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Dignidade da pessoa humana Efetividade pelo trabalho

3. TRABALHO COMO FATOR DE REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS

3.2. Ordem Constitucional Fundamental, Social e Econômica

3.2.1. Dignidade da pessoa humana Efetividade pelo trabalho

O princípio da dignidade da pessoa humana está positivado na Constituição Federal, em seu artigo 1º, III. (SARLET, 2007) assevera que existe uma “íntima e, por assim dizer, indissociável […] vinculação entre a dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais, já que constitui um dos postulados nos quais se assenta o direito constitucional contemporâneo.” (SARLET, 2007, pp. 25-26).

O propósito ontológico da efetividade do referido princípio está na busca da promoção do ser humano, primado na igualdade e justiça social, assegurando que as oportunidades

econômicas e sociais, de um modo geral, sejam iguais a todos, em relação ao acesso dos recursos básicos disponibilizados. A dignidade humana então seria “compreendida como qualidade integrante e irrenunciável da própria condição humana, pode (e deve) ser reconhecida, respeitada, promovida e protegida.” (SARLET, 2007, p. 43).

A problemática existente quanto a esse princípio tangencia-se no que concerne sua aplicabilidade e concretização, ou seja, até que ponto, e em que circunstancias, e quais os limites na utilização da hermenêutica ao princípio da dignidade da pessoa humana. Acaso estivéssemos nos referindo aos Direitos Humanos, sua concreção seria ainda mais dificultosa, consoante esclarece Marcelo Benacchio, anunciando:

Nesse início de século, o pensamento dos direitos humanos voltou-se à questão do multiculturalismo, universalização, inflação dos direitos humanos e, principalmente, como efetivá-los e garanti-los a todos os seres humanos independentemente do local onde nasçam e ou vivam. Apesar do respeito às diferenças culturais das nações, a Declaração de 1948 aderiu expressamente aos princípios da universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos, enfim, trilhamos, hoje, o difícil caminho da efetividade dos direitos humanos em favor do gênero humano. (BENACCHIO, 201?, p. ?).

Portanto, na aplicação dos Direitos Fundamentais, por estar compreendido e circunscrito ao espaço normativo formal e materialmente ditado pela Constituição, enfim, por estar presente e positivado internamente como ordem jurídica no Estado-nação, deverá ser mais facilmente efetivado.

Nesse contexto, fixado na consciência jurídica, expressamente, cuja recepção no texto constitucional lhe fora deferido caráter principiológico55, integra-se à ordem jurídica positiva e constitui relevante fundamento para a interpretação, integração, conhecimento e aplicação nas situações fáticas do direito positivo (CANOTILHO, 2003, p. 1.165).

O Direito exerce papel fundamental e crucial na promoção e proteção da dignidade da humana, e essa, na opinião da maioria da doutrina “independe das circunstâncias concretas, já que inerente a toda e qualquer pessoa humana, visto que, em princípio, todos […] são iguais em dignidade, no sentido de serem reconhecidos como pessoas”. (SARLET, 2007, p. 45).

55 Embora se admita que não existem princípios absolutos, posto que nenhum princípio terá precedência

em relação aos outros, além da incompatibilidade com os direitos individuais, haja vista que não poderiam ser garantidos a mais de um sujeito de direito (ALEXY, 2011, p. 111), a dignidade humana, trata da essência do ser, e assim, deve ser sempre considerada prioritariamente. Na Constituição Alemã (art. 1º, § 1º), a dignidade humana é inviolável, porém não se trata de um princípio absoluto. Não é princípio absoluto, mas regra que não necessita de limitação em face de possível relação de preferência, que prevalecerá, sobre outros princípios, preferindo em favor da dignidade humana (ALEXY, 2011, pp. 113-114).

Assim, a dignidade, até mesmo daquelas pessoas que cometem ações indignas, infames, como o maior dos criminosos, a dignidade não poderá ser objeto de desconsideração. Isto porque independe de ações concretas, posto que inerente a toda e qualquer pessoa humana. Isto não quer dizer que se deva desconsiderar as tradições histórico-culturais dos povos. (SARLET, 2007, pp. 40-45).

Embora já assentado que qualquer preceito da Constituição possua algum grau de eficácia e aplicabilidade jurídica, a dignidade da pessoa humana, além de constar como princípio fundamental no Texto (artigo 1º, III), incita uma declaração de axioma ético e moral, além de possuir normatividade jurídico-positiva e conteúdo constitucional formal e material, carregado de eficácia, alcançando a condição de valor jurídico fundamental da comunidade (SARLET, 2007, p. 72).

A positivação sob a égide Constitucional principiológica56 e a dimensão adquirida de

direitos fundamentais coloca a dignidade humana acima das demais fontes do direito, isso porque, com essa positivação, os direitos do homem deixam de ser apenas esperanças, aspirações, ideias ou impulsos políticos, e passam a ser direitos protegidos sob forma de normas de direito constitucional. A positivação de direitos fundamentais significa “a incorporação na ordem jurídica positiva dos direitos considerados 'naturais' e 'inalienáveis' do indivíduo” (CANOTILHO, 2003, p. 377), possuindo carga e efetividade assente.

Já (ALEXY, 2011) afirma que os direitos fundamentais (a dignidade humana, por exemplo) direcionam ou podem ser e dar razão às decisões concretas, de importância substancial e fundamental para a ordem jurídica, avançando do mais geral, na direção do sempre mais especial (ALEXY, 2011, pp. 107-109).

(PIOVESAN, 2013) admite a dignidade da pessoa humana como obrigação irrestrita e incontornável, de acolhimento pelo Estado e todos os entes políticos, asseverando que qualquer contrariedade ao referido princípio será juridicamente nula. Na Constituição, nenhum princípio é mais valioso para compendiar a unidade material57 da Constituição Federal que o da dignidade humana. Diferencia e a individualiza (a Constituição) no ordenamento jurídico,

56 No plano da dimensão principiológica tem-se que genericamente os princípios consistem em uma

categoria inerente a todos os ramos do saber; o direito como ciência trabalha com princípios que possuem papel fundamental em especial na hermenêutica jurídica.

57 Sobre o aspecto material e espiritual da Constituição e sua unidade, Paulo Bonavides, no prefácio do

livro de Ingo Wolfgang Sarlet, assim esclarece: Quando hoje, a par dos progressos hermenêuticos do direito e de sua ciência argumentativa, estamos a falar, em sede de positividade, acerca da unidade da Constituição, o princípio que urge referir na ordem espiritual e material dos valores é o princípio da dignidade da pessoa humana (SARLET, 2007, p. 16).

estabelecendo seus fundamentos no ser humano como ente final, e não como meio, lembrando Imannuel Kant58, simbolizando a dignidade como um princípio constitucional, orientando o constitucionalismo contemporâneo e dotando-lhe de especial racionalidade, unidade e sentido (PIOVESAN, 2013, b, pp. 499-501).

Marcelo Benacchio relata a dificuldade em se conceituar a dignidade humana e a considera como categoria axiológica aberta, “em razão da pluralidade e diversidade de valores existentes nas sociedades democráticas contemporâneas, estando em constante processo de construção e desenvolvimento [...]” (BENACCHIO, 2012, p. 105).

O princípio da dignidade humana, por estar positivado na Constituição Federal de 1988, possui efeito vinculante, perante todos na sociedade em geral (Estado e particulares). E nesse contexto, na visão contemporânea da relação entre trabalho e ser humano, a valorização da dignidade da pessoa humana é princípio fundamental.