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DIFERENÇAS DESENVOLVIMENTAIS NA ESTRUTURA E CONTEÚDO DO AUTO-CONCEITO

41 1.4 Expectativas elevadas e irrealistas do desempenho (Clifford, 1975; Parsons &

2. DIFERENÇAS DESENVOLVIMENTAIS NA ESTRUTURA E CONTEÚDO DO AUTO-CONCEITO

Uma abordagem útil à avaliação do auto-conceito em crianças e adolescentes tem necessariamente de ser sensível às mudanças desenvolvimentais na verdadeira natureza de como o Self é construído (Damon & Hart, 1982; Harter, 1983 b, 1986 a e b, 1988 a; Montemayor & Eisen, 1977; Rosenberg,

1986).

Tais diferenças podem ser caracterizadas ao longo das duas dimensões fundamentais: a estrutura e o conteúdo do auto-conceito (Harter, 1988 a).

As dimensões estruturais caracterizam-se por descrições simples de atributos isolados, subsequentemente, a organização desses atributos em constructos que reúnem traços semelhantes acerca do Self e depois, a organização dos traços em abstracções de elevada ordem - trajectória desenvolvimental estrutural (Harter, 1986 a).

As dimensões de conteúdo são compostas por descrições das preferências observáveis da pessoa, habilidades, auto-descrições envolvendo os motivos e emoções da pessoa e finalmente os pensamentos internos da pessoa (Harter, 1986 a).

Primariamente, a dimensão estrutural sublinha as mudanças cognitivo-desenvolvimentais que afectam o auto-conceito enquanto construção cognitiva (Harter, 1988 a).

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Um tema central na literatura do desenvolvimento envolve a extensão pela qual os sistemas psicológicos sofrem mudança ontogenética que podem ser conceptualizados em termos dos processos de diferenciação e integração (Harter, 1988 a).

O auto-conceito pode ser considerado dentro de tal organização estrutural. Ambas, teoria e investigação, revelaram que com o desenvolvimento, há um aumento do número de domínios do auto-conceito que podem ser articulados bem como diferenciados (Harter, 1988 a).

2.1. Avaliação do Auto-conceito

Uma análise sensitiva do auto-conceito das crianças e adolescentes tem de ter em conta as mudanças desenvolvimentais na estrutura e conteúdo de Self. Tais diferenças resultam de mudanças cognitivo- desenvolvimentais bem como de alterações nas preocupações salientes associadas a períodos de desenvolvimento específicos (Harter, 1988 a).

A natureza unidimensional do auto-conceito foi modificada por teóricos recentes que argumentaram que tal abordagem, mascara distinções avaliativas importantes que as crianças fazem acerca da sua adequação em diferentes domínios das suas vidas (Harter, 1988 a, 1990).

Os proponentes da perspectiva multidimensional, propuseram modelos e adoptaram estratégias de medida que identificam domínios específicos de auto-avaliação, avaliando cada um separadamente (Harter, 1985 a, 1986, 1988 a, 1990; L'Ecuyer, 1981; Marsh, 1984, 1987; Marsh, Barnes, Cairns e Tidman, 1984; Mullener e Laird, 1971; Shavelson, Hubner e Stanton, 1976)

O auto-conceito pode ser conceptualizado ao longo de um continuum de julgamentos muito específicos até julgamentos muito globais acerca do Self e tais abordagens não são necessariamente mutuamente exclusivas (Harter, 1988 a).

O auto-conceito como constructo multidimensional é melhor representado por avaliações discretas ao longo de uma variedade de domínios específicos (Harter, 1985, 1986, 1987, 1988 b).

O modo como se define auto-conceito, ou seja, se se considera o auto-conceito como um constructo unitário e global ou se um conjunto mais diferenciado e multidimensional de auto-avaliações, ditará a estratégia de avaliação adoptada (Harter, 1988 a).

A especificidade da investigação e o interesse das questões de avaliação ditam a escolha dos instrumentos e o nível de medida. Mudanças na estrutura e no conteúdo do auto-conceito têm implicações óbvias na avaliação - tais mudanças, implicam que os instrumentos designados para determinar as dimensões do auto-conceito, devam necessariamente mudar em função do nível de desenvolvimento (Harter, 1988 a).

Enquanto que mudanças na estrutura, conteúdo e formato das questões nas medidas de auto- conceito que são sensíveis ao nível de desenvolvimento, podem ser vistas como desejáveis, de forma a capturar diferenças qualitativas na formação do auto-conceito, também podem colocar certos problemas. Paradoxalmente, tal sensitividade ao nível de desenvolvimento torna difícil examinar mudanças desenvolvimentais no auto-conceito ao nível individual (estudos longitudinais e transversais) (Harter, 1988 a).

A utilização de instrumentos adequados à idade, com modificações na estrutura, conteúdo e formato das questões, torna difícil avaliar se as diferenças obtidas nos dois instrumentos representam mudanças devidas ao instrumento ou mudanças reais nas auto-avaliações das crianças (Harter, 1988 a).

Harter (1985 a, 1986 a e b, 1988 a) apresenta uma abordagem do auto-conceito que representa a integração de ambas as perspectivas multidimensional e unidimensional, em ambos os níveis, modelo e medida.

O auto-conceito é uma teoria, uma construção cognitiva, cuja arquitectura é extremamente funcional, ou seja, está desenhada de modo a assimilar os dados da realidade de forma a manter ou provocar elevada auto-estima no indivíduo (Allport, 1961, Bartlett, 1932, Brim, 1976, Damon & Hart, 1988; Epstein, 1973, 1981, 1991; Greenwald, 1980; Harter, 1983 b, 1993 a; Kelly, 1955; Lecky, 1945; Lynch, 1981; Markus, 1980; Piaget, 1965; Rogers, 1951; Sarbin, 1962).

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O modelo sublinha a importância dos julgamentos globais da estima ou Self-worth, para além da avaliação dos domínios específicos de competências (Harter, 1988 a).

Dentro da estrutura deste modelo, a auto-estima ou Self-worth tem sido conceptualizada como o nível de estima global que uma pessoa tem pelo Self 'como pessoa (Harter, 1985 a, 1986, 1990, 1993 a).

Para Rosenberg (1979), os indivíduos possuem um sentido geral de auto-estima ou sentimentos de consideração por si próprio como pessoa, para além das avaliações da sua adequação através dos domínios específicos da sua vida. Contudo, no que diz respeito à avaliação, Rosenberg focou-se inicialmente na auto-estima global, nomeadamente, a estima geral que cada um possui pelo Self enquanto pessoa. Argumenta que os vários elementos discretos do Self são ponderados, hierarquizados e combinados de acordo com uma equação extremamente complexa da qual o indivíduo é desconhecedor (Harter, 1988 a). Salienta ainda o papel da importância de um dado atributo para o indivíduo, na medida em que esta importância poderá afectar o grau pelo qual a avaliação dessa característica afectará a auto-estima global da pessoa (Harter, 1985, 1986 a, 1990).

Como Rosenberg, Harter avalia o Self-worth directa e independentemente através de um conjunto de itens que determinam o julgamento global da pessoa da consideração por si própria enquanto tal. Esses itens inquirem acerca da extensão com que o indivíduo gosta de si próprio como pessoa, gosta do modo como conduz a sua vida, está feliz com o modo como é... (Harter, 1986 a, 1988 a, 1990).

A separação em subescalas que determinam domínios específicos de competências proporciona um perfil multidimensional do auto-conceito. Separando conceptual e empiricamente os domínios específicos de julgamentos de competência ou adequação do julgamento mais global da pessoa da consideração por si própria como tal, estaremos aptos a determinar a relação que competências específicas trazem à Self-worth global. Isto é, a especificar a forma pela qual os domínios são ponderados e combinados para produzir um sentido global de Self-worth da pessoa (Harter, 1986 a, 1987, 1988 a, 1990).

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