que algumas variedades apresentam baixa brotação a partir do tolete, mas mostram ótimos resultados na brotação da soqueira (SEGATO et al., 2006).

As soqueiras da cana-de-açúcar têm um desenvolvimento semelhante ao observado na cana plantada, com diferenças específicas no processo de enraizamento e brotação da soca e, principalmente, com queda de produtividade em relação à cana-planta devido, sobretudo, à compactação do solo, queda de fertilidade do solo sob uso continuo de cana e a utilização ineficiente de fertilizantes (MARIN et al., 2009).

A fase seguinte à brotação é chamada de perfilhamento, sendo governado inicialmente pela temperatura e radiação; porém também é afetado pela variedade, densidade de plantio, ciclo (cana planta ou cana soca) e disponibilidade de água e de nitrogênio no solo. A cana-de- açúcar perfilha nos primeiros meses após o plantio ou a rebrota, e esse perfilhamento

intensifica-se à medida que as condições de temperatura e disponibilidade hídrica são favorecidas. Após este período, o número de perfilhos diminui até se estabilizar (SUGUITANI; MATSUOKA, 2001).

Segundo Segato et al. (2006), no momento de máximo perfilhamento, algumas variedades de cana-de-açúcar podem ter 25 ou mais colmos por touceira. Para Câmara (1993), a partir deste momento de máximo perfilhamento a competição entre os perfilhos pelos fatores de crescimento (nutrientes, luz, espaço e água) torna-se elevada, de maneira que se constata a redução do perfilhamento por meio da diminuição e paralisação deste processo, além da morte dos perfilhos mais jovens.

Durante o desenvolvimento vegetativo, destaca-se a elongação e crescimento em espessura dos colmos. Diminuindo a drenagem fisiológica constituída pelos jovens perfilhos que pereceram devido à competição, inicia-se o processo de acúmulo de sacarose nos internódios basais dos colmos mais velhos, como consequência da produção excedente de fotoassimilados.

A fase de maturação normalmente se inicia a partir de 270 DAP (para a cana de ano cultivada na região centro-sul do Brasil), com cerca de 2 a 4 meses de duração (RODRIGUES, 1995), sendo que neste período, clima seco e irradiância solar menos intensa (temperatura do ar amena) não favorecem o crescimento da cultura. À medida que vão amadurecendo, os colmos que sobreviveram à competição da fase de perfilhamento continuam crescendo e acumulando cada vez mais sacarose nos entrenós que, ao atingir seu tamanho final, acabam se tornando colmos industrializáveis, passando a acumular de forma mais intensa a sacarose (SEGATO et al., 2006). Como regra geral, cada variedade ao alcançar a maturação máxima deve ser colhida, caso contrário, seu teor de sacarose declinará.

O ciclo da cana plantada pela primeira vez oriunda de partes vegetativas e que receberá o primeiro corte recebe o nome de ciclo da cana planta. Devido às condições do clima predominantes no centro-sul do Brasil, o plantio da cana-de-açúcar geralmente é realizado em duas épocas distintas, proporcionado cultivos conhecidos como “cana de ano” e “cana de ano e meio” (CARVALHO, 2009). Há, ainda, uma terceira terminologia: a “cana de inverno”.

No primeiro caso (cana de ano) o plantio normalmente ocorre entre setembro e novembro, no início da estação chuvosa, com colheita após um ciclo médio de 12 meses. Neste sistema, o canavial apresenta máxima taxa de crescimento entre novembro e abril em virtude do longo fotoperíodo, alta temperatura e disponibilidade hídrica, diminuindo após esse

período devido às condições climáticas adversas. Tem-se, então, aproximadamente 8 meses de desenvolvimento vegetativo e 4 meses para ocorrer a maturação (SEGATO et al., 2006).

Já para a cana de ano e meio o plantio ocorre entre janeiro e abril (no meio da estação chuvosa e quente) até maio, sendo a colheita realizada entre os meses de maio a novembro do ano seguinte, dependendo da época de maturação da variedade utilizada, permanecendo, em média, de 14 a 18 meses no campo. Neste sistema, após seu estabelecimento, o canavial passa por um período de repouso durante seu primeiro inverno, sendo cortado no inverno do ano seguinte (MARIN et al., 2009). De acordo com Segato et al. (2006), assim como na cana de ano, o período de maior crescimento da cana de ano e meio também vai de novembro a abril, mas o canavial atinge este período mais desenvolvido, sendo capaz de responder - em crescimento vegetativo - mais rapidamente às condições ambientais favoráveis à cultura.

Cana de inverno é a estabelecida a partir do final de maio a agosto e é assim designada por desenvolver-se em período de ocorrência de menores temperaturas. A disponibilidade de água é sua maior limitação, contudo, apresenta menor período de utilização da terra (12-14 meses), em média, com produtividades elevadas, bastante próximas às produtividades obtidas com o plantio de cana de ano e meio. Tanto a cana de ano e meio como a cana de inverno, quando a chegada das chuvas, estão germinadas e perfilhadas e, portanto, prontas para um rápido desenvolvimento nos meses de maior temperatura e precipitação (VITTI; MAZZA, 2002).

Os ciclos da cultura de cana-de-açúcar acima mencionados bem como as variações de temperatura média do ar e chuvas na região Centro-Sul são apresentados na Figura 3.

Figura 3 – Ciclo da cana de ano e meio e da cana de ano e variações de temperatura média e chuvas na região Centro-Sul. Fonte: Castro, 1999

Em termos da época de colheita, considera-se que as canas a serem colhidas nos meses de abril, maio e junho são precoces; canas a serem colhidas em julho, agosto e setembro são consideradas de ciclo médio e as colhidas em outubro e novembro são consideradas tardias. A colheita de cana-de-açúcar no período correto (no pico da maturidade) é necessária para conseguir um peso máximo de colmos para a moagem, tendo sido produzidos com as menores perdas possíveis sob um dado ambiente de crescimento (SEGATO et al., 2006).

3.1.5 Fatores de qualidade, a remuneração da tonelada de cana-de-açúcar no Estado