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Em função da heterogeneidade da manifestação do TF, Shriberg et al. (2005) destacaram a importância da descrição detalhada do transtorno no processo diagnóstico. Outros autores buscaram delimitar os déficits de manifestação na fala que diferenciam os subgrupos (Crosbie et al, 2005). Há uma grande preocupação com a fala e a linguagem de crianças que, em muitos momentos, torna-se de difícil compreensão (Wertzner et al., 2005). É recomendável que o TF seja identificado durante a infância, uma vez que frequentemente os sujeitos que o apresentam têm dificuldades em tarefas de consciência fonológica e, consequentemente, terão dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita (Gierut, 1998; Wagner et al., 1999; Betourne e Friel-Patti, 2003).

Segundo Wertzner (2003) para realizar o diagnóstico do TF deve-se conhecer as características desse transtorno e, para tanto, sugere-se aplicar a avaliação da linguagem tendo como provas necessárias a Fonologia, o Vocabulário, a Fluência, o sistema miofuncional orofacial, o processamento fonológico, os testes audiológicos, dentre outros.

3.8.1 Provas de Fonologia para identificação do TF

Wertzner (2003) preconiza que, para a avaliação da Fonologia, geralmente são indicados três tipos de provas − imitação, nomeação e fala espontânea −, as quais, dependendo do estímulo utilizado, apresentam vantagens e desvantagens.

Na prova de imitação, solicita-se que o sujeito repita um vocábulo ou uma frase. Dentre os testes utilizados para a língua inglesa, um bastante empregado é o Goldman-Fristoe Test of Articulation (1986); para o Português existe a prova de imitação de palavras do ABFW - Teste de Linguagem Infantil (Wertzner, 2000) entre outros.

Na prova de nomeação, o sujeito deve falar o nome do vocábulo quando são apresentadas figuras ou objetos. Pode-se solicitar ainda que o sujeito produza o vocábulo alvo dentro de uma frase padrão (Wertzner e Galea, 2002). O objetivo dessa prova é verificar o uso das regras fonológicas da língua e a produção dos sons. Caso o sujeito não reconheça ou não consiga nomear o estímulo apresentado, o examinador pode dizer o respectivo nome e voltar a pedir a nomeação após mostrar alguns itens. Shriberg e Kwiatkowski (1985) propuseram que a fala espontânea pode ser eliciada de forma direta ou indireta. Na primeira, são usadas questões para se evocar as respostas; na segunda, pode-se realizar, em uma situação livre, com materiais e tópicos pré-selecionados, relacionados ou não um com o outro. Outra forma de coletar indiretamente a fala espontânea é por meio de histórias, com materiais selecionados e tópicos escolhidos pelas crianças,

ou direcionando a atividade com objetos cujos nomes contenham todos os fonemas consonantais.

Com base na descrição de Hoffman e Norris (2002) da fala espontânea, a qual demonstra que o grau de complexidade em executar tarefas sintaticamente mais complexas, como narrativas ou conversação, influencia diretamente na quantidade e na qualidade do discurso de uma criança, Goldstein et al. (2004) compararam o desempenho de crianças com TF, falantes do Espanhol, nas provas de imitação e fala espontânea. Esses autores referem que a inclusão da prova de imitação superestima as habilidades fonológicas dessas crianças. Os resultados desse estudo indicaram que a produção da imitação desses sujeitos foi semelhante à dos adultos em 25% dos casos, quando comparada com a prova de fala espontânea; porém, no formato fala espontânea, as crianças tiveram 13% de casos com desempenho semelhante ao padrão adulto em relação à prova de imitação.

Em 2003, Galea verificou que as crianças podem ter desempenho melhor em provas de fala espontânea em relação à imitação e à nomeação por evitarem alguns fonemas que não conseguem produzir. Assim, as crianças apresentariam um menor uso de processos fonológicos na fala espontânea comparando com os outros dois tipos de avaliação.

Wertzner et al. (2005b) preconizam que, no diagnóstico do TF, além de se identificar o inventário fonético da criança, é necessário analisar as estruturas silábicas presentes na amostra de fala e a distribuição dos sons

nessas estruturas, bem como nas palavras, apontando as regras fonológicas que a criança usa e os contrastes que ela mantém em sua fala.

Um estudo conduzido por Galea e Wertzner (2006) comparou a ocorrência de processos fonológicos em três provas fonológicas diferentes (imitação, nomeação e fala espontânea) em 88 crianças de 2:1 a 3:0 anos de idade com desenvolvimento típico. Os resultados mostraram que, quanto à média de processos fonológicos, a fala espontânea foi a prova com menor média, seguida da nomeação e da imitação. A comparação entre as três provas aplicadas mostrou que existe diferença estatisticamente significativa entre a imitação e a fala espontânea. Concluiu-se que a prova de nomeação apresentou desempenho estatisticamente semelhante aos das provas de imitação e de fala espontânea, mostrando-se eficiente para a coleta de amostra de fala para análise fonológica.

A compreensão do discurso da criança com TF torna-se bastante dificultosa, pois ela apresenta certo grau de ininteligibilidade de fala. Esse fator dificulta sobremaneira a análise dos processos fonológicos. Em provas dirigidas, como é o caso das provas de Fonologia do ABFW − Teste de Linguagem Infantil (Wertzner, 2000; 2004), a coleta da amostra de fala é mais fácil, o que permite uma análise mais completa do sistema fonológico da criança por conseguinte, um diagnóstico mais preciso.

Em contrapartida, a prova de fala espontânea é mais demorada e depende também da participação da criança no processo de avaliação, podendo interferir na qualidade do discurso (Johnson et al., 2004).

3.8.2 Provas de Fonologia para classificação do tipo de TF

Para o diagnóstico do TF, recomenda-se utilizar ainda testes específicos de processamento fonológico, constando de provas de nomeação rápida; testes de consciência fonológica; teste de estimulabilidade e de inconsistência, entre outros.

As provas específicas descritas e utilizadas para o diagnóstico do TF mostram-se ferramentas bastante eficazes no diagnóstico diferencial entre TF e outras alterações de linguagem.

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