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5. ALGUNS ACIDENTES E CONTAMINAÇÕES DECORRENTES DE ATIVIDADES

5.5 Despacho de resíduos

Na sociedade atual, industrial e tecnológica, uma das práticas freqüentes empregadas pelas técnicas capitalistas de produção está relacionada com o “marketing ambiental” o qual associa à indústria a imagem de comprometimento ambiental. A propaganda enganosa de alguns setores industriais visa acobertar ou minimizar a pressão com respeito a uma intensa degradação ambiental decorrente de suas atividades, ou torná-las imunes às críticas através da despoluição.

(Figueiredo, 1994).

“ A despoluição é um eufemismo que acoberta o deslocamento de poluentes, de preferência, para além das fronteiras. As chaminés sobrelevadas despoluem o Ruhr e a Grã-Bretanha, mas a neve suja cai na Escandinávia” (apud Sachs, I. in: Figueiredo,

Dentre as práticas de despoluição, se insere a reutilização e/ou aproveitamento energético dos resíduos industriais utilizados como matéria prima secundária:

“ O aproveitamento energético direto dos resíduos tem sua expressão máxima na conversão térmica. Nesta modalidade de processamento, uma parcela dos componentes da massa de resíduos, aquelas que apresentam boas características para a queima, é tratado como combustíveis de centrais térmicas”... “a argumentação apresentada pelos defensores desta modalidade é forte por somar “benefícios” importantes nos dias atuais, quais sejam, a geração de energia e a “solução” de processamento para uma parcela dos resíduos sólidos. No entanto, de analisarmos a miúdo, essas técnicas carregam em seu bojo, sérios problemas de concepção que se contrapõem à sustentabilidade ambiental do planeta”. (Figueiredo, 1994: 66).

Portanto, tratam-se de problemas de ordem tecnológica em função das dificuldades de queima de elementos complexos e heterogêneos encontrados nos resíduos, da presença de elementos tóxicos ou explosivos no sentido de garantir a integridade dos trabalhadores e da instalação, de garantia da qualidade dos efluentes gerados, etc. (Figueiredo, 1994).

No Brasil, 8 grandes incineradores com capacidade total instalada de 51.900 t/ano prestam serviços a terceiros. O incinerador instalado na fábrica Ely-Lilly (Elanco) em Cosmópolis, próximo a Paulínia, possui uma capacidade de queima de 12.000 toneladas/ano ou 23% da capacidade instalada no país.

O despacho de resíduos para utilização ou queima em outras regiões é uma prática em muitos setores industriais. A Shell, e posteriormente a Basf, que comprou sua unidade fabril em Paulínia, importava resíduos de indústrias de celulose americanas incrementando o nível de contaminação na área da indústria e arredores; da mesma forma, empresas instaladas em nossa região e outras do Brasil “resolvem” parte de seus problemas, no que diz respeito aos resíduos, despachando-os para a queima em cimenteiras.

A Replan inclui dentre as propostas de descontaminação das áreas ATP, “landfarming” e sítio Tambaú, o envio de resíduos e solo contaminado com óleos e graxa acima de 20%,

contendo também TPH, BTEX, e PAH, para a queima em cimenteiras. A Rhodia envia o lodo da ETE fenolados para a incineração em fornos de cimento da empresa Tecnosol no estado do Rio de Janeiro.

As fábricas de cimento no Brasil e, particularmente, na região Metropolitana de Belo Horizonte, queimam, além de combustíveis tradicionais, resíduos industriais tornados combustíveis complementares em seus fornos de clínquer. Dentre os resíduos industriais e petrolíferos destacam-se lamas de estação de tratamento de efluentes, solventes usados, óleos lubrificantes queimados, borras oleosas, borras de tintas, de retíficas, borracha, coque de petróleo, plásticos, etc. (Santi, 2003).

Santi (2003) lista, em seu trabalho, uma série de indústrias que despacham seus resíduos

para as cimenteiras da região de Belo Horizonte. As aqui instaladas, estão listadas abaixo:

Empresas da região que despacham seus resíduos para a queima em fornos da fábrica de cimento Holcim Brasil no município de São Leopoldo entre 1999 e 2002

Bandag do Brasil – instalada em Campinas – produz bandas de borrachas para recapagem de pneus. Despacha tiras de borracha, rebarbas (resíduo classe II) em sacos de ráfia dentro de big- bags, via carreta aberta. Disponibilidade 40 t/mês, estoque 400 t.

Indústrias instaladas em Sumaré e Hortolândia despacham sabão queimado decorrente de processo de trefilação, resíduo classe II, via caminhão em big-bags, sacos ou tambores. Geração: 12 t/mês. Também são despachados óleos usados obtidos de caixas coletoras de lavagens de peças com crostas, serragem impregnada com óleo e jateamento de rolos trefilados (resíduo classe I), geração 150 t/mês.

Indústrias destes mesmos municípios despacham tortas de ETE obtidas por filtro-prensa (resíduo classe I) via caminhão graneleiro ou carga seca , dispostos em sacos ou tambores. Geração 600 t/mês.

Empresa da região que despacha seus resíduos para a queima em fornos da fábrica de cimento Camargo Correa no município de São Leopoldo entre 1999 e 2002

Bann Química – Paulínia – despacha resíduo de piche MBT (resíduo classe I), obtido de mercaptobenzetiol, acelerador da vulcanização da borracha via caminhão com tanque de aquecimento. Geração 40 t/mês e estoque 2000 t.

Empresa da região que despacha seus resíduos para a queima em fornos da fábrica de cimento SOEICOM no município de Vespasiano entre 1999 e 2002

Ultragás – Paulínia – despacha borra de tinta , resíduo de jateamento de botijões (resíduos classe I). Geração 12 t/ mês e estoque 270 t.

Mangels – unidades em Paulínia, Goiânia/GO, Canoas/RS, Duque de Caxias/RJ – pó de granalha, obtido de unidades de recuperação de botijões (resíduo classe I), despachado como carga seca via caminhão, em tambores de 200 litros. A empresa despacha também de suas unidades localizadas nesses municípios, e da unidade de Três Corações/MG, borra de ETE (resíduo classe I) via caminhão em tambores de 200 litros.

Bann Química – Paulínia – despacha resíduo de piche MBT (resíduo classe I), obtido de mercaptobenzetiol, acelerador da vulcanização da borracha via caminhão com tanque de aquecimento. Geração 200 t/mês e estoque 2000 t.

Buckman Laboratórios – Sumaré – despacha borra de ETE (resíduo classe I) obtido da borra de CRU, borra de destilação e material filtrante via caminhão em bombonas de plástico de 100 litros.

Dow Corning do Brasil – Sumaré – despacha selante curado oriundo de testes de laboratório e limpeza de equipamentos (resíduos classe I), geração 12 t/mês. Bolo de filtro prensa obtido de óleos de silicone no setor de polímeros (resíduo classe III), geração 10 t/mês. Material contaminado por silicone, resíduo de silicone LPO, fluido e emulsão de silicone (resíduos classe II), obtidos da limpeza de máquinas e equipamentos, geração 12 t/mês.

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