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A Europa inutiliza anualmente milhões de toneladas de alimentos e os efeitos a nível económico, ambiental e social são bem visíveis.

De acordo com um relatório da Organização Não Governamental (ONG) Resources Defense Council (NRDC) e Harvard School’s Food Law and Policy, mais de 90% dos americanos deitam fora alimentos sem necessidade, devido a uma má interpretação dos rótulos e prazos de validade. O desperdício chega a um prejuízo de 123 biliões de euros por ano.

Estudos anteriores que abordaram o desperdício alimentar das famílias do Reino Unido, Estados Unidos da América e Austrália, mencionaram como causas deste desperdício o mau planeamento das compras, comprar demasiado, um aumento da compra de produtos frescos, gestão pouco eficiente dos stocks, não aproveitamento de sobras e preocupação a nível de segurança alimentar (Hamilton et al., 2005; Cox e Downing, 2007; Quested e Parry., 2011).

Outros estudos evidenciaram uma maior tendência para se preparar comida em demasia ou não se gostar da comida já preparada, principalmente em famílias com filhos (Quested e Parry, 2011). Na Austrália também se conclui que os pais de crianças pequenas deitam fora alimentos mais frescos do que qualquer outro tipo de família (Hamilton et al., 2005).

Um estudo realizado pelo WRAP (Quested e Johnson, 2009), concluiu que planear refeições e/ou menus diariamente, incluindo uma boa gestão dos stocks e o uso de listas de compras, resulta em menos desperdício. Quem planeia para gerir melhor o seu tempo obtém menos desperdício porque torna mais fácil a organização das refeições familiares, a gestão dos stocks de alimentos e as compras. No entanto quem planeia por outros motivos, (e.g. uma dieta especial) não desperdiça necessariamente menos.

Nos países em desenvolvimento, o desperdício deve-se sobretudo à falta de condições financeiras, limitações técnicas de colheita, armazenamento, infra-estruturas, embalagem e sistemas de comercialização. Nos países desenvolvidos e industrializados a dificuldade passa pelas incompatibilidades entre produtores e distribuidores e pelos comportamentos dos consumidores. Se por um lado há desperdícios que provêm de alimentos que são rejeitados devido a normas e leis que impedem a sua comercialização pois não possuem uma aparência perfeita, por outro há também falhas no planeamento das compras e das refeições das famílias de consumidores

Por toda a Europa também se verificam desperdícios de alimentos nos vários sectores da cadeia alimentar e esse valor estima-se ser de 89 milhões de alimentos desperdiçados. Como tal existe uma grande preocupação para reduzir o desperdício por parte das instituições da UE. A alimentação é um ponto-chave para o “Roteiro para um recurso eficiente na Europa” e esta prioridade exige um esforço de toda a cadeia de abastecimento alimentar (FAO, 2013).

Grande parte do desperdício alimentar verifica-se nas casas dos consumidores, cerca de 37 milhões de toneladas. A maior evidência provém de investigações no Reino Unido, onde se estima que 60% do lixo doméstico poderia ser evitado e com esta medida seriam poupados cerca de 600 € por ano em cada família. Aliada a esta poupança estaria uma poupança ambiental que equivale a retirar da estrada um em cada cinco carros (Parlamento Europeu, 2011).

A maior parte do desperdício na produção é inevitável, pois muitos produtos não são comestíveis, ou porque devido a questões tecnológicas se conseguiu uma superprodução ou até porque existem produtos deformados ou danificados. Estes tipos de problemas são vividos diariamente pelos distribuidores e armazenistas que se vêm confrontados com problemas de gestão de stocks, desafios logísticos e coordenação entre sectores

As causas do desperdício doméstico são variadas e entram em conflito factores regionais, o clima, estado socioeconómico e cultural. Os prazos de validade também apresentam uma das causas de maior desperdício alimentar pois são alvo de uma série de dúvidas na hora de colocar produtos para o lixo. Pesquisas efectuadas no Reino Unido e Irlanda sobre esta temática, concluíram que existia muita confusão na interpretação das datas de validade no rótulo dos produtos. Segundo este estudo cerca de um terço dos produtos e deitado fora antes de terminar o prazo de validade. Existe, ainda, muito trabalho a fazer no que diz respeito ao melhoramento das práticas de armazenamento. Sabe-se que as frutas e legumes se mantêm em boas condições durante mais tempo se forem devidamente refrigerados. Dos consumidores inquiridos, apenas 23% mencionou que iriam armazenar as frutas e 53% mencionou que iriam guardar os legumes no frigorífico. Muitos dos inquiridos deixam os alimentos em contacto com a atmosfera e isso reduz a frescura e qualidade dos mesmos (Parlamento Europeu, 2011).

Muitas vezes o consumidor deverá usar o seu próprio julgamento (visual, olfactivo e gustativo) para verificar se o produto se encontra em perfeitas condições para o consumir, excepto quando a data de validade é explícita e diz “consumir até”.

Num estudo realizado pela Autoridade de Segurança Alimentar da Irlanda, destacou-se que 46% dos consumidores mencionaram não terem problemas em consumir produtos para além da data de fim de validade, colocando para isso a sua saúde em risco, pelo menos no que diz respeito a este tipo de autoridade. Segundo a mesma, os produtos que mostram uma data ultrapassada, podem estar contaminados por bactérias nocivas sem mostrar qualquer alteração visível no produto. Para isso os consumidores devem assegurar-se que a embalagem está intacta e no que diz respeito a produtos secos, farinha, açúcar, café, não estão húmidos e estão livres de insectos (EUFIC, 2012).

Os alimentos desperdiçados incluem muitas vezes alimentos perfeitamente comestíveis mas que são rejeitados pela aparência. Para resolver este tipo de problema a legislação Europeia

(CE nº 1221/2008) tem sido mais flexível principalmente no que diz respeito aos padrões de qualidade de frutas e vegetais para que seja possível a venda de produtos que têm uma aparência menos perfeita e menos estética. Esta alteração legislativa requer ainda a aprovação do consumidor para a compra deste tipo de alimentos que por vezes é mais económica devido aos padrões de qualidade da aparência dos legumes e vegetais.

Ainda a nível europeu, para se procurar evitar desperdícios, os armazenistas utilizam promoções nos produtos de aparência deficiente ou danificados ou que se aproximam do fim do prazo de validade.

Este tipo de comportamentos de incentivo à compra de produtos em promoção deve ser bastante vigiado para não se acabar por cair na tentação de comprar excessivamente este tipo de produtos e depois gerar ainda mais desperdício por não se conseguir consumir os mesmos e estes acabarem desperdiçados.

Em países como a Áustria, Dinamarca, Itália, Espanha e Reino Unido, os seus bancos alimentares têm muito sucesso pois o excesso de alimentos é transportado pelos armazenistas para pessoas carenciadas ou para outros pontos de venda onde os produtos são vendidos a preços promocionais (EUFIC, 2012).

Segundo a FAO existe uma necessidade urgente de encontrar um uso adequado para os alimentos que estão actualmente a ser desperdiçados. Há no entanto uma previsão da subida do desperdício alimentar à medida que se verifica um crescimento populacional e consequente procura de alimento e acesso ao mesmo.

A Indústria alimentar, armazenistas e consumidores precisam de estar consciencializados sobre esta problemática e agir. Estas medidas a serem tomadas não só seriam benéficas a nível económico como também a nível ambiental.

Os requisitos de qualidade relativos ao calibre, forma e maturação de frutos e produtos hortícolas, são impostos pela legislação Europeia ou nacional, ou ainda adoptados pelas empresas de distribuição, e que, como refere a Resolução do PE, “estão na origem de muitas rejeições desnecessárias, que aumentam a quantidade de alimentos desperdiçados” (Baptista et al., 2012).