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Diálogo além da sala de aula

4.2 Do oral ao gestual

4.2.2 Diálogo além da sala de aula

Prosseguindo à reflexão em relação a necessidade de articulação da comunicação com outras áreas do saber, percebe-se que a Comunicação e a Educação estão de fato unidas, constituindo-se. A atividade de jornal mural teve esse caráter e possibilitou aos alunos, sejam os que participaram dessa oficina ou os que estavam fora da sala de aula, mas que faziam parte do convívio, pudessem conhecer um pouco dos meios para produção e disseminação da informação, voltada à inclusão, vista como necessária. Com o conhecimento adquirido e vivido, os estudantes puderam perceber o valor de sua cultura e da informatização para alcançar igualdade e cidadania. Assim, os alunos da oficina tornaram-se aptos a dar andamento às atividades, em diferentes locais, fora do ambiente do Instituto, onde houver expressão no tratamento entre ouvintes e surdos, seja como fator positivo ou negativo.

Canclini (2008) sintetiza as mudanças em um novo cenário sociocultural. Para isso, um de seus processos é “a passagem do cidadão como representante de uma opinião pública ao cidadão interessado em desfrutar de uma certa qualidade de vida” (CANCLINI, 2008, p. 40). Um exemplo dessa mudança é a forma que esses argumentos estão sendo produzidos, por isso a importância da educomunicação, para não entrar em abordagens de pouca reflexão. “A hegemonia cultural não se realiza mediante ações verticais, nas quais os dominadores capturariam os receptores” (CANCLINI, 2008, p. 60). A eficácia da comunicação está diretamente ligada à interação de colaboração e transação entre as pessoas (CANCLINI, 2008).

Através dos recursos oferecidos, os participantes surdos trabalharam, acima de tudo, em busca de identificar os fatores que os motivaram. A partir da análise de uma foto ou uma matéria publicada em jornal, trazendo isso para dentro de seu contexto, os alunos procuraram identificar o que foi mostrado, como ocorreu o fato e qual a relação com o seu cotidiano. Uma das finalidades foi possibilitar a articulação de um levantamento crítico da visão de cada participante em relação ao que foi visto nos periódicos. Algumas imagens foram analisadas levando em consideração as técnicas e narrativas empregadas. Os exercícios ajudaram os estudantes a reescreverem seus objetivos e produzirem novos sentidos, abrindo espaço para que novos assuntos sejam abordados. Logo, despertaria os alunos para o interesse em produzir material para um mural da turma, ou jornal da escola e até mesmo do bairro.

Retomando o pensamento inicial deste trabalho, com Maria Ozanira da Silva e Silva (1986), sobre a pesquisa participante, a autora afirma que o propósito desse modelo de pesquisa, por meio de oficinas em grupos, é “criar possibilidades para um pensar crítico da realidade de modo a favorecer o processo de conscientização da população envolvida e dos pesquisadores” (SILVA, 1986, p. 60). Fundamentada em Paulo Freire (1983), a autora Maria Ozanira da Silva e Silva (1986) defende que essa é a “condição necessária para a transformação de todas as relações de opressão identificadas nas sociedades” (SILVA, 1986, p. 60). Logo, a pesquisa torna-se instrumento fundamental para que ocorra uma mudança social, porque sua proposta pedagógica inicia com um posicionamento que se mostra contra soluções pré-fabricadas por uma invasão cultural (SILVA, 1986).

A partir dessas análises e das discussões nos grupos das oficinas realizadas, foi possível enumerar ações, que os sujeitos surdos gostariam que fossem acatadas pela sociedade em geral. Para os surdos, pesquisas como esta funcionam como apoio para educar as pessoas a respeito da forma como eles são tratados, com pouca vivência de comunicação entre

indivíduos culturalmente diferentes. Assim, segue algumas ações de sinalizações que podem facilitar o contato entre surdo e ouvinte que não tem conhecimento sobre a língua de sinais.

4.2.2.1 Ações atitudinais

A primeira dica é: quando um ouvinte quiser conversar com uma pessoa surda, caso ela não esteja prestando atenção, ele deve acenar para ela ou tocar em seu braço, com leveza. Outro fator interessante é sempre manter o contato visual, isto é, face a face, pois, caso vire para outro lado, a pessoa surda pode pensar que a conversa terminou.

É importante dirijir-se primeiro à pessoa surda, mesmo que esteja acompanhado por um intérprete de Libras. O ouvinte não deve hesitar ou ter medo de se comunicar com um surdo. Através de expressões faciais, gestos e movimentos corporais, o surdo entenderá que a outra pessoa deseja se comunicar.

Caso o ouvinte não compreenda o que foi dito pelo surdo, deve solicitar que este repita o discurso. Porém, se ainda assim não conseguir entender, peça-o que escreva em papel. O importante é comunicar-se. Vale lembrar que a maioria dos surdos não domina o português escrito, por isso, ao escrever, as frases devem ser curtas, claras e objetivas.

Em ocasiões que necessitem aplaudir algum surdo, as palmas usadas pelos ouvintes de maneira audível não fazem sentido. Em vista disso, para que ele perceba o prestígio, deve-se erguer as mãos em sinal de elogio, afinal, os surdos percebem o mundo por gestos visuais. Assim, ao organizar um evento, é primordial o uso de avisos visuais, mantendo o local bastante iluminado.

Outro ponto a ser esclarecido é durante a exibição de um filme. Se não houver legenda ou tradução simultânea em Língua Brasileira de Sinais, a equipe organizadora deve providenciar, com antecedência, um resumo do filme ou a programação dos acontecimentos. É preciso que os órgãos governamentais garantam que as pessoas com perda auditiva preservem sua capacidade legal e liberdade.

Em parceria com organizações e entidades baseadas na comunidade Surda, é possível criar um trabalho de educação para familiares, educandários e setores governamentais e privados, para que esses ofereçam atendimento qualificado, quando seus serviços forem

prestados e possam diminuir barreiras de convivência, no intuito de evitar o isolamento das pessoas com surdez.

As medidas acima favorecem o apoio aos sujeitos surdos e colaboram para o desenvolvimento de relações entre pessoas. A falta de comunicação acessível, exposta pelos participantes surdos, dificulta os sujeitos surdos de obterem informações básicas, como prestabilidades disponibilizadas por órgãos governamentais ou não. Desse modo, torna-se mais incompreensível e custosa a comunicação em instituições de ensino e outros serviços que possam ser de interesse. É importante que tenham profissionais de serviços com habilidades ou recursos em interpretação de Libras e até mesmo materiais em braille – para se comunicarem com indivíduos que não tenham audição e visão.