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Diagnóstico, tratamento, estratégias de controle da esquistossomose e o

1. Introdução Geral

1.4. Diagnóstico, tratamento, estratégias de controle da esquistossomose e o

O uso de drogas para tratamento de pacientes com esquistosomose, preferivelmente em combinação com outras abordagens tais como controle do hospedeiro intermediário através do uso de moluscicidas, educação sanitária, saneamento básico e fornecimento de água potável, constitui a estratégia básica recomendada pelo Comitê da OMS para Controle da Esquistossomose (WHO, 1996, 1998).

A demonstração de ovos do parasita na urina ou em amostras fecais (KATZ, COELHO & PELLEGRINO, 1970) fornece o diagnóstico definitivo para a doença. Para pessoas residentes em áreas não endêmicas, a presença de antígenos circulantes ou qualquer outro diagnóstico que detecte anticorpos pode ser suficiente para demonstrar a infecção. O diagnóstico precoce de infecções moderadas ou severas é importante para a prescrição de um tratamento médico adequado.

Três drogas efetivas e seguras para esquistossomose – praziquantel, oxaminiquine e metrifonato – encontram-se disponíveis na atualidade e fazem parte da lista modelo de drogas essenciais da OMS (WHO, 1996, 1998). Prazinquantel é efetiva contra todas as formas da doença com poucos, e apenas passageiros, efeitos colaterais. Oxaminiquine é usada exclusivamente na África e América do Sul para tratamento da forma intestinal. Para o tratamento da forma urinária da esquistossomose o metrifonato provou ser um medicamento seguro e efetivo. Ainda que ocorra uma reinfecção após a quimioterapia, o risco de desenvolvimento de um quadro severo é diminuído ou mesmo revertido em crianças.

O uso de moluscicidas nos programas de controle da esquistossomose depende muito das circunstâncias ecológicas e epidemiológicas locais, junto com recursos humanos e financeiros disponíveis. Entretanto, em comunidades de alta endemicidade, o uso focal de moluscicidas é um recurso que pode ser de grande valia.

A distribuição global da esquistossomose tem mudado significativamente nos últimos 50 anos. A doença foi erradicada no Japão e nas Pequenas Antilhas, a transmissão foi interrompida na Tunísia e teve seu nível reduzido significativamente no Marrocos, Filipinas, Arábia Saudita e Venezuela (WHO, 2000).

No Brasil, dados da Fundação Nacional da Saúde mostram que de 1977 a 1993 a taxa de mortalidade devido à esquistossomose caiu de 0,65 para 0,30/100.000 habitantes, um decréscimo de mais de 50%. As internações por causa da doença no país também caíram de 3/10.000 em 1989 para 1,5/10.000 habitantes em 1995 (KATZ, 1998). A despeito do sucesso obtido no controle da esquistossomose, recentes modificações ambientais ligadas ao manejo de recursos hídricos, o aumento da população, movimentos migratórios impulsionados pela fome, desemprego e o deslocamento de refugiados de guerras, têm ocasionado, sobretudo no continente africano, a dispersão da doença em áreas antes não endêmicas ou de baixa endemicidade. A estimativa atual é de que ao redor de 500 a 600 milhões de pessoas encontram-se sob risco de infecção nas regiões onde a doença ainda é prevalente (CHITSULO & COLS, 2000). O problema ganha dimensões preocupantes em vista de relatos que têm sido feitos nos últimos anos sobre o surgimento de cepas do parasita resistentes aos medicamentos usados no tratamento dos pacientes infectados (BRUCE & COLS., 1987; ISMAIL & COLS., 1996; COELHO, LIMA E SILVA & NOGUEIRA- MACHADO, 1997; WHO, 1998b).

Paralelamente, estudos têm sido feitos para desenvolver vacinas que resultem na diminuição da morbidade através da redução do número de vermes nas infecções e/ou da fecundidade dos parasitas em pessoas residentes nas áreas endêmicas. Os antígenos

candidatos à vacina atualmente conhecidos, cujos genes já foram clonados e extensivamente caracterizados, podem ser agrupados em três categorias: proteínas solúveis associadas à superfície do Schistosoma, glicoproteínas integrais de membrana e proteínas associadas ao tegumento mas não expostas na superfície do parasita.

No primeiro grupo estão incluídas enzimas como a glutationa S-transferase nas suas formas de 28 [Sm28GST] e 26 kDa [Sm26GST] (BALLOUL & COLS., 1987; TROTTEIN & COLS., 1992) e as enzimas da via glicolítica gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase [GAPDH] (GOUDOT-CROUZEL & COLS., 1989) e triose fosfato isomerase [TPI] (SHOEMAKER & COLS., 1992).

O segundo grupo é constituído por proteínas ligadas por diferentes formas à membrana de S. mansoni. Fazem parte deste grupo as proteínas ligadas à membrana por âncoras de glicosilfosfatidilinositol (GPI), como é o caso de Sm38, Sm32 e Sm20 (PEARCE & SHER, 1989), proteínas ancoradas por uma ligação tioéster a um ácido palmítico como em Sm25 (PEARCE & COLS., 1991), proteínas ligadas à membrana por uma forma ainda não identificada de ancoragem, como visto em Sm15 (ABATH & COLS., 1993) e Sm14 (TENDLER, 1996) e também proteínas integrais de membrana, como é o caso de Sm23, que contém quatro domínios hidrofóbicos transmembrana (REYNOLDS, SHOEMAKER & HARN, 1992).

No terceiro grupo de antígenos candidatos à vacina estão incluídas as proteínas musculares paramiosina e miosina (cadeia pesada), também encontradas no tegumento do verme mas não expostas. A primeira foi isolada utilizando soro de camundongos imunizados com extrato total de cercária (PEARCE & COLS., 1988). A segunda proteína corresponde ao antígeno de 200 kDa rIrV-5 que foi isolado de uma biblioteca de cDNA utilizando anticorpos presentes no soro de camundongos vacinados com cercárias irradiadas (SOISSON & COLS., 1992). Este antígeno também está presente na superfície de esquistossômulos recém transformados.

Alguns dos antígenos acima citados (rIrV-5, GST-Sm28, MAP-4/TPI, paramiosina/Sm97, MAP-3/Sm23 e Sm14), considerados prioritários para finalizar testes independentes de valor protetivo em camundongos, foram incluídos nos programas de desenvolvimento de vacinas contra esquistossomose da OMS, financiados por este organismo através do Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais – TDR (WHO, 1997). Porém, a produção de uma vacina a partir de qualquer um dos antígenos candidatos requer ainda um longo processo de desenvolvimento.

A utilização das ferramentas da biologia molecular, voltadas principalmente para o estudo de genes codificadores de antígenos candidatos a uma vacina contra o S.

mansoni, propiciou um ganho significativo de informações sobre seus processos

fisiológicos, bioquímicos e a organização do seu genoma. Contudo, a quantidade de informações acumuladas ainda representa muito pouco em face da importância do parasita para a saúde pública mundial, justificando esforços ainda maiores no intuito de descobrir e caracterizar novos genes e seus produtos. Neste sentido, o conhecimento e tecnologias revolucionárias gerados pelo estudo sistemático de genomas, iniciado pelo Projeto Genoma Humano, abriu um campo de enormes possibilidades que, aplicadas ao estudo do genoma de S. mansoni e de uma variedade de outros patógenos, propiciará importantes avanços para o controle das doenças infecciosas e parasitárias que afligem sobretudo os países do terceiro mundo (PENA, 1996).

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