• Nenhum resultado encontrado

Diabetes mellitus 15 Incontinência Urinária

CAPÍTULOS

14 Diabetes mellitus 15 Incontinência Urinária

16 Depressão

17 Demência

O documento propõe para todas essas doenças e agravos uma Clínica Moderna, sem nenhuma indicação para a ampliação da clínica.

O capítulo 19, “Atenção domiciliar às pessoas idosas”, segue também a clínica tradicional, enfatizando a “promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação”.

A) Elementos da Clínica Ampliada e Compartilhada

Na “Apresentação”, está previsto que a Atenção Básica atue nas dimensões cultural e social através de ações coletivas na comunidade, atividades de grupo e participação das redes sociais dos usuários.

O conceito de senescência - processo natural de diminuição progressiva da reserva funcional dos indivíduo - facilita o olhar para dimensões outras que a doença. Cabe, portanto, ao profissional da saúde contribuir para que o idoso redescubra possibilidades de viver sua própria vida com a máxima qualidade possível. Para isso, deve-se considerar o contexto familiar e social, assim como as potencialidades e o valor das pessoas idosas.

Espera-se que o profissional de saúde esteja preparado para “lidar com as questões do processo de envelhecimento, particularmente no que concerne à dimensão subjetiva”.

Supõe-se um olhar bio-psico-socio-economico-espiritual e cultural do envelhecimento. Um tema de destaque é a aceitação do envelhecer.

Os profissionais da equipe de Atenção Básica ou de Saúde da Família devem “conhecer os hábitos de vida, valores culturais, éticos e religiosos das pessoas idosas, de suas famílias e da comunidade”.

Não consta das atribuições dos profissionais da equipe da Atenção Básica, pelo menos não explicitamente, a preocupação com a co-construção do cuidado, a abordagem através da história de vida, o olhar para temas outros que a

doença, a elaboração de projetos terapêuticos singulares, entre outras características da Clínica Ampliada e Compartilhada.

Um dispositivo caro à Clínica Ampliada e Compartilhada, o Projeto Terapêutico Singular (PTS), surge como ferramenta para o cuidado do paciente com depressão. O PTS “é um plano de ação que considera todos os fatores envolvidos no processo de adoecimento, formulando uma estratégia de intervenção, pactuada com o usuário, que vai além do medicamento, e da solicitação de exames, mas que considera o ambiente, a família, o trabalho, os recursos da comunidade e outros aspectos que podem ser relevantes”. Interessante notar que tal dispositivo aparece apenas para o cuidado da depressão, seguindo a tradição do seu emprego na Saúde Mental.

No capítulo “Avaliação Multidimensional Rápida da Pessoa Idosa”, estimula-se “a escuta qualificada realizada por profissional de saúde habilitado e a investigação de todos os aspectos (familiares, sociais, culturais, econômicos, afetivos, biológicos, etc) que envolvem a vida da pessoa”. Entretanto, tal avaliação segue um roteiro apresentado no “Quadro 4” que prende a relação profissional de saúde-paciente aos agravos, doenças, funcionalidade e suporte familiar e social.

É no capítulo 20, “Gerenciamento do cuidado da pessoa”, que aparece claramente a opção pela Clínica Ampliada e Compartilhada:

O controle das condições crônicas nos idosos pode, hoje, ser mais eficiente em virtude dos avanços científicos, mas, é a clínica ampliada que permitirá o seguimento regular da terapêutica por meio do acompanhamento do auto-gerenciamento, da detecção e intervenção precoce em agravos e agudizações.

Nessa mesma página, uma nota de rodapé explica o conceito de clínica ampliada:

Nas práticas clínicas institucionalizadas tradicionalmente as doenças são o objeto de trabalho. Toma-se a pessoa por sua doença, ou seja, elas parecem não possuir uma história, personalidade e um corpo. Assim, João, Joana ou Maria desaparecem e no seu lugar temos um psicótico, um hipertenso ou um canceroso. A doença raramente liquida com as demais dimensões da existência de cada um, dessa forma, as pessoas com hipertensão arterial, consideradas semelhantes segundo critérios tradicionais, teriam consequências e gravidades distintas conforme contexto onde vivem. Para que a clínica seja ampliada é importante compreender que as pessoas e suas enfermidades acontecem dentro de uma dada realidade e levar em conta o contexto onde se encontram as pessoas para compreender sua doença, dificuldades e necessidades. É como acender uma lanterna focando a doença, mas ampliando a visão para o clarão iluminado ao redor, enxergando os demais elementos em interação. Pode-se dizer a clínica ampliada se refere a: um compromisso ético com o sujeito singular; assumir a responsabilidade sobre os usuários do serviço de saúde; reconhecer os limites do conhecimento dos profissionais de saúde e das tecnologias por eles empregadas”.

Este capítulo 20 preconiza que os profissionais da Atenção Básica/Saúde da Família reunam-se rotineiramente e elaborem Projetos Terapêuticos Singulares (PTS). Pressupõe-se uma tripla parceria que inclui o idoso e seus familiares, o grupo de apoio da comunidade e a equipe de atenção à saúde. Elementos importantes da Clínica Ampliada e Compartilhada estão presentes: “propostas terapêuticas pactuadas”, evitar que a doença ou o risco tornem-se dominantes na vida do idoso, “construção de possibilidades de prazer e felicidade”, “que os idosos possam ser ativos, participantes e co-produtores das soluções para os seus problemas”, “respeitar os desejos da pessoa idosa e de sua

família”, “serviços prestados devem ser flexíveis e adaptáveis às mudanças observadas entre as pessoas idosas e suas famílias”.

Um olhar para as referências bibliográficas permite constatar a enorme predominância de trabalhos, diretrizes e tratados voltados para doenças, terapias medicamentosas e temas de gerontologia e geriatria geral. No que diz respeito à Clínica Ampliada e Compartilhada consta apenas a Cartilha da Política Nacional de Humanização (PNH), do Ministério da Saúde, que trata da equipe de referência e apoio matricial e do Projeto Terapêutico Singular. Sente-se falta da menção a outros trabalhos sobre o tema, inclusive aqueles que serviram de referência para a própria cartilha da PNH.

Conclusão

Este Caderno de Atenção Básica sobre “Envelhecimento e saúde da pessoa idosa” traz elementos tanto da Clínica Moderna como da Clínica Ampliada e Compartilhada. Ao tratar das principais doenças que acometem a pessoa idosa, o comprometimento da sua funcionalidade e a sua fragilidade, assim como ao listar as atribuições dos profissionais de saúde, segue, essencialmente, o método clínico tradicional, ainda que se encontre algumas indicações para que se amplie o olhar para questões outras que a doença. Por outro lado, no capítulo 20 - “Gerenciamento do cuidado da pessoa” - o documento enfatiza a importância da ampliação da clínica no cuidado da pessoa idosa, destacando as reuniões de equipe, a elaboração de projetos terapêuticos singulares, a pactuação e

co-construção de soluções e de propostas terapêuticas e o respeito aos desejos dos pacientes.

Há, sim, uma preocupação em abordar a pessoa idosa empregando-se os dois métodos clínicos, porém estes encontram-se separados, um depois do outro, como se os elementos da Clínica Ampliada e Compartilhada que foram mencionados tivessem que ser incorporados, que buscar espaço numa Clínica Moderna imutável, anterior e mais essencial.

6.2.6- CAB Nº 13: Controle dos Cânceres do Colo do Útero e da Mama (Brasil, 2013)

A decisão de analisar também este Caderno de Atenção Básica decorre do reconhecimento da relevância epidemiológica do câncer no Brasil, do papel estratégico da Atenção Básica para o seu controle e da importância do tipo de clínica para a abordagem das pessoas acometidas por doenças dessa natureza.

Esta segunda edição “busca contribuir com a organização da Rede de Atenção ao Câncer do Colo do Útero e da Mama no Sistema Único de Saúde[...]subsidiando tecnicamente os profissionais[...]disponibilizando conhecimentos atualizados de maneira acessível, que lhes possibilitem tomar condutas adequadas”.

A) Elementos da Clínica Moderna

A linha de cuidado para o controle dos cânceres de colo do útero e da mama prevê ações de promoção da saúde, prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos baseadas em evidências disponíveis na literatura científica, na lógica da Clínica Moderna e da Medicina Baseada em Evidências. Organiza-se a partir das seguintes diretrizes: prevenção e detecção precoce, citologia oncótica de alta qualidade, acesso à confirmação diagnóstica e tratamento adequado e em tempo oportuno.

São atribuições comuns a todos os profissionais da equipe: