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2.2. As sentenças copulares

2.2.3. Algumas semelhanças e diferenças entre as SCC e as SCl

2.2.3.2. Diferenças semânticas

Considerando as SCC, percebemos que no momento em que o constituinte é inserido na posição de predicador da Small Clause, ele acaba modificando a leitura interpretacional daquilo que estava sendo dito na sentença de origem. Ou seja, dizer a sentença neutra de (19), abaixo, não é o mesmo que dizer as sentenças copulares dela derivadas em (20) ou (21):

(19) Ana não descobre o meu segredo.

(20) É certo que Ana não descobre o meu segredo.

(21) Impressionante é que Ana não descobre o meu segredo.

A diferença entre a versão neutra de (19) e as copulares de (20) e (21) torna-se mais clara quando vemos que (19) apenas traz a afirmação de que uma determinada situação que não ocorrerá, sem avaliação ou julgamento do interlocutor sobre aquilo que é dito. No entanto, em (20) e (21) essa neutralidade de julgamento não é percebida, em virtude de os constituintes, respectivamente, certo e impressionante, carregarem marcas de subjetividade7.

Diferentemente das SCC, porém, o constituinte alojado entre o ser e o que das SCl não insere subjetividade à estrutura encaixada, já que ele foi movido de sua posição original para ocupar o lugar do foco, deixando em seu lugar original um vestígio com o qual passa a manter um vínculo estreito. Por esse fato, é comum dizermos que (22), abaixo, equivale ao mesmo que é dito (23) ou (24), ainda que saibamos que o constituinte reposicionado adquire um destaque que não lhe era dado enquanto termo da sentença neutra:

(22) Ana não descobre o meu segredo. (23) É Ana que não descobre o meu segredo. (24) O meu segredo é que Ana não descobre.

A sentença neutra em (22) teria, aparentemente, a mesma interpretação que aquela em (23), não fosse pelo fato de no constituinte Ana, em (23), percebermos um destaque tanto na sintaxe quanto na prosódia, já que, sobre ele, há um pico acentual, fatores esses não

7 Apesar do que afirmamos sobre a apreciação subjetiva do locutor quando insere um constituinte na posição

entre o ser e o que para atribuir uma predicação sobre toda a encaixada, a característica da subjetividade é, ainda, um aspecto que precisa ser investigado, o que se confirmará – ou não – na análise de um número maior de sentenças predicacionais.

percebidos na versão neutra. A sentença em (24), além de trazer a expressão É QUE, deslocou o AI de descobre para antes dessa expressão, dando a ele leitura de foco Identificacional ou foco Contrastivo8. Apesar de a informação ser aparentemente a mesma, ou seja, a de que alguém (Ana) não descobrirá determinado segredo, não podemos interpretar essas duas sentenças como idênticas semanticamente. Há diferenças em suas estruturas que estão relacionadas ao modo como os constituintes são distribuídos para fazer essa assertiva: enquanto na versão neutra de (22) os termos aparecem em sua posição in-situ, nas sentenças copulares de (23) e de (24) um deles se move para ocupar outra posição.

Considerando, agora, o contexto em que ambas as sentenças são inseridas, há peculiaridades em relação à semanticidade do foco, inerentes às SCl, e do predicador, presente nas SCC. A carga semântica do predicador da cópula da Small Clause, nas SCC, tem escopo amplo sobre todo o CP; já o foco das SCl, pelo fato de ter saído de sua posição in-situ, carregando consigo suas funções sintáticas e semânticas previamente adquiridas, tem escopo específico com o seu vestígio, estabelecendo, pois, com esse, um vínculo estreito. Essa vinculação estreita atribui ao constituinte focal três tipos de leituras semânticas distintas, a saber: a de contraste, na qual o foco nega uma afirmação; de exclusividade, cujo foco serve para “exclusivisar” um constituinte dentre outros com características semelhantes; ou de exaustividade, quando a posição SpecCP é preenchida por um dentre inúmeros outros constituintes que poderiam ter ocupado tal posição. Essas distintas leituras não acontecem com o predicador das SCC por causa do amplo escopo.

A fim de entendermos as três leituras, vejamos os três pares perguntas/respostas abaixo:

(25) 01: [Ana, Júlia ou Maria] são muito curiosas, mas há uma delas que não descobre o meu segredo. [Quem] não descobre?

É [Ana] que não descobre o meu segredo. (Leitura de Exclusividade9) 02: Muitas pessoas, certamente, podem descobrir o meu segredo. [Quem] será que

não descobre?

8 Sobre os tipos de foco falaremos mais adiante.

9 Conforme os “Cânones para o trabalho no plano das ideias”, estudado na página virtual

http://www.conexaorio.com/biti/revisitando/revisitando.htm#exaustividade, em 15/dezembro/2013, o cânon da

exaustividade diz que “[...] exaustividade [...] mapearia todo o universo de assunto, antecipando-se a futuras

necessidades de indexação [...]”. O cânon da exclusividade, entretanto, é apresentado como “as classes em um renque ... devem ser mutuamente exclusivas, ou seja, nenhuma entidade pode pertencer a mais de uma classe. Isto pode ser evitado se as classes de um renque forem derivadas de seu universo imediato, com base em uma e

única característica”. Assim, pois, também consideramos os constituintes focais com leituras semânticas de

exclusividade e exaustividade, tendo em vista a sutil diferença entre um e outro tipo de leitura focal, e o que

É [Ana] que não descobre o meu segredo. (Leitura de Exaustividade) 03: Alguém não descobre o meu segredo. É [Maria]?

Não. É [Ana] que não descobre o meu segredo. Leitura de Contraste)

Ao respondermos às indagações acima, utilizamos sempre a mesma sentença/resposta, na qual colocamos o constituinte Ana na posição de foco. Apesar de as respostas serem as mesmas, as leituras semânticas que os focos veiculam são diferentes. No primeiro par, há a leitura semântica do tipo de exclusividade, visto que dentre as três possíveis pessoas com características afins, como a de serem curiosas, por exemplo, exclusivamente uma não fará tal descoberta. Assim, para que o foco estreito tenha leitura semântica de exclusividade, é indispensável que somente concorram à posição SpecCP elementos que possuam as mesmas características. No caso do exemplo 01, de (25), os constituintes que disputam a posição de foco têm além do traço [+humano], também o traço [+curioso].

No segundo par, por sua vez, como a leitura semântica presente é a de exaustividade, a expressão muitas pessoas tem abrangência indefinida, do tipo que qualquer constituinte, desde que seja [+humano], independente de características afins, pode fazer tal descoberta. No exemplo 02, de (25), dentre um número indistinto de pessoas, apenas Ana é que não fará. Assim, vemos que há uma lista exaustiva de possibilidades, tendo em vista os possíveis descobridores do segredo não partilharem de características afins.

Por fim, no último par, a leitura realizada é a do tipo contrastiva, visto que uma segunda sentença serve de contraste ou correção àquilo que o indagador supunha, e que foi apontado como certo, numa sentença anterior. Nessa leitura, o foco sempre atribui uma negação ao que se é afirmado ou questionado anteriormente.

Diante dessa distinção semântica identificada no constituinte que ocupa a posição do foco nas SCC e SCl, não há como, pois, confundir as sentenças copulares comuns com as sentenças copulares clivadas.