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1.3 Carências Nutricionais: um problema de Saúde Pública

1.3.1. Desnutrição energético-proteica

O acompanhamento do crescimento físico pela antropometria é considerado essencial nas avaliações das condições de saúde e nutrição de crianças na idade escolar. (Kac e Santos, 1996). No Brasil já se observa uma progressiva redução da prevalência das formas moderadas e graves da desnutrição, porém com persistência de algum déficit de estatura, especialmente nas populações de baixa renda. É importante ressaltar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza a utilização das curvas de crescimento da “National Center for Health Statistic”(NCHS), constituindo-se numa proposta de referência única para todos. (WHO,1986,1995; Kac e Santos, 1996; Monteiro, 1996).

O processo conhecido como transição nutricional é observado pelos dados apresentados, que mostram as modificações no perfil nutricional tão bem demonstrado por Monteiro e cols. (1999a,b). Entretanto é importante ressaltar o aumento da obesidade que, segundo Lamounier (2000) já apresenta uma variação na adolescência de 8 a 22% dependendo do lugar, período de coleta de dados e metodologia aplicada. (Anjos et al, 2003)

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição – PNSN (1989), 15,6% dos escolares apresentavam retardo de crescimento estatural compatível com o nanismo. Este percentual teria declinado para 10,2% em 1996, a partir dos dados da Pesquisa de Demografia e Saúde (Silva,1998).

No Nordeste, Santana et al (1994) realizaram estudo com 2294 escolares no estado da Paraíba; a prevalência global encontrada foi de 20,4% de crianças com desnutrição crônica. Já Rivera et al (1994) em investigação envolvendo 8499 estudantes de primeira série do primeiro grau de 648 escolas dos 17 municípios da sétima Região Educacional, no extremo oeste da Paraíba, encontraram uma prevalência média de desnutrição crônica de 20,4% cuja variação entre os diferentes municípios era de 12,0% a 30,7%, tendo como os mais críticos, os municípios de Boqueirão dos Cochos, São José do Caiana, Olho d'Água, Diamante, Ibiara, Aguiar e Conceição, os quais exibiram índices de desnutrição acima da média regional, revelando também, prevalência elevada no setor rural, nas escolas municipais, no sexo masculino e nos grupos etários de 7 a 9 anos.

Na cidade de Natal-Rio Grande do Norte, foi desenvolvido por Lyra (2000), um inquérito de prevalência sobre estado nutricional em 525 escolares adolescentes, tendo sido encontrado que 10,1% deles tinham baixo peso, dos quais 21,6% eram meninas e 6,0% meninos; em relação ao sobrepeso verificaram que 17,1% dos que tinham peso acima do peso ideal, 21,6% eram do sexo masculino e 13,7% do feminino. Estas prevalências, maiores que as encontradas para baixo peso, foram

semelhantes às descritas em alguns estudos desenvolvidos no Estado do Rio de Janeiro e São Paulo e mesmo de países desenvolvidos.

Um estudo de Mota e Silva (2001) realizado com crianças menores de 11 anos moradoras de uma comunidade de baixa renda na cidade do Recife, revelou a ocorrência concomitante de desnutrição crônica e de obesidade com percentuais semelhantes. As prevalência encontradas foram de 3,8% para baixo peso para a idade, 1,2% de baixo peso para a estatura, 5% de déficit de altura para idade, 10,1% de sobrepeso e 4,6% de obesidade.

Um estudo de prevalência desenvolvido em crianças e adolescentes de uma escola da rede privada de Recife identificou em 762 estudantes (332 crianças em idade escolar e 430 adolescentes) prevalências de sobrepeso 26,2% que se assemelham com as de países desenvolvidos, tendo sido observado que a freqüência foi maior nos escolares (34,3%) que nos adolescentes (20,0%). A prevalência de obesidade (8,5%) também se revelou mais freqüente nos escolares (14,2%) quando comparada a do adolescentes.(Balaban e Silva, 2001)

Em Pernambuco, Ferreira (1998) estudando 659 escolares de duas cidades da Zona da Mata Sul, estimou que 11,5% se situavam abaixo de < –2 scores da relação altura/idade. No, entanto, o índice peso/idade indicava uma situação consideravelmente melhor desde que apenas 3,6% dos escolares se achavam abaixo do limite crítico de < –2 desvios padrões.

Silva e cols (1998) relataram os resultados de uma avaliação antropométrica de escolares de 10 cidades brasileiras encontrando uma prevalência geral de 6,9% de casos classificados abaixo de < –2 scores z da relação altura/idade.

Na região Sudeste, Anjos et al (2003) estudando uma amostra representativa do universo de alunos do ensino fundamental da rede pública municipal de educação da cidade do Rio de janeiro, encontrou entre os alunos de 7 a 11 anos de idade uma prevalência de baixo peso para altura de 7,6% (IMC < 5) de excesso de peso de 7,0% (IMC > 95) e de 2,8% de déficit estatural ( A/I < – 2 score z). Em Belo Horizonte, Ribeiro e cols (2000) encontraram 2,1% de excesso de peso (IMC > 95) num grupo de 981 jovens de idade entre 10 e 18 anos.

Almeida et al (2000a) relatam 11,5% de excesso de peso entre 52 escolares de uma escola pública e de uma particular em Vitória do Espírito Santo. No Estado de São Paulo, Stefanini et al, (1995) encontrou 4,5% de déficit estatural em uma amostra aleatória representativa de alunos da primeira série da rede pública de ensino. Em Santos, estudo de Costa e Fisberg (2003) buscando investigar o estado nutricional de escolares de 7 a 11 anos de escolas públicas e privadas, identificou 3,5% de baixo peso (IMC < 5) e de 18% de excesso de peso(IMC > 95).

Silva (1998), estudando alunos matriculados em escolas públicas de tempo integral em São Paulo encontrou 15,6% de crianças com comprometimento da altura (< - 2 score z).

Na Região Sul, na cidade de Pelotas-RS, Araújo et al (2003) estudando o estado nutricional de escolares das quatro primeiras séries do ensino fundamental da área urbana do município, encontraram a prevalência de 3,2% para a desnutrição crônica (A/I, < – 2 score z) e de 3,8% de desnutrição aguda. Porém ao comparar as escolas observou que as prevalências de desnutrição crônica e aguda encontradas eram maiores nas escolas da rede municipal (4,1% e 4,4% respectivamente) quando comparadas as escolas da rede estadual e particulares. Em relação à obesidade, 11,0% dos escolares apresentaram excesso de peso, sendo que os alunos das escolas particulares apresentaram maiores prevalências de obesidade (13,5%) seguidas das escolas estaduais (11,4%) e de 10,0% nas escolas municipais. (p < 0,001)

Corso e Botelho (2000) em Santa Catarina na cidade de Florianópolis, desenvolveram um estudo com o objetivo de avaliar o estado nutricional de 3806 crianças menores de 6 anos. Esses autores verificaram que 6,8% das crianças tinham sobrepeso, tomando-se como ponto de corte os valores acima de + 2 desvios padrão do índice de peso/altura. Ainda nesta cidade, um estudo com 621 adolescentes na faixa etária de 10 a 17 anos de idade, detectou uma prevalência de obesidade de 13,1% nas escolas públicas e de 7,6% nas privadas, considerando-se como ponto de corte os valores iguais ou superiores ao percentil 95 do IMC. ( Sales, Kapasi e Di Pietro, 2000)

Já em 2003, Grosseman et al, estudando 2242 crianças com idade escolar de 7 a 9 anos, também em Florianópolis, revelaram uma prevalência de 28% de

sobrepeso utilizando o IMC. Ao estratificar a referida amostra encontrou uma distribuição de 30% para a idade de 7 anos, 25% para os de 8 anos e 25% para os de 9 anos.

Em Santa Catarina num estudo desenvolvido com crianças de 7 a 9 anos, as prevalências encontradas relativas aos sobrepesos foram de 25,7% para as crianças de 7 anos, 25,2% e de 21,4% para as idade de 8 e 9 anos respectivamente. As prevalências de obesidade encontradas foram de 10,6%, 10,8% e 5,8% nas referidas idades. Observou-se ainda que, as freqüências de baixo peso foram de 3,3% para os meninos e de 3,4% para as meninas. (Vasconcelos et al, 2003)

Muniz (1991) avaliando o estado nutricional de 6.020 escolares de 7 a 18 anos na cidade de Rio Branco – Acre, em escolas públicas e privadas encontrou déficit de altura/idade (27,4%) e de peso/idade (21,7%). O “nanismo”, abaixo do percentil 3, atingiu 11,5%, no sexo masculino o percentual encontrado foi de 14,1% e de 9,5% para as meninas. Em relação ao baixo peso (abaixo do percentil 5) a prevalência foi de 6,0% ( 7,7% em meninos e 4,5% em meninas).

No que se refere às carências nutricionais específicas Benigna (1991) no Estado da Paraíba, encontrou uma ocorrência de 0,46% de casos de Manchas de Bitot e de 0,04% de cicatriz corneal, lesões oculares compatíveis com a deficiência de vitamina A. Em Pernambuco, Ferreira (1998), estudando escolares do meio urbano de duas cidades da Zona da Mata, admite uma prevalência de quase 70%

de anemia em escolares, com a observação de que a avaliação não pode ser extrapolada para definir a escala epidemiológica do problema para a área de estudo. Na realidade o que se pode concluir é que , de fato, ainda não se conta com uma avaliação segura sobre o perfil dos problemas nutricionais dos escolares.

Esta abordagem interessaria diretamente aos propósitos do processo ensino/aprendizagem, além, evidentemente, dos objetivos específicos de saúde. A má alimentação, a hipoglicemia derivada da restrição calórica e o mal estar da sensação de fome comprometem o rendimento escolar, na medida em que o “estado de prontidão” do aluno se desloca para o atendimento de outras demandas – no caso, a demanda por alimentos. Para as famílias de baixa renda e particularmente, para os escolares oriundos destas famílias, a “merenda” é um atrativo por si, um fator de indução da freqüência às escolas. Nesta condição, atua como um instrumento efetivo de rendimento da aprendizagem, reduzindo o absenteísmo, melhorando o grau de atenção e, portanto, de fixação do aluno.

Estudos de intervenção demonstram que uma alimentação inadequada desde o período da gestação e assim mantida na primeira infância, leva ao fracasso escolar devido à diminuição da atividade física, à redução na integração com o meio ambiente circulante e implica na queda no desenvolvimento cognitivo e comportamental na escola (OPS/OMS, 1997).

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