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4.1 A INDÚSTRIA AVÍCOLA EM MOÇAMBIQUE

4.1.3 Desestatização e privatização da indústria avícola (1986/94)

Em Janeiro de 1987, entrou em vigor o Programa de Reabilitação Econômica (PRE) e foram aprovadas leis de investimento e liberalização do comércio, medidas que preconizavam o incentivo ao investimento privado nacional e estrangeiro. Coube ao Ministério de Agricultura, órgão tutelar das Empresas Avícolas, definir uma nova estratégia de ação para o desenvolvimento do setor.

Assim, em setembro de 1987, por meio da empresa Northern Hemisphere Trading, Lda. (N.H.T) – Sun Rich, subsidiaria da Primer Internacional (PTY), Ltd., com sede em Londres (Inglaterra), foi celebrado um contrato de gestão24, redigido em regime equivalente aos de capitais mistos, com a Empresa Avícola E.E. de Maputo, por três anos, renováveis. Este contrato permitia a NHT-Sun Rich gerir 5 unidades de produção da Empresa Avícola de Maputo, produzir pelo menos 1.200 toneladas de frangos e 4.000.000 de ovos/ano e integrar e treinar trabalhadores ao serviço da Avícola E.E. nas unidades produtivas sob gestão (MINAG, 1989).

Para viabilização da empresa, 50% dos produtos deveriam ser comercializados em moeda conversível, para cobrir e amortizar os recursos financeiros disponibilizados pela NHT- PREMIER, em gastos efetuados na compra de insumos e equipamentos necessários à produção, reabilitação de infra- estruturas, entre outros (MINAG, 1989). E durante o período em que o “contrato de gestão” esteve vigente, as metas de produção preconizadas foram alcançadas e realizaram-se investimentos na área de abate, produção e montagem de fábrica de rações. No entanto, após o término do período do contrato, ele não foi renovado por vários motivos, dentre eles, seu não enquadramento ao novo contexto econômico do país (MINAG, 1989).

Em 1990, o Governo moçambicano introduz o segundo programa de reajustamento estrutural, o Programa de Reabilitação Econômica e Social (PRES), e, em 1991, foi publicado o estatuto das empresas públicas pela Lei n° 17/91, em que foram criadas as empresas públicas de bens e serviços básicos, como a de eletricidade, telecomunicação, saúde e educação, e a atividade avícola não se enquadrava nesse contexto; pois, segundo MÉTIER (2006), O Estado viu-se na necessidade de se libertar da gestão das diversas empresas e atividades pelas quais ele não tinha vocação, deixando-as para o interesse e iniciativa do setor privado.

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Segundo MÉTIER (2006), o processo de privatização compreendia várias modalidades, que podiam ser aplicadas separadamente ou em conjunto, que fora: alienação por concurso público; oferta ou venda pública de ações; realização de investimentos privados em empresas do Estado; contratos de concessão de exploração e de gestão, entre outros.

Já se fazia sentir a presença do setor privado que, segundo o MINAG (1989), o seu volume de produção já era superior a 50% comparado com o volume de produção da Empresa Avícola E.E., principalmente, em relação à cidade de Maputo.

Com as medidas de desestatização adotadas a partir de 1985, verificou-se um processo de redução da capacidade instalada do setor estatal, como pode ser identificado no comparativo dos anos de 1982 e 1985, quando se observou uma redução de 49,8% para a produção de carne de frango, conforme Tabela 11.

Tabela 11.Capacidade instalada existente no país em 1982 e em 1985, por setor de produção. Setor Atividade Estatal (1982) Estatal (1985) Evolução % Privado (1985) Carne (m2) 116.172 58.273 -49,8 78.454 Ovos (m2) 44.979 95.997 113,4 38.629 Reprodução (m2) 36.860 36.925 0,2 - Incubação (ovos) 670.016 1.148.816 71,5 - Abatedouro (aves/horas) 2.000 2.000 0 -

Fonte: Elaborado pela autora, com base em dados do MINAG (1985 e 1995).

Segundo os dados da Tabela 11, a maior redução foi observada na área destinada à produção de carne. Segundo dados de MINAG (1995), isto foi verificado, principalmente, pela redução drástica da capacidade instalada da região Sul (86,2%), de 72.244 m2 em 1982, para 9.976 m2 em 1985; também pelo processo de concessão e aluguel das instalações das unidades de produção da empresa estatal, em 1985. Em relação à produção de ovos, houve um incremento de mais de 100%, decorrente dos investimentos feitos pela empresa, com recursos provenientes do financiamento sul africano.

O crescimento da capacidade instalada na área de reprodução não ultrapassou 0,2%, devido aos problemas relacionados com a falta de

investimentos, segundo o relatório da DINAP (1990). A capacidade instalada do setor de incubação, por sua vez, cresceu 71,5%; enquanto, a capacidade instalada do abate se manteve.

A capacidade instalada no setor privado, segundo a Tabela 11, já era representativa, correspondendo a mais de 34,6% da capacidade instalada do setor estatal no mesmo período, para a produção de carne de frango.

Apesar dos investimentos realizados e do esforço para a manutenção da Empresa Estatal Avícola, após quase vinte anos da independência, em 1994, o setor estatal era inexistente.

No Gráfico 1 é possível observar a alternância da produção avícola entre o setor estatal e os demais setores (privado, cooperado e familiar), pois, enquanto a produção do setor estatal foi decrescendo até o nível zero, os outros setores, gradualmente, ampliavam sua participação no mercado avícola moçambicano.

0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 Ano Tone la da s Estado Privado Cooperado Familiar

Fonte: Elaborado pela autora, com base em dados do MINAG (1985 e 1995).

Gráfico 1. Evolução da Produção de carne de frango por setor produtivo

A partir de 1995, o Ministério da Agricultura iniciou a aceitação de propostas para a aquisição, alienação e regularização de diversas unidades de produção cedidas ou alugadas ao setor industrial privado, cooperativo, entre outros. Assim,

deu-se início ao desenvolvimento da avicultura a nível empresarial e cooperado. A título de exemplo, em outubro de 1996, foi publicado no Jornal Notícias (jornal estatal de circulação nacional), a alienação da Empresa Avícola E.E de Manica, embora, neste período, todas as instalações da empresa já se encontrassem alugadas, desde 1991, ao setor privado (MINAG, 1995; MORGADO, 2004).

Em suma, pode-se afirmar que a insustentabilidade da atividade, deveu-se à situação econômica que o país atravessava (escassez de divisas); a intensificação da guerra, que trouxe instabilidade ao país, destruição de infra- estruturas e das redes de comercialização, deslocamento das populações (mão- de-obra); mais os problemas internos do setor ao nível técnico, sanitário e de gestão (organizacional e de coordenação) que tiveram efeitos devastadores na manutenção e sobrevivência da atividade avícola estatal nos anos 80.

Situação essa, também observada em muitos países africanos, segundo SONAIYA (1990), quando afirmou que a insustentabilidade da avicultura industrial, na África, após independência, deveu-se a problemas técnicos, biológicos, institucionais e socioeconômicos.

4.1.4 Período de estagnação e de crise na indústria avícola após