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Desvelando os sujeitos e o campo da pesquisa

No documento luciahelenaschuchter (páginas 75-80)

4 Discorrendo sobre o método

4.3 Desvelando os sujeitos e o campo da pesquisa

4.3.1 Os sujeitos

Pretendo, neste momento, apresentar os sujeitos, o “lugar” de onde falam e o contexto das escolas onde se desenvolveu a pesquisa. Retomo Freitas (2003) para evidenciar a importância de “compreender os sujeitos envolvidos na investigação para, através deles, compreender também o seu contexto” (p.27). Contexto ligado às suas historicidades, às relações sociais estabelecidas, às construções de suas subjetividades, seus referenciais teóricos e de vida. Nossos encontros, mediados pelas palavras, fizeram de nós sujeitos diferentes, cujos olhares, vozes, referenciais se ampliaram depois que interagimos. Aproximei-me dos sujeitos, conheci seus discursos, retornei ao meu lugar de pesquisadora. Sinto que juntos, em interação, conseguimos somar nossas individualidades e traçar um processo de mútua constituição e ressignificação. Este processo se delineou durante a pesquisa e permeará toda nossa vida, enquanto seres inconclusos - no sentido freireano e bakhtiniano - e em eterna (trans)formação.

Acredito que o “lugar” de onde cada sujeito fala é determinante das escolhas feitas durante sua trajetória pessoal e profissional. Suas histórias de vida, de formação, de leitores traduzem, de alguma forma, suas práticas, seus modos de conceber a leitura, de desenvolver seus trabalhos. Os sujeitos desta pesquisa foram entrevistados individualmente. As entrevistas foram se constituindo verdadeiras narrativas, um caleidoscópio de vidas, experiências, histórias, crenças e posturas. Para termos um perfil dos profissionais envolvidos nesta pesquisa, apresento uma síntese de suas trajetórias profissionais, envolvendo sua formação, função e tempo de serviço na educação e na escola. Trata-se de um grupo bem heterogêneo,

formados em diferentes áreas: (1) educação física, (4) pedagogia, (1) matemática, (1) filosofia, (1) letras; diferentes graus de formação: (4) pós-graduados [especialização], (3) mestrandos, (1) doutora; com diferentes tempos de serviço, que vão de 8 a 24 anos:

A1: Graduada em Educação Física, pós- graduada em arte-educação. Trabalha na escola há 23 anos. Em 2005 começou a trabalhar na biblioteca escolar.

A2: Formada em pedagogia, com especialização em psicopedagogia, está fazendo pós-graduação em Tecnologias da Informação e comunicação no ensino fundamental pela Universidade Aberta do Brasil (UFJF); está há 16 anos na rede municipal, 10 anos na Escola A, trabalha há 4 anos no laboratório de informática.

A3: Graduada em pedagogia, com especialização em psicopedagogia. Tem 23 anos de magistério, sendo que 22 anos na Escola A. Trabalha como regente do 5º ano.

A4: Coordenadora pedagógica, graduada em pedagogia, com especialização em alfabetização, está cursando mestrado em educação. Tem 24 anos de profissão, sempre no ensino fundamental.

B1: Médico veterinário, administrador de empresa, tem licenciatura em matemática, pós-graduação em engenharia econômica e recursos humanos, trabalha em biblioteca há mais ou menos 20 anos, está no comando do Proler56 Regional desde 1996.

B2: Coordenadora pedagógica, licenciada em filosofia, especialista em Ciência da religião, orienta o projeto de trabalho “Contadores de histórias” da Escola B, onde trabalha há quase 20 anos. Começou, em julho de 2009, o curso de mestrado em educação.

B3: Possui graduação e mestrado em Letras e terminou recentemente seu doutorado, trabalha há 8 anos, sendo que há 3 na Escola B. É professora de Português, trabalha com o 8º ano.

B4: Graduada em pedagogia, cursando mestrado em educação, é professora 56 Em 13 de maio de 1992, através do Decreto Presidencial nº 519, instituiu-se o PROLER (Programa Nacional de Incentivo à Leitura), vinculado à Fundação Biblioteca Nacional, órgão do Ministério da Cultura. Seu objetivo maior é promover o interesse nacional pela leitura e pela escrita, considerando a sua importância para o fortalecimento da cidadania. Nacionalmente o PROLER desenvolve ações em parceria com secretarias de cultura e de educação (municipais ou estaduais), universidades, bibliotecas, ONGs e outras instituições, estabelecendo convênios e constituindo os Comitês (http://catalogos.bn.br/proler/Proler.htm).

há 21 anos, trabalha com o 2º ano do ensino fundamental. 4.3.2 As escolas

A Escola A pertence à rede municipal de ensino, foi fundada em 31 de janeiro de 1969 e está situada num bairro periférico. Funciona em três turnos, atendendo a educação infantil (1º e 2º períodos), ensino fundamental (1º ao 9º anos) e EJA (Educação de Jovens e Adultos). O número de alunos matriculados é de aproximadamente 1200 e a escola conta com 80 professores, 3 coordenadoras pedagógicas (1 para cada turno), 9 funcionários, 1 diretora e 1 vice-diretor.

A Escola B está localizada num bairro residencial, na região central de Juiz de Fora e foi fundada no ano de 1965. Funciona em três turnos e possui aproximadamente 1250 alunos, matriculados em 28 turmas de Ensino Fundamental, 09 turmas de Ensino Médio e 07 turmas atendendo a alunos do Curso de Educação de Jovens e Adultos. O quadro docente conta hoje com 61 professores efetivos, 28 professores substitutos, 5 chefes de departamentos (Ciências Humanas, Ciências Naturais, Letras e Artes, Educação Física e Matemática), 20 funcionários técnico- administrativos, 4 coordenadores pedagógicos de ensino (1º ao 5º ano, 6º ao 9º ano, ensino médio, EJA), 1 diretor e 1 vice-diretora.

4.3.3 As bibliotecas escolares

A biblioteca da Escola A foi fundada em agosto de 1974. Possui aproximadamente 2000 livros. É distribuída em dois ambientes: (a) uma sala fechada, com 6 mesas, onde ficam as estantes com os livros e (b) uma varanda anexa, com 3 mesas, onde podem ser realizadas atividades ao “ar livre”.

Nesta Escola, a professora-bibliotecária declara que a biblioteca funciona quatro dias pela manhã e um dia à noite, por isso ela faz um rodízio de turmas, de quinze em quinze dias, para o empréstimo de livros.

Sobre o histórico da biblioteca da Escola B, o bibliotecário não tem nenhum registro. Ele e a vice-diretora acreditam que foi fundada juntamente com o colégio. A vice-diretora está na escola há 24 anos; quando chegou, a biblioteca já funcionava e não sabe se há um registro pontual sobre o seu histórico. O que aconteceu, durante o período em que está na escola foi que, num processo natural, a biblioteca foi se

atualizando, aumentando o acervo e que, inclusive, está sendo informatizada57. Indicou-me para procurar o professor fundador e primeiro diretor da escola, porém não sabia seu endereço. Procurei no catálogo telefônico, pelo nome, o endereço do primeiro diretor. Fiz tentativas por telefone, por vários dias. Assim, escrevi-lhe uma carta solicitando alguma data, fato ou algo que pudesse me ajudar na minha busca. Não obtive nenhuma resposta.

A biblioteca da escola B é bem ampla, com um grande acervo – cerca de 10.000 livros - incluindo fitas de vídeo e DVD. Conta com dois funcionários auxiliares, ficando aberta todos os dias, nos turnos da manhã e tarde, e um dia à noite, para empréstimo de livros para os alunos do EJA.

O professor responsável pela biblioteca da escola B realiza o trabalho de empréstimos de livros e de DVD para os alunos; orienta pesquisas escolares solicitadas pelos professores; seleciona livros para o “cantinho de leitura” (que fica nas salas de aula para serem utilizados pelas professoras, da forma que quiserem) e para a “Oficina Literária” (realizada uma vez por semana, na sala de aula, sob a responsabilidade da professora regente, que organiza atividades de interpretação, resumo, produção de textos, reescrita, desenhos, cruzadinhas, etc.).

Nas Escolas A e B é bem diversa a composição do acervo bibliográfico, que é sempre renovado, na maioria das vezes, através do PNBE (MEC) e de compras efetivadas pela direção das escolas. São também variados, entre livros de literatura e de pesquisas escolares.

4.3.4 Os laboratórios de informática

O laboratório de informática da Escola A passou por um longo processo de implantação: foi feito um projeto em 2001; em 2002 a Prefeitura enviou 10 computadores e a escola comprou mesas e cadeiras; em 2003 começou a funcionar; em 2005 a escola pagou para que fosse instalada a internet. A manutenção das máquinas é feita pela escola.

A professora A2, responsável pelo laboratório de informática da escola A, narrou-me que agenda um horário com os professores para atendimento às turmas. Explicou que há uma divisão dos alunos em pequenos grupos, pois há somente 10 57 O processo de informatização da biblioteca, realizado pelo professor bibliotecário e pelos dois auxiliares, começou em junho de 2009. Os livros deixarão de ter fichas de registros e de empréstimos feitas no papel e passarão a ser feitas no computador.

computadores no laboratório de informática, o que impossibilita o trabalho com a turma toda. A2 atende também aos alunos, com horário marcado, para realizarem pesquisas na internet.

Estas informações foram obtidas no início do processo de pesquisa, em 2008. No ano seguinte, logo quando retomamos o processo investigativo, A2 me anuncia que houve uma mudança considerável: a coordenadora pedagógica, ao final do ano de 2008, ao perceber que alguns professores afirmavam não utilizar o laboratório de informática, propôs que A2 montasse um horário com todas as turmas. Logo, os professores, que quiserem, terão a oportunidade de realizar atividades utilizando os computadores, com o auxílio de A2. Este horário, porém, não impede que ocorram atividades extras, paralelas com as turmas, desde que haja, para isto, disponibilidade de horário de A2 e interesse dos professores.

A coordenadora pedagógica da escola A esclareceu que o regente tem de acompanhar a turma e que a professora de informática participa dos planejamentos mensais, para ter ciência do que está sendo trabalhado em sala de aula.

Acredito que este planejamento conjunto garante que o computador seja utilizado de forma integrada aos conteúdos curriculares. Creio que, assim, esta escola está caminhando para uma perspectiva apontada por Coscarelli (2007a), na qual defende que:

A fim de tornar nossos alunos usuários familiarizados com os recursos disponíveis nos computadores, eles precisam usar a informática e não ter aula de informática. Em muitas escolas a informática passou a ser mais uma matéria que em nada contribui para as atividades realizadas nela. (...) Acredito que informática deveria ser um recurso auxiliar da aprendizagem, um elemento que deveria integrar e reunir as diversas áreas do conhecimento, em um determinado projeto. (p.32)

Na Escola B, especificamente, há dois espaços destinados aos computadores, cuja manutenção técnica está sob responsabilidade de bolsistas/estagiários: (a) o Infocentro, inaugurado no ano de 2006, que é equipado com 10 computadores Pentium IV, conectados em rede, com acesso gratuito à Internet. O sistema operacional dos computadores é o Linux, por se tratar de um sistema livre e que não traz alto custo de manutenção. Pode ser usado livremente pelo aluno em seus horários livres ou extra-turno. Seu uso não está vinculado a um trabalho de sala de aula conduzido pelo professor. Seu objetivo é viabilizar o acesso e o uso de informações eletrônicas e digitais para a comunidade estudantil,

promovendo a inclusão social e digital. E (b) o “laboratório de informática”, instalado em 1995, que tem os mesmos objetivos, porém é de responsabilidade do professor agendar data e horário para que possa utilizá-lo com a sua respectiva turma. Até 2008, eram 15 computadores. Esta situação mudou em 2009, quando foram adquiridos novos computadores e a sala hoje conta ao todo com 34 máquinas conectadas à internet.

Na Escola A foi criado um blog, em 2009, para divulgação de todas as atividades realizadas no laboratório de informática; exposição de trabalhos desenvolvidos por toda a comunidade escolar (atividades em sala de aula, murais, etc); indicação de livros, sites, eventos da escola (festas, reuniões).

Na Escola B, há o site, criado em 2003, por duas professoras e por dois alunos do Ensino Médio. Entre os objetivos para sua criação estão: divulgação do trabalho pedagógico entre os departamentos, divulgação de notícias e comunicação entre escola e pais.

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