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Deveres de conduta processual

No documento A Michelly Dias Massoni (páginas 34-37)

2. EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA SOBRE OS

2.1. Deveres de conduta processual

A presente divisão trata do agrupamento de deveres de conduta processual, que recaem sobre os administradores, onde se inclui os deveres de apresentação no tribunal e de colaboração com os órgãos da insolvência (art. 83º), o dever de respeitar a residência fixada na sentença (art. 36º, n.º1, al. c) e o dever de entrega imediata de documentos relevantes para o processo (art. 36º, n.º 1, al. f). A razão deste agrupamento se dá pela complementariedade entre os três efeitos, pois, a fixação de residência está prevista para tornar possível ou auxiliar o cumprimento dos deveres de apresentação e de colaboração e o dever de entrega de documentos é um mero desenvolvimento do dever de colaboração85

-86.

83 Catarina Serra. Lições de Direito da Insolvência. Editora Almedina, 1ª edição, 2018, Coimbra, p. 143.

84 Rui Pinto Duarte. Efeitos da Declaração de Insolvência quanto à pessoa do Devedor,..., p.: 143.

85 Catarina Serra. Lições de Direito da Insolvência ... p.: 149

86 Maria do Rosário Epifânio in Manual de Direito da Insolvência ..., apresenta este agrupamento como uma função instrumental do processo de insolvência (p. 83), mudando apenas a nomenclatura adotada por Catarina Serra.

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A identificação e fixação de residência dos administradores, de direito e de fato, são estabelecidas na sentença declaratória da insolvência pelo juiz (art.º 36º, n.º 1, al.

c).

O principal objetivo desta norma é estabelecer a rápida localização dos administradores, pelo juiz ou pelo Administrador da insolvência, sempre que for necessário o cumprimento de obrigações decorrentes da insolvência87.

MARIA JOSÉ COSTEIRA entende se tratar de “um obrigação que funciona como instrumento de garantia de outras obrigações tais como a de cooperação e de apresentação de documentos88, por isso o agrupamento sugerido por CATARINA SERRA.

Sobre este efeito paira a discussão acerca da impossibilidade de mudança da residência sem prévia autorização do juiz. Há autores89 que entendem que esta regra retira do administrador a possibilidade de mudar livremente da moradia, ficando sujeito à prévia autorização judicial para realizar mudança de residência. Esta medida visa a celeridade dos sucessivos contatos entre os administradores do devedor, o Administrador da Insolvência e o juiz, garantindo a segurança do processo e evitando o risco de fuga dos administradores90.

Há quem discorde de tal posicionamento, entendendo que a mudança de residência é uma opção pessoal do administrador, da esfera da vida privada, que o tribunal não pode sindicar, considerando ser obrigação do administrador apenas comunicar ao processo a alteração de seu domicílio, indicando o novo endereço91.

O descumprimento da obrigação de respeitar a residência fixada não tem sanções previstas pelo CIRE, sendo aplicados os princípios gerais do Direito Penal, designadamente para o crime de desobediência (art. 348 do CP) 92/93.

87 Carvalho/Labareda. Código... nota 7, p. 256

88 Maria José Costeira. A insolvência de pessoas colectivas... pág 165-166

89 Neste sentido, Carvalho/Labareda inCódigo da Insolvência, nota 7, p.: 256-257; Luís Manuel Teles De Menezes Leitão inDireito da Insolvência, p.: 172-173; Catarina Serra inLições de Direito da Insolvência, ..., p.: 150-151; Maria Do Rosário Epifânio in Manual de Direito da Insolvência, ..., p. 86.

90 Catarina Serra, Lições de ..., p. 150

91 Maria José Costeira. A insolvência de pessoas colectivas ... , p.: 166; Neste mesmo sentido SOVERAL MARTINS in Um curso de Direito da Insolvência, ..., p.: 145-146; Rui Pinto Duarte. Efeitos da Declaração de Insolvência quanto à pessoa do Devedor. In Revista Themis, Edição Especial, ano 2005, p.: 135

92 Catarina Serra inLições de Direito da Insolvência, ..., p.:151

93 Em sentido contrário, Maria José Costeira inA insolvência de pessoas colectivas..., p. 166, que entende não haver paralelismo com os efeitos do processo penal.

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O administrador será notificado pessoalmente da sentença que declara a insolvência (art.º 37º) com o objetivo dar lhe conhecimento imediato da sentença declaratória, bem como assegurar que o endereço que consta nos autos está correto, inibindo que posteriormente o administrador alegue desconhecimento e a fixação cumpra com seu objetivo94.

Quanto à obrigação de entrega de documentos, previsto no art.º 36º, n.º 1, al. f, se refere aos documentos que ainda não foram apresentados, mas que constam na lista de documentos obrigatórios prescritos no art.º 24º, n.º 1 para a instrução do processo. Presume-se estarem presentes todos os documentos necessários para a declaração de insolvência se o devedor se apresentou espontaneamente. Caso o pedido tenha sido feito por outros legitimados, é possível que estes não tenham tido acesso a todos os documentos, sendo dever dos administradores apresenta-los na primeira oportunidade.

Podemos incluir nesta obrigação, a entrega dos elementos da contabilidade do devedor, previsto no art. 36º, n.º 1, al. g. O fundamento desta medida é evitar que os documentos sejam ocultados ou dissipados antes da definição da massa insolvente.

O CIRE não dispôs sanção para o caso de incumprimento desta obrigação95, contudo, há autores que defendem que a sanção pelo incumprimento da obrigação de entrega de documentos deve ser presumida, ante a afinidade da situação prescrita no art. 186º, n.º 2, al. i, referente aos deveres de apresentação e colaboração, onde sua violação qualificará a insolvência como culposa96.

No que concerne aos deveres de apresentação, informação e de colaboração, definidos pelo art.º 83º também recaem especialmente sobre os administradores97. Estes deverão ficar a disposição do tribunal e do Administrador da Insolvência, para prestar todas as informações requeridas e auxiliar o Administrador da Insolvência no desempenho das funções necessárias para o andamento normal do processo98.

94 Maria José Costeira. A insolvência de pessoas colectivas ... , p.: 166

95 Maria José Costeira, A insolvência ..., p.: 167

96 Catarina Serra, Lições de Direito da Insolvência, ..., p.: 151

97 Importante destacar que o dever de apresentação também recai sobre os membros do órgão de fiscalização, às pessoas que tenham desempenhado esses cargos dentre dos dois anos anteriores ao início do processo de insolvência (n.º 4 do art. 83 do CIRE), bem como aos empregados e prestadores de serviços do devedor, e os que tenham sido dentro dos dois anos anteriores ao início do processo (n.º 5 do art. 83 do CIRE).

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No tocante ao dever de apresentação, este será feito pessoalmente pelo administrador, exceto se ocorrer legítimo impedimento ou expressa permissão de se fazer representar por mandatário (art.º 83º, n. 1, al. b). O seu não comparecimento, sem justificativa prévia, poderá acarretar a expedição de uma ordem judicial para a apresentação em juízo sob custódia (art. 83º, n.º 2), além de uma possível condenação em multa.

Neste caso, a violação desta obrigação provoca penalização não só para os administradores, mas também para os membros do órgão de fiscalização (n.º 4 do art. 83º). Seu descumprimento é também uma das causas para que a insolvência seja qualificada como culposa. Em que pese às causas da qualificação ser livremente apreciada pelo juiz, a conduta reiterada dos administradores configura presunção inilidível, isto é, uma presunção insuscetível de prova em contrário, de insolvência culposa99/100.

2.2. Privação dos poderes de administração e disposição dos bens

No documento A Michelly Dias Massoni (páginas 34-37)