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8 DISCUSSÃO – A ABORDAGEM DOS DADOS

8.1 A DIALÉTICA NA PRODUÇÃO DE DADOS

A partir de leitura flutuante orientada pelo interesse do pesquisador, buscou-se estabelecer uma comparação entre o início da formação, momento em que aplicamos um questionário, e o final da formação, etapa em que mediamos a entrevista semiestruturada.

21 Rigorosidade no pensamento crítico; superação da curiosidade ingênua; apropriação de novos

conhecimentos, saberes e práticas como enriquecimento pessoal e de visão de mundo que ofereçam novas interpretações mais precisas.

A priori, os educadores não representam o senso comum, mas, como exposto no questionário no início da formação, os conceitos discutidos não faziam parte do arcabouço teórico da maioria do grupo, até mesmo os critérios básicos que distinguem o conhecimento científico dos demais não faziam parte do cotidiano educacional local. Partindo dos dados do questionário, que apontam que apenas um dos participantes da pesquisa não detinha experiência de graduação, supostamente, os demais que detinham essa experiência tiveram a chance de entrar em contato com critérios da ciência, ao menos na graduação.

Essa ingenuidade (FREIRE, 2002, P. 16) afeta as possibilidades de aproximação entre os educadores locais, participantes da formação, e os conceitos fundamentais da Educação Patrimonial, pois dificulta reflexões e discussões sobre motivos para a valorização patrimonial de determinados elementos em detrimento de outros.

Na concepção da formação, propusemos uma re(visão) das relações entre os educadores locais e os sambaquis, presentes desde a infância em suas vidas. Durante a formação, em uma oportunidade em que uma professora perguntou curiosa se: “aquilo (restos conchíferos) era um sambaqui?”, e todos ficaram interessados em saber se aquele material conchífero, com os quais a maioria ali havia brincado quando criança, realmente fazia parte dos vestígios de um sítio arqueológico, confirmamos mais um dado para afirmar a relevância de nossa pesquisa em uma perspectiva afirmativa local.

Outras informações nesse sentido foram auferidas quando apenas seis educadores dos 38 afirmaram conhecer um sambaqui, apenas 5 disseram saber conceituar um sambaqui e somente 6 dos 38 consideravam o sambaqui um Patrimônio Cultural. Essas informações foram obtidas por meio de um questionário aplicado na abertura da formação, estrategicamente posicionado para colher as perspectivas dos educadores sobre os sambaquis e os demais conceitos que trataríamos, antes de nossa mediação dialógico-dialética.

O índice de educadores que se diziam conhecedores dos sambaquis era reduzido, mesmo em condições em que todos relatavam experiências com os sambaquis locais, na infância ou mesmo na vida adulta, em atividades econômicas de extração de terra para reformas de estradas ou construção civil.

Os dados coletados por intermédio do questionário seriam contrapostos com outros dados provenientes da entrevista semiestruturada desdobrada nos momentos em que os participantes já possuíam novas informações dialogadas durante a formação. Intencionávamos a busca de associações espontâneas que fornecessem condições de capturar, em suas retóricas, resultados da formação que pudessem auxiliar na avaliação da dialética, da troca de experiências pela qual passamos ao longo dos dias em que conduzimos a formação continuada em Presidente Kennedy.

Nossa intervenção tem o propósito de valorizar o localismo mediando a apresentação de conceitos e riquezas arqueológicas junto aos docentes de Presidente Kennedy. Pretendemos que essa intervenção configure-se como um convite a todos, com a finalidade de tornar aspectos e interesses locais evidentes, afinal, é muito comum que a educação local não considere especificidades regionais. Podemos inferir que existe um certo grau de superficialidade ou mimetização na seleção dos temas educacionais, uma vez que há um eclipse sobre elementos culturais abundantes de povos tradicionais pré-colonias da região.

Como o questionário apresentava um quase desconhecimento local sobre os sambaquis e a entrevista semiestruturada apresentava diversas considerações sobre futuros trabalhos com os sambaquis, pesquisas e valorização das histórias locais, houve o surgimento de um novo estímulo. Algo semelhante também ocorreu no momento em que, durante a formação, abordamos temas referentes especificamente a Presidente Kennedy. De um grupo de professores calados, passamos a ter uma convulsão de debates e considerações ricas sobre o local em que sempre viveram e conhecem muito melhor do que qualquer um que venha de outro lugar.

O propósito de obter considerações dos educadores de maneira espontânea, que apresentassem os indicativos sobre as transformações com as quais a formação continuada poderia ter contribuído, norteou a entrevista semiestruturada aplicada a 13 trabalhadores docentes da Escola Jaqueira Bery Barreto, que contribuíram com 40 respostas, subdivididas em 5 temas discutidos durante a entrevista.

As entrevistas semiestruturadas eram iniciadas com a apresentação da primeira pergunta e, a partir das respostas, outras perguntas eram apresentadas sem uma ordem precisa, pois objetivávamos a fluidez na interação com os participantes, o rompimento com interações engessadas e a equidade entre entrevistador e entrevistado.

No transcurso das entrevistas, não obtivemos todas as respostas para as perguntas previamente preparadas para dialogar com os educadores, pois ao prezar pela fluidez nas argumentações e análises dos participantes, o tempo disponível para esse encontro acabava insuficiente para o cumprimento de toda a planilha de perguntas.

A partir de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2009), buscamos discutir as informações emitidas no processo de comunicação a partir de procedimentos sistemáticos para o levantamento de indicadores que permitissem inferências de conhecimento.

Com a perspectiva da Análise Temática (BARDIN, 2009), recortamos o texto em unidades de registro, categorias, isto é, núcleos de concentração de significados. Formalizamos as categorias ao considerarmos as 40 respostas que obtivemos inseridas nos 5 temas que mediamos, com os 13 docentes que participaram das entrevistas.

Identificadas as categorias, buscou-se registrar a frequência com que apareciam na retórica dos educadores em relação às 40 respostas que representavam o total de material disponibilizado diretamente pela entrevista semiestruturada. A partir disso, houve a possibilidade de contabilizar frequências, ou seja, o número de vezes que cada categoria aparecia nas associações espontâneas dos educadores e, assim, mensurar as contribuições da formação sobre aquele grupo de trabalhadores.