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Determinações Legais aos Municípios visando à Promoção do

2 O ESTADO E AS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL

2.5 Determinações Legais aos Municípios visando à Promoção do

O desenvolvimento social não pode ser deixado somente ao encargo do povo, pois há camadas da população que se encontram abaixo da linha de pobreza. Segundo dados do Relatório de Desenvolvimento Humano de 1997, emitido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (1997), a linha de pobreza é definida como

Uma linha de pobreza estabelecida em 1 dólar norte-americano por dia é utilizada pelo Banco Mundial para comparações internacionais. Esta linha de pobreza baseia-se no consumo de bens e serviços. É sugerida para a América Latina e Caribe uma linha de pobreza de 2 dólares norte-americanos por dia. Para a Europa do Leste e repúblicas da antiga União Soviética, tem sido usada uma linha de pobreza de 4 dólares norte-americanos por dia. Para a comparação entre países industrializados, tem sido usada uma linha de pobreza

correspondente à dos Estados Unidos, que é de 14,4 dólares por pessoa por dia.

Deslocar-se na pirâmide social, saindo da camada mais baixa em direção às camadas acima, requer esforço ainda maior do que aqueles que, por exemplo, se encontram na classe média baixa e se deslocam para a média alta, pois os níveis de escolaridade daquelas pessoas é baixíssimo e elas são excluídas de praticamente todas as oportunidades geradas pela sociedade, conforme mencionou-se na seção 2.3.

Algumas ações foram desencadeadas para minimizar os efeitos da pobreza. Em especial, destacam-se as políticas de assistência aos comprovadamente carentes, como é o caso do Programa Bolsa-Família (PBF).

O PBF integra uma estratégia do Governo federal para assegurar o direito humano à segurança alimentar e nutricional. Visa à erradicação da pobreza extrema e prevê a transferência direta de renda. É custeado pela União e possui apoio logístico das prefeituras. O programa beneficia famílias em situação de pobreza (com renda mensal por pessoa de R$ 60,01 a R$ 120,00) e extrema pobreza (com renda mensal por pessoa de até R$ 60,00), de acordo com a Lei Federal 10.836, de 09 de janeiro de 2004, e o Decreto Federal nº 5.749, de 11 de abril de 2006.

Há também duas previsões constitucionais que definem aplicações mínimas pelo Executivo, nas quatro esferas de poder, em ações de educação e saúde. Conforme será apresentado a seguir, quanto maior a receita municipal, maior é o volume de recursos aplicados em educação e saúde.

Para as aplicações em educação, o Artigo 212 da Constituição Federal, ora transcrito, determina uma aplicação mínima pelas quatro esferas de poder.

A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino (BRASIL, 1988).

Para o caso específico dos municípios, foi fixado o percentual mínimo de aplicação nas ações de educação de 25% do montante de receitas provenientes de impostos. Para garantir essa aplicação em todos os municípios do País, foi instituído o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), hoje substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB).

Com as modificações, o FUNDEB passou a oferecer atendimento não só ao ensino fundamental, crianças de 6 a 14 anos, como também a: educação infantil, crianças de 0 a 6 anos, ensino médio, adolescentes de 15 a 17 anos, e educação de jovens e adultos.

O FUNDEF vigorou até o final de 2006 e permitiu investimentos apenas no ensino fundamental nas modalidades regular e especial, ao passo que o FUNDEB vai proporcionar a garantia da educação básica a todos os brasileiros, da creche ao final do ensino médio, inclusive àqueles que não tiveram acesso à educação em sua infância.

Quadro 1 – Impostos e Transferências Considerados para o Cálculo da Aplicação na Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Ações e Serviços Públicos de Saúde

IPTU

IRRF

ITBI

ISS

DÍVIDA ATIVA DE IMPOSTOS

JUROS, MULTAS E ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA DE IMPOSTOS E DIVIDA ATIVA

QUOTA PARTE DO FPM

QUOTA PARTE DO ITR

QUOTA PARTE DO IPVA

QUOTA PARTE DO ICMS

QUOTA PARTE DO IPI

LEI COMPLEMENTAR Nº 87/96

Fonte: Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará (2008).

No Quadro 1, pode-se identificar a relação de impostos sobre os quais incide o percentual a ser aplicado nas ações de manutenção do ensino. São os impostos diretamente arrecadados pelo município (IPTU, IRRF, ITBI, ISS) e a recuperação dos créditos inscritos na Dívida Ativa. Além destes, estão inclusas as

transferências constitucionais, quotas-parte de: Fundo de Participação dos Municípios (FPM), Imposto Territorial Rural (ITR), Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto sobre Produtos Importados (IPI).

Inclui-se, ainda, na base de cálculo a Lei Complementar nº 87/96, que desonerou as exportações brasileiras, isentando-as do pagamento de ICMS, criando para a União uma obrigação pecuniária para com estados e municípios, visando a compensar o benefício concedido às empresas exportadoras.

Trata-se de quase a totalidade dos recursos recebidos pelos municípios, ficando excluídas as transferências voluntárias, as complementações do FUNDEB, Sistema Único de Saúde (SUS) e Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Já para a área da saúde, outra área de vital importância para a melhoria da qualidade de vida da população, foi instituída a Emenda Constitucional nº 19, determinando uma aplicação mínima de 15% dos impostos, definidos no quadro 1, em ações e serviços públicos de saúde.

Como se pode destacar, quanto maior a receita tributária e a cota-parte do ICMS, maior é a aplicação em educação e saúde, que são condições essenciais para o desenvolvimento social.

As ações que o gestor público deve desenvolver para promoção do desenvolvimento social são inúmeras e atingem áreas diversas. Não se pode afirmar que a aplicação desses percentuais seja suficiente para garantir uma eficiência do sistema de ensino ou de saúde, pois as estruturas municipais são bastantes distintas em termos de desenvolvimento local. Para cada município brasileiro há uma realidade em particular. Existem casos em que os percentuais são insuficientes para garantir serviços adequados e em outras situações, há municípios onde essa vinculação de 40% dos impostos seja acima do necessário, impedindo a ampliação de investimentos de recursos em outras áreas, como limpeza urbana, assistência social, cultura e meio-ambiente.

Vale a pena citar o Estado de Bem-estar Social ou Welfare State, onde o Estado, em uma economia capitalista, se coloca como agente promotor, protegendo e defendendo o social, através do controle da economia, garantindo serviços públicos e proteção à população. Na verdade o Estado de Bem-estar Social amplia a capacidade da população em produzir e consumir bens e serviços, proporcionando maiores investimentos do governo no social e do setor privado na expansão da economia, gerando crescimento econômico e desenvolvimento social associados.

Segundo Medeiros (1990, p.7),

As diversas políticas sociais, por um lado, aumentam a capacidade de consumo das famílias dos trabalhadores e se traduzem em gastos do governo em habitação, transporte e saneamento, o que incentiva a expansão da demanda agregada e o desenvolvimento tecnológico, e, por outro, ao socializarem os custos referentes aos riscos do emprego industrial e à reprodução da força de trabalho, liberam reservas de capital privado para investimentos e garantem uma reserva de mão-de-obra em diversos níveis de qualificação.

São discussões para um momento aparte, mas devem ser colocadas numa perspectiva de ampliação das opções existentes para que o desenvolvimento social seja ampliado em nossa sociedade.

3 INCENTIVOS FISCAIS – DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL À GUERRA