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Dificuldades da experiência prática e tentativas de resolução

No documento O cibercrime: desafios e respostas do direito (páginas 157-160)

Capítulo II – Cibercrime

5. A Cibercriminalidade no plano internacional

5.2. Dificuldades da experiência prática e tentativas de resolução

Como vimos no ponto anterior, é fundamental que sejam tomadas medidas de prevenção não só por parte da União Europeia, mas por parte de todos os Estados, no combate à Cibercriminalidade. No entanto, colocam-se vários entraves a esta atuação. Nos pontos seguintes destacamos as principais dificuldades no combate à Cibercriminalidade:

 A transnacionalidade, com a ausência de fronteiras no mundo digital torna-se quase impossível identificar os agentes, os seus ataques e os locais de onde provêm esses ataques.412

 Os diferentes tipos de criminalização que aliados à transnacionalidade dificultam a aplicação de uma única jurisdição e, consequentemente, a atuação e cooperação internacional.413

 A ausência de legislação especificamente tecnológica, ou seja, as leis criminais são tradicionalmente criadas para a proteção de objetos materiais e não de objetos imateriais ligados ao Cibercrime, como dados e informações digitais.414

 O aumento de ataques informáticos. Graças à proliferação de novos sistemas informáticos e consequentemente, de novas formas de crimes tecnológicos,

412 O Cibercrime não pode ser considerado um “novo” tipo de crime que é capaz de transpor várias

jurisdições e leis, já que existem outros exemplos como: o tráfico de pessoas, drogas ou armas, que frequentemente “circulam” entre várias fronteiras e Estados. No entanto, o perigo dos ataques de

cibercrime é que podem abranger várias jurisdições, em segundos. UNODC, United Nations Office on

Drugs and Crime, Comprehensive Study on Cybercrime, Draft, February 2013, United Nation, New York, 2013, p. 56.

413

Um exemplo: Um cidadão da Oceânia fez um “upload” de um documento legal que continha expressões de ódio, num servidor do seu próprio país. Foi feito download desse documento num país europeu. Posteriormente, quando o cidadão viajou para esse país europeu, foi detido e sentenciado por tais atos, que não constituíam crime no seu país de origem. O caso foi discutido. No entanto, o Supremo Tribunal Federal do país europeu susteve a mesma sentença. Argumentou, que, embora o agente não tivesse atuado nem no país europeu, nem tenha enviado o referido ficheiro para o país europeu, no entanto, ameaçou a paz pública no território, tal como exigido pelo estatuto relevante. O Tribunal salientou, porém, que a interpretação não poderia ser generalizada para outros estatutos sobre conteúdo ilegal. (Tradução livre). UNODC, United Nations Office on Drugs and Crime, Comprehensive Study on

Cybercrime, Draft, February 2013, United Nation, New York, 2013, p. 56, apud., Judgement of the

German Bundesgerichtshof of 1 December 2000 (1 StR 184/00, BGH MMR 2001, pp.228 et seqq.)

414 Por exemplo: o conceito de “roubo” tem o mesmo significado em várias leis nacionais de vários

países. Mas o “roubo” de dados ou informações digitais, por exemplo, pode não fazer parte do enquadramento do tipo legal de “roubo”. Este exemplo demonstra a necessidade de, em algumas áreas, ser feita uma adaptação doutrinária às novas informações tecnológicas. (Tradução livre). UNODC, United Nations Office on Drugs and Crime, Comprehensive Study on Cybercrime, Draft, February 2013, United Nation, New York, 2013, p. 51 apud., Sieber, U., Straftaten und Strafverfolgung im Internet, in

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assistimos ao aumento destes ataques, bem como ao aumento da gravidade dos mesmos.

 O aumento do número de agentes criminosos que atuam isoladamente ou em grupo.

 A fraca capacidade de alerta e de resposta, face a este tipo de crimes informáticos. Na maioria dos casos, os ataques informáticos acontecem muito tempo antes de ser dado o alerta para o perigo, não sendo desde logo percetíveis. E, quando o são, é necessário desencadear uma série de mecanismos que dependem da atuação de várias entidades, o que gera uma lentidão dos meios de defesa. Como acontece, por exemplo, no caso das bases de dados, das operadoras telefónicas, dos registos de IP.415

 A maior fluidez dos elementos de prova, que aliada à facilidade com que estes dados podem ser apagados ou alterados, torna difícil o combate a este tipo de ataques.416

 O mau uso dos meios tecnológicos por parte dos cidadãos. O aumento da exposição pública, o descuido e o desinteresse em salvaguardar informações e dados pessoais são outro dos pontos que mais têm preocupado as autoridades. Casos como a pedofilia e a pornografia infantil são exemplos de crimes que aumentaram de forma exponencial nos últimos tempos. 417

Perante estas dificuldades, a Europa permanecerá vulnerável se não for feito um esforço substancial para melhorar as capacidades, os recursos e os processos públicos e privados para prevenir, detetar e dar resposta aos incidentes resultantes da Cibercriminalidade.

415 São claros exemplos de cooperação entre os próprios organismos e os órgãos de defesa no combate ao

Cibercrime, que, no entanto, não conseguem dar uma resposta rápida, já que esta cooperação padece

ainda de muitos formalismos.

416 Os mecanismos de governação só serão verdadeiramente eficazes se todos os participantes puderem

trabalhar com informações fiáveis, condição esta que é de extrema importância para os governos, já que são os principais responsáveis por garantir a segurança e o bem-estar dos cidadãos. (JOIN (2013) 1 final),

Comunicação Conjunta ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões, “Estratégia da União Europeia para a cibersegurança: Um ciberespaço aberto,

seguro e protegido”, Bruxelas, 7.2.2013, p.6.

417 Paralelamente surgiram novas ferramentas capazes de ocultar este tipo de crimes, como é o caso da

criptografia. Serve para esconder pornografia e demais materiais ofensivos em arquivos ou durante a sua

transmissão. Conjunto de técnicas que permite tornar incompreensível uma mensagem originalmente escrita com clareza, de forma a permitir que apenas o destinatário a decifre e compreenda. Pereira, Joel Timóteo Ramos, Compêndio Jurídico da Sociedade da Informação, Quid Juris? Sociedade Editora, Lisboa, Outubro, 2004, p. 1033.

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Como tentativas de resolução, destacamos:

 O desenvolvimento da cooperação entre as várias entidades, quer a nível internacional quer a nível nacional, com responsabilidades na área criminal de modo a permitir uma eficaz investigação dos crimes, a conservação do material probatório (como preveem os artigos 12.º e seguintes da Convenção sobre o Cibercrime), a captura dos criminosos e o seu efetivo sancionamento.

 Os direitos individuais não podem ser assegurados sem redes e sistemas seguros. Assim, é necessário que toda a partilha de informações, quando estejam em causa dados pessoais, respeite a legislação da União Europeia sobre proteção de dados e tenha plenamente em conta os direitos individuais neste domínio. Desta forma, todos os intervenientes relevantes sejam autoridades públicas, o setor privado ou os cidadãos individualmente, têm de adotar medidas para se protegerem418.

A adoção de legislação sobre Cibercrime que permita:

1. Definir padrões claros de comportamentos a adotar no uso de aparelhos tecnológicos;

2. Dissuadir os infratores e proteger os cidadãos;

3. Facilitar as investigações criminais, mas protegendo a privacidade dos utilizadores;

4. Garantir procedimentos criminais justos e efetivos;

5. Requerer padrões mínimos de proteção em áreas como manipulação de dados e retenção;

6. Facilitar a cooperação entre países sobre matérias criminais, como o

Cibercrime e provas eletrónicas.419

Em face do exposto, concluímos que a adoção de novas medidas legislativas terá um papel fundamental na prevenção e combate à Cibercriminalidade, abrangendo várias áreas: criminalização, poderes processuais, jurisdição, cooperação internacional e responsabilidade dos prestadores de serviço (Internet Service Providers).

418

(JOIN (2013) 1 final), Comunicação Conjunta ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité

Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões, “Estratégia da União Europeia para a

cibersegurança: Um ciberespaço aberto, seguro e protegido”, Bruxelas, 7.2.2013, p.2.

419

(Tradução livre). UNODC, United Nations Office on Drugs and Crime, Comprehensive Study on

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Capítulo III - A resposta do Direito à Cibercriminalidade

No documento O cibercrime: desafios e respostas do direito (páginas 157-160)

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