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4. ASPECTOS DEMOGRÁFICOS DA PRODUÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM BELO

4.7. Diferenciais de composição de resíduos sólidos urbanos

Após discutir a associação entre potencial de geração de resíduo e características socioeconômicas e demográficas das áreas de ponderação, seria desejável relacionar estas características ao tipo de resíduo produzido. No entanto como dissemos, não existem dados disponíveis para isso. Os dados construídos através dos estudos da SLU (Belo Horizonte 2004a) possuem significância apenas para o nível das Regionais Administrativas, ainda que as amostras tenham sido colhidas segundo distritos de coleta aleatoriamente selecionados dentro de cada Regional. Não é possível, no entanto adaptar estes dados a lógica de construção de nosso trabalho.

Com os dados disponíveis, portanto, é possível apenas investigar se existem, para cada Regional, indícios de associação entre características sócio- demográficas e os aspectos qualitativos da produção de resíduos domiciliares, isso é, se é possível dizer com os nossos dados se as diferenças sócio- demográficas se refletem em diferenças quanto a composição dos resíduos sólidos domiciliares.

TABELA 9: Belo Horizonte- Composição (%) da massa de resíduos sólidos domiciliares segundo as Áreas de ponderação do Censo Demográfico 20000

Orgânicos Recicláveis Perigosos

Barreiro 62,1 23,8 0,4 Centro-Sul 57,5 29,1 1,0 Leste 60,3 27,7 1,1 Nordeste 61,9 24,7 0,9 Noroeste 61,5 24,7 0,7 Norte 61,9 23,2 0,8 Oeste 60,3 25,7 0,6 Pampulha 64,5 25,8 0,7 V Nova 63,6 23,2 0,5 Belo Horizonte 61,6 25,3 0,7 Fonte (dados brutos): Belo Horizonte 2004a

O primeiro aspecto relevante a respeito da composição dos resíduos sólidos domiciliares em Belo Horizonte é a expressiva participação dos resíduos orgânicos na massa total recolhida pela SLU, com uma média para o município de

132 61,6%. Entre as Regionais o maior percentual de orgânicos na massa de resíduos

produzidos se verificou na Pampulha, 64,5%, e o maior percentual na Centro-Sul onde o conjunto dos orgânicos era 57,5% do total de resíduos (TABELA 9). Na Regional Centro-Sul ocorreu o maior percentual de recicláveis (29,1) e o menor na Norte e Venda Nova, 23.2% e 23.17%, respectivamente. Os resíduos perigosos representam uma parcela menor que 1% da massa total de resíduos sólidos domiciliares em Belo Horizonte, com maior participação na Leste.83

GRÁFICO 13: Belo Horizonte, 2004 – Composição dos resíduos sólidos domiciliares segundo Regionais Administrativas.

Fonte: Belo Horizonte 2004a

O teor de matéria orgânica do resíduo gerado no Brasil é reconhecidamente muito elevado. Mesmo nas regiões onde há elevada predominância concomitante de estabelecimentos comerciais e domicílios de renda média mais elevada, como é o caso da Regional Centro-Sul em Belo Horizonte, a presença deste tipo de resíduo pode ser considerada como excessivamente elevado se comparada a sociedades européias por exemplo. Dados da união européia84 mostram que o

83 Sabe-se que esta é região da cidade onde há maior abundancia de estabelecimentos de saúde.

Embora haja a coleta diferenciada de resíduos sólidos gerados pelos grandes estabelecimentos da área, pode ser que haja algum descarte dos mesmos na coleta domiciliar publica.

84 Disponíveis no Eurostat, site de informações e estatísticas da União Européia. http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal. Acesso em 26/05/2008.

133 percentual de orgânicos (incluídos restos de alimentos, podas e jardinagem) é

muito mais baixo em países como a Bélgica (38,95), frança (31,05), Irlanda (22,34) e Holanda (38,14).

Há indícios de que “o resíduo sólido urbano brasileiro ainda possui uma concentração muito elevada de matéria orgânica (sobras de alimentos, principalmente)... [em função da] falta de um sistema de distribuição eficiente de comercialização dos alimentos, [sendo este] o grande responsável pelo alto índice de resíduos orgânicos encontrado no lixo brasileiro” (Von Zuben 2001). Esta predominância de sobras alimentares entre os resíduos orgânicos, aliás, se confirma em Belo Horizonte, como podemos notar pelos dados de BELO HORIZONTE (2004a).

GRÁFICO 14: Belo Horizonte, 2004 – composição dos resíduos sólidos orgânicos segundo Regionais Administrativas.

Fonte: Belo Horizonte 2004a

Entre os recicláveis, predominam plásticos e papéis que formam juntos cerca de 20% da massa de resíduos seguidos por metais e vidros, cada um com uma média municipal próxima de 2,5% cada. Vale lembrar que estes componentes podem ser considerados, no contexto dos resíduos sólidos domiciliares, como advindos do consumo de embalagens para os diversos produtos adquiridos e

134 usados pelos membros do domicílio. Assim sendo, estes tendem a ser mais

abundantes naqueles que consomem mais intensamente e cujo consumo é mais intensamente mercado-orientado, isso é, predominantemente formado por produtos industrializados, sejam alimentos ou outros tipos de mercadorias. Finalmente, e repisando o terreno, é notório que o padrão de consumo de domicílios de menor tamanho médio tende a gerar proporcionalmente maior volume domiciliar per capita de embalagens.

GRÁFICO 15: Belo Horizonte, 2004 – estrutura de composição dos resíduos sólidos recicláveis domiciliares segundo Regionais Administrativas e grupos de materiais

Fonte: Belo Horizonte 2004a

A partir das observações acima sobre o padrão de renda, educação e composição domiciliar das áreas de ponderação e Regionais por extensão – não desconsiderando nossas próprias afirmações a respeito da heterogeneidade interna de cada uma destas – notamos adesão entre os padrões sócio- demográfico e de geração de resíduos recicláveis segundo Regionais. Centro-Sul, Leste e Pampulha são as Regionais com maior percentual de recicláveis (papel, plástico, metal e vidro).

135 Ainda que não em perfeita sincronia, há associação segundo as Regionais

Administrativas entre maior nível de renda, maior presença de domicílios unipessoais, casais sem filhos e domicílios com chefes maiores de 60 e a presença mais intensa de resíduos sólidos domiciliares recicláveis (GRÁFICO 16). O ideal seria verificar até que ponto isso se confirma com mais acerto ao nível das áreas de ponderação, já que como dissemos há forte heterogeneidade na composição sócio-demográfica das Regionais, mas infelizmente tal teste não é possível com os dados de que dispomos no momento.

GRÁFICO 16: Belo Horizonte, 2004 – Renda domiciliar per capita média, percentual de domicílios sem presença de filhos, unipessoais, chefiados por maiores de 59 anos e de resíduos sólidos recicláveis (PPVM) segundo Regionais Administrativas

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