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4. Contribuição do trabalho e importância dos instrumentos de avaliação e análise das

4.1. Diagnóstico museológico

Esse tópico está longe de se esgotar ou ser exaustivo, pois se trata de uma busca constante para entender o posicionamento da Pinacoteca, em outras palavras, compreender a distância entre a realidade atual e a desejável de seus programas e serviços. O nosso desafio aqui consiste em extrair registros que possibilitem identificar o seu “fazer museológico”, o seu modelo de gestão.

63 O Plano Museológico25 fornece indícios para identificar o perfil da

instituição, seus objetivos e as ferramentas utilizados na política cultural. Por meio dele reconhecemos que a missão da Pinacoteca é atingir, influenciar, qualificar a experiência da sociedade com as Artes Visuais; ser referência na produção de conhecimento sobre os processos artísticos e na elaboração de novas expressões estéticas. Mas para quem o acesso à cultura ficou inviabilizado por razões diversas, inclusive as educacionais, como é o caso do público em vulnerabilidade social, isso nem sempre tem sentido, ou é fácil de ser vivenciado.

A Pinacoteca é um museu de caráter e perfil multivocal, possui interesses difusos e ações museológicas diversas. É uma instituição que qualifica seus argumentos, suas narrativas e discursos artísticos de acordo com o perfil de seu público alvo e sua possibilidade de influência. E, para isso,

realiza exposições com diferentes estruturas, temporalidades e

experimentações estéticas. Estabelece diálogo entre a curadoria e o educativo com vista a aproximar o acervo de públicos diferenciados.

Seus programas subsistem em consonância relativa com os valores dominantes, alternativos e residuais. Estão inseridos em uma dinâmica de mão dupla, em meio a consensos e dissensos, operando por “duplicidade de rotas percorridas e desencontros entre percursos; e ainda por dissonâncias cognitivas entre tradições e permanências”26. Em outras palavras, funciona

entre as posturas e atuações inovadoras de seus profissionais e as referências culturais tradicionais do museu.

É nesse contexto que a Pinacoteca do Estado propõe ser um espaço atrativo para ampliar a área de influência da cultura erudita, atendendo tanto os intelectuais quanto o público convencional. Como levantado anteriormente no Plano Museológico, o objetivo superior da instituição é “influenciar os sistemas

25 Plano museológico ou planejamento do museu também conhecido como plano diretor. 26 Retirado do Plano Museológico da Pinacoteca, p. 21.

64 das artes”, difundir a mensagem e a informação que considera, que elege ser de qualidade e relevância.

Sua potencialidade está vinculada à forma como trabalha o repertório patrimonial de seu acervo, à sua capacidade de direcionar as narrativas artísticas, de elaborar interlocuções e mediações culturais, de estimular novas experiências estéticas. É assim que pretende influenciar, fortalecer, ampliar as possibilidades de fruição, de experiência com a arte e interferir nos processos de inclusão sociocultural, desenvolvendo o diálogo e o relacionamento com públicos diversos.

De fato a realidade museológica contemporânea traz múltiplas vocações e missões. É possível visualizar mudanças pontuais na mentalidade e na prática dos museus tradicionais. Na busca por manter-se conectado com a sociedade atual, assume dupla posição, isso significa ampliar o alcance da sua visão, promover ajustes, o que não representa necessariamente a ruptura de suas correntes ideológicas iniciais. Tais ajustes implicam em construir uma nova relação entre o homem e o patrimônio artístico, em estar atento ao olhar crítico da sociedade.

O caráter multivocal permite que os museus tradicionais operem programas de inclusão, que até o momento são considerados experimentais, uma vez que fazem parte de um cenário recente em que não há uma pauta de discussão consensual na conjuntura museológica. E nem base sólida, ficando vulneráveis seja pela falta de orçamento, pela descontinuidade ou pelo desinteresse dos gestores, ou mesmo do público.

No âmbito da política cultural, o compromisso com os programas de inclusão sociocultural parecem ser temporários, parecem depender da reorganização das estruturas legais dos órgãos superiores, como a Secretaria de Cultura e também da dinâmica e do funcionamento do museu. Dentre outros aspectos, considera-se que mudar os hábitos do museu não é algo instantâneo, mas um percurso lento e gradual.

Isso leva a pensar na ação educativa inclusiva da Pinacoteca, que por outro lado apresenta uma orientação clara de trabalho, ações flexíveis, praticáveis, com noção da dimensão do universo que atua, com pretenso

65 “discurso qualificado e competente” e atualmente não depende de capitais particulares, pois possui um contrato de gestão firmado junto a Secretaria de Cultura.

É possível afirmar que os museus estão constantemente concorrendo entre si por públicos e também por recursos, e diante dessa situação precisam reconhecer a necessidade de transformar sua mentalidade e seus conceitos. É certo que o museu tradicional na contemporaneidade precisa estar aberto à discussão, até porque é constantemente confrontado pelo contexto e olhar do presente.

Ao assumir um caráter inovador e inspirador em relação a outros museus, a Pinacoteca experimenta conceitos teóricos e estratégias metodológicas diferenciadas para aproximar-se de diferentes segmentos sociais.

Para definir a responsabilidade do museu, Guarnieri (1990) levanta duas informações importantes: a primeira é que a grande tarefa do museu contemporâneo está em permitir ao homem a clara leitura do mundo, “de modo a aguçar e possibilitar a emergência (onde ela não existir) de uma consciência crítica, de tal sorte que a informação passada pelo museu facilite a ação transformadora do Homem” (p. 204). A segunda é que, enquanto instituição pública, o museu precisa do reconhecimento não somente dos órgãos de poder, mas principalmente do público, e isso nos faz refletir que “temos feito museus para a comunidade e não com a comunidade, temos ‘quistos de coleções’ e não, necessariamente, estabelecimentos museológicos reconhecidos pela comunidade” (GUARNIERI,1990, p. 206).

Nesse caso, um dos maiores desafios dos museus está em criar metodologias participativas que garantam o maior envolvimento da sociedade. Os usuários dos equipamentos públicos nem sempre são reivindicantes e participantes das políticas culturais, o que compromete a legitimidade das ações e a melhor apropriação do espaço, “pois não é possível falar em comunicação sem as pessoas e em socialização excluindo a sociedade, a começar pela comunidade e seus segmentos” (GUARNIERI, 1987, p.169).

66 Com relação à discussão dessa problemática, percebe-se que a Pinacoteca, por sua vez, tem se empenhado para criar um vínculo maior junto à comunidade, tem procurado estabelecer diferentes formas de interlocuções, tem reinventando estratégias, tem buscado o reconhecimento social a partir do alargamento da acessibilidade, o que viabiliza a fruição tanto do público erudito, quanto do público “não convencional”. Com relação a socialização do patrimônio,

O que se pretende é, antes de tudo, despertar em pessoas de pequena escolaridade e que não têm o hábito de ir aos museus uma nova experiência, um enriquecimento de vivências, inerente a todo e qualquer processo de educação. (GUARNIERI, 1977, p. 269)

Para alguns museus, trabalhar com o público em vulnerabilidade social, com pessoas que tiveram poucas oportunidades, é menos importante, ou desnecessário. Acredita-se que esse raciocínio começa por causa da ineficiência de sua gestão, ou de seus profissionais, ou ainda com o preconceito e julgamento de que tal público não teria condições de entender ou apreciar uma exposição.

Ao focarmos no potencial das redes informais (relações interpessoais) e em sua condição de comunicar e ressignificar os processos, as ideias e ações que foram desencadeadas no museu, pode-se entender quão rica e importante é a inventividade e a criatividade do educador social, habilidades sobre as quais os profissionais do museu não têm nenhum controle. A reconfiguração das ideas é um processo infinito, indeterminado, ilimitado, que permite desenvolver um relacionamento particular, subjetivo entre a arte e a cultura.

Temos consciência de que o museu influencia, mas também é influenciado pela sociedade, ele é parte da sociedade. Não é possível determinar com precisão os caminhos e trajetórias que são construídos pelo educador social através do curso, pois sua interatividade junto aos equipamentos culturais leva-os (a curto, médio e longo prazo) a ampliar suas práticas, a vivenciar a cultura de forma diversa, a reelaborar os modos de pensar, sentir e agir.

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4.2. Resumo do questionário aplicado aos educadores sociais

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