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1 INTRODUÇÃO

1.3 O ESTUDO DOS PROCESSOS DE RECONFIGURAÇÃO DO ENSINO

1.3.1 O desenvolvimento da pesquisa

A pesquisa de campo foi desenvolvida de modo mais concentrado ao longo dos anos de 2001 e 2002. Nesse período, as escolas estiveram envolvidas na elaboração dos novos planos de curso do ensino técnico em atendimento às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico (Res. CNE/CEB nº 4) e ao Parecer CNE/CEB nº 33/2000, que fixou o final do ano de 2001 como prazo final para a observância dessas Diretrizes. Tendo a separação entre ensino médio e técnico sido já efetivada em 1998, em atendimento à Resolução nº 232/97 do Conselho Estadual de Educação, os novos planos foram discutidos já como uma revisão das bases curriculares então adotadas. No mesmo período, as escolas elaboram seus novos regimentos e seus planos político-pedagógicos. No ano de 2002, enquanto tramitavam e aguardavam a aprovação pelo Conselho Estadual de Educação, os novos planos de curso já eram implementados. Ao final de 2003, o retorno às escolas permitiu a complementação dos dados anteriormente coletados.

A pesquisa de campo foi organizada, fundamentalmente, em torno da análise de documentos produzidos nas escolas nesse período – listados no Apêndice A deste texto – e de entrevistas semi-estruturadas realizadas com professores dos cursos técnicos da área industrial – mecânica, eletrônica e eletrotécnica -, coordenadores dos cursos, coordenadores de estágio, supervisores e assessores pedagógicos e diretores das escolas.

O caminho escolhido para o contato com os entrevistados foi o institucional. A intenção da pesquisa foi inicialmente comunicada ao Superintendente da Educação

Profissional, professor Gabriel Gabrowski, que providenciou carta de apresentação às direções das escolas. Em março de 2001, numa primeira visita a cada uma delas, foi comunicado o interesse de entrevistar professores e estudantes de modo a conhecer diferentes visões sobre a escola e o ensino técnico no contexto da reforma. Através da supervisora pedagógica de cada uma das escolas, estabeleceu-se contato com os coordenadores dos cursos técnicos, com os professores responsáveis pelo serviço ou coordenação de estágios e, no caso da Escola Parobé, também com os professores do Departamento Técnico-Pedagógico (DTP), responsáveis pela coordenação dos processos de elaboração dos planos de curso do ensino técnico.

Na Escola Técnica Parobé, a agenda de entrevistas com professores seguiu um curso não muito planejado, após o contato inicial com os coordenadores de cada curso. Alguns entrevistados foram indicados pelos coordenadores ou colegas, outros foram abordados pela investigadora depois de contatos informais, e alguns manifestaram, antes de qualquer convite, a disposição em colaborar com a pesquisa. Algumas entrevistas foram realizadas em intervalos entre turnos, horários dedicados ao atendimento aos alunos e outras foram realizados durante aulas, após o professor encaminhar uma tarefa aos alunos. Apenas duas entrevistas foram realizadas fora da escola, atendendo à disponibilidade dos entrevistados. Nessa escola, a procura dos entrevistados buscou atender, além da orientação ou acompanhamento do estágio, ao critério da diversidade das disciplinas ministradas, das trajetórias de formação (técnicos, engenheiros, com ou sem formação pedagógica), de trabalho (atuando ou não em empresas), dos tempos variados de atuação na escola, de regime de trabalho (parcial ou integral, contratados ou concursados). Foram privilegiados os cursos de mecânica e o de eletrônica, respectivamente o mais antigo e o mais recente. Além da diretora, das coordenadoras do Serviço de Supervisão Escolar (SSE) e do Serviço de

Integração Escola-Empresa (SIE-E), do coordenador do Projeto Político-Pedagógico e de dois professores do DTP, foram entrevistados, na escola, duas professoras do núcleo comum, dez professores do curso de eletrônica, três do curso de eletrotécnica e nove do curso de mecânica.

As entrevistas realizadas na Escola Técnica Estadual Monteiro Lobato foram quase todas previamente agendadas com a supervisão pedagógica da escola. Foram entrevistados professores mais antigos e mais jovens, todos manifestamente engajados no processo de reestruturação da escola. Além dos diretores em 2001 e 2002, das supervisoras em 2001 e 2002, de um professor que assessorava a escola em 2002, do coordenador do ensino técnico e do professor supervisor de estágios, foram entrevistados quatro professores do curso de eletrônica, três professores do curso de eletrotécnica e dois do curso de mecânica.

Algumas entrevistas com professores, realizadas em sala de aula ou em laboratórios, constituíram-se também em momentos de observação da atividade dos alunos e das interações com os professores.

Entrevistas realizadas em salas de reunião ou coordenação ensejaram a observação de diferentes momentos do cotidiano escolar: negociações de horários entre professores e coordenadores, trocas de informações sobre equipamentos e sua manutenção, consultas sobre calendário escolar e procedimentos internos, discussões sobre avaliação e outras questões relativas à atividade docente.

A realização das entrevistas em espaços de trabalho suscitou, em diversos momentos, a interveniência de colegas, permitindo o registro de diálogos entre professores, incluindo divergências ou concordâncias, a observação de modos de tratamento recíproco, desentendimentos e brincadeiras próprias do cotidiano escolar. Depoimentos dos alunos, bem como diálogos e comentários dos professores em

situações informais forneceram também pistas importantes para o encaminhamento das entrevistas.

Nas duas escolas, as direções acolheram a realização da pesquisa, sem restrições. Entretanto, alguns dos professores inicialmente entrevistados na Escola Técnica Parobé solicitaram que os depoimentos não fossem gravados, assim como um dos professores na Escola Técnica Estadual Monteiro Lobato. Em cada um desses casos, e mediante a autorização dos entrevistados, buscou-se realizar anotações tão completas quanto possíveis, reproduzindo, além dos argumentos, expressões utilizadas pelos entrevistados.

Os roteiros que serviram de suporte às entrevistas constam do Apêndice C. Na condução das entrevistas, houve alterações de ordem e detalhamento dos tópicos e questões de modo a favorecer a fluidez, confrontar pontos de vista dos entrevistados, esclarecer o sentido das falas e incorporar contribuições de acordo com a sua reflexão e vivência. As entrevistas tiveram uma duração média de cerca de cinqüenta minutos. As entrevistas são relacionadas, no Apêndice D, com a indicação do período em que foram realizadas. Os entrevistados são em geral referidos, no Apêndice D e ao longo do texto, segundo nomes fictícios, de modo a preservar sua identidade, conforme compromisso assumido por ocasião das entrevistas.

Nos depoimentos de assessores, coordenadores de curso ou supervisores, alguns trechos em que se fazem relatos foram referidos aos cargos ocupados. A expressão de opiniões foi, contudo, referida segundo nomes fictícios, como nos casos dos demais professores. Apenas nos casos dos diretores considerou-se que os depoimentos tinham um caráter marcadamente institucional, devendo ter sua autoria sempre explicitada.

dados através de:

- anotações produzidas após visitas às escolas: registros de conversas ou comentários de professores, eventos, observações relativas ao espaço físico, instalações e equipamentos, cartazes;

- anotações produzidas durante ou após observações de aulas na Escola Técnica Parobé e eventos realizados nas duas escolas;

- questionários preenchidos por 112 alunos da Escola Técnica Parobé e 71 alunos da Escola Técnica Estadual Monteiro Lobato, em sala de aula, conforme roteiro constante no Apêndice E deste relatório, com resultados parciais sistematizados no Apêndice F;

- entrevistas com os oito grupos de alunos respondentes do questionário na Escola Técnica Parobé, realizadas em sala de aula, entre junho e novembro de 2001, com a presença de professores em três desses grupos;

- entrevistas com alunos da Escola Técnica Estadual Monteiro Lobato, expositores de projetos em feira da escola realizada em dezembro de 2001;

- entrevista com o professor Gelso Gonçalves, antigo aluno, professor e diretor da Escola Técnica Parobé;

- transcrição de palestra do professor Fernando Viacava, assessor da Escola Técnica Estadual Monteiro Lobato, proferida em Encontro Estadual de Escolas Técnicas realizado em maio de 2002.

Na Escola Técnica Parobé, foram registradas notas referentes aos eventos: exposição em painel da experiência em curso na escola durante o Segundo Encontro Estadual das Escolas Técnicas, em abril de 2001, Ato de Entrega das Obras de Ampliação e Modernização dos Equipamentos do Centro Tecnológico Estadual Parobé, em julho de 2002, feiras científicas realizadas no final de 2001 e 2002, I e II

Mostra de Projetos de Eletrônica, em dezembro de 2002 e julho de 2003, e III Parotec, em dezembro de 2003. Foram também registradas notas de entrevistas com alunos expositores da I Mostra.

Na Escola Técnica Estadual Monteiro Lobato, foram registradas notas relativas aos eventos: seminário de apresentação dos trabalhos de conclusão, realizado em novembro de 2001; mostras de projetos desenvolvidos pelos alunos realizadas em dezembro de 2001 e dezembro de 200; participação de expositores nas Mostras Internacionais de Ciência e Tecnologia (MOSTRATEC) realizadas na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha em 2002 e 2003.

A pesquisa desenvolvida no âmbito das escolas foi, por sua vez, complementada por consulta a fontes documentais e orais através das quais buscou-se compreender a política para o ensino técnico implementada pelo governo estadual no período e suas repercussões nas escolas. Em dezembro de 2002, foram entrevistados o Superintendente da Educação Profissional, professor Gabriel Grabowski, e dois de seus assessores nas áreas técnica e pedagógica. Em novembro de 2003, foi entrevistado o Superintendente da Educação Profissional do novo governo, professor Martim Saraiva Barboza. Foram consultados documentos produzidos pela SUEPRO durante o governo Olívio Dutra (1999-2002) e o governo Rigotto (iniciado em 2003), bem como documentos de governo ou da Secretaria de Educação que fazem referência à educação profissional, listados no Apêndice B deste texto.

A leitura dos documentos foi complementada: por anotações produzidas durante a participação em diversos eventos promovidos pela SUEPRO nesse período, relativas às falas dos palestrantes, mas também à participação dos professores das escolas; pelo registro de audiência pública sobre o ensino técnico estadual realizada,

por proposição de professores da Escola Parobé, pela Comissão de Educação da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul em setembro de 2003.