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Diagnose 5: A Economia Solidária na COOPEART

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3. CAPÍTULO III O Contexto dos Jovens Rurais face à nova economia, em diálogo

3.5. Diagnose 5: A Economia Solidária na COOPEART

Os primeiros debates sobre Economia Solidária surgiram na COOPEART, através da parceria com o Caatinga oriundo dos encontros de formações financiados pela Visão Mundial na época, a partir do ano de 2004, período em que a cooperativa aumentou a formação do grupo funcionando com 26 jovens cooperados. Nesse mesmo período, surgiram também, as discussões acerca do Desenvolvimento Local, que entrou em pauta nas reuniões da cooperativa a partir das mobilizações e debates surgidos nos encontros de formação.

A Visão Mundial, enquanto agente financiadora apoiou a cooperativa nos financiamentos para a execução das formações, no fornecimento da alimentação, da estrutura física, na aquisição de máquinas e equipamentos, além da construção da gestão, comercialização e na divulgação em feiras e eventos. Nesse período, a empresa Ética, atuava como parceira, cuja relação era de compra dos produtos da cooperativa para o mercado justo, além de apoiar na divulgação. A parceria não perdurou, em função do pagamento lento, administrado pela empresa.

Entre os parceiros da COOPEART estão a Associação Mundaréu, de São Paulo-SP, que aceita bem o produto, paga bom preço, realizando pagamento adiantado; a Coopeagra, de Ouricuri-PE, que compra os produtos consignados e comercializa junto a feiras e eventos; a Atrium, loja que apresenta boa estrutura e vende os produtos oriundos da consignação; duas Associações Comunitárias de Ouricuri, que possibilitam o maior envolvimento dos jovens nas suas atividades; a Essene e Supercom, que atuam como fornecedora de materiais, dando bons descontos; o Caatinga, que apóia na formação, na

76 gestão e na comercialização, a partir do Projeto Juventude, Arte e Cultura, que, atualmente, é financiado pela Petrobrás; e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que auxilia na liberação da madeira de Manejo Florestal. Apenas as parcerias com o IBAMA e a Associação Mundaréu é que se encontravam paralisadas, no momento de finalização dessa pesquisa, em função de problemas ocorridos na não renovação de contrato, embora o grupo negocie o retorno delas.

A presente pesquisa se deteve na construção do conceito de Economia Solidária a partir da visão dos jovens, embora o conceito seja uma construção teórica de intelectuais, mas partimos da compreensão da prática de princípios e valores que norteiam a Economia Solidária presente no empreendimento, de forma a entender qual a compreensão que os jovens fazem acerca desse conceito como prática na cooperativa.

Nesse contexto, reportando aos dados da nossa pesquisa, quando indagados “O que você entende sobre Economia Solidária?” e “Como a Economia Solidária se expressa na cooperativa”, os entrevistados demonstraram dificuldade na construção do conceito, embora na prática, refletissem o oposto:

Eu acho que a noção que aprendemos de Economia Solidária, pelo que eu sei, é que ela está no trabalho coletivo [...] que traz aquela idéia de que o nosso trabalho é fruto de que não há um dono só no que nós produzimos e vendemos [...] todos são donos da cooperativa, juntos somos proprietários daquilo que fazemos aqui na oficina, mesmo que tenha aquele que trabalhe mais que o outro, mas cada um contribui, na união e na responsabilidade, com o seu trabalho [...] é diferente de uma empresa capitalista que tem um só dono e que explora seus trabalhadores [...] então, eu acho que é nesse caminho que você fala de economia solidária que nós entendemos e que fazemos aqui (JOVEM C).

Percebemos no Jovem C um amadurecimento no conhecimento da prática da economia solidária, o qual, segundo ele, adquirido através das participações em espaços de discussão política na associação comunitária, no Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável do município, no grupo de jovens e nos encontros de formação. Isso demonstra que ele não nega a propriedade coletiva e que há um sentimento de posse em relação à cooperativa; contrariamente à Jovem E, que sinalizou desconhecer parcialmente o conceito:

Eu não sei dizer exatamente o conceito, mas eu acho que vem da união do grupo no trabalho, na busca da igualdade entre todos para que tenhamos um futuro sempre melhor pra gente [...] (JOVEM E).

Segundo ela o desconhecimento parcial ocorre, em função do período curto em que está na cooperativa, há nove meses.

77 Mas para o Jovem D, mesmo inserido na cooperativa há um ano ele conceitua:

[...] economia solidária está ligada a ser solidário [...] em que um ajuda o outro pra que os nossos objetivos sejam alcançados [...] aqui a gente trabalha com esse objetivo de trabalhar em conjunto, unido, quebrando o atravessador, que acontece muito na agricultura [...] aqui a gente vende o produto direto pra o comércio, não vai pra mão do atravessador é a gente mesmo que corre atrás de parceria pra colocar o nosso produto no mercado e isso é muito importante pra gente, porque a gente ganha mais (JOVEM D).

Um aspecto pontuado na análise é que a maioria dos entrevistados compreende economia solidária no tocante ao trabalho, certamente, é como diria Coraggio (2001), em que o valor central da economia solidária é o trabalho somado ao saber e à criatividade humana e não ao capital-dinheiro ou sua propriedade, sendo a referência da economia solidária, cada sujeito, onde a eficiência não pode se limitar aos benefícios materiais de um empreendimento, mas, à qualidade de vida de seus membros.

Percebemos na perspectiva das falas dos entrevistados uma aproximação e um reconhecimento acerca do propósito da Economia Solidária, sinalizados no amadurecimento das respostas, principalmente no tocante à dimensão econômica, presente na fala do Jovem D e na autogestão no processo de trabalho, descrita na fala do Jovem C. Porém, em contrapartida, a Jovem E demonstrou pouco conhecimento acerca do significado de economia solidária, embora considere o valor da igualdade como importante no empreendimento.

Comparativamente, esses resultados não são semelhantes com os encontrados por Barreto e Paes de Paula (2009, p.207), em que demonstraram a dificuldade dos indivíduos de se inserirem na lógica cooperativista e que a inserção na Economia Solidária não se dá em função de seus princípios e fundamentos, mas representa uma opção à escassez de oportunidades de emprego (BARRETO e PAES DE PAULA, 2009, p.208). Mas esses mesmos autores alertam que esses resultados, oriundos de um estudo de caso “não refletem a realidade de todas as cooperativas no país”, pois “outras pesquisas precisariam ser realizadas para demonstrar se esta dificuldade de inserção na lógica solidária se faz presente na maioria das cooperativas brasileiras” (BARRETO e PAES DE PAULA, 2009, p.212).

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