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Detecção de swainsonina e calisteginas em espécies de Convolvulaceae no semiárido de Pernambuco

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4. ARTIGO CIENTÍFICO

4.1. Detecção de swainsonina e calisteginas em espécies de Convolvulaceae no semiárido de Pernambuco

Silveira M.M., Silva Filho G.B., Chaves H.A., Aires L.D.A., Braga T.C., Gardner D.R., Cook D., Buril M.T. & Mendonça F.S. 2018. [Detection of swainsonine and calystegines in Convolvulaceae species from the semiarid region of Pernambuco.] Detecção de swainsonina e calisteginas em espécies de Convolvulaceae no semiárido de Pernambuco. Pesquisa Veterinária

Brasileira 00(0):00-00. Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Federal

Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE 52171-900, Brazil. E-mail: fabio.mendonca@pq.cnpq.br

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Detecção de swainsonina e calisteginas em espécies de Convolvulaceae no semiárido de Pernambuco1

Marcelo M. Silveira2, Givaldo B. da Silva Filho3, Hisadora A. S. Chaves3, Lorena D. A. Aires3, Thaiza C. Braga3, Dale R. Gardner4, Daniel Cook4, Maria T. Buril5 e Fábio S. Mendonça3*

ABSTRACT. – Silveira M.M., Silva Filho G.B., Chaves H.A.S., Aires L.D.A., Braga T.C., Gardner D.R., Cook D. & Mendonça F.S. 2018. [Detection of swainsonine and calystegines in Convolvulaceae species from the semiarid region of Pernambuco.] Pesquisa Veterinária Brasileira 00(0):00-00. Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE 52171-900, Brazil. E-mail: fabio.mendonca@pq.cnpq.br

Numerous plant species worldwide including some Ipomoea (Convolvulaceae) and Sida (Malvaceae) species in Brazil cause lysosomal storage disease in herbivores and are known to contain swainsonine and calystegines as the main toxic principles. The aim of this work was to determinate the swainsonine and calystegines concentration in species of Convolvulaceae from the semiarid region of Pernambuco. Seven municipalities in the Moxotó Region were visited and nine species were collected and screened for the presence of swainsonine and calystegines using an HPLC–APCI–MS method. The presence and concentration of these alkaloids in the same and different species were very variable. Seven species are newly reported here containing swainsonine and/or calystegines. Ipomoea subincana contained just swainsonine. Ipomoea megapotamica, I. rosea and Jacquemontia corymbulosa contained swainsonine and calystegines. Ipomoea sericosepala, I. brasiliana, I. nil, I. bahiensis and I. incarnata contained just calystegines. The discovery of six Ipomoea species and one Jacquemontia species containing toxic polyhydroxy alkaloids reinforces the importance of this group of poisonous plants to ruminant and horses in the Brazilian semiarid region. Epidemiological surveys should be conducted to investigate the occurrence of lysosomal storage disease associated to these new species.

INDEX TERMS: alkaloids, lysosomal storage disease, poisonous plants, herbivores.

RESUMO.- Numerosas espécies de plantas em todo o mundo, incluindo algumas espécies de Ipomoea (Convolvulaceae) e Sida (Malvaceae) no Brasil, causam doença de armazenamento lisossomal em herbívoros e são conhecidas por conterem swainsonina e calisteginas como princípios tóxicos. O objetivo deste trabalho foi determinar a concentração de swainsonina e calisteginas em espécies de Convolvulaceae da região semiárida de Pernambuco. Sete municípios na região do Sertão do Moxotó foram visitados, onde foram coletadas amostras das folhas de nove espécies de Convolvulacea para avaliação da presença de swainsonina e calisteginas utilizando-se cromatografia líquida com espectrometria de massa. A presença e concentração destes alcalóides nas folhas dentre as espécies foram muito variáveis. Seis novas espécies de Ipomoea e uma espécie de Jacquemontia contendo swainsonina e/ou calisteginas são relatadas nesse estudo. Ipomoea subincana continha apenas swainsonina. Ipomoea megapotamica, I. rosea e Jacquemontia corymbulosa continham swainsonina e calisteginas. Ipomoea sericosepala, I. brasiliana, I. nil, I. bahiensis e I. incarnata continham apenas calisteginas. A descoberta de novas espécies de Ipomoea e Jacquemontia contendo alcalóides polihidroxílicos tóxicos reforçam a importância

1Recebido em ...

Aceito para publicação em ...

2Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária. Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Rua Dom Manoel de

Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE 52171-900, Brasil.

3Laboratório de Diagnóstico Animal (LDA), Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal (DMFA), UFRPE. Rua Dom Manuel

Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE 52171-900, Brasil. *Autor para correspondência: fabio.mendonca@pq.cnpq.br

4Poisonous Plant Research Laboratory, Agricultural Research Service, United States Department of Agriculture, 1150 E. 1400 N.,

Logan, UT 84341, USA.

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deste grupo de plantas tóxicas para ruminantes e equinos na região semiárida brasileira. Pesquisas epidemiológicas devem ser realizadas para investigar a ocorrência de doença de depósito lisossomal associada a essas novas espécies.

TERMOS DE INDEXAÇÃO: alcaloides, doença de depósito lisossomal, plantas tóxicas, herbívoros.

INTRODUÇÃO

As plantas que contêm swainsonina compreendem um grupo de várias ervas daninhas tóxicas que prejudicam o desenvolvimento das pastagens e da pecuária em todo o mundo. Essas plantas pertencem a três gêneros da família Fabaceae (Astragalus, Oxytropis e Swainsona) (Burrows & Tyrl 2012, Cook et al. 2009, Cook et al. 2014) um gênero da família Convolvulaceae (Ipomoea) e um gênero de família Malvaceae (Sida) (Oliveira Júnior et al. 2013) e estão distribuídas principalmente nos Estados Unidos, Canadá, México, Brasil, Rússia, Espanha, Irlanda, Marrocos, Egito, Austrália e China (Jung et al. 2011, Cook et al. 2014, Oliveira Júnior et al. 2013).

A swainsonina é um polihidroxi-alcaloide, potente inibidor da -manosidase lisossomal e da - manosidase II do aparelho de Golgi de neurônios e células epiteliais. Algumas calisteginas são potentes inibidores de glicosidases e sugere-se que elas interrompem as glicosidases intestinais, a função lisossômica e o processamento de glicoproteínas causando disfunção enzimática e a acúmulo de oligossacarídeos complexos em lisossomos (Colegate et al. 1979, Dorling et al. 1980, Stegelmeier et al. 2008). Pesquisas recentes demonstraram que o swainsonina é um metabólito secundário derivado de fungos-endofíticos e que portanto, não é produzida pela planta hospedeira. A presença de fungos endofíticos foi demonstrada em espécies de Astragalus, Oxytropis, Swainsona e Ipomoea (Braun et al. 2003, Pryor et al. 2009, Hao et al. 2012, Cook et al. 2014). No entanto, sugere- se que as calisteginas sejam metabolitos secundários resultantes das plantas porque em estudos anteriores foi demonstrado que essas toxinas permanecem presentes mesmo em plantas derivadas de sementes tratadas com fungicidas (Cook et al. 2013).

Os sinais clínicos apresentados por ruminantes e equinos que consomem plantas que contém swainsonina e calisteginas consistem principalmente em distúrbios neurológicos, embora alterações endócrinas e reprodutivas também possam ocorrer (Oliveira et al. 2011, Tokarnia et al. 2012). As alterações neurológicas observadas são principalmente de origem cerebelar; evidenciadas pela perda do equilíbrio, seguida de quedas quando os animais são estressados, ataxia, hipermetria, dismetria, nistagmo, marcha lateral e tremores de cabeça e pescoço. Após sofrerem quedas, os animais têm dificuldade em se levantar e podem apresentar espasticidade dos membros pélvicos. Outras alterações, tais como sonolência, emagrecimento progressivo, pelos arrepiados, opacos e quebradiços também podem ser observados (Tokarnia et al. 2012, Mendonça et al. 2011, Mendonça et al. 2012, Lima et al. 2013, Oliveira Júnior et al. 2013, Rocha et al. 2016).

A família Convolvulaceae Juss. possui larga distribuição mundial, compreende 60 gêneros e cerca de 1.900 espécies, sendo que os gêneros Ipomoea L e Jacquemontia Choisy são os mais representativos, com a maioria de suas espécies endêmicas no Brasil (Staples 2012, Bianchinni & Ferreira 2013, Buril et al. 2015). Durante investigações epidemiológicas sobre as causas de doenças neurológicas de ruminantes, sobretudo de caprinos no semiárido de Pernambuco, nosso grupo de pesquisa tem observado vários surtos de doença de depósito lisossomal que estão associados à ocorrência de várias espécies de Ipomoea que vegetam, por muitas vezes combinadas, algumas das quais reconhecidamente tóxicas com outras espécies cujo status sobre sua toxicidade é desconhecido. Por esse motivo, o objetivo deste trabalho foi determinar a concentração de swainsonina e calisteginas em espécies de Convolvulaceae provenientes do Sertão do Moxotó, região semiárida do Estado de Pernambuco.

48 MATERIAL E MÉTODOS

Esse estudo foi realizado na microrregião do Sertão do Moxotó, Estado de Pernambuco (Fig.4), nos Municípios de Arcoverde, Sertânia, Betânia, Ibimirim, Custódia, Inajá e Manari. O clima predominante nos nesses Municípios é o semiárido, com temperaturas elevadas e chuvas escassas e mal distribuídas. A vegetação característica é a caatinga (IBGE 2010). O estudo foi realizado durante o período chuvoso do ano de 2017 na região, que se estende de março a junho e para determinar a ocorrência de espécies de Convolvulaceae que contém alcaloides tóxicos, as rodovias principais de acesso aos Municípios e as estradas vicinais com acesso às fazendas e aos lajedos, foram percorridas de carro, com velocidade média de 30 km/h perfazendo um trajeto mínimo de 100 km e máximo de 200 km em cada Município. As espécies de Convolvulacea observadas durante os trajetos foram coletadas para identificação botânica e depositadas no Herbário Vasconcelos Sobrinho da Universidade Federal Rural de Pernambuco(UFRPE). Amostras contendo 500g das folhas de cada espécie foram coletadas, secas à sombra, trituradas, misturadas para constituir um pool de amostras e analisadas por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massa, de acordo com os procedimentos descritos por Gardner et al. (2001). Nesse estudo optou-se por não coletar a espécie Ipomoea carnea subsp. fistulosa.

Para detecção dos princípios ativos, amostras (100 mg) do material vegetal dissecado foram foram utilizadas para obtenção de extrato e posterior analise da presença da swainsonina pelo isolamento em resina de permuta iônica. O extrato aquoso obtido foi então analisado por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massa usando uma bomba de solvente binário HP 1100, um amostrador automático, uma coluna de HPLC de fase reversa Betasil C18 (100 × 2 mm) e um espectrômetro de massa- Finnigan LCQ.

A swainsonina foi eluida utilizando uma mistura isocrática de 5% de metanol em acetato de amónio 20 mM a uma taxa de fluxo de 0,5 mL/min. O tamanho da injeção de amostra foi de 20 μL. A ionização foi conseguida usando uma fonte de ionização química de pressão atmosférica (APCI) com uma temperatura de vaporização de 450 °C e corrente de descarga corona de 5 μA. O espectrômetro de massa foi executado em um modo MS/MS, examinando os íons dos produtos em uma faixa de massa de 70-300 amu após a fragmentação da molécula protonada de swainsonina usando uma configuração relativa de energia de colisão relativa de 25%.

A área do pico de swainsonina foi medida a partir do cromatograma iónico reconstruído (m/z 156) e a quantificação foi baseada em um padrão de calibração externo. A presença de Swainsonina foi verificada através de cromatografia gasosa - espectrometria de massa (GC/MS) depois de uma porção do extracto aquoso ser seco e o resíduo derivado por adição de N,O-bis (trimetilsilil) trifluoroacetamida (BSTFA) e piridina para converter a swainsonine ao seu derivado de éter de timesilil éter. A análise de GC/MS foi realizada usando um sistema GC/MS de termo eletrônico instalado com uma coluna capilar Agilent DB-5MS (30 m × 0,25 mm). O hélio foi utilizado como gás transportador a uma taxa de fluxo constante de 1,5 mL/min. As amostras (2,0 μL) foram injetadas usando um injetor split/splitless com uma temperatura do injetor de 250 °C. A temperatura da coluna foi programada a 120°C durante 1 min, aumentada de 120 a 200°C a 5°C/min e de 200 a 300°C a 20°C/min e depois mantida a 300° C durante 8 min. A presença de caliesteginas foi determinada utilizando os mesmos dados GC/MS usados para verificar a presença de swainsonina.

Os pontos de coleta foram georreferenciados utilizando-se um GPS (Sistema de Posicionamento Global), as plantas foram fotografadas e os dados sobre a ocorrência das mesmas foram comparados com os índices pluviométricos de cada Município, segundo os dados do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).

RESULTADOS

Nos Municípios que compreendem o Sertão do Moxotó foram encontradas 8 espécies de Ipomoeas e uma espécie de Jacquemontia (Fig. 4) contendo concentrações bastante variáveis de swainsonina e calisteginas (Quadro 1). Em Sertânia foi encontrada a maior variedade de espécies; 7 no total. Nesse Município a média pluviométrica nos três últimos meses que antecederam a coleta das plantas foi de 36,6mm e a média pluviométrica anual foi de 34mm, com índices mais significantes de chuvas ocorrendo entre os meses de março e julho. As espécies

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observadas com maior frequência e em maiores quantidades foram I. sericosepala, que continham somente calisteginas (B1 0.013%, B2 <0.001% e C1 0.002%) e I. brasiliana, que também continham somente calisteginas (B1 0.019%, B2 0.005% e C1 0.031%). Outras duas espécies também foram observadas com frequência, porém uma continha tanto swainsonina quanto calisteginas em sua composição; identificada como I. megapotamica (swainsonina 0.016%, calisteginas B1 0.024%, B2 0.001%, B3 0.002% e C1 0.003%) e a outra, identificada como I. subincana continha apenas swainsonina, na concentração de 0.011%. Ipomoea sericosepala e I. brasiliana foram observadas tanto nas rodovias principais de acesso aos Municípios quanto nas estradas vicinais, recobrindo cercas das fazendas e na maioria dos lajedos visitados. Nos locais de coleta se observavam inúmeras brotações, além de indivíduos adultos, bem desenvolvidos com até de 2,5m de altura e massa folear abundante. Nos lajedos, local onde habitualmente caprinos e ovinos seu reúnem para pastejar, era comum observar esses animais ingerindo três ou quatro espécies de Ipomoea que vegetavam simultaneamente, umas recobrindo as outras (Fig. 2). Nessa situação se podia observar principalmente I. sericosepala, I. brasiliana, I. megapotamica e I. subincana. As demais espécies de Ipomoea não eram tão abundantes e só foram observadas ocasionalmente, porém continham concentrações de swainsonina ou calisteginas.

Em Manari foram observadas 3 espécies de Ipomoea e uma espécie de Jacquemontia. Nesse município a média pluviométrica nos três últimos meses que antecederam a coleta das plantas foi de 81,3mm e a média pluviométrica anual foi de 67,5mm, com índices mais significantes de chuvas ocorrendo entre os meses de abril até agosto (Fig. 3). A principal espécie observada foi I. sericosepala. A concentração média de swainsonina nessa espécie foi 0.011% e a concentração de calisteginas B1, B2. B3 e C1 foi 0.012%, 0.001%, 0.002% e 0.003% respectivamente. Ipomoea bahiensis foi a segunda espécie mais frequentemente observada, porém as análises identificaram apenas calisteginas B2 (0.061%) e C1 (0.002%) na composição dessa planta. Jacquemontia corymbulosa foi a terceira espécie mais frequentemente observada tanto nas estradas quanto próximas às cercas das fazendas formando uma massa folear abundante, por vezes recobrindo áreas extensas de solo e áreas de pastagens. A concentração média tanto de swainsonina quanto de calistegina B2 nessa espécie foi 0.01%. Em Ipomoea rosea, não foram detectadas concentrações de alcaloides indolidizínicos.

Em Betânia a espécie observada com maior frequência foi I. sericosepala e, I. nil foi observada com pouca frequência, ocorrendo apenas nas beiras das estradas principais desse município. A média pluviométrica no período que antecedeu a coleta foi de 73,7mm com índices pluviométricos mais intensos entre março e abril. A concentração de swainsonina em I. sericosepala foi 0.012% e 0.013%, 0.001 e <0.002 de calisteginas B1, B2 e C1 respectivamente. Já em I. nil só se detectaram calisteginas B1, B2 e C1, com concentrações médias de 0.003%, 0.007% e 0.001% respectivamente. Em Custódia e Ibimirim só foram observadas duas espécies de Ipomoea, uma em cada município. A média pluviométrica em Custódia no período que antecedeu a coleta foi de 73,8mm com índices pluviométricos mais intensos entre maio e julho; já em Ibimirim a média pluviométrica foi 61,4mm com períodos de chuvas mais intensos entre março e maio. Em Custódia só foi observada a ocorrência de I. nil e nessa espécie não foi detectada presença de alcaloides indolizidínicos. Já em I. rosea, coletada no município de Ibimirim a concentração de swainsonina foi 0.07% e 0.001%, 0.003 e <0.001 de calisteginas B1, B2 e C1 respectivamente. Em ambos os municípios a quantidade observada dessas plantas foi pouco expressiva e a observação foi ocasional.

Em Custódia e Arcoverde só foi observada a ocorrência de I. nil. Apenas se detectaram calisteginas B1, B2 e C1 nos espécimes coletados em Arcoverde, nas concentrações de 0.002%, 0.008% e 0.001%. Em Inajá, só se observou I. brasiliana que continha apenas calisteginas B2 (<0.001) e C1 (0.001). A média pluviométrica no período que antecedeu a coleta foi de 117,4mm com índices pluviométricos mais intensos entre abril e maio. Em Arcoverde a média pluviométrica no período que antecedeu a coleta foi de 73.8mm com índices pluviométricos mais intensos entre maio e julho. Em Inajá a média foi de 35mm, com índices pluviométricos abaixo da média em comparação com os demais municípios.

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Fig. 1. Detecção de swainsonina e calisteginas em espécies de Convolvulaceae no semiárido de Pernambuco. Espécies de Ipomoea em fase de floração durante o período chuvoso de 2017, na região do Sertão do Moxotó. (A) Ipomoea sericosepala, (B) Ipomoea brasiliana, (C) Ipomoea megapotamica, (D) Ipomoea subincana e (E) Ipomoea incarnata no mês de abril, município de Sertânia. (F) Ipomoea bahiensis, no mês de maio, município de Manari. (G) Ipomoea nil no mês de maio, município de Betânia. (H) Ipomoea rosea, no mês de junho, município de Manari. (I) Jacquemontia corymbulosa, no mês de maio, município de Manari.

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Quadro 1. Detecção de swainsonina e calisteginas em espécies de Convolvulaceae no semiárido de Pernambuco.

São apresentados dados relativos ao mês e local de coleta das plantas, além das espécies de Convolvulaceae e concentração de alcaloides indolizidínicos.

Mês da

Coleta Município Pluviometria Total Espécie Swainsonina b Calisteginas B1 B2 B3 C1 Abril Sertânia 36,6mm Ipomoea sericosepala - 0.013 <0.001 - 0.002 Ipomoea brasiliana - 0.019 0.005 - 0.031 Ipomoea subincana 0.011 - - - - Ipomoea megapotamica 0.016 0.024 0.001 0.002 0.003 Ipomoea rosea 0.001 - - - - Ipomoea bahiensis - - 0.001 - - Ipomoea incarnata - 0.003 0.022 0.001 0.006

Maio Betânia 250mm Ipomoea sericosepala Ipomoea nil 0.012 - 0.003 0.013 0.007 0.001 - - 0.001 0.002

Junho Ibimirim 229mm Ipomoea rosea 0.007 0.001 0.003 - <0.001

Junho Manari 81,3mm Ipomoea rosea - - - - - Jacquemontia corymbulosa 0.001 - 0.001 - - Ipomoea brasiliana - 0.029 0.014 - 0.052 Ipomoea bahiensis - - 0.061 - 0.002 Ipomoea sericosepala 0.011 0.012 0.001 0.002 0.003

Julho Custódia 414mm Ipomoea nil - - - - -

Julho Inajá 179mm Ipomoea brasiliana - - <0.001 - 0.001

Julho Arcoverde 412mm Ipomoea nil - 0.002 0.008 - 0.001

aPluviometria total do mês e dos últimos três meses que antecederam a coleta das plantas.

bConcentrações de swainsonina iguais ou superiores a 0.001% de matéria seca são consideradas tóxicas para herbívoros (Molyneux et al. 1995).

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Fig. 2. Detecção de swainsonina e calisteginas em espécies de Convolvulaceae no semiárido de Pernambuco. Áreas de pastagens de caprinos no Sertão do Moxotó. (A) Pastagem formada principalmente por Froelichia humboldtiana e arbustos em fase de brotação de Ipomoea brasiliana (setas), Inajá, julho de 2017. (B) Área de caatinga no período chuvoso, com disponibilidade de forragens e, apesar disso, os caprinos apresentam predileção por Ipomoea sericosepala e (C) Caprino com predileção por Ipomoea megapotamica em detrimento de outras forragens.

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Fig. 3. Detecção de swainsonina e calisteginas em espécies de Convolvulaceae no semiárido de Pernambuco. Índice pluviométrico nos municípios que compreendem o Sertão do Moxotó. Percebe-se que os meses com maior ocorrência de precipitações de chuvas foram março, abril, maio, junho e julho, sendo esse período associado à presença de Convolvulaceae na região estudada e quando casos de doença de depósito lisossomal podem surgir.

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Figura 4. Distribuição das espécies de Ipomoea encontradas durante o estudo na região do Sertão do Moxotó/PE. Observa-se que algumas regiões possuem maior variabilidade e predomínio de espécies, justificada pela dependência pluviométrica da região, bem como pela devastação da vegetação da caatinga.

DISCUSSÃO

Nesse estudo são apresentadas seis novas espécies de Ipomoea (I. subincana, I. megapotamica, I. rosea, I. bahiensis, I. incarnata e I. nil) e uma espécie de Jacquemontia (J. corymbulosa) contendo concentrações tóxicas de swainsonina e/ou calisteginas e que, portanto, devem ser investigadas quanto sua importância como plantas tóxicas de interesse pecuário no semiárido brasileiro, já que essas espécies são endêmicas na caatinga (BFG 2015). As duas espécies encontradas com maior frequência e em maior quantidade nos municípios estudados foram I. sericosepala (anteriormente Turbina cordata) (Wood et al. 2015) e I. brasiliana (anteriormente I. marcellia e I. aff. verbascoidea) (Simão-Bianchinni 2015). Ipomoea sericosepala já foi relatada como tóxica para caprinos, bovinos e equinos (Dantas et al. 2007, Assis et al. 2010, Oliveira Junior et al. 2013) e I. brasiliana até o momento, só foi relatada como importante para caprinos (Mendonça et al. 2012, Lima et al. 2013). Em estudos anteriores, realizados tanto em I. sericosepala quanto em I. brasiliana detectaram-se quantidades significantes de swainsonina e calisteginas. Porém nesse estudo, várias amostras dessas duas plantas foram negativas para swainsonina. Isso ocorre porque a concentração de swainsonina varia consideravelmente dentre as espécies, pois a produção dessa toxina é dependente da presença de fungos endofiticos. Já as calisteginas são metabólitos secundários produzidos pelas plantas (Cook et al. 2013).

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secam no início da seca, após a frutificação, rebrotando novamente no início das chuvas (Barbosa et al. 2006, Mendonça et al. 2011, Mendonça et al. 2012). Por esse motivo, torna-se necessário o estudo dos índices pluviométricos nos municípios, pois precipitações elevadas de chuva podem indicar os meses mais propícios para que ocorram intoxicações por plantas que contém swainsonina em ruminantes e equinos. Dessa maneira, consideradas as precipitações médias de 2017 no Sertão do Moxotó, os meses mais favoráveis para que ocorram surtos de doença de depósito lisossomal em herbívoros, situam-se entre os meses de março e julho (Figura 3).

Outro aspecto a ser considerado é que várias espécies da família Convolvulaceae não são tóxicas e são importantes forrageiras que podem e devem ser utilizadas na alimentação animal (Cook et al. 2013), principalmente nas condições de manejo do semiárido nordestino, devido à escassez de alimentos que frequentemente ocorre nessa região. Contudo, várias espécies são tóxicas tanto para a ruminantes e equídeos quanto para a vida selvagem (Cook et al. 2013) e, por esse motivo, devem ser estudadas. Dessa maneira, de acordo com os resultados apresentados nesse estudo, I. subincana, I. megapotamica, I. rosea e Jacquemontia corymbulosa apresentam alto potencial de toxicidade para herbívoros, pois apresentaram concentrações de swainsonina iguais ou superiores a 0.001% (Molyneux et al. 1995). Porém, a determinação da toxicidade dessas espécies deve ainda ser comprovada experimentalmente. Com relação às espécies que continham apenas calisteginas, tais como I. bahiensis, I. incarnata e I. nil, estudos adicionais devem ser realizados para comprovar a toxicidade desses compostos isoladamente em

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