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Ao contrário do que foi proposto inicialmente – trabalhar com duas turmas - optamos por realizar o estudo em três turmas do ensino médio. A opção por vivenciar pelo menos três turmas de segundo ano com realidades distintas foi tanto desafiadora quanto compensadora.

No início do estudo, objetivávamos trabalhar com uma turma do ensino médio regular do Colégio Estadual e uma turma também de ensino médio regular de um Colégio do Campo que, a princípio, seria o Colégio Jaelson Biácio ( em Piquirivaí) – escola em que a pesquisadora realizou toda a sua trajetória escolar e trabalhou entre os anos de 2010 e 2015 na função de bibliotecária. Todavia, logo no início da elaboração do plano de unidade, os planos logísticos – se é que podemos assim chamar – foram repensados e realinhados. Desta forma, o trabalho passou a ser desenvolvido não em duas, mas em três turmas, e o Colégio do Campo foi trocado. Essas mudanças acarretaram alguns pontos positivos e outros limitantes, mas, igualmente, numa grande oportunidade para o crescimento e enriquecimento acadêmico e profissional da pesquisadora e futura professora.

O Colégio Estadual permaneceu na proposta. Localizado no centro de Campo Mourão, é considerado um Colégio de grande porte. Abrange alunos do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio e dispõe da modalidade de Curso Técnico em Administração e Formação Inicial nível Magistério. As turmas são, em sua maioria, numerosas, com média de 30 alunos por sala. Nesta escola optamos

por desenvolver o estudo em duas turmas de segundo ano, cada uma com suas particularidades.

Uma das turmas de segundo ano do Colégio Estadual em que a pesquisa foi realizada pertence ao ensino médio regular, período noturno. Possui 35 alunos matriculados, mas somente 18 estão frequentando as aulas ativamente - os demais desistiram ou foram transferidos de escola. A idade dos estudantes varia entre 16 e 29 anos. As aulas da disciplina de Química desta turma são ministradas por uma professora do Quadro Próprio do Magistério (QPM) do Estado as quartas-feiras, no horário da terceira aula (das 20:25 às 21:05 horas), e as sextas-feiras, no horário da primeira aula (das 18:45 às 19:35 horas).

A outra turma do segundo ano do Colégio Estadual em que a pesquisa foi realizada possui o ensino técnico em Administração integrado ao ensino médio, o qual é oferecido no período matutino. Possui 30 alunos matriculados, mas somente 23 estão frequentando ativamente as aulas - os demais, assim como na turma descrita acima, desistiram ou foram transferidos. A idade dos estudantes varia entre 15 e 16 anos. As aulas da disciplina de Química dessa turma - ministradas pela mesma professora da outra turma já descrita - são geminadas, ou seja, são ministradas no período da terceira e quarta aula (das 09:10 às 10:05 e das 10:20 às 11:05 horas) às segundas-feiras. Em alguns momentos esse fato foi positivo e em outros, limitante. No sentido positivo, tínhamos um tempo maior para o desenvolvimento das discussões e atividades; no sentido negativo, quando não havia aula, seja devido a feriados ou reuniões, os alunos perdiam duas aulas de Química de uma só vez.

Já no Colégio do Campo Joana D’arc, a turma do segundo ano do ensino médio regular em que a pesquisa foi realizada possui 18 alunos matriculados, mas apenas 13 estão frequentando ativamente as aulas – alguns foram transferidos, mas a maioria desistiu. Quando perguntado à diretora e pedagoga da escola os principais motivos do número elevado de desistências, as mesmas indicaram o fator trabalho como limitador. Tivemos também a informação por uma pessoa envolvida na escola de que tratava-se de uma turma “fraca”. Ao contrário do que muitos poderiam pensar, para nós este foi mais um dos motivos que nos impulsionaram a desenvolver a atividade com esses alunos.

A turma é composta, quase que na sua totalidade, por alunos que auxiliam suas famílias no trabalho do campo ou que trabalham na cidade para ajudar no sustento da casa. A idade dos alunos varia entre 16 e 19 anos. As aulas da disciplina de Química desta turma são ministradas por uma professora do Processo Seletivo Simplificado (PSS) do Estado - as terças-feiras, no horário da quinta aula (das 22:05 às 23:00 horas), e as sextas-feiras, no horário da terceira aula (das 20:20 às 21:10 horas).

O Colégio do Campo Joana D’arc fica localizado em São Vicente, distrito do município de Araruna e a 35 km de Campo Mourão. Possui cerca de 1.200 habitantes, situados na zona urbana e também na zona rural (aqui a maior parte). Para se chegar até ele faz-se uma parte do trajeto por rodovia e o restante (cerca de 8 km) por estrada não pavimentada. As instalações da escola são em um prédio pertencente ao Estado do Paraná, mas são divididas com a Escola Municipal. O ensino fundamental é oferecido no período vespertino e o ensino médio no período noturno. À noite, o Colégio conta com três turmas, uma pra cada ano do ensino médio, abrangendo cerca de 50 alunos.

Em muitos momentos fomos questionados sobre o porquê escolher a escola do campo do distrito de São Vicente ainda mais sabendo da dificuldade de se chegar até à Escola, e a resposta foi a de que são em realidades assim, consideradas precárias econômica, social e culturalmente, que os estudantes mais carecem de acesso e apropriação ao conhecimento científico.

Sobre as diferentes realidades, Gasparin (2009) comenta que

[...] na construção do conhecimento escolar, que a ciência também é um produto social, nascida de necessidades históricas, econômicas, políticas, ideológicas, filosóficas, religiosas, técnicas etc. Todo conteúdo, portanto, resveste-se dessas dimensões, as quais devem ser tratadas juntamente com a dimensão dita científica. (GASPARIN, 2009, p. 38)

Além disso, optamos por realidades distintas para que a validade dos dados fosse dada de forma mais completa. A opção por desenvolver a mesma atividade em contextos diferentes teve como incentivo o fato de que “se o estudo pretende retratar o fenômeno de forma completa, é preciso que os dados sejam coletados

numa variedade de situações, em momentos variados e com fontes variadas de informações” (LÜDKE e ANDRE, 2014, p. 61).

Assim, com a escolha das diferentes realidades esclarecida, passamos para discussão das demais etapas do estudo.