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Dificuldades advindas das Intervenções Assistidas por Animais

5.3 POSSIBILIDADES E LIMITES DAS INTERVENÇÕES ASSISTIDAS POR

5.3.2 Dificuldades advindas das Intervenções Assistidas por Animais

Além das facilidades, é importante que os profissionais da Psicologia possam identificar também, as dificuldades advindas da utilização do animal como recurso de trabalho. Para que estes, possam ter maior clareza das possibilidades e limitações deste recurso. A identificação das dificuldades advindas das IAA, pode fornecer subsídios para que a Psicologia enquanto ciência e profissão possa superar esses limites, promovendo ações de organização, sistematização e regulamentação voltadas as práticas em IAA. Contribuindo para que estas, possam ser um recurso útil e favorável para o trabalho do psicólogo.

Com o objetivo de fornecer este subsidio, será apresentado a seguir, os tipos de dificuldades identificados pelos participantes da pesquisa, advindos da utilização do animal como recurso de trabalho em Psicologia, representadas no Quadro 16.

Quadro 16– Tipos de Dificuldade identificadas pelos participantes do Grupo A e do Grupo B advindos da utilização do animal como recurso de trabalho em Psicologia.

Fonte: elaborado pela autora, 2012.

O Quadro 16 representa os tipos de dificuldades, identificadas pelos participantes do Grupo A e do Grupo B, advindos da utilização do animal como recurso de trabalho em Psicologia. É possível perceber que cinco subcategorias aparecem como as mais citadas, todas com três participantes respondentes, são elas: Falta de conhecimento e Falta de

regulamentação, citadas apenas por participantes do Grupo A (A1, A3 e A4); Espaço físico,

citada por participantes de ambos os grupos, sendo dois do Grupo A (A3 e A4) e um do Grupo B (B1); Psicólogo não gostar de animal, citada apenas por participantes do Grupo B, (B2, B3 e B4); Manejo do animal, também citada apenas por participantes do Grupo B (B1, B3 e B4). Em seguida com dois participantes respondentes está a subcategoria Trabalho em

equipe, citada apenas por participantes do Grupo A (A3 e A4). E as subcategorias Dificuldades Financeiras, Resistência das instituições e Resistência do sujeito foco da intervenção, foram citadas apenas por um sujeito. Sendo que as duas primeiras por

participantes do Grupo A (A3 e A1) respectivamente e a ultima por um participante do Grupo B (B1). É importante destacar que o sujeito A2, apresenta que não identifica dificuldades advindas da utilização do animal como recurso de trabalho, pois em todas as suas IAA, a mesma foi convidada pelas instituições onde as realizou. Um outro fato a ser destacado é que este sujeito só realizava intervenções na modalidade Atividade assistida por Animais.

A subcategoria Falta de conhecimento e Falta de regulamentação estão intimamente relacionadas. Estes, talvez sejam, os principais dificultadores das IAA, pois dificultam a ampliação da percepção dos profissionais da Psicologia em identificar no animal um recurso útil e eficaz para o seus trabalho. Essas subcategorias são identificadas pelos

Categoria Subcategoria Sujeitos

Grupo A Grupo B

Tipos de dificuldades

Falta de conhecimento A1, A3, A4 -

Falta de regulamentação A1, A3 e A4 -

Espaço Físico A3 e A4 B1

Psicólogo não gostar de animal - B2, B3 e B4

Manejo do animal - B1, B3 e B4

Trabalho em equipe A3 e A4 -

Financeira A3 -

Resistência das instituições A1 -

Resistência do sujeito foco da

intervenção -

sujeitos do Grupo A como sendo dificultadora de sua prática profissional. Esdes sujeitos identificam que tanto a falta de conhecimento da população em geral, quanto dos profissionais que realizam as IAA, dificultam o reconhecimento das práticas profissionais que utilizam animais. Como apresenta A3:

[...] Quando a gente fala da questão do cães especialmente, a comprovação, néh! melhorar. Dos cavalos também, mas você melhorar a questão da comprovação dos resultados, e você ter a profissionalização da utilização do animal na terapia. Porque eu acho que é uma coisa que a gente não tem, a gente ta trabalhando muito na lógica do voluntariado, ai! Eu vou tentar fazer aqui uma coisa. A gente não tem ainda esse reconhecimento, e eu acho que essa é uma dificuldade.[...] (sic)

Essa Falta de conhecimento é gerada pela pouca produção cientifica na área da Psicologia, relacionada à IAA. Geralmente os profissionais que utilizam este tipo de prática no Brasil, seguem como base modelos norte americanos, bem como apresenta as instruções do livro de Dotti (2005), no que se refere à implantação de um programa de TAA, que segundo o autor seguem parâmetros da Delta Society. Esses profissionais acabam por adaptar estes modelos à realidade de nosso país. Porém, essa adaptação são feitas conforme o sujeito A3 na base da tentativa e erro, ou seja, primeiro o profissional realiza a intervenção e depois avalia o que foi positivo, e o que foi negativo e vai aprimorando conforme vai praticando. Não havendo neste sentido, uma distinção clara sobre como cada processo de intervenção assistida por animais deve ser conduzida. Em sua pesquisa, Garcia (2009) identifica a necessidade de capacitação dos psicólogos que utilizam, ou pretendem utilizar, intervenções assistidas por animais, pois não existem parâmetros definidos no que se refere à atuação em intervenções assistidas por animais, com exceção das práticas em Equoterapia.

As práticas interventivas com utilização de cavalos, constituem uma realidade diferenciada das demais IAA. Elas possuem a supervisão da ANDE-BRASIL, uma entidade civil sem fins lucrativos de caráter filantrópico, que normatiza, supervisiona, controla e coordena as prática de Equoterapia das entidades vinculadas (ANDE-BRASIL, 2012). Portanto, além de fornecer subsídios no sentido de organizar estas práticas, essa entidade oferece capacitação aos profissionais que possuem o interesse em atuar com Equoterapia.

Existem também cursos oferecidos por entidades que atuam em IAA, para a formação de pessoas (voluntários), estudantes e profissionais que desejam atuar com IAA (INATAA, 2012). Esses cursos contribuem para a capacitação do profissional que deseja atuar com IAA, mas é preciso ir além, para que os profissionais demais IAA sejam

efetivamente instrumentalizado, a exemplo da Equoterapia é necessário uma organização dessas práticas.

O processo de capacitação dos profissionais só será possível a partir do momento que houver uma regulamentação das práticas interventivas assistidas por animais no Brasil, a exemplo do que ocorreu com a Equoterapia. E isso só será possível quando houver subsídios científicos suficientes para embasar esta regulamentação. Portanto, a produção de conhecimento científico é muito importante nesta área, e os profissionais da Psicologia constituem uma pequena parcela na produção cientifica brasileira. Essa afirmação está pautada no levantamento de literatura realizado para a construção deste trabalho. Isso também reflete na pouca utilização das práticas interventivas com uso de animais. Um outro, fato que evidencia essa falta de conhecimento são os dados contidos nos Quadros 15 e 16, onde a maior parte dos profissionais do Grupo B, demonstram dificuldades em identificar as facilidades e dificuldades das IAA.

A produção de conhecimento acerca das IAA além, de promover uma ampliação da percepção dos profissionais da Psicologia, com relação aos aspectos envolvidos nesse processo, facilitariam a regulamentação destas práticas; e ainda resolveria algumas das dificuldades citadas nas demais subcategorias apresentadas pelos sujeitos de pesquisa. Como é o caso das subcategorias Resistência das Instituições onde ocorrem as intervenções,

Resistência do sujeito foco das intervenções, e ainda as Dificuldades Financeiras. De acordo

com os participantes do Grupo A, há uma resistência por parte das instituições, pois existe uma concepção de que o animal pode trazer contaminação, que o animal é sujo e uma série de pré-conceitos. Que poderiam ser quebrados a partir do momento que a produção de conhecimento esclareça estes aspectos, de que o animal tem todo um acompanhamento veterinário e uma série de cuidados de higiene. Assim como minimizaria a ocorrência de resistência dos sujeitos foco das intervenções, uma vez que esses, teriam clareza de como ocorre o processo. Nesse caso, há de se considerar as pessoas que não gostam, ou não tem afeição por animais, mas o esclarecimento das práticas, da função do animal, de como ocorre o processo, poderia minimizar a ocorrência de resistência por parte destes sujeitos. Muito embora, os participantes do Grupo A, apresentaram que adesão, por parte das pessoas atendidas, as práticas interventivas com uso de animal é muito boa. E por fim, a produção de conhecimento e regulamentação das práticas poderiam gerar incentivos do governo para a implementação de IAA, em instituições públicas, atendendo assim a uma diversidade de demandas, e diminuindo os custos do profissional que realiza estas intervenções.

As demais subcategorias, representam dificuldades de ordem operacional, como:

Manejo do Animal, Espaço físico, Trabalho em equipe e o Psicólogo não gostar de Animais.

Essas dificuldades, não são exclusivas apenas da utilização do animal como recurso de trabalho, pois qualquer recurso que o profissional da Psicologia for utilizar, ele vai encontrar dificuldades de ordem operacional. Cada recurso possui suas possibilidades e limitações. A questão do Manejo do animal, como qualquer outra técnica, o profissional vai ter que estudar, aprender como utilizá-la, com uma única diferença, o animal é um ser vivo. Com relação ao

Espaço Físico, existem algumas dificuldades no caso de alguns animais, como os de grande

porte, mas, assim como qualquer outro recurso, ele vai ter que adequar a sua realidade. Como em uma dinâmica de grupo, por exemplo, onde muitas vezes o profissional tem um número muito grande de pessoas e um espaço reduzido, ele vai ter que adaptar aquela realidade, assim como no trabalho com o animal. O Trabalho em equipe, também não é exclusivo da utilização do animal, portanto é uma dificuldade do profissional e não do recurso propriamente dito. Muitos profissionais possuem dificuldade em trabalhar em equipe, em montar um plano de ação coletivo, mais isso é superável. Já o Psicólogo não gostar de Animais, assim como qualquer outro recurso de trabalho, o profissional tem opção de escolha, geralmente quem escolhe trabalhar com o animal, é porque tem afinidade com o mesmo.

Para que os profissionais da Psicologia possam identificar o animal como um recurso útil, seguro e eficaz, é necessário que as IAA sejam organizadas e estruturadas a partir de um planejamento. Uma vez, que estas se configuram como uma prática cientificamente nova, com pouco mais de cinqüenta anos, pouco explorada e com grandes lacunas a serem preenchidas. Principalmente no que se refere a: como realizar IAA? Porque realizar? Com quem? Quais os efeitos desta intervenção? A identificação destes fatores colaboram para a ampliação da compreensão das variáveis envolvidas no processo de IAA, auxiliando na estruturação e sistematização destas práticas.

De acordo com Garcia (2009), não existe uma orientação especifica sobre como deve ser conduzida a prática da utilização de animais como recurso de trabalho do psicólogo. O que há disponível na literatura existente, segundo o autor, são instruções que na maioria das vezes são direcionadas a programas de visitação utilizando animais, a exemplo das existentes no livro de Dotti (2005). Este livro segue padrões de normas americanas, principalmente da organização internacional Delta Society. Nele constam procedimentos para a implantação e realização de programas de IAA, nas modalidades de AAA e TAA. Esses procedimentos versam sobre a estrutura da organização responsável pelas intervenções; critérios para o trabalho, tais como profissionais envolvidos, animais, demandas, dentre outros aspectos

envolvidos nas IAA. Embora estes procedimentos possam contribuir para a orientação de profissionais que atuam ou desejam atuar com IAA, eles possuem uma base pautada no voluntariado ou em organizações do tipo não governamentais (ONGS). Porém, o animal pode ser um recurso a ser utilizado como qualquer outro instrumento de trabalho do psicólogo, e como qualquer outro instrumento, requer estudos, organização e sistematização, principalmente com relação à regulamentação do animal. O que atualmente não existe, com exceção da Equoterapia, devido à falta de estudos, e de estruturação das IAA.