• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foto 2.7 Detalhe do lapilli de acreção armado nos depósitos do Monte da Guia

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500

Capelinhos

Costa da Nau

Vertente dos

Capelinhos Costa da NauVertente da Ve

Ve

Fig. 2.19 – Ilustração do método utilizado na estimativa do diâmetro dos cones de tufos, ao nível do mar.

A projecção do diâmetro basal versus a altura destes cones mostra uma tendência bem distinta dos cones de escória (Fig. 2.20). As suas dimensões são

significativamente maiores e apresentam uma razão Hco/Wco mais baixa, reflexo dos

seus grandes diâmetros relativamente à altura dos bordos, o que fica a dever-se às dimensões das suas largas crateras, fruto da maior explosividade das erupções hidromagmáticas.

TABELA 2.4

Parâmetros morfométricos dos cones de tufos da ilha do Faial

Ref. Região Nome Wco (m) Hco (m) Wcr (m) Inc º Hco/Wco

41 Plat. da Horta Monte da Guia 1185 146 660 29,1 0,12

42 Capelo Capelinhos 1540 131 840 20,5 0,9

43 Capelo Costa da Nau 1900 173 1000 21,0 0,9

Wco – diametro basal; Wcr - diâmetro da cratera,; Hco - altura do cone, definida pela

diferença entre o ponto de cota mais alta do cone e o nível do mar; Inc. – Inclinação média das vertentes do cone.

0 60 120 180 0 500 1000 1500 2000 Wco Hco

Cones de escórias Cones de tufos

41

42

43

Fig. 2.20 – Projecção da altura versus o diâmetro basal de cones de escórias e de cones de tufos

da ilha do Faial.

Apesar do actual estado de degradação, é possível reconstituir a evolução do cone dos Capelinhos com base nos trabalhos de Machado (1958a; 1958b; 1959a; 1959b),

Castelo Branco et al. (1959), Machado et al. (1959) e Zbyszewski & Ferreira (1959) (Fig. 2.21 e 2.22).

A forma do cone dos Capelinhos, inicialmente simétrica, foi-se alterando devido à proximidade da ilha do Faial, até acabar por coalescer com a ilha, tomando uma forma aproximadamente triangular. A sua edificação foi um processo complexo que envolveu diversos episódios de construção e colapso, sendo os colapsos condicionados, fundamentalmente, pela acção do mar. A maioria destes colapsos, por vezes bastante extensos, afectou os flancos exteriores do vulcão. A inclinação média dos flancos do cone de tufos variou entre os 18 e os 32.6º ao longo da sua evolução e a inclinação máxima das camadas varia, actualmente, entre 15 e 30º, sendo visíveis diversas descontinuidades angulares.

O desenvolvimento do edifício vulcânico dos Capelinhos decorreu em 4 fases, definidas pela alternância de períodos destrutivos e construtivos e pelas características da actividade vulcânica nestes últimos.

A primeira fase decorreu de 27 de Setembro a 29 de Outubro de 1957. As primeiras manifestações da erupção foram quatro focos de libertação de gases, localizados a cerca de 1200 m a NW do farol dos Capelinhos, alinhados segundo a direcção WSW- ENE e estendendo-se por 250 m. Machado (1958a) estima que a profundidade do fundo do mar no local da erupção, à data do seu início, fosse de 70 m. Após 14 dias, já se tinha formado uma ilhota com 99 m de altura e 800 m de diâmetro.

Esta actividade, com carácter hidromagmático, prolongou-se até 29 de Outubro e o cone manteve sempre a cratera aberta para o mar. A 29 de Outubro a actividade cessou temporariamente, seguindo-se o colapso quase total do edifício vulcânico subaéreo.

A segunda fase durou desde o início de Novembro a 29 de Dezembro de 1957, tendo edificado um novo cone de tufos, 100 m a E do anterior. A 16 de Dezembro a actividade explosiva hidromagmática diminuiu e teve início o primeiro evento efusivo. A 19 de Dezembro, o vulcão retomou a actividade hidromagmática explosiva que durou

até 29 desse mês, altura em que a actividade abrandou novamente e o cone sofreu um importante colapso parcial.

A terceira fase prolongou-se até 12 Maio de 1958, centrou-se 300 m a E do primeiro cone e foi dominada por actividade hidromagmática, do tipo surtseiano. Durante este período a cratera do cone esteve, por diversas vezes, fechada à água do mar, sendo depois aberta por pequenos colapsos parciais. No entanto, mesmo durante os períodos em que a cratera esteve fechada, a actividade surtseiana predominou, sugerindo que a permeabilidade do cone de tufos era suficiente para proporcionar a alimentação de água ao sistema eruptivo. Esta fase terminou com a crise sísmica de 12 e 13 de Maio.

A quarta fase iniciou-se após a crise sísmica de 12 e 13 de Maio, com uma profunda alteração no estilo de actividade do Vulcão dos Capelinhos. A água deixou de ter acesso ao sistema de alimentação do vulcão e a sua actividade passou a havaiana/estromboliana acompanhada da extrusão de escoadas lávicas. Esta actividade edificou um cone de spatter e escórias dentro da cratera do cone de tufos. A cota da base da cratera situava-se, nessa altura, a aproximadamente 40 m. Durante esta fase surgiram também algumas chaminés submarinas, nos flancos do cone. Durante as várias fases consideradas, a altura do cone flutuou devido a pequenos colapsos parciais e à actividade construtiva subsequente.

A actividade eruptiva do vulcão cessou a 24 Outubro de 1958.

Da análise da figura 2,21, destaca-se a rapidez de crescimento do cone de tufos, particularmente até aos 100 m de altura. De facto, em apenas 14 dias o cone ascendeu de uma profundidade de cerca de 70 m a uma cota de 99 m e, após o primeiro colapso importante, voltou a crescer até à cota de 100 m em 18 dias.

Acima dos 100 m, o crescimento verificado foi mais lento. A alteração no ritmo de crescimento não se deveu, no entanto, a uma diminuição da taxa eruptiva. Na verdade, houve um aumento desta taxa das 1ª e 2ª para a 3ª fase, que terá passado de

6,5x105 m3/dia para 6,7x105 m3/dia. A redução de crescimento da altura do cone

deveu-se (1) ao facto de, para um dado incremento de altura, quanto maior o cone, maior o volume de material necessário para produzir esse aumento de altura e (2) às alterações no estilo de actividade que passou por diversas fases não hidromagmáticas, do tipo havaiano ou estromboliano. A efusão de lavas não contribuiu para o aumento da altura dos bordos da cratera e os produtos da actividade estromboliana, centrada na cratera do cone de tufos, tiveram, naturalmente, uma dispersão menor que a dos produtos hidromagmáticos. Deste modo, depositaram-se predominantemente dentro da cratera do cone de tufos, contribuindo para a sua obliteração mas não para o aumento da altura dos seus bordos.

-100 -50 0 50 100 150 200 01-09- 1957 01-10- 1957 31-10- 1957 30-11- 1957 30-12- 1957 29-01- 1958 28-02- 1958 30-03- 1958 29-04- 1958 29-05- 1958 28-06- 1958 28-07- 1958 27-08- 1958 26-09- 1958 26-10- 1958 25-11- 1958 25-12- 1958 Datas Hco (m) -0.04 0.01 0.06 0.11 0.16 0.21 0.26 0.31 0.36 Razão Hco/Wco

Hco (cone de tufos) Hco (Cone de escórias e spatter)

Efusão de lavas Episódios estrombolianos

Activ. estromboliana e/ou havaiana continuada Hco/Wco (cone de tufos)

Hco/Wco (cone de escórias e spatter)

1ª fase 2ª fase

3ª fase 4ª fase

Fig. 2.21 – Evolução dos parâmetros morfométricos do cone de tufos e do cone de escórias e spatters do Vulcão dos Capelinhos. A azul estão representados os elementos relativos à actividade hidromagmática e a vermelho os da actividade magmática. Os traços verticais correspondem a importantes colapsos do cone. Para as 1ª, 2ª e 3ª fases, dominadas pela actividade surtseiana, projectam-se também as ocorrências de episódios estrombolianos e/ou efusivos. A 4ª fase corresponde à edificação do cone de escórias e spatters. Durante esta fase houve apenas actividade subaérea, estromboliana e/ou havaiana, pelo que se apresentam apenas medidas pontuais para cone de tufos. Todas as medidas dizem respeito às dimensões subaérea do cone.

A comparação entre as razões Hco/Wco do cone de tufos e do cone de escórias e

spatters mostra, uma vez mais, duas tendências distintas que resultam no maior

declive das vertentes dos últimos (Fig. 2.21).

A figura 2.21 evidencia ainda que a variação da razão Hco/Wco acompanha, grosso

modo, o crescimento do cone, sendo controlada preferencialmente pela sua altura.

Esta observação sugere que a altura do cone é um parâmetro mais instável que o diâmetro de base. Da análise da variação deste dois parâmetros, para as 1ª, 2ª e 3ª

fases de crescimento do cone (Fig. 2.22), verifica-se que a correlação entre Hco e Wco é

de 0.86 e a recta que melhor se ajusta ao crescimento deste edifício é dada pela

equação Hco=0,13xWco. 0 20 40 60 80 100 120 140 160 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 Wco Hco Hco=0,13Wco

Fig 2.22 – Projecção da altura versus o diâmetro basal do cone de tufos do Vulcão dos Capelinhos, ao longo da sua evolução. Os pontos vermelhos correspondem aos parâmetros do cone de tufos durante a 4ª fase de crescimento do cone, caracterizada

por actividade havaiana e estromboliana. A recta Hco=0,13xWco representa a relação

estabelecida para o crescimento subaéreo deste cone durante a fase hidromagmática do vulcão.

II.2.5 ESCOADAS LÁVICAS

As escoadas lávicas são produtos vulcânicos resultantes de actividade efusiva ou de baixa explosividade. Neste último caso formam-se fontes de lava típicas da actividade havaiana (Cas & Wright, 1988; Head & Wilson, 1989) gerando-se as escoadas a partir da acumulação dos fragmentos fluidos por elas projectados (Head & Wilson, 1989). De acordo com a reologia, a taxa de efusão (Walker 1971b; 1973; Rowland & Walker, 1987) o volume, as características dos canais condutores (Malin, 1980) e o declive das superfícies onde fluem, as lavas podem apresentar diversas morfologias e estruturas internas (Macdonald, 1972; Williams & McBirney, 1979; Bulard, 1984; Guest et al. 1987; Rowland & Walker, 1987; Ollier, 1988) resumidas por Gaspar e Queiroz (1992).

Tendo por base a morfologia das escoadas lávicas, distinguem-se no Faial, de uma forma simplificada:

(1) Escoadas pahoehoe, em pasta de dentes e aa.

Todas estas escoadas têm origem em magmas basálticos (s.l.). As lavas pahoehoe caracterizam-se por uma elevada fluidez e uma baixa velocidade de progressão (Kilburn, 2000), o que possibilita o desenvolvimento de uma crosta de aspecto suave e deformável pela tensão cisalhante imposta pelo núcleo, em movimento. Estas escoadas apresentam geralmente estruturas lobadas e superfícies vítreas, brilhantes, por vezes encordoadas (Macdonald, 1972). A sua elevada fluidez permite-lhe relaxar antes de solidificar, o que, além de contribuir para o desenvolvimento das superfícies lisas, possibilita, por um lado, que as vesículas no interior da escoada reassumam uma forma esférica após a deformação sofrida durante o fluxo, e por outro, que os cristais em suspensão possam sedimentar, concentrando-se nas camadas inferiores das escoadas (Macdonald, 1972; Rowland & Walker, 1987).

As lavas aa caracterizam-se por uma maior viscosidade e velocidade de progressão. Estes factores determinam a extensa fracturação das camadas periféricas das

escoadas, mais arrefecidas, face às elevadas tensões cisalhantes desenvolvidas entre o núcleo em movimento e as camadas periféricas. Assim, o aspecto exterior destas escoadas evidencia uma superfície muito irregular, composta por material fragmentado, solto, designado por clinker (Macdonald, 1972).

As lavas em pasta de dentes representam um termo intermédio entre as pahoehoe e as

aa. Resultam de escoadas com uma fluidez semelhante à das escoadas aa, mas com

menor velocidade de progressão. Nestas condições, a escoada pode desenvolver uma crosta externa sólida e deformável, atendendo à reduzida taxa de deformação imposta pela baixa velocidade de progressão, mas a viscosidade que a caracteriza não lhe permite relaxar antes de solidificar. Assim, preservam-se as características morfológicas que definem as escoada em pasta de dentes: (1) a sua superfície apresenta sulcos longitudinais, paralelos à direcção do fluxo, produzidos pelo atrito com as paredes do orifício por onde a lava sai, (2) a superfície da lava é espinhosa, (3) apresenta ondulações transversais de maiores dimensões do que as observadas nas lavas pahoehoe, (4) as unidades de escoamento são mais espessas do que as das lavas pahoehoe, (5) a superfície vítrea da escoada é baça e (6) embora apresentem alguma migração vertical dos cristais em suspensão, este fenómeno é de magnitude muito menor que nas lavas pahoehoe (Rowland & Walker, 1987).

Na Península do Capelo, as escoadas lávicas basálticas (s.l.) pahoehoe e aa constituem a quase totalidade das rochas aflorantes, enquanto que no resto da ilha as suas exposições se limitam ao fundo das linhas de água e aos cortes nas arribas. Nas lavas da erupção de 1672, na Península do Capelo, além das escoadas pahoehoe e aa (Foto 2.8), encontram-se também lavas em pasta de dentes (Foto 2.9) (Gaspar & Queiroz, 1992; Walker, com. pess.).

Documentos relacionados