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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2 O gênero Acanthamoeba

2.2.7 Determinação do potencial patogênico

Sabe-se que o desenvolvimento de infecções causadas por Acanthamoeba não ocorre somente pelo simples contato com a mesma, uma vez que estudos demonstram o isolamento de Acanthamoeba em indivíduos assintomáticos e existem trabalhos que relatam a presença de anticorpos contra essas amebas em mais de 80% da população saudável (CERVA et al 1973; BADENOCH et al, 1988; CHAPPELL et al, 2001). Esses dados claramente sugerem que os mecanismos pelos quais Acanthamoeba é capaz de acessar um número limitado de hospedeiros susceptíveis, causando doença, envolvem uma série de fatores que podem estar relacionados direta ou indiretamente com a ameba ou com o hospedeiro e, ainda, com o ambiente (KHAN, 2006).

Dessa forma, estudos relacionados ao potencial patogênico de Acanthamoeba são realizados com o objetivo de determinar características biológicas que sejam intrínsecas de cepas patogênicas e que possam ser utilizadas como marcadores de patogenicidade. Neste contexto, parâmetros morfológicos e fisiológicos, além de vários modelos experimentais, já foram propostos e vêm sendo investigados há décadas (GRIFFIN, 1972; DE JONCKHEERE, 1980; DA ROCHA-AZEVEDO e COSTA e SILVA-FILHO, 2007).

Recentemente, técnicas moleculares também têm sido testadas como marcadores de patogenicidade e utilizadas na tentativa de compreender as relações filogenéticas entre as linhagens capazes de causar infecção e aquelas não patogênicas. No entato, até os dados referentes ao sequenciamento genômico ainda são pouco esclarecedores frente à diversidade dos mecanismos envolvidos na patogenia de Acanthamoeba (HOWE et al, 1997; KHAN et al, 2002; LEDEE et al, 2009).

De um modo geral, os testes de patogenicidade podem ser realizados in vivo ou in

importantes sobre a virulência de cepas clínicas e ambientais de Acanthamoeba podem ser obtidas dessa forma, desde que seja utilizado um modelo adequado. Sendo assim, muitos animais já foram testados como modelo de ceratite amebiana, dentre eles: ratos (HE et al, 1990), coelhos (CÔTÉ et al, 1991), hamsters (CLARKE et al, 2005) e miniporcos (HE et al, 1992), sendo que vários métodos podem ser utilizados para induzir a infecção, como abrasão da córnea, aplicação de lentes de contato contaminadas com Acanthamoeba na córnea intacta ou lesionada, injeção intraestromal de Acanthamoeba, entre outros (VAN KLINK et al, 1993; CLARKE et al, 2005; REN e WU, 2010). Da mesma forma, alguns modelos experimentais de EAG também já foram propostos, e incluem: camundongos, macacos e até gafanhotos. Nesses casos, a infecção pode ser induzida mediante inoculação de trofozoítos por via intracraniana, intranasal, intra-abdominal, entre outras (CULBERTSON et al, 1959; MORTAZAVI et al, 2009, 2010).

No entanto, devido às dificuldades técnicas relacionadas ao desenvolvimento de estudos in vivo, muitos marcadores de patogenicidade têm sido testados in vitro. Dentre eles, se incluem: sobrevivência e taxa de crescimento em cultivo axênico; velocidade de encistamento/desencistamento; capacidade de adesão a substratos inertes e biológicos (DE JONCKHEERE, 1980; DA ROCHA-AZEVEDO e COSTA e SILVA-FILHO, 2007; OMAÑA-MOLINA et al, 2010); efeito citopático em diferentes tipos de culturas celulares (IM et al, 1999; WALOCHNIK et al, 2000a; ALSAM et al, 2003); atividade proteolítica diferenciada (KHAN et al, 2000; DA ROCHA-AZEVEDO e COSTA e SILVA-FILHO, 2007; CARVALHO et al, 2010); e capacidade de adaptação a condições ambientais adversas, como crescimento em altas temperaturas e altas osmolaridades (KHAN et al, 2002; LORENZO- MORALES et al, 2005b; ALVES et al, 2012).

Ao contrário da maioria desses testes, a análise do desenvolvimento de culturas de

Acanthamoeba a temperatura e osmolaridade aumentadas não requer culturas axênicas. Além

disso, é uma metodologia de fácil execução e menor custo, o que explica sua utilização por grande parte dos pesquisadores que buscam informações sobre o potencial patogênico de isolados clínicos e ambientais de Acanthamoeba, inclusive no Brasil (CAUMO et al, 2009; CARLESSO et al, 2010; WINK et al, 2011).

Presume-se que haja correlação entre termotolerância e potencial patogênico, pois a temperatura média do corpo humano é de 37ºC. Dessa forma, uma das condições essenciais para uma linhagem de Acanthamoeba sobreviver às condições existentes no organismo de um

hospedeiro e se desenvolver como parasita seria a capacidade de se manter viável a essa temperatura. Além disso, a resistência a temperaturas superiores a 37ºC, como 40ºC e 42ºC, possibilitaria uma adaptação ainda maior para o desenvolvimento de processos infecciosos, pois permitiria à ameba sobreviver a episódios de febre, o que seria uma característica típica de cepas mais virulentas (GRIFFIN, 1972; DE JONCKHEERE, 1980; KILIC et al, 2004).

Em 2001, Khan et al (2001) descreveram pela primeira vez a osmotolerância como um fator de patogenicidade de Acanthamoeba. Segundo esse determinante, isolados patogênicos seriam capazes de se desenvolver a 1M de manitol, enquanto que o crescimento de isolados não patogênicos seria inibido pelos efeitos osmóticos de uma alta concentração de manitol no meio. Além disso, esse trabalho demonstrou também que os resultados obtidos com os ensaios de osmotolerância eram similares àqueles dos testes de efeito citopático, o que, segundo os autores, reforçava a validade da osmotolerância como um importante marcador de patogenicidade de Acanthamoeba.

Considerando os aspectos acima, a determinação do potencial patogênico de

Acanthamoeba permite que diferentes linhagens sejam diferenciadas quanto à capacidade de

causar infecção, e isso é importante, principalmente, quando se tratam de linhagens provenientes de amostras clínicas, já que é comprovadamente possível o isolamento de

Acanthamoeba a partir de tecidos saudáveis do homem. Dessa forma, essa discriminação

permitiria avaliar adequadamente os fatores de risco relacionados à presença de

Acanthamoeba em diferentes tipos de ambientes e em diferentes tipos de amostras clínicas.

Além disso, muitos marcadores de patogenicidade podem ser utilizados também para uma melhor compreensão dos processos biológicos envolvidos na fisiopatologia das doenças causadas por Acanthamoeba, o que é fundamental para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas.

3 OBJETIVOS

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