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Desenvolvimento Psicossocial, Identidade e Relações de Intimidade

Parte 1 – Enquadramento Teórico

4. Desenvolvimento Psicossocial, Identidade e Relações de Intimidade

A perspetiva psicossocial de Erikson posiciona o desenvolvimento do indivíduo num contexto social, enfatizando a interação com os pais, família, instituições sociais e cultura, intimamente ligados ao longo da vida. Cada fase do desenvolvimento psicossocial pode ser encarada como um determinado período da sequência vital, quando o crescimento físico, a maturação cognitiva e determinadas demandas sociais convergem para gerar uma tarefa desenvolvimental especifica (Widick, Parker, & Knefelkamp, 1978 citado em Fernandes, 2016).

No que se refere ao desenvolvimento psicossocial do adulto emergente, pode-se referenciar que este relaciona-se com a progressão para o desenvolvimento da autonomia e individuação (Scharf & Mayseless, 2007) que abrange a adolescência e jovem adultez. Surge, então o conceito de intimidade, referenciado anteriormente, ou seja, a capacidade de fundir a identidade com alguém sem o medo de perder algo de si mesmo. Embora, o desenvolvimento da intimidade se inicie na infância, tendo em conta que é “num processo contínuo de desenvolvimento de vinculações seguras e de uma confiança que se constituem os alicerces para uma intimidade adulta” (Costa, 2005, p.71), é no período da adultez emergente que aumentam o interesse e a capacidade de intimidade com amigos e parceiros românticos (Fernandes, 2016). No entanto, a intimidade pode ser comprometida em situações em que alguma consolidação bem-sucedida da identidade não foi alcançada (Erikson,1968 citado por Arseth, Kroger, Martinussen, & Marcia, 2009).

Progressivamente, o conceito de intimidade torna-se mais presente na construção de relações românticas estáveis e relações de amizade íntimas na vida dos jovens adultos e estes deparam-se com o desafiante objetivo de construção de uma identidade adulta, num contexto de exploração de diferentes desenlaces inerentes a esta fase (Ávila, Cabral, & Matos, 2010; Marcia, 1966).

Assim, a consolidação identitária inerente a este processo promove no jovem adulto, a necessidade de estabelecer um sentido de si relativamente, focando-se na resolução da dualidade intimidade versus isolamento, que determina se e com quem partilhará este sentido de si (Pittman et al., 2011; Widick et al., 1978 citado em Fernandes, 2016).

No decorrer da busca pela autonomia e um sentido de identidade mais estável, as relações experienciam um aumento de confiança, interdependência, e individualidade, sendo que o apoio é transmitido de forma mais simples, mais forte, mais implícita e mais confiável. As relações de amizade e amor sobrevivem ao desenvolvimento de diferenças e estas são mais facilmente ultrapassáveis fomentando a sua consistência, para além das separações e da falta de comunicação (Chickering, 1969 citado em Fernandes, 2016).

Deste modo, o sentido de identidade torna-se crucial para o desenvolvimento de relações amorosas bem-sucedidas. Os sujeitos com uma identidade realizada, geralmente têm relações bem-sucedidas, maduras e íntimas, atingindo um estado denominado de íntimo, normalmente caraterizado por autoconsciência, interesse genuíno nos demais e a ausência de defensividade significativa, enquanto sujeitos com uma identidade não consolidada, apresentam uma tendência para relações estereotipadas, com reduzida profundidade e proximidade genuínas, ou para o isolamento, com a falta de amigos próximos e de experiências amorosas (Orlofsky, Marcia e Lesser,1973).

Contudo, a diferença de géneros parece ter algo a referenciar no que diz respeito à questão identitária. Para o adolescente do sexo masculino, verifica-se a tendência para testar quem é através das questões de competência e conhecimento, enquanto para a adolescente do sexo feminino a questão resolve-se em torno de quem é em relação com os outros (Arseth et al., 2009; Hodgson & Fischer, 1979 citado em Fernandes, 2016).

Assim, as relações de intimidade possuem implicações fundamentais na identidade, fornecendo feedback interpessoal que leve à reconsideração de compromissos de identidade prévios e os parceiros íntimos podem ser fontes de apoio e de validação, acabando por reforçar o constructo identitário vigente (Pittman et al., 2011). Salienta-se que, apesar de o constructo identitário se pressupor, nesta fase, tal não implica uma estabilidade absoluta do mesmo (Fernandes, 2016).

Deste modo, o desenvolvimento psicossocial pode ser experienciado como uma co- construção psicossocial resultante da interação dos contextos histórico e cultural, bem como de todos os outros significativos que partilham desses contextos (Pittman et al., 2011). Este associado à teoria de vinculação de Bowlby ganha uma compreensão mais aprofundada do conceito de intimidade, visto que a vinculação implica representações do self e dos outros, e

fornece os pilares para o desenvolvimento social e da personalidade, podendo estas representações ser encaradas como atributos para o desenvolvimento psicossocial. Na fase da adolescência, o jovem adolescente tende a procurar a companhia de um par, geralmente do sexo oposto, com quem constrói uma relação, em que os sistemas reprodutor, de prestação de cuidados, e de vinculação estão envolvidos (Ainsworth, 1989). Assim, as relações românticas iniciam-se e o adolescente confronta-se com vários desafios. Contudo, é importante distinguir experiências românticas de relações românticas, sendo que as experiências românticas contemplam um conjunto de situações, desde fantasias, a interações, relações de curta duração, até relações duradouras (Tuval-Mashiach, Walsh, Harel, & Shulman, 2008) e as relações românticas integram-se nas experiências românticas, assumindo um lugar de destaque nesse tipo de experiência (Collins et al., 2009).

As relações românticas diferenciam-se de qualquer outra relação do adolescente e assumem um importante papel para o desenvolvimento, contribuindo para a construção de uma autonomia emocional face aos pais e permitindo a diferenciação psicológica do grupo de pares. Corresponde a um “padrão mais ou menos prolongado de associação e de interação entre dois indivíduos que reconhecem a existência de ligação 5 um ao outro” (Brown et al., 1999, p. 3). Normalmente, ocorre uma escolha pessoal e, em geral, envolve atração intensa ou apaixonada, não só se referindo à atração sexual, mas aquela que também envolva paixão e amor.

No adulto emergente, as relações de intimidade baseiam-se em aspetos específicos tais como a individualidade, a liberdade, a descartabilidade, a busca de romantismo, igualdade de géneros e superficialidade (Smeha & Oliveira, 2013). No entanto, quando se questiona o que o adulto emergente procura num relacionamento amoroso, surgem aspetos como a confiança, o respeito, a beleza e alguém com um bom futuro profissional, sendo que, quando as relações românticas são fruto do investimento de ambas as partes, as mesmas baseiam-se na liberdade e na individualidade (Smeha & Oliveira, 2013).

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