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Estado de saúde da mulher

O estado de saúde pessoal da mulher antes e durante a gravidez pode ter uma influência importante sobre suas chances de desenvolver e sobreviver a uma

complicação. As principais condições de saúde pré-existentes que são exacerbadas pela gravidez e parto e representam cerca de um quarto das mortes maternas nos países em desenvolvimento são a malária, hepatite, anemia e desnutrição. Além disso, a presença de algumas destas condições podem colocar as mulheres em maior risco de morrer devido a uma das complicações diretas da gravidez. A malária, por exemplo, não só pode ser mais grave em mulheres grávidas, mas também pode contribuir para a anemia, que por sua vez pode diminuir as chances de uma mulher sobreviver a uma hemorragia (Mccarthy e Maine, 1992).

A condição reprodutiva/estado reprodutivo

Os relacionamentos entre mortalidade materna e certas características reprodutivas estão entre os mais bem documentados na literatura (Maine, 1981). Estas características incluem a idade e a ordem da gravidez, que são conhecidas por terem uma relação com a razão de mortalidade materna em forma de “J” clássico, com maiores riscos para as mulheres muito jovens, mulheres mais velhas (Magadi et. al., 2001), mulheres sem filhos, e aquelas com muitas crianças, mas são menores para as mulheres do grupo etário do meio (Mccarthy e Maine, 1992). Idade, especialmente idade muito jovem está associada com a deficiência que resulta da gravidez e do parto (Mccarthy e Maine, 1992). A idade da mulher grávida afeta as chances de uma morte materna. Isto é devido a uma série de fatores biológicos e sociais. Por exemplo, as mulheres jovens (o autor não especifica a idade) podem ter um risco aumentado de parto obstruído. As mulheres mais velhas podem ter acumulado problemas de saúde como hipertensão e diabetes, que causam problemas obstétricos. Ainda as mulheres jovens solteiras grávidas podem ser susceptíveis de recorrer ao aborto ilegal devido a fatores sociais (Oxaal e Baden, 1996).

Jovens de 15-19 anos têm duas vezes mais probabilidade de morrer de parto, em comparação com as mulheres na faixa dos vinte anos, e ainda mais de um décimo de nascimentos em todo o mundo ocorrem com mães adolescentes (Starrs, 1997).

Segundo Rahman et al., (2009), acredita-se que a maternidade muito jovem (o autor não especifica a idade), [...], e também a maternidade de idade mais velha são cada vez mais perniciosas para a saúde das mães em geral e estão associadas a uma maior probabilidade de mortalidade materna, em particular. Para Joshi e Kushwah (2011), a gravidez na adolescência (o autor não especifica a idade) é um dos fatores que contribui para as mortes maternas. Maternidade muito precoce aumenta o risco de morrer no parto e reduz a chance de sobrevivência. Isso acontece porque segundo o autor, a adolescente continua a crescer psicologicamente e mentalmente até 20 anos de idade e mais. Antes desta idade parece que a sua fisiologia ainda não esteja totalmente pronta para ter filho, ou por outra, quando uma adolescente fica grávida há concorrência entre seu próprio crescimento e o do seu feto. Portanto, uma gravidez antes dos 20 anos pode conduzir relativamente a maiores tensões fisiológica e, por isso, a maior morbidade e mortalidade materna (Rahman et. al., 2009).

Certos grupos de mulheres designadamente mulheres muito jovens (o autor não se faz referencia a idade), mulheres com idades de 35 anos ou mais e mulheres que já tiveram quatro ou mais filhos têm um risco elevado de morrer durante a gravidez ou parto. Fazendo referência aos estudos comparativos entre mulheres de 20-24 anos e mulheres de 35-39 anos realizados em oito países, nomeadamente Bangladesh, Cuba, Egito, Etiópia, Indonésia, Jamaica, Portugal e Vietnã, revelaram maior probabilidade de morrer entre o segundo grupo de mulheres. Os mesmos estudos que mostraram um excesso de mortes entre as mulheres mais velhas mostraram também maior probabilidade de morrer entre as mulheres com idade inferior a 20 anos, com exceção de Cuba (WHO, 1985).

Na adolescência, a gravidez pode ocorrer por desconhecimento do risco de uma gestação precoce, pela baixa escolaridade ou pela inexperiência para conseguir trabalho, o que pode favorecer a união precoce, seja por desejo ou por pressão familiar. Estes fatores, juntos ou isolados, culminam na gravidez em fase de desenvolvimento corporal, associada a complicações próprias da primeira gestação, como as doenças hipertensivas e à menor adesão ao pré-natal. No estremo da idade fértil, as mulheres com mais de 35 anos de idade na primeira

gestação apresentam maior risco de óbitos, decorrentes de complicações hipertensivas (Viana et. al., 2011).

No estudo sobre correlações demográficas, programáticas e socioeconômicas da mortalidade materna em Matlab na Indonésia, Rahman et. al., (2009) constataram que depois de todas as outras variáveis controladas, as chances relativas de mortalidade materna aumentavam com a idade; elas eram significativamente maiores para as mulheres com idades entre 25 e mais em comparação com aquelas de idades 20-24, e aumentam especialmente após os 30 anos. No entanto, referem que não há evidências de que as adolescentes tenham maiores riscos de mortalidade materna do que suas colegas mais velhas, quando outras variáveis são controladas. A maior mortalidade observada entre as adolescentes na análise bivariada em grande parte reflete o fato de que a primeira gravidez tem riscos elevados de mortalidade, e a maioria das gestações que ocorrem antes dos 20 anos são grávidas pela primeira vez. Constatação também encontrada por (Okonofua et. al., 1992) no estudo sobre fatores de riscos na mortalidade materna em Ile-Ife, na Nigéria.

Acredita-se também, que as mães jovens são mais propensas a serem da classe socioeconômica baixa e são mais prováveis de não ser casadas, e, portanto, é mais provável que demorem a procurar atendimento quando há uma complicação na gravidez (Okonofua et. al., 1992).

O intervalo intergenésico não está incluso no modelo de Mccarthy e Maine, mas também pode afetar na mortalidade materna. Dado que muitas das variáveis reprodutivas que afetam a sobrevivência infantil também afetam a sobrevivência materna (por exemplo, idade e a ordem de gravidez), pode-se supor que o intervalo intergenésico também influencia o resultado para a mãe (Mccarthy e Maine, 1992).

O acesso aos serviços de saúde

A tecnologia médica para prevenir quase todas as mortes por complicações obstétricas comuns está disponível há décadas. Esta tecnologia se divide em duas grandes categorias: os tratamentos para mulheres que querem ter um parto seguro e bem sucedido, e opções para as mulheres que desejam evitar a

gravidez e o parto. A primeira categoria inclui transfusões de sangue, antibióticos e outros medicamentos, e cesariana; a última inclui o uso de contraceptivos e procedimentos de aborto seguro. Mas o acesso aos serviços de saúde preventivos e curativos que podem fornecer essa tecnologia é limitado nos países em desenvolvimento. Em muitos locais, as distâncias físicas entre os serviços e as mulheres que necessitam de cuidados de saúde reprodutiva são consideráveis (Mccarthy e Maine, 1992).

No entanto, o acesso a serviços de saúde é um conceito muito mais amplo do que a distância física. Ele inclui o acesso financeiro e acesso a cuidados adequados. Cada uma dessas variáveis poderia, por sua vez, ser subdividida em muito mais definições operacionais precisas. Para exemplificar a importância dessas variáveis Mccarthy e Maine (1992), citam alguns estudos realizados por Ekwempu et. al., (1990); Omu, (1981) e OMS, (1985). Eles concluíram que há ampla evidência de que as barreiras financeiras, escassez de pessoal treinado, especialmente nas áreas rurais, e um desempenho ruim na parte do pessoal treinado, contribuem para altos níveis de mortalidade materna nos países em desenvolvimento.

Comportamento aos Cuidados de Saúde/Utilização de Serviços de Saúde

Para os serviços existentes serem eficazes, as mulheres têm, antes de nada, de usá-los. A utilização do pré-natal (para diagnosticar problemas de saúde pré- existentes ou para detectar certas complicações) e a utilização de cuidados durante e após o trabalho de parto (para tratar complicações que podem surgir em seguida) são particularmente importantes no caso da mortalidade materna. Outros comportamentos de cuidados de saúde também são propensos a ter influências importantes no resultado da gravidez para as mulheres. Exemplos óbvios incluem o uso de aborto ilegal e práticas nocivas mais tradicionais durante a gravidez e o parto. Em algumas áreas, as práticas tradicionais incluem o uso indevido de drogas para empurrar o abdômen de modo a acelerar o parto, e até mesmo o uso de certos procedimentos cirúrgicos. Por exemplo, no norte da Nigéria, curandeiros tradicionais fazem “Gishiri” (incisões na vagina) sobre as mulheres que não estão tendo progresso no trabalho do parto (Mccarthy e Maine, 1992).

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