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2. Caminhos Metodológicos

3.1. Primeira Análise Categorial: Emergência de Categorias Empíricas

3.1.17. Dialética

O Princípio Dialético da concepção híbrida obteve 5% da frequência individual apurada nos depoimentos e jornais da cidade do Recife.O Movimento de Cultura Popular e seu grupo de teatro baseavam-se no pensamento do Materialismo Histórico- Dialético e nas influências dos axiomas hegeliano, marxista e brechtiano naquele momento histórico. Estas ideias eram por demais revolucionárias no Brasil. Traziam em seu bojo um pensamento filosófico libertador, com a esperança de mudanças estruturais. O povo era inserido no contexto como sujeito do processo e não mais como massa de manobra. Nessa direção, o TCP e o MCP, expandindo suas ideias por meio de seus espetáculos, festivais, seminários e congressos, construíram respeitabilidade e admiração diante do povo pernambucano.

O processo dialético daquele momento histórico nos faz reconhecer que todo esse movimento se manifestou na arte do diálogo, na qual a antítese são os velhos paradigmas, transformando-se em sua tese como ruptura e se transformando na síntese, que é a inovação, representando a superação da contradição. Este conceito hegeliano se aplica de forma coerente aos princípios do movimento teatral daquele período, tornando-se evidente que o debate e as contradições aparecem com clareza. É importante ver a dialética nos conflitos do TCP, como ressalta Silke Weber:

Agora, e do ponto de vista político, os conflitos existiram toda a vida, desde o começo, quer dizer esse congresso aqui, se eu falei de cultura popular, eu me lembro tanto que a gente fazia, combinava todo mundo que ia ser em um canto, daqui a pouco começava tudo ao contrário, saía tudo do zero. [...] quando eu falo da cisão em relação à cartilha, dos círculos de cultura, isso numa forma mais pública do que aconteceu. E outra foi o teatro. Teatro também, quando os grandes teatrólogos saíram do MCP, fizeram até uma peça, a “Bomba da Paz”. Então a coisa era muito, muito tensa, bastava ter, por exemplo, essa coisa da campanha contra o MCP (2014, p. 113).

As contradições dialéticas evidenciam-se com mais exatidão dentro do movimento e em suas relações de conflitos diários, como nos apontados pelo crítico Medeiros Cavalcanti:

Por mais que alguém, hipócrita ou mal-informado queira negar, vivemos esses dias um singular clima de guerra fria poucas vezes dantes observado no nosso teatro, exceto talvez quanto ao ballet, que nunca se uniu e que, a despeito do entusiasmo geral com que sempre é acolhido, trabalha de ordinário com a mira nas realizações vizinhas. Desta vez tivemos uma guerra de trincheiras entre o Arena (“A Bomba da Paz”) e o Santa Isabel (“Julgamento em Novo Sol”). Os que eram por Deus eram pelo Diabo, e

vice-versa. Proibido ficar neutro – pior – assumir partidos apenas artísticos, sem ir ao fundo das discussões ideológicas e dos desaforos dos palcos ou dos bastidores. Agora, estabelece-se uma trégua. “A Bomba da Paz” sai do Arena e vai hoje – começando uma turnê em âmbitos fechados – para o Seminário de Olinda onde deve fazer um discreto escândalo entre os pudicos rapazes de batina, a menos que a Igreja esteja diferente dos bons tempos (tem havido maus tempos também para a igreja). “Julgamento em Novo Sol” finou-se quanto ao Santa Isabel, no último domingo. O espectador aturdido, estonteado, chamado frequentemente a tomar partido, o crítico teatral cansado, exausto de separar o joio do trigo, perguntam-se agora: – O que virá? Que estará tramando a Direita contra a Esquerda e a Esquerda contra a Direita? O que é incontestável, porém, esportivamente falando, é que o primeiro “round” pertence inteiramente à Esquerda – e não é de Eder Joffre. (JORNAL DO COMMERCIO, 02 jun. 1962, p.6).

Como sugeriu o filósofo Georg W.F. Hegel, o método dialético constitui-se na base para se pensar em metamorfose permanente, a partir das duas posições antagônicas: a tese e a antítese, que, por sua vez, desencadeiam a síntese. Karl Marx, considerando idealista o pensamento de Hegel, adapta esse modelo, criando o materialismo dialético com o objetivo de analisar as tensões e os conflitos entre as classes sociais.

Marx “subverteu a concepção vigente de ciência, introduzindo na investigação científica o materialismo consistente, a análise dialética e a perspectiva social da classe revolucionária, o que lhe permitiu criar um modelo próprio de explicação científica da história”, sendo de grande importância para as transformações do século XX, desmascarando a identidade do opressor, desvelando os oprimidos e explicando o mundo pela luta de classe. Engels e Marx “aplicaram o modelo de explicação ao estudo de situações históricas concretas, à crítica da economia política e do socialismo utópico-reformista e à elaboração de uma teoria geral da formação, desenvolvimento e dissolução da sociedade capitalista” (ALVES, 2010, p.1).23

A indagação que, em tempos pós-modernos, permanece é: “se a história e a sociedade são guiadas por estruturas dialéticas objetivas, materiais, racionais, qual o papel da ação humana e da subjetividade?”.24

23ALVES, Álvaro Marcel. O método materialista histórico dialético: alguns apontamentos sobre a subjetividade. Faculdade de Ciências e Letras da UNESP-Assis. Revista de Psicologia da UNESP, 2010. p. 1.

24 SILVEIRA, Emerson J. Sena da.O (in) suspeito fluxo de "religião" e "metafísica" na relação entre dois mestres da dialética: Karl Marx e Georg W. F. Hegel, 2013, p.1. In: http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia- sabedoria/36/artigo257144-3.asp. Acesso em 13 mar. 2015.

Na próxima subsecção, apresentaremos as teorias que fundamentam as concepções políticas, pedagógicas e estéticas do Materialismo Histórico Dialético e da Pedagogia Libertadora e da Pedagogia Pós-Moderna.