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3.3 Desenvolvimento infantil e contexto ambiental: estudos

3.3.2 Desenvolvimento infantil no contexto da creche

Embora haja muitos estudos brasileiros realizados no contexto de creches públicas (Biscegli et al., 2007; Souza et al., 2008; Eickman et al., 2009; Santos D et

al., 2009; Baltieri et al., 2010; Souza et al. 2010; Brito et al., 2011), poucos são

aqueles que verificam a influência do ambiente educacional no desenvolvimento infantil (Rezende et al., 2005; Lordelo et al., 2007; Campos et al., 2011b; Barros et

al., 2003; Barros et al., 2011). Os estudos existentes apresentam diferentes

desenhos de pesquisa: estudo longitudinal com avaliação antes e após entrada na creche (Rezende et al., 2005), comparação entre crianças que frequentam ou não creches (Lordelo et al., 2007), comparação entre desempenho de crianças de creche particular com creche pública (Barros et al., 2003) e comparação entre crianças pertencentes a ambientes de creche de qualidade heterogênea (Campos et al., 2011b; Barros et al., 2011).

Rezende et al. (2005) acompanharam 30 crianças, de zero a quatro anos durante dois anos, desde a entrada na creche, realizando uma série de três avaliações. Ao final desse período, os autores encontraram melhora no desempenho das crianças no setor pessoal-social e piora no setor da linguagem. Já Lordelo et al. (2007) compararam o desenvolvimento cognitivo, avaliado quatro vezes ao longo de 26 meses, de crianças economicamente desfavorecidas, 19 das quais frequentavam creche e 18 permaneciam em casa. Os autores não encontraram diferença entre os grupos quanto ao desfecho estudado. Barros et al. (2003) compararam o desenvolvimento global de crianças de cinco anos, 50 de creches públicas e 50 de creches particulares. Os autores encontraram atraso nas habilidades motoras finas no grupo de crianças das creches públicas. No entanto, os resultados desses três estudos devem ser analisados com cautela, pois os dois primeiros trabalharam com amostra reduzida e faixa de idade muito ampla. Nenhum dos três estudos avaliou de forma sistemática a qualidade dos ambientes educacionais. Além disso, a influência dos ambientes de casa não foi avaliada ou controlada. Todos esses fatores podem ter influenciado diretamente nos resultados.

Um estudo sobre o impacto da qualidade da educação infantil no desempenho escolar foi realizado por Campos et al. (2011b) em diferentes capitais brasileiras. Os autores verificaram, por meio de análise de modelo hierárquico de classificação cruzada, que frequentar a educação infantil, particularmente aquelas

de melhor qualidade, fez diferença no desempenho de 762 crianças na Provinha Brasil, avaliação diagnóstica do nível de alfabetização realizada no segundo ano do ensino fundamental das escolas públicas brasileiras. Fatores relacionados ao ambiente da família, como renda familiar e escolaridade materna, foram coletados e também apresentaram impacto sobre os resultados encontrados. No entanto, mesmo controlando os fatores familiares, crianças que frequentaram pré-escolas de boa qualidade comparadas com aquelas que não frequentaram pré-escola obtiveram acréscimo de 12% na escala de notas da Provinha Brasil.

Barros et al. (2011), usando uma amostra aleatória de 500 crianças de 100 creches no município do Rio de Janeiro, verificaram o impacto da qualidade das creches sobre o desenvolvimento infantil controlando as influências das características da família e pessoais da criança. Os autores também realizaram a avaliação dos custos de uma creche de melhor qualidade. Para qualidade das creches, os indicadores foram organizados em quatro dimensões: infraestrutura; saúde e saneamento; atividades e estrutura do programa; recursos humanos; pais e relações comunitárias. O desenvolvimento global, mental, social e físico foi medido pelo cartão da criança, elaborado pelo Instituto de Pesquisas Heloísa Marinho, levando-se em consideração a idade de aquisição dos marcos. Os autores encontraram impacto moderado da qualidade da creche no desenvolvimento global, social e mental das crianças e nenhum impacto sobre o desenvolvimento físico. Ao analisarem por dimensão, atividades e estrutura do programa apresentaram impacto significativo no desenvolvimento global, mental e social. A infraestrutura teve impacto significativo apenas no desenvolvimento físico. Os autores encontraram que o custo unitário dos serviços de alta qualidade é 72% maior que o custo unitário correspondente para serviços de baixa qualidade e estão mais associados às dimensões recursos humanos e infraestrutura. No entanto, os autores concluíram que as dimensões com custos financeiros mais baixos, atividade e estrutura do programa foram aquelas que apresentaram maior impacto no desenvolvimento infantil.

Vários estudos procuraram verificar a prevalência de atraso em diferentes domínios do desenvolvimento infantil e fatores de risco associados, considerando crianças frequentadoras de creche públicas, sem necessariamente associar os resultados com a exposição ao ambiente educacional (Biscegli et al., 2007; Souza et

al. 2010; Brito et al., 2011). Por meio do instrumento de triagem do desenvolvimento

Denver II, Souza et al. (2008), Biscegli et al. (2007) e Brito et al. (2011) encontraram prevalência de suspeita de atraso no desenvolvimento global em crianças na primeira infância, respectivamente, de 30,2%, 37% e 46,7%. Tanto Souza et al. (2008) como Brito et al. (2011) realizaram estudo com crianças em idade pré-escolar e encontraram associação do desempenho inferior nos testes aos fatores de risco: pertencer ao sexo masculino, pertencer à faixa etária mais alta, de cinco e/ou seis anos de idade. Os últimos autores destacaram ainda fatores de risco, como a mãe não ter realizado consultas pré-natais (ou só ter realizado após três meses de gestação) e consumo de álcool durante a gestação.

Eickmann et al. (2009) avaliaram 109 crianças e não encontraram associação entre desempenho motor ou mental com fatores de riscos sociodemográficos, havendo associação apenas com riscos biológicos (prematuridade, baixo peso ao nascimento e índice peso/estatura). Santos D et al. (2009) avaliaram 145 crianças e encontraram prevalência de atraso no desenvolvimento motor de 17%, com destaque para o pior desempenho das crianças menores de 24 meses. Baltieri et al (2010) realizaram avaliação em 40 crianças de 12 a 24 meses frequentadoras de creche pública e encontraram 22,5% com suspeita de atraso no desenvolvimento motor grosso e global e nenhuma no domínio motor fino. De forma semelhante, Souza et al. (2010) verificaram que o desenvolvimento motor grosso esteve mais comprometido do que o desenvolvimento motor fino, ao estudar 30 crianças aos 12 e depois aos 17 meses, frequentadoras de creche.

Os estudos de intervenções voltadas diretamente para o desenvolvimento infantil focadas em ambientes coletivos, como a creche, são escassos (Almeida e Vantini, 2010; Soejima; Bolsamelo, 2012). Pesquisadores encontraram desfecho positivo ao realizar intervenção individual em crianças com atraso no desenvolvimento cognitivo e motor (Soejima; Bolsamelo, 2010) ou de treino de memória em bebês frequentadores de creches públicas (Almeida; Vantini, 2010).

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