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Capítulo IV – Resultados

4.1 Estudo bibliométrico

4.2.3 Dificuldades na gravidez

Esse eixo temático tratou de diferentes dificuldades que as gestantes relataram enfrentar ao longo da gravidez, tanto em algum período quanto durante toda a gestação. Foram encontradas 12 categorias: falta de apoio, relação com o companheiro, medo da não aceitação da gestação pelos

pais, mudanças estéticas, sintomas físicos da gestação e mudanças no funcionamento do corpo, mudanças emocionais, intercorrências na gestação, medo do parto, dificuldades financeiras, mudanças de hábitos e lazer, insegurança/preocupações com tarefas da maternidade, mudanças nos planos/projetos de vida. As categorias serão detalhadas a seguir.

Na categoria falta de apoio, as falas de duas participantes foram inseridas. Estas relataram não se sentirem suficientemente apoiadas ao longo da gestação, o que acarretava sentimento de solidão e questionamentos sobre suas capacidades de lidar adequadamente com tantas mudanças.

Eu achava que o essencial mesmo era o apoio e a companhia dele [pai do bebê]. Agora que eu tô necessitando mais, porque ele se afastou de mim (...) Aí é que ele que tá pulando fora. É que é agora que eu tô precisando, porque já vai mudar tudo na minha vida (P1).

Relação com o companheiro teve quatro menções e constituiu outra categoria, cujos relatos expressaram o desinteresse do companheiro pela gestação, bem como dificuldades do pai do bebê de assumir responsabilidades relativas à gestação e à vinda do bebê, além de dificuldades na relação conjugal: “Agora, no final da minha gestação é que tá vindo os problemas outra vez. Questões do pai. Parece que pesou a responsabilidade. Agora ele não tá querendo mais ficar comigo. Já procurou outra pessoa, já não tá mais comigo” (P1); “Tá acompanhando nada. Tá mais na dele. Hora dessa, acho que ele tá até, acho que tá dormindo lá” (P18).

Outra categoria foi denominada medo da não aceitação da gestação pelos pais, com a inserção de cinco relatos. Gestantes dessa categoria disseram ficar tensas, ansiosas e ter dificuldades de lidar com a revelação da gravidez para os pais por medo desta não ser bem aceita. Algumas referiram momentos de estresse ao longo da gestação, perpetuados por reação negativa dos pais após a revelação: “No começo foi a dificuldade de aceitação; de contar pros pais, de ver a reação (...) não cheguei a ter o contato direto com o meu pai (...) Por medo...” (P1).

A categoria mudanças estéticas teve grande número de relatos, com 13 menções. As mulheres incluídas nessa categoria falaram de dificuldades em lidar com as mudanças estéticas advindas da gravidez, particularmente as alterações na estrutura corporal (alargamento do quadril, crescimento da barriga e dos seios, aumento de peso), na aparência (mudanças na pele, estrias, celulite) e a necessidade de adequação do vestuário. Questionaram se iriam “voltar ao normal” após a gestação e temiam implicações dessas mudanças na relação com o companheiro. Trechos das falas de P9 e P10 são ilustrativos:

Mas aí, de repente, eu comecei a ficar muito grande, peito ficar muito grande... tudo começou a crescer numa velocidade muito incrível (...) é tudo muito grande, sabe? (...) agora eu visto um vestido que eu vestia com cinco meses e já não dá

mais, porque a barriga já tá muito grande. Então você se sente muito desconfortável! (P9).

Começa a sair estria, por mais que a gente tente se cuidar, use óleo, não coça... Mas, não tem como porque a gente acaba ficando um pouco diferente, né? (...) A gente fica, às vezes, fica até um pouco insegura, né? Eu acho que isso é da mulher (...) depois eu penso: será que vai voltar ao normal, como eu era antes de ter o bebê? (...) já que muitas pessoas ficam com o corpo muito mudado, será que meu corpo vai ficar desse jeito? (P10).

A categoria sintomas físicos da gestação e mudanças no funcionamento do corpo teve 10 relatos ilustrativos e incluiu menções sobre desconforto com sensações físicas comuns na gravidez (desgaste/falta de energia, cansaço, sonolência, náusea, vômitos, inchaço etc.) ou de estranhamento do corpo, que passou a funcionar diferentemente. Dois trechos de falas exemplificam essa categoria: “Agora mais no finalzinho assim que eu tô mais cansada, mas... nada assim. E agora que eu não tô dormindo muito a noite, porque a neném mexe muito” (P13); “Seu organismo vira, de outro jeito. Não é... igual quando você tá... sem um ser humano dentro de você... tá só você sozinha. Então, seu organismo, ele fica bem diferente!” (P16).

Mudanças emocionais teve o maior número de relatos: 15 participantes contribuíram com essa categoria. Os relatos tratavam da dificuldade de lidar com as mudanças emocionais associadas ou decorrentes da gestação, sendo bastante comuns os depoimentos de instabilidade emocional, choro fácil, nervosismo, irritabilidade, maior sensibilidade, sentimentos de tristeza e solidão, conforme as falas de duas participantes: “Um dia ninguém me ama, outro dia todo mundo me ama (risos). Um dia eu choro outro dia eu estou nervosa. É isso. Tudo a flor da pele assim... Tudo muito... Tudo aumenta” (P13).

A gente fica muito mais sensível, né? Então, chora com facilidade, se irrita, fica nervosa, é tudo ao mesmo tempo. São muitas emoções de uma vez e, pra quem não tem o costume de estar passando por isso, é um tanto estranho (P8).

A categoria intercorrências na gestação teve três relatos ilustrativos. As participantes relataram que, devido a alguma intercorrência na gestação (descobrir ser portadora de DST, ameaça de parto prematuro, dores na barriga), ficaram apreensivas. Trecho da fala de P11 exemplifica a categoria: “Eu fiquei com medo quando ela falou que era um vírus, né... A gente ficou com medo de ser alguma doença grave, alguma coisa. (...) Só quando nascer pra saber se tá tudo bem mesmo, né?”

Identificou-se a categoria medo do parto, que teve a contribuição de três relatos. A categoria incluiu falas acerca de preocupações específicas sobre o parto ou sobre a assistência ao parto, que podem gerar ansiedade ao longo da gravidez. As preocupações relatadas giraram em

torno de complicações no parto (podendo trazer consequências negativas para si ou para o bebê), medo da própria morte (decorrente de complicação no parto), erros na assistência (troca de bebês, receber medicamento errado), medo de não saber o que fazer, vergonha.

É medo do nascimento também, lá no hospital... Não sei, ninguém sabe se dá alguma coisa errada também... Eu tenho medo disso. (...) Ter que esperar muito pra ter o parto, (...) a gente ouve cada história. A pessoa fala: “ah eu demorei muito tempo, não sei o que...”, aí vem outra que fala que deram a injeção errada, dependendo se o parto for cesáreo, né? Sempre falam alguma coisa e a gente fica assim... Com um pouquinho de medo (P14).

Assim, eu não sei como é que a gente se comporta, eu não sei o que é que vai acontecer (...) Passa um monte de coisa na minha cabeça. Eu não quero que seja cesárea (...). Eu queria tentar normal, mas eu penso muito, porque dizem que dói muito, que isso, que aquilo outro... E aí, assim, eu tô apavorada, tô desesperada! (...) E diz que tem um negócio que você fica lá e toda hora chega um estagiário e fica te enfiando o dedo (...) Porque, ai meu Deus do céu, eu sou muito envergonhada! Muito envergonhada! (P9).

Na categoria dificuldades financeiras, relatos de seis gestantes foram incluídos. Estas afirmaram ter preocupações com suas finanças devido à gravidez, vez que o pré-natal pode envolver gastos extras e a preparação para a vinda do bebê certamente acarreta despesas.

Aí você tem que fazer tudo particular! Aí aperta! Entendeu, aperta. Você não tá acostumada a pagar uma ecografia por mês. Fora as outras coisas, fora enxoval... tudo, né, que você tem que comprar. Aí apertou bastante. Foi difícil porque não tava esperando, né? Já tinha meu compromisso: eu pago meu carro, pago aluguel... Aí você tem outro compromisso fixo, porque, querendo ou não, é fixo. Todo mês precisa de alguma coisa, né? (P11).

Outra categoria de dificuldades foi nomeada mudanças de hábitos e lazer, que contou com 11 menções. Essa categoria tratou de restrições de atividades (trabalho, lazer, estudos), mudanças de hábitos e rotinas da gestante e/ou do casal devido à gravidez: “Só não posso me esforçar: andar muito, fazer esforço, abaixar, pegar peso (...) agora tá ruim né? Não pode sair pra lugar nenhum...” (P17);

Nós dois [marido e gestante] saíamos muito. E agora a gente não sai mais tanto. Eu não dou conta, cansa. É um cansaço muito maior... Música alta eu não aguento mais... Então acho que é meu corpo se preparando pra ser mãe, mesmo, né? Então, essas coisas que eu fazia, eu não sinto mais tanto prazer em fazer, como eu

sentia antes. Sair, assim, ficar o dia todo fora, bater perna... Eu prefiro ficar em casa (P6).

Insegurança/preocupação com tarefas da maternidade constituiu outra categoria, com nove menções. As gestantes relataram insegurança quanto aos cuidados com o bebê depois do nascimento, ou quanto à criação e educação futuras, sentindo seu papel como de grande responsabilidade. Dois relatos representam a categoria: “Eu fico assim com bastante medo. Medo de não saber cuidar direito, medo de machucar na hora do banho (...) fica um pouco insegura, né?” (P10); “É isso, psicologicamente muda bastante. (...) Essa responsabilidade... É meu filho, né? Então eu vou ter mais responsabilidade. Ter mais cuidados (...) Ah, assusta um pouco. É um pouquinho assustador.” (P15)

Por fim, a categoria mudança nos planos/projetos de vida teve a inclusão de relatos de duas gestantes, relativos a alterações nos planos ou projetos de vida das gestantes e dos casais.

A gente pensa mais nos planos. A gente vai ter que abrir mão de muita coisa pra poder cuidar desse filho, né, dessa criança. Então a gente já fica meio assustado (...) Pra gente, assim, é um pouco difícil porque a gente tinha outros planos, né? Eu na faculdade e ele com outros planos de emprego, né, emprego melhor... (P15).

Dentre as 18 entrevistadas, uma relatou não ter tido dificuldades até o momento da entrevista.

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