4. AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS NA EDUCAÇÃO, NA PERSPECTIVA DE
4.1 RESULTADO DA ANÁLISE DOS ARTIGOS
4.1.2 Diferentes tipos de mediação
Diante dos impasses educacionais contemporâneos, a Teoria Histórico-Cultural
também tem contribuído para as discussões, em diferentes frentes de atuações
educacionais. Dentro das teorias da aprendizagem, na perspectiva vigotskiana, o
professor é aquele que promove a mediação do aluno com o conhecimento disponível,
influindo em seu desenvolvimento (NEVES; DAMIANI, 2006). Para esse fim, a
mediação revelou-se como solução eficaz, segundo as pesquisas, em diversas
situações. Encontramo-la nas tecnologias da informação, na educação inclusiva, nas
mediações semióticas e na metacognição. Nesses processos educativos, percebemos
o importante papel do professor como mediador constante entre o aluno e o objeto,
em suas diversas formas.
Nas tecnologias da informação, ela tem sido amplamente usada em sala de aula
para atender a diversas demandas. Na construção de objetos de aprendizagem,
inspirados da Teoria Histórico-Cultural, percebemos que os participantes da pesquisa
relatada (SILVA; ALVES; SANTOS; 2012) conseguiram desenvolver relacionamentos
que vão além das máquinas. Os autores concluíram que:
O que faz uma atividade ser boa, para ser interessante, é a forma como esta é abordada, a situação problema apresentada ao aluno.
Muitas discussões a respeito do uso dos computadores no ensino de uma forma geral, ainda são realizadas, pois há muitos pontos positivos e muitos negativos do uso integralmente de computadores no ensino. Porém, não adianta usar o computador no ensino se o professor não mudar o método de ensinar. O computador deve ser visto como uma ferramenta de intervenção no ensino, e não como a salvação do ensino e que só com o seu uso os alunos conseguirão compreender algum conteúdo. (2012, p. 7).
Mais uma vez, fica evidenciado o papel mediador do professor nas relações
interpessoais escolares. A questão está em como se faz a mediação. Isso exige
cuidado, estudo e desenvolvimento por parte do educador.
Além dessa experiência, Mello e Teixeira (2012) puderam perceber o diferencial
da integração da teoria vigotskiana na sala de aula, com a interação colaborativa, por
meio das tecnologias de rede. A internet, como o próprio nome já diz, é uma rede de
relações que pode ser muito proveitosa, dependendo do uso que os estudantes façam
dela. Com alunos do 4º ano do Ensino Fundamental, os pesquisadores propuseram a
integração das tecnologias digitais da rede afim de valorizar a participação dos
envolvidos no processo de relações sociais. A conclusão dos pesquisadores é
reveladora, na perspectiva dessa pesquisa:
Se o processo de desenvolvimento é influenciado pelas interações realizadas pelos sujeitos, então as vivenciadas no ciberespaço também são significativas, facilitando, entretanto, a colaboração de todos os participantes. Se a proposta prevê uma apropriação participatória, existe grande chance de que os envolvidos adotem uma postura ativa no processo uma vez que podem interagir com maior ou menor intensidade, tendo sempre como ponto fundamental a rede que se estabelece, a cumplicidade e a nova dinâmica de aprender e de se desenvolver. (MELLO; TEIXEIRA, 2012, p. 14).
Além dessas análises, as propostas de meios de comunicação virtuais,
oferecidos pelas tecnologias da informação consideram a mediação como “A visão
mais importante para compreendermos as teorias vygotskyanas sobre o
funcionamento do cérebro humano.” (MARTINS; MOSER, 2012, p. 9). Nesse viés,
Marta Kohl de Oliveira nos esclarece que, segundo Vigotski, “Mediação em termos
genéricos é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a
relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento.”
(OLIVEIRA, 1997c, p. 26). Complementar a isso, está o conceito de que, há uma
conjunção das formas externas dos signos com as funções psíquicas. Sobre isso,
identificamos que:
[...] o sistema simbólico externo impõe ao cérebro mais de uma estrutura de interface. Ele impõe estratégias de busca, novas estratégias de armazenamento, novas rotas de acesso à memória, novas opções tanto no controle quanto na análise do próprio pensamento de cada um (WERTSCH, 2010 p. 124).
A verdade é que as associações mentais prováveis são incalculáveis e
constituem ainda um mistério para a neurociência. (DAMÁSIO, 2006). Essas
considerações nos colocam diante de alunos com capacidades tecnológicas,
bombardeados por informações e por opções que deixam o ensino tradicional em uma
desvantagem tremenda. Uma forma proposta pelos autores é a de um trabalho
planejado pelo professor, com uma interface antecipada com os alunos, de modo a
gerar neles a curiosidade e liberar a dopamina necessária para o momento do
aprendizado.
As contribuições apresentadas pelos artigos revelaram também as
possibilidades de implantação de estratégias educacionais que favoreçam o exercício
da cidadania de pessoas com deficiência visual. (NUERNBERG, 2008). Após
minucioso exame das funções psicológicas superiores, em relação ao processo
simbólico e ao aprendizado de cegos, baseando-se na Teoria Histórico-Cultural, o
autor traz-nos uma importante reflexão:
O desenvolvimento das funções de atenção concentrada, memória mediada, imaginação, pensamento conceitual, entre outras, deve ser a prioridade da educação oferecida a esses sujeitos, tanto no âmbito do ensino especial quanto no ensino regular. (NUERNBERG, 2008, p. 313).
Diante dos fatos abordados na pesquisa e de das prioridades do ensino especial
e regular o autor conclui que:
Acima de tudo, as contribuições de Vigotski aqui pontuadas revelam a complexidade e a plasticidade do sistema psicológico humano. A pluralidade de formas de organização psíquica e a diversidade de vias para a constituição do sujeito pela ação mediada permitem que, paralelamente aos avanços produzidos nas ciências biomédicas, sejam criadas as condições para a superação da deficiência no plano social. (Id., p. 314).