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Dificuldades no quadro educacional do sistema penitenciário brasileiro

CAPÍTULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.2. Dificuldades no quadro educacional do sistema penitenciário brasileiro

Perante a revisão da literatura, observamos que alguns autores evidenciavam a falta de dados e materiais coletados que focassem este assunto estudado. Entretanto, podemos justificar essa afirmação com base na baixa taxa de retorno com relação ao instrumento avaliativo enviado via correio aos gestores das unidades prisionais. Isso pode apresentar um descrédito de quem está na direção destas UPs com respeito à oferta da educação no sistema prisional (não obtivemos retorno dos seguintes estados: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas e Rondônia). Este aviltamento educacional talvez resplandeça na possibilidade de mascarar a realidade vivenciada, demonstrando uma isenção em transformá-la ou em apresentar os dados solicitados, para que assim pudéssemos nos deparar com um verdadeiro mosaico no âmbito da educação prisional no Brasil.

Um grave descontentamento nos arremeteu ao analisar que a maior parte dos gestores das UPs que participaram da pesquisa desconhece a existência do Projeto Educando para a Liberdade, mesmo considerando que as atividades de implementação do referido Projeto se direciona-se aos governantes. Consideramos que a gestão de cada UP deveria se apropriar dos objetivos do Projeto Educando para a Liberdade. Com isso, fica evidente a baixa atuação das atividades e das ações do referido projeto. Como propiciar uma mudança na realidade prisional se os principais atores responsáveis em recrutar atividades ímpares para as suas unidades, os gestores, desconhecem o projeto que está promovendo justamente estas ações? Isso justifica o alto índice do não desenvolvimento de práticas educativas no âmbito prisional. Associado a isso está o não envolvimento dos gestores em alguma fase ou atividade relacionada ao projeto.

A grande maioria afirma a existência de fatores que dificultam o fluxo normal das aulas nas UPs. Dentre os principais, foram elencados a falta de espaço físico para as aulas, o excesso de regras internas e em terceiro lugar a falta de material didático para as aulas. Conforme diagnosticado, persiste o problema da falta de local adequado para a realização das aulas, todavia a maior parcela entre os entrevistados indicou a não existência de ações planejadas para melhorar estes espaços. Consideramos que a resolução de tais problemas se torna inviável se não houver apoio técnico e governamental, pois se faz necessário uma manutenção estrutural nas unidades, e para isto necessita-se do emprego de verbas direcionadas para tal fim.

Verificamos que o quadro estatístico da quantidade dos presos nas UPs se diferencia de um estado para outro da federação. Entretanto, percebemos que, diante do conjunto estudado, o quadro geral apresenta um excedente de presos, causando uma superlotação em algumas unidades. Estabelecendo uma relação entre os alunos presos matriculados e frequentadores da escola, percebemos uma discrepância entre o número total, pois diante de uma oportunidade de trabalho logo eles abandonam o estudo.

Considerando a relação entre o total de presos de uma unidade e a quantidade que exerce um tipo de trabalho, averiguamos que esta proporção em meio aos que trabalham representa um dado muito pequeno. Mesmo ponderando a variação entre o valor máximo e o mínimo, concluímos ser desproporcional para o total de presos de cada unidade. Em se tratando da quantidade de presos assistidos por agentes prisionais, examinamos uma desproporcionalidade ao existir casos em que um agente deve vistoriar 143 reclusos. Com isso, buscamos mostrar que o Estado enquanto detentor de direitos e deveres deve dar condições de trabalho para que a ordem no local seja mantida. Para tanto, ratificamos a importância de novas contratações para suprir vagas ociosas no sistema prisional.

O ambiente prisional deveria proporcionar atividades profissionalizantes para as pessoas desprovidas de liberdade. Entretanto, não é de se surpreender ao verificar que em uma grande parcela estas ações não acontecem. Notificamos que, em sua ampla maioria, as UPs apresentam fatores que dificultam o funcionamento das práticas educativas devido à falta de recursos pedagógicos, à rigidez das regras internas de segurança e à carência de material pedagógico, em decorrência do descaso com que é tratado o ato de educar e/ou reeducar.

É importante considerar a existência de salas de estudos que pudessem ser utilizadas em um horário específico pelos alunos detentos, no sentido de aprimorar e aprofundar seus estudos. Contudo, observamos que na maior parte dos casos esta realidade não faz parte da vida escolar dos reclusos. De acordo com os dados apresentados, a maioria evidencia a não existência de tempo destinado para o estudo fora do horário escolar, limitando e minimizando o horário para tal fim. Faz-se necessário que haja uma reprogramação do tempo destinado para esta ação, objetivando que os alunos possam efetivar suas atividades com proficiência, pois nem sempre pode suceder no horário corrido da sala de aula.

Investigamos e consideramos mais um aspecto negativo que deve ser aperfeiçoado no sentido de favorecer e motivar o professor carcerário. Esse aspecto diz respeito ao

recebimento da taxa adicional por insalubridade referente à realização da sua prática educativa. De acordo com a maioria dos responsáveis escolares, esta ação não acontece.

Analisamos e avaliamos negativamente as características gerais das salas de aulas, pois de forma geral aspectos importantes como a acústica (sonoridade), a ventilação, a presença de água potável, o mobiliário da sala de aula em relação ao espaço físico, a manutenção do mobiliário e as instalações sanitárias próximas as salas de aulas prejudicam o andamento do processo educativo.

Torna-se recorrente diante da nossa avaliação considerar que os aspectos estruturais necessitam de uma reforma iminente de âmbito nacional, para que assim os objetivos pedagógicos traçados pelos docentes sejam alcançados e possam resplandecer na mudança de atitude entre aqueles que vivenciam a prática pedagógica.