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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3. Determinações de laboratório

Os Quadros 9 e 11 apresentam os resultados da composição textural, e os Quadros 10 e 12, as respectivas análises estatísticas. Em linhas gerais, não houve diferenças relevantes nas diferentes frações determinadas, independentemente da profundidade de amostragem. Eventuais diferenças estatísticas registradas, aparentemente, não evidenciariam tendências claras de resposta aos tratamentos em análise. É de importância indicar, pois, que a determinação da composição granulométrica não seria relevante no estudo de camadas superficiais adensadas, quando a amostragem é realizada com espessura de alguns centímetros. Considerando as dimensões das crostas, as amostragens deveriam restringir-se a camadas milimétricas, que, eventualmente, possibilitariam detectar diferenças nessa característica.

A argila dispersa em água, porém, mostrou-se como uma característica de interesse neste estudo (Quadros 11 e 12). É evidente a

diminuição registrada no solo sem cobertura nas amostragens até 5 cm. Como nesse tratamento não houve incremento de argila dispersa em água na camada de 5 a 7,5 cm, pode-se descartar a migração do material em suspensão. Esse decréscimo seria conseqüência de maior ajuste das partículas face a face, em resposta às maiores oscilações de temperatura e de umidade nesse tratamento. As estruturas resultantes, mais coesas, apresentariam maior resistência à dispersão mecânica e seriam fator de importância na formação de crostas superficiais (OLIVEIRA et al., 1996; FARIA, 1996).

Os resultados indicam que a formação de camadas adensadas no solo sem cobertura, nas condições experimentais, seria devida à cimentação in situ, mais que à migração de partículas no perfil. Essa cimentação seria uma das causas que provocaram a diminuição da velocidade de infiltração básica no solo sem cobertura (Quadro 7). Já na comparação do plantio de milho com a cobertura total do solo por mucuna ou vegetação espontânea, a arquitetura diferenciada dos sistemas radiculares seria um fator de importância na diferenciação da velocidade de infiltração básica (Quadro 7).

Os resultados da densidade do solo e da porosidade (total, macro e micro) mostram que estas características não permitiram evidenciar diferenças entre os tratamentos que receberam cobertura vegetal (Quadros 13 e 14).

O mesmo não acontece na comparação entre estes tratamentos e o tratamento sem cobertura, quando se analisam as duas camadas superficiais (Quadro 14). A menor densidade neste tratamento (Quadro 13) não pode ser atribuída a um incremento de argila (Quadros 11 e 12). Como previamente apontado, neste tratamento registraram-se as maiores oscilações de temperatura e de umidade. Isso, certamente, acentuou os processos de expansão e contração das camadas superficiais, resultando num incremento do volume de poros, com diminuição da densidade do solo. A porosidade total corrobora essa afirmativa (Quadros 13 e 14),

Quadro 9 - Proporção de areia muito grossa (AMG), areia grossa (AG), areia média (AM), areia fina (AF) e areia muito fina (AMF), considerando a cobertura do solo e a profundidade de amostragem

Cobertura AMG AG AM AF AMF

_____________________________________________________________________________ kg kg-1_____________________________________________________________________________ Camada de 0 a 2,5 cm Sem cobertura 0,010 0,038 0,074 0,081 0,040 Vegetação espontânea 0,012 0,054 0,085 0,089 0,042 Mucuna 0,010 0,041 0,077 0,085 0,035 Milho 0º(1) 0,011 0,045 0,077 0,079 0,042 30º 0,009 0,040 0,073 0,063 0,072 60º 0,013 0,045 0,076 0,073 0,045 90º 0,008 0,038 0,073 0,074 0,042 Camada de 2,5 a 5,0 cm Sem cobertura 0,012 0,049 0,080 0,082 0,039 Vegetação espontânea 0,015 0,056 0,087 0,078 0,034 Mucuna 0,010 0,051 0,075 0,067 0,041 Milho 0º(1) 0,015 0,044 0,081 0,083 0,042 30º 0,013 0,042 0,058 0,096 0,043 60º 0,012 0,042 0,071 0,070 0,046 90º 0,010 0,042 0,073 0,074 0,038 Camada de 5,0 a 7,5 cm Sem cobertura 0,016 0,049 0,074 0,074 0,034 Vegetação espontânea 0,010 0,048 0,085 0,093 0,049 Mucuna 0,015 0,041 0,075 0,078 0,037 Milho 0º(1) 0,010 0,048 0,080 0,081 0,037 30º 0,015 0,047 0,076 0,079 0,041 60º 0,013 0,053 0,076 0,074 0,038 90º 0,014 0,040 0,074 0,076 0,038

Quadro 10 - Contrastes ortogonais da areia muito grossa (AMG), areia grossa (AG), areia média (AM), areia fina (AF) e areia muito fina (AMF), considerando a cobertura do solo e a profundidade de amostragem Cobertura C1 C2 C3 C4 C5 C6 Sem cobertura 6 0 0 0 0 0 Vegetação espontânea -1 5 0 0 0 0 Mucuna -1 -1 4 0 0 0 Milho 0º(1) -1 -1 -1 3 0 0 30º -1 -1 -1 -1 2 0 60º -1 -1 -1 -1 -1 1 90º -1 -1 -1 -1 -1 -1 Camada de 0 a 2,5 cm AMG (kg kg-1) -0,003 0,009 -0,001 0,003 -0,003 0,005# AG (kg kg-1) -0,029# 0,055* 0,000 0,008 -0,004 0,008# AM (kg kg-1) -0,017 0,049# 0,009 0,009 -0,003 0,003 AF (kg kg-1) 0,023 0,071# 0,051 0,027 -0,021 -0,001 AMF(kg kg-1) -0,038 -0,026 -0,061# -0,033 0,057* 0,003 Camada de 2,5 a 5,0 cm AMG (kg kg-1) -0,003 0,015# -0,010# 0,01# 0,004 0,002 AG (kg kg-1) 0,017 0,059* 0,029 0,005 0,002 0,000 AM (kg kg-1) 0,035 0,077# 0,017 0,041 -0,028 -0,002 AF (kg kg-1) 0,024 0,000 -0,055 0,009 0,048# -0,004 AMF(kg kg-1) -0,010 -0,040# -0,005 -0,001 0,002 0,008 Camada de 5 a 7,5 cm AMG (kg kg-1) 0,019# -0,017# 0,008 -0,012# 0,003 -0,001 AG (kg kg-1) 0,010 0,016 -0,019 0,001 0,001 0,011# AM (kg kg-1) -0,022 0,044# -0,006 0,014 0,002 0,002 AF (kg kg-1) -0,037 0,077# 0,002 0,014 0,008 -0,002 AMF (kg kg-1) -0,036# 0,054* -0,006 -0,006 0,006 0,000

(1) O número indica o ângulo de plantio do milho em relação ao eixo leste-oeste.

Quadro 11 - Proporção de silte grosso (SG), silte fino (SF), argila não coloidal (ANC), argila coloidal (AC) e argila dispersa em água (ADA), considerando a cobertura do solo e a profundidade de amostragem

Cobertura SG SF ANC AC ADA

_____________________________________________________________________________ kg kg-1_____________________________________________________________________________ Camada de 0 a 2,5 cm Sem cobertura 0,162 0,041 0,521 0,033 0,170 Vegetação espontânea 0,125 0,063 0,493 0,037 0,213 Mucuna 0,110 0,044 0,568 0,030 0,208 Milho 0º(1) 0,094 0,040 0,591 0,021 0,233 30º 0,120 0,041 0,551 0,031 0,215 60º 0,147 0,061 0,510 0,030 0,215 90º 0,132 0,049 0,539 0,045 0,225 Camada de 2,5 a 5,0 cm Sem cobertura 0,066 0,089 0,554 0,029 0,188 Vegetação espontânea 0,074 0,127 0,493 0,036 0,230 Mucuna 0,070 0,083 0,573 0,030 0,218 Milho 0º(1) 0,087 0,098 0,516 0,034 0,213 30º 0,073 0,115 0,528 0,032 0,245 60º 0,100 0,077 0,546 0,036 0,233 90º 0,057 0,107 0,571 0,028 0,235 Camada de 5,0 a 7,5 cm Sem cobertura 0,073 0,096 0,543 0,041 0,218 Vegetação espontânea 0,084 0,088 0,510 0,033 0,220 Mucuna 0,084 0,100 0,521 0,049 0,233 Milho 0º(1) 0,082 0,117 0,502 0,043 0,230 30º 0,075 0,101 0,524 0,042 0,228 60º 0,082 0,105 0,525 0,034 0,225 90º 0,065 0,117 0,540 0,036 0,243

Quadro 12 - Contrastes ortogonais do silte grosso (SG), silte fino (SF), argila não coloidal (ANC), argila coloidal (AC) e argila dispersa em água (ADA), considerando a cobertura do solo e a profundidade de amostragem Cobertura C1 C2 C3 C4 C5 C6 Sem cobertura 6 0 0 0 0 0 Vegetação espontânea -1 5 0 0 0 0 Mucuna -1 -1 4 0 0 0 Milho 0º(1) -1 -1 -1 3 0 0 30º -1 -1 -1 -1 2 0 60º -1 -1 -1 -1 -1 1 90º -1 -1 -1 -1 -1 -1 Camada de 0 a 2,5 cm SG (kg kg-1) 0,244# 0,022 -0,053 -0,117 -0,039 0,015 SF (kg kg-1) -0,052 0,080 -0,015 -0,031 -0,028 0,012 ANC (kg kg-1) -0,126 -0,294* 0,081 0,173* 0,053 -0,029 AC (kg kg-1) 0,004 0,028 -0,007 -0,043* -0,013 -0,015* ADA (kg kg-1) -0,289* -0,031 -0,056 0,044 -0,010 -0,010 Camada de 2,5 a 5,0 cm SG (kg kg-1) -0,065 -0,017 -0,037 0,031 -0,011 0,043# SF (kg kg-1) -0,073 0,155* -0,065 -0,005 0,046# -0,030# ANC (kg kg-1) 0,097 -0,269* 0,131# -0,097# -0,061 -0,025 AC (kg kg-1) -0,022 0,020 -0,010 0,006 0,000 0,008# ADA (kg kg-1) -0,246* 0,006 -0,054 -0,074* 0,022 -0,002 Camada de 5,0 a 7,5 cm SG (kg kg-1) -0,034 0,032 0,032 0,024 0,003 0,017 SF (kg kg-1) -0,052 -0,100# -0,040 0,028 -0,020 -0,012 ANC (kg kg-1) 0,136 -0,062 -0,007 -0,083# -0,017 -0,015 AC (kg kg-1) 0,009 -0,039 0,041 0,017 0,014 -0,002 ADA (kg kg-1) -0,071 -0,059 0,006 -0,006 -0,012 -0,018#

(1) O número indica o ângulo de plantio do milho em relação ao eixo leste-oeste.

Quadro 13 - Densidade e porosidade do solo, considerando a cobertura do solo e a profundidade de amostragem

Porosidade Cobertura Densidade

Total Macro Micro g cm-3 ________________________________________________________m3 m-3 ________________________________________________________ Camada de 0 a 2,5 cm Sem cobertura 1,11 0,571 0,183 0,387 Vegetação espontânea 1,19 0,541 0,171 0,370 Mucuna 1,25 0,515 0,172 0,342 Milho 0º(1) 1,21 0,530 0,176 0,355 30º 1,19 0,538 0,157 0,380 60º 1,24 0,518 0,155 0,364 90º 1,23 0,525 0,154 0,371 Camada de 2,5 a 5,0 cm Sem cobertura 1,10 0,575 0,197 0,378 Vegetação espontânea 1,23 0,525 0,150 0,375 Mucuna 1,23 0,523 0,167 0,356 Milho 0º(1) 1,24 0,518 0,149 0,370 30º 1,26 0,510 0,126 0,385 60º 1,25 0,516 0,147 0,368 90º 1,21 0,530 0,157 0,373 Camada de 5,0 a 7,5 cm Sem cobertura 1,24 0,518 0,144 0,374 Vegetação espontânea 1,25 0,515 0,148 0,368 Mucuna 1,23 0,521 0,172 0,350 Milho 0º(1) 1,21 0,532 0,153 0,379 30º 1,21 0,532 0,145 0,386 60º 1,21 0,530 0,157 0,373 90º 1,22 0,528 0,142 0,386

Quadro 14 - Contrastes ortogonais da densidade e da porosidade do solo, considerando a cobertura do solo e a profundidade de amostragem Cobertura C1 C2 C3 C4 C5 C6 Sem cobertura 6 0 0 0 0 0 Vegetação espontânea -1 5 0 0 0 0 Mucuna -1 -1 4 0 0 0 Milho 0º(1) -1 -1 -1 3 0 0 30º -1 -1 -1 -1 2 0 60º -1 -1 -1 -1 -1 1 90º -1 -1 -1 -1 -1 -1 Camada de 0 a 2,5 cm Densidade (g cm-3) -0,65* -0,17 0,13 -0,03 -0,09 0,01 Porosidade total (m3 m-3) 0,259* 0,079 -0,051 0,009 0,033 -0,007 Macroporosidade (m3 m-3) 0,113 0,041 0,046 0,062 0,005 0,001 Microporosidade (m3 m-3) 0,140# 0,038 -0,102 -0,050 0,025 -0,007 Camada de 2,5 a 5,0 cm Densidade (g cm-3) -0,82* -0,04 -0,04 0,00 0,06 0,04 Porosidade total (m3 m-3) 0,328* 0,028 0,018 -0,002 -0,026 -0,014 Macroporosidade (m3 m-3) 0,286* 0,004 0,089 0,017 -0,052 -0,010 Microporosidade (m3 m-3) 0,041 0,023 -0,072 -0,016 0,029 -0,005 Camada de 5,0 a 7,5 cm Densidade (g cm-3) 0,11 0,17 0,07 -0,01 -0,01 -0,01 Porosidade total (m3 m-3) -0,050 -0,068 -0,038 0,006 0,006 0,002 Macroporosidade (m3 m-3) -0,053 -0,029 0,091 0,015 -0,009 0,015 Microporosidade (m3 m-3) 0,002 -0,034 -0,124 -0,008 0,013 -0,013

(1) O número indica o ângulo de plantio do milho em relação ao eixo leste-oeste.

Existe aparente contradição nos resultados experimentais. O solo sem cobertura apresentou a menor velocidade de infiltração básica (Quadros 7 e 8), com os maiores valores de porosidade nos 5 cm superficiais e valores semelhantes àqueles dos outros tratamentos na camada de 5,0 a 7,5 cm (Quadros 13 e 14). A justificativa para esses resultados contrastantes surge da observação da fotografia tirada do microperfil do solo sem cobertura (Figura 9). Neste tratamento, evidenciou- se que, independentemente da macroporosidade relativamente elevada, os poros mostraram-se pouco conectados e com disposição planar, dificultando a infiltração da água no perfil, em resposta ao reordenamento das partículas de argila neste solo predominantemente caulinítico, com ajuste face a face das placas (FERREIRA et al., 1999).

A análise micromorfológica foi realizada somente em cinco dos tratamentos experimentais: solo sem cobertura, vegetação espontânea, mucuna e milho plantado nos ângulos de 0o e 90o em relação ao eixo leste- oeste. A observação das fotomicrografias (Figuras 9, 10, 11, 12 e 13) permitiu verificar uma relação entre a reorganização estrutural em nível micropedológico e os diferentes tipos de cobertura do solo.

O tratamento sem cobertura mostrou forte empacotamento e massividade ao longo do microperfil. A observação das seções finas do material em estudo mostrou que a camada adensada é constituída principalmente por fragmentos de agregados, nódulos e grãos de quartzo de vários tamanhos, estes últimos constituindo a maior parte do esqueleto do solo (Figura 9). Nos demais tratamentos, observam-se grãos de quartzo distribuídos ao acaso na matriz do solo (Figuras 10, 11, 12 e 13). Houve forte desenvolvimento de selamento superficial, com poros planares e fragmentação de agregados pelo impacto direto das gotas de água, ocasionando a formação de crosta estrutural de impacto em superfície (FITZPATRICK, 1993; FARIA et al., 1998), a exemplo do selamento e da estrutura laminar descritos por PAGLIAI (1994).

Quartzo ________________ 2 mm ________________ Crosta estrutural Slaking Poros planares Poro

Figura 10 - Fotomicrografia sob microscópio petrográfico da seção fina do tratamento com vegetação espontânea.

Quartzo

________________ 2 mm ________________

Quartzo Poro

Figura 12 - Fotomicrografia sob microscópio petrográfico da seção fina do tratamento com milho cultivado a 0º em relação ao eixo leste-oeste.

Quartzo

Poro

Quartzo

Poro

A estrutura em blocos subangulares encontra-se deformada em blocos mais alongados e ovais, pelo encrostamento, a partir de 8 mm de profundidade. Nota-se a presença de forte laminação entre 3 e 4 mm, pela pressão de “slaking1” da crosta. Há forte deformação dos agregados maiores e coalescência dos menores, devido ao entupimento de poros com argila dispersa entre 10 e 30 mm de profundidade. A porosidade é pouco conectada, especialmente os macroporos (Figura 9).

No tratamento com vegetação espontânea, observa-se a estrutura em blocos bem desenvolvida, sem evidência de selamento ou encrostamento (Figura 10). Há abundância de restos orgânicos pouco decompostos e canais biológicos de microartrópodos. Nota-se a agregação em grumos escurecidos com matéria orgânica e nódulos incluídos. Observa-se forte macroporosidade bem conectada, convergindo com os resultados de DARMODY e NORTON (1994) e HARTMANN et al. (1994), que evidenciaram a importância de inputs orgânicos e de atividade biológica na manutenção de microestrutura favorável.

No tratamento com mucuna, observam-se agregados em blocos e grumos fortemente influenciados por restos orgânicos. A agregação é influenciada pela atividade biológica, como mencionado por HARTMANN et al. (1994), com forte macroporosidade, evidências de canais biológicos, pelotas fecais e restos orgânicos indiferenciados (Figura 11).

Comparativamente, os tratamentos com milho não mostraram diferenças muito expressivas entre si. No tratamento a 0º, observa-se estrutura coalescida e encrostada até 8 mm, com poucos poros planares. Nota-se presença de crosta estrutural delgada, em decorrência da maior exposição ao sol. A estrutura em blocos é pouco discernível e praticamente apedal. Há presença de argila dispersa interagregado de 12 mm até 30 mm de profundidade e ocorrem raras zonas de laminação por slaking (Figura 12). No tratamento a 90º, observa-se crosta estrutural em blocos fortemente coalescidos, com poros planares, e presença de argila dispersa entre 8 mm e 30 mm. Observa-se ainda forte laminação em partes da seção fina,

1

O processo de slaking ou hidratação diferencial é o fenômeno verificado pelo escape sob pressão de forma repentina do ar aprisionado quando ocorre o umedecimento rápido da crosta, causando a implosão dos agregados (McINTYRE, 1958; BRESSON e VALENTIN, 1994).

sugerindo pressão por slaking entre 2 e 4 mm e forte fragmentação de agregados. A macroporosidade é reduzida e pouco conectada (Figura 13).

Os resultados mostram que a cobertura foi efetiva na manutenção da estrutura dos agregados, de forma mais expressiva nos tratamentos com mucuna e vegetação espontânea, onde a estrutura do solo foi preservada, mesmo na interface entre o solo e a atmosfera.

A macroporosidade das seções finas, determinada em camadas milimétricas, é apresentada na Figura 14. Os valores do milímetro superior da amostra poderiam estar associados à rugosidade da superfície das parcelas experimentais. Observa-se valor muito elevado no tratamento com mucuna, valores intermediários na vegetação espontânea e no milho a 90o e valores sensivelmente inferiores no milho a 0º e no solo sem cobertura. A inferência a respeito da rugosidade surge do fato de se considerar que os dois últimos tratamentos foram os que mais sofreram a exposição aos raios solares e, conseqüentemente, às flutuações de temperatura e umidade, o que acentuaria o processo de cimentação superficial e a redução da macroporosidade.

Na comparação da velocidade de infiltração básica (Quadros 7 e 8) com a macroporosidade nos microperfis (Figura 14), observa-se que os tratamentos com mucuna e com vegetação espontânea, com as maiores velocidades, apresentaram os maiores valores e as maiores oscilações da macroporosidade. Essas oscilações constituem um elemento adicional favorável à infiltração, considerando as evidências de ligação acentuada entre os macroporos (Figuras 10 e 11).

No plantio com milho, a despeito de um valor inicial médio de porosidade no cultivo a 90o, os valores são apreciavelmente menores e,

mais importante, as oscilações com a profundidade, apreciavelmente atenuadas. Isso indicaria diminuição na anisotropia do perfil, com reflexos na velocidade de infiltração, como indicado nos Quadros 7 e 8.

O solo sem cobertura apresenta um microperfil com porosidade semelhante àquela dos tratamentos com milho. No entanto, a disposição

claramente observado na fotomicrografia apresentada na Figura 9, seria a maior evidência da pressão de slacking, que levou à forte laminação nesse tratamento.

Os resultados da porosidade média calculada nas seções finas pelo programa IMAGE TOOL para os diferentes tratamentos são apresentados no Quadro 15. A porosidade determinada guarda estreita relação com o encrostamento do solo, observando-se valores bem superiores para mucuna e vegetação espontânea, em relação ao solo sem cobertura e cultivado com milho. Esses resultados confirmam as expectativas, já que as crostas foram facilmente visualizadas no solo sem cobertura, não se observando evidências de formação nos tratamentos com mucuna e vegetação espontânea. Os tratamentos com milho e sem cobertura apresentaram valores bem próximos, e isso pode ser um indicativo de que as práticas de cultivo podem atenuar ou intensificar o processo de encrostamento. 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 1 2 3 4 5 6 7 8 9 PROFUNDIDADE (mm) M ACROP O ROS ID ADE (m 3 m -3) SC VE Mu M0 M90

Figura 14 - Variação da macroporosidade ao longo da profundidade do microperfil fotografado, considerando o tipo de cobertura do solo. SC: sem cobertura; VE: vegetação espontânea; Mu: mucuna; M: milho.

Quadro 15 - Macroporosidade média calculada nos microperfis para os diferentes tratamentos Cobertura Porosidade m3 m-3 Solo descoberto 0,201 Vegetação espontânea 0,421 Mucuna 0,547 Milho(1) 0º 0,188 90º 0,169

(1) O número indica o ângulo de plantio do milho em relação ao eixo leste-oeste.

Por outro lado, os altos valores da porosidade obtidos para mucuna e vegetação espontânea permitiram comprovar a necessidade da manutenção da cobertura do solo nos períodos de pousio, visando sua proteção, bem como o importante papel da leguminosa na melhoria das propriedades físicas do solo, tão importante quanto sua reconhecida contribuição no âmbito da fertilidade do solo, pela fixação biológica de nitrogênio.

5. RESUMO E CONCLUSÕES

Para estudar a formação de camadas superficiais adensadas, em resposta a flutuações de temperatura e umidade do solo provocadas pela incidência da radiação solar e chuva, instalou-se um ensaio numa Estação Experimental da UFV, em Viçosa (MG), onde o solo é um Argissolo intermediário para Cambissolo, textura muito argilosa, com declividade máxima de 3%. Os tratamentos corresponderam a sete coberturas do solo, incluindo solo sem cobertura, vegetação espontânea (predominantemente caruru-de-porco), cultivo de mucuna e plantio de milho em linhas dispostas a 0, 30, 60 e 90º em relação ao eixo leste-oeste. O experimento teve duração de quatro meses, com início na primeira quinzena de janeiro de 1999, realizando-se, nos dois últimos meses, determinações do sombreamento nas entrelinhas do milho, além da temperatura ambiente a 10 cm da superfície e da temperatura do solo a 2,5, 5,0 e 7,5 cm, às 8 h 30 min, 12 h 30 min e 16 h 30 min, e da umidade do solo nas profundidades indicadas. Na finalização do ensaio, determinaram-se a velocidade de infiltração e a resistência à penetração. Em laboratório, foram analisadas a composição granulométrica, a argila dispersa em água, a densidade do solo e a porosidade (total, macro e micro). Realizou-se também análise micromorfológica, utilizando blocos polidos.

Os resultados experimentais mostraram diferença no sombreamento entre o milho plantado na direção do eixo leste-oeste e os outros ângulos nas determinações matutina e vespertina, mas não ao meio-dia. Entretanto, essas diferenças não foram acompanhadas por diferenças na temperatura do solo, que, neste caso, registrou valores intermediários entre o solo sem cobertura e os tratamentos com cobertura total. Esse comportamento também foi registrado na determinação da velocidade de infiltração básica, que foi maior nas parcelas com cobertura total, intermediária no milho e menor no solo sem cobertura, sem diferenças no teste de resistência à penetração, em razão, possivelmente, da pouca sensibilidade do medidor utilizado. As análises de laboratório evidenciaram alterações na estruturação e na porosidade, para o solo sem cobertura. Especialmente a análise micromorfológica mostrou, para o solo sem cobertura, macroporos pouco conectados e com disposição planar, fato que serviu para explicar os menores valores de taxas de infiltração verificados neste tratamento, comparativamente aos demais. No cultivo de milho, observou-se um início de crosta estrutural, independentemente do ângulo de plantio, e os tratamentos com cobertura total não apresentaram evidências de selamento, mostrando, nas fotomicrografias, uma ligação acentuada entre os macroporos, posicionados aleatoriamente.

Pode-se concluir que a maior exposição do solo à incidência de raios solares e às gotas de chuva provocou a formação de crostas in situ, com diminuição da velocidade de infiltração básica em 30% para o plantio em linha e em 41% para o solo sem cobertura, quando comparados à cobertura total com mucuna ou vegetação espontânea. Nas condições estudadas, os métodos convencionais de determinação da porosidade do solo não foram eficientes na sua avaliação, a qual foi mais bem explicada pelas análises micromorfológicas. A curta duração do experimento não permitiu evidenciar diferenças com respeito ao ângulo de plantio do milho, as quais, eventualmente, poderiam se apresentar em cultivos com ciclos vegetativos mais longos.

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