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Dever de Sustento, Guarda e Educação dos Filhos

CAPÍTULO 2 –FAMÍLIA E CASAMENTO

2.4 CASAMENTO

2.4.5 Eficácia do casamento

2.4.5.1 Direitos e Deveres Conjugais

2.4.5.1.4 Dever de Sustento, Guarda e Educação dos Filhos

O dever de sustento, de guarda e de educação dos filhos, está assentado entre os deveres matrimoniais, mas sua localização no Código Civil não é acertada, vez que tais deveres são impostos aos pais, independentemente de serem, ou não, casados, pois decorre do próprio poder familiar e não do casamento (GAGLIANO, 2013).

Nesse sentido, disserta Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2012, p. 303) que o dever de guarda, sustento e educação:

Não nos parece, porém cuidar essa hipótese de um efeito tipicamente matrimonial. Efetivamente, a guarda, sustento e educação da prole parece mais razoavelmente ligado aos deveres decorrentes da paternidade ou maternidade, que por lógico, independem da existência ou não do

casamento. Em sendo assim, a inobservância da obrigação decuidar integralmente dos filhos (que deveria projetar consequência, apenas, no que se refere ao relacionamento entre pai e filho, especificamente em relação ao pode familiar) pode autorizar a imputação de culpa, sem prejuízo de eventual sanção penal (CP, arts. 244 e 246) e de eventual perda ou suspensão do poder familiar (CC, arts, 1637 e 1638).

Logo, não sendo um dever decorrente do matrimonio, mas, sim, do poder familiar, o que não é objeto do presente trabalho, far-se-á apenas uma sucinta explanação.

Nas palavras de Gonçalves (2005, p. 179):

O dever de sustento ou de prover à subsistência material dos filhos compreende o fornecimento de alimentação, vestuário, habitação, medicamentos e tudo mais que seja necessário à sua sobrevivência; o de fornecer educação abrange a instrução básica e complementar, na conformidade das condições sociais e econômicas dos pais; e o de guarda obriga à assistência material, moral e espiritual, conferindo ao detentor o

direito de opor-se a terceiros, inclusive pais.

Desse modo, sendo ou não casados, compete aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos filhos.

2.4 5.1.5 Dever de Respeito e consideração mútuos

O dever em questão é corolário do princípio inserto no art. 1.511 do CC, segundo o qual o casamento estabelece comunhão plena de vida com base na igualdade de direitos e deveres. Relaciona-se com o aspecto espiritual do casamento, revelando a intenção do legislador de torná-lo mais humano (GONÇALVEZ, 2010).

No Código Civil de 1916, o respeito e consideração mútuos estavam inseridos, implicitamente, no dever de mútua assistência. Sendo que o diploma atual reconheceu-os expressamente como dever conjugal no art. 1.566, V (MONTEIRO; TAVARES DA SILVA 2010).

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2012, p. 297) destacam que a compreensão do respeito recíproco entre os cônjuges deve ser compreendida na complexidade social e na confiança estabelecida entre o casal, possibilitando uma perspectiva bem mais ampla do que apenas a visão sexual. Assim:

O respeito tem de ser observado a partir do tratamento recíproco, evitando que um deles venha a subjugar o outro a partir de uma superioridade econômica, social ou intelectual. Respeito e consideração, portanto, transcendem a exclusividade sexual (cuja violação nem sempre afronta o respeito que se espera por conta das inúmeras possibilidades existentes em cada relacionamento).

O respeito e consideração devem existir na intimidade do lar do casal, mas não só aí. Independentemente do lugar em que se encontre, acompanhado, ou não, em eventos sociais ou a trabalho, entre amigos ou desconhecidos, nenhum dos cônjuges, pode, por meio de suas condutas ou palavras, insultar a imagem-atributo do outro, mesmo que minimamente (ULHOA, 2006)

Para Rizzardo (2011, p. 163), o respeito abrange desde o afetuoso tratamento, até o comportamento digno, “a educação, a maneira de se portar, as atitudes corporais, a conduta social com outras pessoas, o asseio, a expressão oral, e chega até a valorização do outro cônjuge em função de suas qualidades, profissão, preferências, gostos, tendências, inclinações, hábitos, costumes, etc.”. E a consideração é a decorrência do respeito, que se exterioriza na admiração, na maneira de se dirigir ao outro, “na valorização das qualidades, nas expressões usadas quando dos relacionamentos e da convivência, na mútua colaboração nos afazeres domésticos, na apreciação das manifestações de expressão oral, no acompanhamento das preferências”, na forma não autoritária de dialogar, bem como na capacidade de ouvir.

Inclui-se no dever de respeito, o dever negativo de não expor o seu par a constrangimentos. Em vista disso, devem os cônjuges se absterem de cometer a infidelidade moral – em que não há relações sexuais -, por se tratar de uma conduta injuriosa (PEREIRA apud GONÇALVES, 2005).

Nesse sentido, Farias e Rosenvald (2012) consideram o adultério virtual como a martirização ao dever de respeito, pois, embora não haja contato físico, rompe a confiança e a lealdade esperada entre o casal.

Sustenta Paulo Lôbo (2011, p. 144) que se trata de um dever especial de abstenção, em face dos direitos do outro, respeito às liberdades individuais e aos direitos à personalidade do outro cônjuge. E destaca:

A comunhão de vida não elimina a personalidade de cada cônjuge. O dever de respeito e consideração mútuo abrange a inviolabilidade da vida, da liberdade, da integridade física e psíquica, da honra, do nome, da imagem, da privacidade de cada cônjuge. Mas não é só um dever de abstenção ou

negativo, porque impõe prestações positivas de defesas de valores comuns, tais como a honra solidária, o bom nome da família e o patrimônio moral comum.

Regina Beatriz Tavares da Silva (GONÇALVES, 2010, p. 1196) elenca algumas condutas que violam o dever de respeito e consideração mútuos, tais como “a tentativa de morte, a sevícia, a injúria grave, a conduta desonrosa, a ofensa à liberdade profissional, religiosa e social do cônjuge, dentre outros atos que importem em desrespeito aos direitos da personalidade do cônjuge”.

Do mesmo modo, Arnaldo Rizzardo (2011, p. 164) diz ser violador do dever de respeito o cônjuge que “frequenta ambientes impróprios para uma pessoa casada, ou constantemente procura relacionamentos extraconjugais, ou participa de festas e reuniões intimas com pessoas de sexo diferente, ou se expõe a atitudes ridículas, ou se envolve em algazarras e excessos”.

Estudados cada um dos deveres conjugais elencados no Código Civil, resta-nos verificar se a violação de tais deveres impõe ao cônjuge transgressor o dever de indenizar. É o que far-se-á no capítulo que segue.