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3. O CASO DOS RODOVIÁRIOS EM PORTO ALEGRE/RS (2014)

3.3 Desfecho fático e jurídico

Dessa maneira, como é previsto nos art. 114, II e III da Constituição Federal,

tratando se de ação ajuizada de Dissídio Coletivo que envolvia direito de greve, bem

como acerca representação sindical, entre sindicatos, a Justiça do Trabalho é

competente para processar e julgar o litígio restadas as outras maneiras

autocompositivas ineficazes.

E, no dia 17 de janeiro de 2014, mediante dissídio coletivo, após as

realizações de seções de tentativas de conciliação, realizadas pela desembargadora

Ana Luiza Kruze, foi acordado o índice de 7,5% de reajuste, que representa 2% acima

do INPC, de 5,5%. Com o aumento, os salários de motoristas e cobradores passaram

para R$ 2.008,10 e R$ 1.206,15, respectivamente.

A comissão de julgamento, também fixou o reajuste do vale-alimentação

de R$ 16 para R$ 19 e a continuidade do plano de saúde, agora com desconto de R$ 10

no contracheque de cada trabalhador em vez de R$ 40. Também ficou definido que o

banco de horas, cuja extinção era uma das principais reivindicações dos rodoviários,

valerá apenas até 31 de julho de 2014

.

Dessa forma, houve sucesso na tentativa de conciliação presidida pela

desembargadora Ana Luiza Kruze, responsável pelo dissídio coletivo em questão, e

após a homologação do acordo pelo Ministério Público do Trabalho houve a extinção do

feito, de acordo com Acórdão nº 0004272-84.2012.5.04.0000 DC:

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Disponível em: http://www.sul21.com.br/jornal/rodoviarios-de-porto-alegre-decidem-colocar-100-dos-onibus-em-circulacao-e-manter-estado-de-greve/ Acesso em: 10 jun. 2014.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos.

ACORDAM os Magistrados integrantes da Seção de Dissídios Coletivos do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região: por unanimidade, homologar o acordo firmado entre o sindicato suscitante e o suscitado (fls. 263/269), livremente avençado entre as partes, para que produza seus jurídicos e legais efeitos, no âmbito das categorias representadas, ressaltando-se que, no cumprimento do acordo, as cláusulas e condições ajustadas serão examinadas à luz das normas constitucionais, legais e das soberanas decisões das assembleias, as quais, neste ato, juntamente com as fontes formais de Direito, são expressamente ressalvadas. O Ministério Público do Trabalho manifestou-se oralmente pela homologação do acordo, com ressalvas. Extingue-se o feito. Custas, pro rata, de R$ 200,00 (duzentos reais), calculadas sobre o valor arbitrado de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Por fim, importante salientar que, após realizado o acordo e findado o

conflito trabalhista coletivo utilizando os fundamentos da conciliação, o processo

teve uma enorme economia ao erário, bem como solução eficaz e célere que

contemplou, em tese, os interesses de ambas as partes do litígio.

Com a ausência de referido procedimento, haveria maior dificuldade em

buscar uma solução pacífica para o conflito, além de corroborar com abarrotamento

do judiciário. Dessa forma, com a extinção do feito os desembargadores daquele

Tribunal ficaram aptos a resolverem outras questões de cunho fundamental para o

melhor funcionamento judicial e social do país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, pode ser verificada após a análise dos institutos da Arbitragem e

da Mediação sua real inserção na sociedade brasileira, no âmbito trabalhista,

surgindo como interessante medida para solução mais célere e eficaz dos conflitos.

Ademais, mesmo que implicitamente, é verificada a presença dos dois

institutos mesmo com a proteção jurisdicional sobre o conflito, atuando o magistrado

de duas maneiras, numa fase pré processual, ao buscar, de acordo com os

preceitos e fundamentos vigentes na legislação trabalhista, a conciliação, o

magistrado de certa forma atua como mediador e no caso de não aceitação de um

possível acordo, atua como árbitro, resolvendo e pondo fim a questão da maneira

que julgar ser a mais correta, mediante posterior fundamentação.

Ainda, percebe se os dois institutos com potencial para ajudar a “desafogar”

a Justiça Trabalhista, principalmente a Mediação, por ter um caráter único e ser

capaz de trazer aos conflitantes uma decisão mais harmônica, já que as próprias

partes são responsáveis pela sorte ou azar do acordo. E, inegável a presença de

uma maior liberdade aos trabalhadores, ao poder, com a ajuda de um mediador

capaz, refletirem sobre a melhor decisão a ser tomada. Outro ponto interessante

sobre o método é a capacidade de formular uma solução plenamente eficaz, pela

maneira como é realizado todo o procedimento de mediação, não tendo uma

decisão arbitrada por um terceiro que muitas vezes não tem o conhecimento

necessário ou a experiência que muitas vezes encontra-se debaixo do próprio nariz

de cada conflitante. Ou seja, é vislumbrada na mediação, uma autonomia das partes

e no caso de sua aplicação na esfera trabalhista, pode ser um dos poucos

momentos, na vida do proletário, onde ele possui essa autonomia, de ser capaz de

decidir o que verdadeiramente é melhor para si mesmo. Por isso, muito além de um

método inovador ou considerado recente no nosso ordenamento, a mediação pode

ser considerada uma forma de legitimar o livre arbítrio, retirando, nesse pequeno e

pertinente momento de conflito entre as partes, do Estado àquela liberdade cedida

nas teorias contratualistas de Hobbes ou Rousseau.

Por fim, o que de fato se faz necessário num primeiro momento, é trazer ao

proletariado e a grande parte da sociedade, acesso a informação e educação, para

poder incluir esses ao entendimento do seu próprio ordenamento jurídico. E não

somente a “imbecialização” do ingresso na atividade jurisdicional, que acaba muitas

vezes sendo utilizada como forma de ameaça e causadora de medo ao trabalhador

ou empregador, justamente pela falta de acesso a informação e a incompreensão

das verdadeiras funções e serventias de todo o aparelho jurídico nacional.

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