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Determinação de preço em oligopólio, a teoria do custo total de Hall e Hitch e o mercado de venda de ingressos

3 REFERENCIAL TÉORICO

3.2 Formação de preços em mercados não competitivos

3.2.1 Determinação de preço em oligopólio, a teoria do custo total de Hall e Hitch e o mercado de venda de ingressos

As inconsistências da teoria neoclássica portanto, impedem que se analise, e se determine o par preço-quantidade produzida na maioria dos mercados sob a ótica da concorrência perfeita. Todas estas contradições são observadas de maneira simultânea, sendo mais coerente uma análise voltada para o extremo oposto, ou seja, uma análise voltada ao monopólio (SRAFFA, 1926). Na abordagem convencional, se estabelecem

modelos de concorrência perfeita e monopolísticas com o intuito apenas de ilustrar casos extremos nos quais, supostamente, não se verificam na realidade, servindo apenas como referência para casos “similares” a essas condições, onde setores com muitos produtores poderiam ser caracterizados como de concorrência perfeita, por exemplo, e as imperfeições encontradas são apenas de natureza friccional, não constituindo uma força suficiente que alterasse os resultados previstos pela teoria (SRAFFA,1924).

No entanto, estas imperfeições não são meramente friccionais, são “forças ativas que produzem efeitos permanentes e mesmo cumulativos. Além do mais, são quase sempre dotados de estabilidade suficiente para que se tornem objeto de análise com base em hipóteses estáticas” (SRAFFA,1924, p.10). O autor afirma que “um pequeno desvio dessas (condições de concorrência) é suficiente para fazer com que a forma como o equilíbrio é atingido torne-se extremamente similar àquela forma peculiar ao monopólio.” (SRAFFA,1924, p.10).

É neste contexto, na qual se necessita de uma teoria de determinação de preços mais próxima da realidade, que o estudo de Hall e Hitch busca, por meio da aplicação de questionários a algumas empresas selecionadas de acordo com seu porte, área de atuação e consideradas bem administradas, ou administradas racionalmente, entender como é a formação de seus preços. Ao todo, Hall e Hitch entrevistaram 38 empresas sendo, 33 industriais, três varejistas e duas firmas de construção (LIMA, 1985).

As principais conclusões do estudo foram de que: i) As firmas não agem como prevê a teoria neoclássica, ou seja, de forma atomística; ii) As firmas determinam os preços por meio da adição de um mark-up sobre os custos de produção; iii) As firmas produzem enquanto o mercado é capaz de consumir; e, iv) Os preços tendem a se manterem fixos.

Os resultados de uma maneira geral, estão em linha com o observado por diversos autores da Organização Industrial (ou Economia Industrial), onde as ações da firma levam sempre em conta a ação dos concorrentes daquele mercado, que, principalmente quando se trata de bens industrializados, são reduzidos a poucas empresas com grande poder sobre o preço e parcelas consolidadas de mercado, que pode ser expressa por meio da curva de demanda quebrada, conforme Figura 4.

Figura 4- Curva de demanda quebrada Fonte: Extraído de Lima (1985).

A curva de demanda quebrada expressa graficamente a perda de mercado das empresas que aumentam o preço de seus produtos, pois as empresas concorrentes não seguem tal movimento, porém um menor ganho caso diminuam o preço, devido a expectativa de que outras firmas também repitam a diminuição.

Esta curva formaria, em geral, um ângulo em relação ao preço vigente, apresentando elasticidade alta para aumento de preço (devido a crença do empresário que os concorrentes não o seguiriam) e elasticidade baixa para reduções de preço (pela expectativa de ser acompanhado pelos seus rivais) (SILVA, 2010, p. 106).

Ressalta-se que a curva de demanda quebrada não resolve a questão da determinação de preço, mas apresenta uma análise que leva em consideração a interdependência entre as firmas, apontada por Sraffa como uma das falhas da teoria neoclássica de determinação de preços. Assim, o principal resultado do estudo é a equação na qual permite determinar os preços proposta por Hall e Hitch, na qual:

Sendo P o preço unitário, v o custo direto, q´ uma margem para cobrir os custos variáveis e q´´ para cobrir uma margem convencional de lucro. Então, pode-se escrever, de acordo com Sylos-Labini, que:

P = v + Qv (2)

em que v é o custo direto e Q = q´ + q´´. Assim, temos que as empresas não maximizam seus lucros por meio do encontro entre as curvas de receita e custo marginal, das quais as firmas sequer tem acesso e julgam ser adequado que os preços cubram apenas os custos médios de produção de forma a gerarem lucro (LIMA, 1985).

Dessa forma, pode-se compreender que a relação entre os Clubes de Futebol analisados e seus torcedores é uma relação de consumidores para com fornecedores, numa estrutura de mercado que reflete de maneira muito precisa o oligopólio diferenciado, termo originalmente formulado por Sylos-Labini com inspiração em Kaldor e Sraffa. Esta estrutura de mercado consiste em “muitas pequenas empresas aparentemente em concorrência entre si, mas que na realidade estão dotadas de poderes de mercado bem definidos” (SYLOS-LABINI, 1956, p. 56 apud SILVA, 2010, p. 125). Na qual Silva também destaca “[que] uma certa diferenciação dos produtos é relevante, de modo que cada empresa está em concorrência direta, somente com alguns rivais mais próximos” (SILVA, 2010, p. 125).

Este mercado leva ao extremo a diferenciação de produto pois é improvável que torcedores deixem de comprar ingressos para jogos do seu clube de preferência em razão do preço elevado, para adquirir ingressos de partidas de outros clubes, ainda que estes tenham menores preços, ou apresentem maior qualidade do jogo em si ou estádio mais confortável. Não há, portando, um substituto perfeito, restando apenas os jogos transmitidos em TV Aberta, fechada ou pay-per-view como opção, que podem ser considerados os rivais mais próximos.

Logo, pode-se entender que cada torcida é uma fatia específica de mercado dos clubes, onde estes podem definir os preços dos ingressos considerando os custos operacionais e definindo um mark-up15, ou seja, uma margem de lucro que seja conveniente

15 Mark-up é uma ferramenta administrativa utilizada por muitos empresários como método para definir o preço de venda de uma mercadoria ou serviço prestado. O Manual de Economia da USP define mark-up como “a margem da receita de vendas (faturamento) sobre os custos diretos de produção”. Esse modelo surgiu após estudo empíricos estruturados a partir de 1930, que mostraram, segundo Vasconcellos (2002), “que as grandes

demanda, portanto, pode afetar a amplitude deste mark-up, tendo em vista que os estádios possuem um número limitado de acentos, não sendo possível aumentar a quantidade ofertada da maneira como é feita no setor industrial, ao menos não no curto-prazo. Assim, fatores como a importância, dia, ou circunstâncias exclusivamente esportivas podem influenciar o preço dos ingressos.

empresas determinam o preço de seu produto a partir de seus próprios custos, sem ater-se ao comportamento da demanda, já que eles conhecem menos da demanda do que seus custos”. (VASCONCELLOS, 2002, p. 171).

4. METODOLOGIA

Nesta seção apresentou-se o modelo econométrico de dados em painel para estimar as relações entre os determinantes dos preços dos ingressos das partidas de futebol do campeonato Brasileiro da Série A de 2012 a 2018, bem como o papel e o impacto dos custos. Também se descreveu as variáveis e suas fontes de dados; e, por fim, apresentou-se o modelo empírico proposto neste trabalho.

4.1 O Modelo econométrico de dados em painel

Segundo Gujarati (2011), os agentes econômicos como família, empresas, países e etc. podem apresentar heterogeneidade durante o tempo e os métodos de estimação do modelo de dados em painel faz com que essas especificidades possam ser expressas e analisadas de forma explícita. Além disso os dados em painel podem apresentar menos colinearidade entre as variáveis, mais eficiência e maior número de graus de liberdade. Ainda segundo Gujarati (2011), os dados em painel podem medir efeitos que não são possíveis de se medir nos modelos de corte transversal e de séries temporais puros. Em resumo:

[...] os dados em painel podem enriquecer a análise aplicada ao ponto de ser impossível usarmos apenas dados de séries temporais ou de corte transversal. Isso não deve sugerir que não haja problemas com a modelagem com dados em painel. Discutiremos esses problemas depois de tratarmos da teoria e apresentarmos alguns exemplos. (GUJARATI, 2011, p. 589).

Os dados em painel podem ser mais úteis também para os casos de modelos comportais complexos e para fenômenos como economias de escala e mudanças tecnológicas. Além de poder apresentar maiores volumes de dados, minimizando o erro estatístico que pode ocorrer com bases de dados mais concentradas (MORAES, 2017). O modelo de dados em painel, portanto, pode combinar dados como em séries temporais, representando por “t”, como por unidade de cortes transversais, representado por “i”. Logo, pode-se observar os dados em relação ao tempo e em relação a diferentes unidades. Obviamente, o modelo pode apresentar também problemas referentes ao seu método de estimação, pois envolve os métodos de corte transversal e de séries temporais. Assim, o

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