• Nenhum resultado encontrado

4. Realização da Prática Profissional

4.1. Organização e Gestão do Processo de Ensino e da

4.1.6. Diferenciação Pedagógica: grupos homogéneos vs grupos

No momento em que senti que tinha estabelecido o controlo da turma e conquistado a confiança dos alunos procurei, a partir do início do segundo período, recorrer a mecanismos de diferenciação pedagógica adequados à heterogeneidade dos níveis de desempenho dos alunos da turma.

Numa fase inicial encarei a diferenciação pedagógica como sendo uma divisão dos alunos por níveis de capacidades no domínio das habilidades motoras. Essa foi a estratégia a que recorri na modalidade de Voleibol, lecionada no primeiro período. No início do segundo período reconsiderei esta opção pois compreendi que a diferenciação pedagógica nos jogos desportivos coletivos também pode ser efetuada através da interação de níveis de habilidade (formação de grupos heterogéneos).

Enquanto que no início do ano letivo optei por separar os alunos, tendo em conta o nível de habilidade, resultando na formação de grupos homogéneos, nem sempre o fiz. Esta opção inicial teve como objetivo aumentar os níveis de motivação dos alunos, principalmente os de nível mais avançado. Na realidade esta estratégia foi bem sucedida no grupo dos rapazes, isto porque foram visíveis níveis de empenhamento e motivação superiores comparativamente com as situações de aprendizagem em que os grupos eram heterogéneos. Contudo, esta situação não se verificou no grupo das raparigas, ou seja, os níveis de empenhamento e de motivação continuaram bastante baixos. Assim, uma das estratégias que adotei para tentar contrariar esta situação foi participar na tarefa, sem nunca perder a atenção ao resto da turma. Esta estratégia acabou por resultar visto que a minha presença no jogo permitiu aumentar o empenho e a motivação das

Realização da Prática Profissional

40

alunas. Contudo era crucial encontrar outras estratégias, isto porque um dos meus objetivos era melhorar os níveis de autonomia dos alunos, logo as alunas não poderiam estar dependentes da minha presença no jogo para se motivarem para a tarefa. Para isso, no início do segundo período, optei por formar grupos de alunos com níveis heterogéneos, ao nível das habilidades motoras, sem nunca esquecer as diferenças de cada um, criando objetivos e tarefas diferenciadas para cada nível dentro dos mesmos exercícios, possibilitando, assim, o desenvolvimento de determinados conceitos psicossociais, tais como o respeito e a cooperação, mas acima de tudo responsabilizá-los pelas suas próprias aprendizagens e pelas dos outros. Esta estratégia permitiu-me perceber que ser professor de Educação Física ultrapassa em muito o ser treinador, isto porque um dos principais objetivos do professor é formar pessoas capazes de se integrarem na sociedade, ao passo que um treinador, devido ao caráter competitivo em que está inserido, preocupa-se predominantemente com o rendimento relacionado com a melhoria ao nível das habilidades motoras.

Tenho a perceção que no início do ano letivo estava a desempenhar a função de treinador, preocupando-me principalmente com a melhoria das habilidades motoras e da Condição Física, mas, no momento em que percebi que o meu papel era de formador e influenciador de pessoas passei a olhar para o aluno na sua plenitude, procurando desenvolver neles diversas competências transdisciplinares como a cultura desportiva e os conceitos psicossociais.

No momento em que assisti à consciencialização dos alunos das suas próprias “fragilidades” e das dos seus colegas, verifiquei que o jogo passou a ser mais racional e menos intuitivo. Pela primeira vez senti que a minha “missão” estava a ser cumprida, ou seja, assistia a uma verdadeira aula de Educação Física onde todos os alunos, independentemente do seu nível de habilidade, interagiam entre si, respeitando-se e desenvolvendo, de forma apropriada, competências diversas.

Durante a UD de basquetebol foi possível verificar uma evolução considerável no nível de jogo dos alunos, face ao demonstrado em jogos

Realização da Prática Profissional

41

desportivos coletivos anteriormente lecionados, principalmente ao nível tático. Até no nível mais avançado (constituído essencialmente por rapazes) foi possível verificar uma evolução, isto porque os alunos consciencializaram-se de que o sucesso individual está intrinsecamente ligado ao sucesso coletivo, por isso, no momento em que começaram a jogar com as raparigas de forma coletiva, o nível de jogo melhorou significativamente.

Numa fase inicial do ano letivo, não impunha condicionantes nas situações de aprendizagem. Este facto fez com que os rapazes assumissem o controlo do jogo, recorrendo sistematicamente a ações individuais como forma de dar resposta ao objetivo do jogo, resultando em sucessivas perdas de bola e a um nível de eficácia bastante baixo. Esta situação não proporcionava igualdade de oportunidades aos alunos, pelo que era urgente encontrar uma solução para este problema. Para contrariar esta situação procurei incutir nos rapazes a “responsabilização” pela aprendizagem dos colegas com maiores dificuldades, sendo que foi através desta estratégia que o nível de jogo apresentado melhorou consideravelmente.

Os jogos desportivos coletivos são um excelente meio para trabalhar esta “responsabilização” anteriormente mencionada. Através da sua abordagem o professor tem a oportunidade de desenvolver competências transdisciplinares, isto porque devido à natureza do próprio jogo, os alunos necessitam de cooperar entre si para atingirem o sucesso. Mesmo os alunos com melhor nível de habilidade motora necessitam da ajuda dos colegas com maiores dificuldades para serem bem sucedidos.

Este entendimento foi fundamental ao meu desenvolvimento enquanto professor, isto porque passei a encarar o resto do ano letivo com um olhar diferente relativamente à disciplina da Educação Física. Compreendi que esta disciplina ultrapassa largamente a abordagem das diferentes modalidades coletivas ou individuais. Na verdade, as modalidades são apenas instrumentos que permitem alcançar objetivos mais alargados e em vários domínios.

O facto de ter conseguido aumentar os índices de motivação dos meus alunos, para a realização das aulas de Educação Física, foi muito importante na medida em que alcancei um dos propósitos do professor: envolver os alunos

Realização da Prática Profissional

42

de forma ativa no processo de aprendizagem. Para que isso acontecesse, os alunos tiveram que demonstrar uma atitude responsável para com as suas aprendizagens e a dos seus colegas. A questão da responsabilidade foi alvo de atenção da minha parte, isto porque os alunos, no início do ano letivo, apresentavam níveis de responsabilidade bastante baixos, daí a minha preocupação com a melhoria deste conceito psicossocial no processo de ensino-aprendizagem ao longo de todo o ano letivo.

Documentos relacionados