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Os estudos utilizando a abordagem sistêmica ganharam força a partir da década de 1970, com a consolidação da concepção ambiental. A partir de então, diversos conceitos e métodos vem sendo empregados integrando os componentes naturais e antrópicos nas análises ambientais. Neste contexto, pode-se destacar as importantes contribuições de autores, como: Bertrand (1968), Soctchava (1978), Tricart (1977), Monteiro (1982), Ross (1990), Rodriguez (1994), entre outros.

Na visão sistêmica, a paisagem é definida como a unidade principal de investigação (RODRIGUEZ, 1994; MATEO RODRIGUEZ et al., 2004; AMORIM E OLIVEIRA, 2008; DIAS e OLIVEIRA, 2012).

O conceito de paisagem é amplamente discutido e depende da escola e/ou da corrente que faz seu uso.

Para Bertrand (1972):

“A paisagem é certa porção do espaço, resultante da interação dinâmica e instável dos atributos físicos, biológicos e antrópicos, que reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem dela um conjunto único e indissociável.”

De acordo com Rodriguez (1994), a paisagem é compreendida a partir da composição e inter-relação dos geocomponentes, como natureza, economia, sociedade e cultura, relacionando os elementos naturais com os antrópicos.

Na visão sistêmica, concebe-se a paisagem como uma formação antropo- natural, ou seja, é composta por elementos naturais e elementos antrópicos, que modificam ou transformam as propriedades naturais originais. Assim, os espaços naturais são transformados pela sociedade em razão de suas necessidades de produção, habitação, vivência e convivência (MATEO RODRIGUEZ & SILVA, 2007).

Diante do exposto, a análise do território, para fins de ordenamento e planejamento, deve passar pela análise da paisagem. Para tanto, este tópico busca sintetizar as informações descritas nos itens anteriores e sistematiza-las de forma a descrever o modelo territorial atual do município, em uma análise integrada de seus componentes.

2.5.1 Unidades Geoambientais

A grande quantidade de informações temáticas que constituem o meio físico torna complexa a elaboração de um diagnóstico se não houver um processo prévio de síntese, derivando daí o interesse na definição de “unidades de integração”.

As unidades de integração são a expressão dos elementos e processos do território em termos compreensíveis e, sobretudo, operativos. Nessa ideia, representam uma maneira de tornar operativa a informação, transportando-a para uma forma facilmente utilizável (TAGLIANI, 1997).

Nesta pesquisa optou-se por utilizar como elemento de integração as Unidades Geoambientais (UGs).

De acordo com o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro as UGs são: “Porções do território com elevado grau de similaridade entre as características físicas e bióticas, que podem abranger diversos tipos de ecossistemas com interações funcionais e forte interdependência (BRASIL, 2004).”

A caracterização geoambiental fundamenta-se nas concepções metodológicas da Teoria Geral dos Sistemas (BERTRAND, 1972; BERTALANFFY, 1975; TRICART, 1977) que, em síntese, busca esclarecer a inter-relação e a interdependência dos componentes ambientais, possibilitando a divisão da paisagem física.

Trata-se de uma metodologia que vem sendo bastante utilizada, principalmente nos últimos anos, por mostrar-se adequada ao incorporar as variáveis ambientais ao processo de ordenamento do território (CAVALCANTI, 1996; OLIVEIRA, 2003; BERTOTTI, 2006; DINIZ, 2008; AMORIM & OLIVEIRA, 2008; DINIZ & VASCONCELLOS, 2010; AMORIN, 2011; DINIZ et al., 2015).

Assim, as características físicas do município de Tapes (topografia, geologia, geomorfologia, pedologia e hidrografia) foram analisadas e agrupadas em Unidades Geoambientais.

2.5.2 Sistemas Ambientais

O termo “Sistema” é utilizado em diversos campos da ciência. No entanto, o enfoque sistêmico, proposto por Bertalanffy (1975), pode ser considerado uma reorientação do pensamento científico, uma vez que deixa de analisar os fenômenos de maneira isolada e passa a analisa-los em conjunto, de forma integrada.

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Segundo Christofoletti (1998) os Sistemas Ambientais são definidos como:

“O produto da interação dos Sistemas Físicos com os Sistemas Socioeconômicos. Estes componentes interagem continuamente por meio de processos específicos e complexos (físicos, químicos, bio- ecológicos), estabelecendo fluxos de matéria e energia, e podem ou não estar em equilíbrio (CHRISTOFOLETTI, 1998).”

A principal concepção dos Sistemas Ambientais é a conexão da natureza com a sociedade, pois embora estes sejam fenômenos naturais, todos os fatores econômicos e sociais influenciam sua estrutura e particularidades e, portanto, devem ser considerados na sua análise (CHRISTOFOLETTI, 1998).

Perez Filho (2007) enfatiza que, com os níveis de antropização da atualidade, os Sistemas Naturais (Geossistemas) e os Sistemas Antrópicos não podem ser estudados de maneira isolada, pois mesmo que estes apresentem leis e dinâmicas próprias, ambos mantêm um funcionamento parcialmente independente, e ao mesmo tempo dependente um do outro.

Desta forma, a aplicação deste conceito objetiva a análise integrada do ambiente, servindo de subsídio para a compreensão da sua estrutura, funcionalidade e organização.

A sobreposição das Unidades Geoambientais com a Ocupação e Uso da Terra permitiu identificar os Sistemas Ambientais da área de estudo. Além do que, a dinâmica dos Sistemas Ambientais pode ser avaliada através das transformações no uso do território, ou seja, pela análise das mudanças ocorridas na Cobertura e Uso da Terra entre 1964 e 2014.

2.5.3 Vulnerabilidade Ambiental

Vulnerabilidade é um termo utilizado para indicar a fragilidade dos ambientes levando em consideração suas características de formação e, tem sido utilizado nos modelos de zoneamentos adotados no Brasil pelo MMA, para a Amazônia Legal (ZEE) e para o Gerenciamento Costeiro (ZEEC).

Sua avaliação é importante em estudos de ordenamento e planejamento do território pois permite indicar áreas com restrições e potencialidades de uso. Nesta pesquisa, a vulnerabilidade ambiental também será utilizada como um indicador do Estado Ambiental do município.

A metodologia empregada nesta etapa baseou-se nos trabalhos de Ross (1994), Crepani et al. (2001) e Tagliani (2016). Para tanto, foram analisadas as características físicas do substrato que descrevem seus materiais, formas e processos (declividade e solos) e o grau de maturidade dos ecossistemas.

Esses fatores foram hierarquizados e avaliados por meio da combinação ponderada (Weighted Sum), que permite realizar uma análise integrada incorporando pesos ou importância relativa aos mesmos.

O resultado gerado foi o Mapa de Vulnerabilidade Ambiental do município de Tapes, o qual também passou a fazer parte da Base de Dados.

2.5.4 Estado Ambiental

A partir da relação entre os componentes naturais e antrópicos Rodriguez (1994) e Mateo Rodriguez et al. (2004) definem uma proposta metodológica para avaliar o Estado Ambiental em que se encontra a paisagem.

Segundo os autores, as alterações dos mecanismos de formação e regulação do sistema, o grau e amplitude dos processos degradantes e o nível de degradação determinam o Estado Ambiental do meio, o qual pode ser classificado em cinco níveis: 1) Estável (não alterado): conserva a estrutura original. Não existem problemas ambientais significativos que deteriorem a paisagem. O nível dos processos geoecológicos tem um caráter natural. A influência antropogênica é muito pequena. São núcleos de estabilidade ecológica, principalmente paisagens primárias ou paisagens naturais com limitado uso antropogênico;

2) Medianamente estável (sustentável): refletem poucas mudanças na