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Projeto I: Caderno de Revisão de Conceitos Científicos

3. Diarreia

3.1.

Definição

A diarreia caracteriza-se por um aumento da produção de fezes, levando a um aumento de frequência de dejeções e produção de fezes com menor consistência [27,28].

Conforme a duração, a diarreia pode ser classificada como aguda (duração <2 semanas, mais frequentemente de 1 a 3 dias) ou crónica (duração > 4 semanas) [27,29].

A diarreia aguda (autolimitada) apresenta especial interesse para o FC, uma vez que este é capaz de solucionar o problema em ambiente de Farmácia Comunitária.[30]

3.2.

Prevalência da diarreia aguda

Não foram encontrados dados evidentes da epidemiologia da diarreia aguda ou do seu impacto socioeconómico na Europa. Contudo, tendo por base o caso dos Estados Unidos da América (EUA), observou-se em 2011, por análise do Center for Disease Control and Prevention (CDC), a ocorrência

de 47,8 milhões de casos, considerando apenas os casos resultantes de gastroenterite infeciosa. No mesmo artigo, dados referentes a 1998, demonstraram que cada individuo com idade compreendida entre 15 e 64 anos sofria em média 1,2 casos de diarreia aguda por ano, desconsiderando a etiologia da diarreia [31].

3.3.

Fisiologia e fisiopatologia da diarreia

A Diarreia corresponde a um estado de desequilíbrio dos aspetos fisiológicos do intestino, desencadeada por uma das seguintes alterações: diminuição da absorção de água, excreção ativa de iões, inflamação e alteração na motilidade. [32]

3.3.1. Fisiologia normal do intestino

Em condições fisiológicas normais há 6 a 8L de líquidos que atingem o jejuno, sendo o contributo alimentar de apenas 1,5L, correspondendo o restante a secreções posteriormente reabsorvidas. [32,33] No intestino, o processo de absorção e excreção de sais e água ocorrem por transporte ativo e por osmose, respetivamente, através dos enterócitos, com recurso à bomba de Na+/K+ dependente de ATP (Na, K-ATPase) [32].

Ao nível do intestino delgado, a absorção de Na+ acontece por via de trocadores de Na+/Cl-, os quais são controlados pela adenosina monofosfato cíclico (AMPc), guanosina monofosfato cíclico (GMPc) e Ca+ intracelular. Nesta região do intestino, o Na+ pode também ser absorvido por co transportadores de glucose ou aminoácidos [32].

Ao nível do cólon, ocorre essencialmente absorção de Na+ por dois mecanismos distintos: por absorção de cálcio mediado por ácidos gordos de cadeia curta e por absorção de Na+ por recetores sensíveis a aldosterona [32].

Para além destes mecanismos de transporte, ter-se-á ainda que considerar fatores extracelulares que medeiam o transporte iónico epitelial, estando incluídos fatores parácrinos, imunológicos, neuronais e endócrinos [32].

Em adição a todos estes transportadores, temos ainda que levar em consideração a motilidade intestinal, que é capaz de influenciar a absorção de nutrientes e água [32].

3.3.2. Distúrbios fisiológicos que desencadeiam a Diarreia

A diarreia aguda pode ter origem na alteração de algum dos mecanismos anteriormente indicados. 3.3.2.1. Diminuição da absorção de água

A força osmótica pode ser responsável por causar diarreia. A existência de solutos que não são absorvidos ou que são fracamente absorvidos pelo organismo, leva a um aumento da força osmótica levando a que a água se mova para o interior do lúmen (arrastando alguns dos iões em simultâneo) resultando em diarreia [29] .

3.3.2.2. Excreção/Secreção ativa de iões

Este fenómeno baseia-se na secreção de iões (normalmente Cl-) para o lúmen ou inibição da absorção de Na+. Para se observar este fenómeno é necessária a ação de mensageiros que ativam ou inibem os transportadores. Estes podem existir no interior do intestino, como as enterotoxinas (associadas a infeções), ou no espaço subepitelial, no caso dos mediadores inflamatórios. Estes

compostos são capazes de influenciar processos associados ao AMPc, GMPc e transporte intracelular de iões mediado por Ca+. Como resultado há saída por osmose de água para o lúmen [29].

3.3.2.3. Inflamação

A etiologia da inflamação pode ser variada. No que se refere a inflamação resultante de infeção, esta pode resultar das citocinas produzidas, da invasão das células no lúmen pelo microrganismo patogénico ou das enterotoxinas produzidas pelo mesmo. Assim, os danos causados ao nível da mucosa, estimulam a secreção intestinal e produção de exsudados, aumentando o volume fecal.

Quando nos focamos apenas na inflamação os resultados surgem essencialmente como consequência da má absorção do Na+, levando a um aumento da força osmótica. Isto acontece devido à ação das citocinas e das moléculas ecosanoides, que são capazes de influenciar a regulação da absorção, ao inibir a absorção destes iões, aumentando a quantidade de água “aprisionada” por osmolaridade e levando à diarreia.

3.3.2.4. Alteração da motilidade

Caracteriza-se por um aumento rápido da frequência de contrações, após o consumo de alimentos. Isto acontece por existir algum distúrbio neuronal, associados aos nociceptores do intestino e possíveis alterações em alguns neurotransmissores como a serotonina, as colecistocinina ou as neurocininas [32].

3.4.

Mecanismo de ação das opções terapêuticas disponíveis no mercado

3.4.1. Solução de Reidratação Oral (contendo glucose e eletrólitos):

Repõe os níveis de água e eletrólitos perdidos por via da diarreia, contudo não diminui os sintomas. Os iões sódio e potássio são iões essenciais e o citrato e bicarbonato corrigem a acidose.

A glucose, atua como transportador de iões de sódio e de potássio através da mucosa intestinal. Algumas preparações substituem a glucose por amido de arroz em pó, que aparenta atingir melhores resultados tanto a nível do equilíbrio eletrolítico, bem como na produção de fezes mais consistentes [27,30].

3.4.2. Adsorventes intestinais:

Causa a adsorção de toxinas e microrganismos. Uma vez que as substâncias adsorventes não são absorvidas, estes produtos irão agilizar a excreção dos agentes que desencadeiam a diarreia [27,34].

3.4.3. Derivados de opiáceos e respetivas associações:

Os opiáceos e seus derivados são responsáveis pelo aumento do tónus do intestino, diminuindo assim a motilidade intestinal. A diminuição da motilidade leva a um aumento do tempo de permanência dos alimentos no interior do intestino, promovendo a reabsorção de eletrólitos e de fluidos, consequentemente diminuindo o volume do conteúdo intestinal. O uso conjunto de simeticone em fórmulas contendo também loperamida, vem diminuir cólicas e o inchaço associado à acumulação de gases [27,30].

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