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2 VERTENTES TEÓRICO-PRÁTICAS DO TRABALHO NO CAPITALISMO E NA ECONOMIA SOLIDÁRIA

2.3 A PROPOSTA DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

2.3.1 Diferentes Concepções da Economia Solidária

O termo Economia Solidária começa a ser estudado no campo acadêmico a partir da Década de 90, principalmente por Paul Singer, atual secretário da Secretaria Nacional de Economia Solidária - SENAES. A partir de seus estudos, inicia a Economia Solidária, tomando adeptos do mundo acadêmico que passaram a compor diferentes correntes, análises e intepretações sobre o tema. De um modo geral, o termo, apesar de acepções variadas que vão ao encontro “[...] da ideia de solidariedade, em contraste com o individualismo utilitarista que caracteriza o comportamento econômico predominante nas sociedades de mercado” (LAVILLE; GAIGER, 2009, p. 162).

As diferentes concepções sobre a Economia Solidária ora divergem, ora se complementam. O objetivo desse item é demonstrar algumas dessas compreensões e não findar o debate. De uma forma geral, para alguns autores, a Economia Solidária representa uma nova proposta de filosofia contrária ao capitalismo, proposta que visa desenvolver novas formas de relações sociais. O principal autor que compreende a Economia Solidária sobre essa concepção é Singer (2002). Além desse autor, Gaiger (2003) aponta mais dois autores com essa visão, Tiriba (1997) e Verano (2001). Sobre a concepção de Singer, ele aponta a Economia Solidária como sendo

[...] outro modo de produção, cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual. A aplicação desses princípios une todos os que produzem numa única classe de trabalhadores que são possuidores de capital por igual em cada cooperativa ou sociedade econômica. O resultado natural é a solidariedade e a igualdade, cuja reprodução, no entanto, não exige mecanismos estatais de redistribuição solidária de renda (SINGER, 2002, p. 10).

Para a Economia Solidária se efetivar como um novo modo de produção, esse fato dependerá de um conjunto de fatores “reais” para a extinção de um modo de produção como o capitalista. Os instrumentos mediativos da Economia Solidária possuem potencial em longo prazo para iniciar prospecções de mudança no sistema. Mas, percebe-se que a Economia Solidária “[...] não reproduz em seu interior as relações capitalistas, pois as substitui por outras, mas tampouco elimina ou ameaça a reprodução da forma tipicamente capitalista, ao menos no horizonte por ora apreensível pelo conhecimento” (GAIGER, 2003, p. 194). Deve ser reconhecido esse aspecto, pois a Economia Solidária ainda se utiliza dos processos mediativos do sistema econômico atual para o fomento e incentivo da Economia Solidária no Brasil, considerada por Laville e Gaiger (2009) como “ator da solidariedade democrática”.

A partir dessa perspectiva, percebemos com os autores Laville e Gaiger (2009), assim como nas suas produções individuais, uma outra compreensão sobre a Economia Solidária. Compreendem a Economia Solidária com um “modelo de produção”, que convive com o modelo de produção capitalista e, ainda, se relaciona. Na perspectiva do movimento social, a Economia Solidária é

[...] é um movimento social, que luta pela mudança da sociedade, por uma forma diferente de desenvolvimento, que não seja baseado nas grandes empresas nem nos latifúndios com seus proprietários e acionistas, mas sim um desenvolvimento para as pessoas e construída pela população a partir dos valores da solidariedade, da democracia, da cooperação, da preservação ambiental e dos direitos humanos. (CIRANDAS, 2011)

A partir dessa concepção, o movimento social aponta algumas vantagens para os trabalhadores que aderiram à Economia Solidária: a autogestão, a inteligência coletiva utilizada para o empreendimento, vinculação ao território, respeito às especificidades e culturas regionais e ao meio-ambiente (CONAES, p. 10). Outra concepção é a do Governo Federal, que se complementa com o do

movimento social. Com a inserção do movimento social de Economia Solidária no Governo Federal, por meio da criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAE, a Economia Solidária passou a ser percebida como “[...] o conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadores e trabalhadoras sob a forma coletiva e autogestionária” (MTE; SENAES, 2006, p. 11).

Nesse contexto de concepções de como a Economia Solidária se expressa, a relevância dela está na forma como valoriza o trabalhador como sujeito político, capaz de compreender, praticar e disseminar, por meio dos empreendimentos econômicos solidários - EES e instâncias de debates como fóruns, os princípios de solidariedade, igualdade, autogestão e democracia. Portanto, oportuniza que o trabalhador permita-se à compreensão de si e da realidade, prospectando ser agente capaz de realizar transformações no seu ambiente (DINIZ, 2007; SINGER, 2002).

O que se percebe é que, apesar das diferentes e complementares visões sobre a Economia Solidária, ela proporciona instrumentos para a prática de processos emancipatórios, que podem ser individuais e coletivos, além de oportunizar o aprendizado político imbuído de uma cultura diferenciada da do sistema capitalista, em um empreendimento. Portanto, há a necessidade de

[...] valorizar as experiências que nascem da auto-organização, que defendem os direitos básicos do trabalho e que apostam na associação e em soluções coletivas, formando o lastro de experiências e de convicções morais e intelectuais indispensáveis à construção de novos rumos para a sociedade (LAVILLE; GAIGER, 2009, p. 162).

Remonta-se a necessidade de incentivo à emersão de classes que possam enquadrar-se como revolucionárias. Marx (2008, p. 12) na Ideologia Alemã, aponta que a classe revolucionária “[...] surge desde o princípio não como classe, mas como representante de toda a sociedade”. Ou seja, a Economia Solidária é restrita ainda a uma parcela de trabalhadores que buscam condições dignas de trabalho e de vida, por meio de uma cultura que não seja a capitalista. Mas, mesmo assim, ainda não deve ser ignorada, pois toda “a luta pela afirmação dos direitos é hoje também uma luta contra o capital [...]” (IAMAMOTO, 2008, p. 118-119).

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