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Inicialmente os estudos acerca de gestão coletiva de bens comuns ocorreram a partir do dilema da ação coletiva, o que pode ser observado por meio de análises dos trabalhos de Gordon (1954), Olson (1965) e Hardin (1968), que enfatizavam as premissas comportamentais aliadas à ação coletiva. Gomes e Bueno (2008) veem o dilema da ação coletiva em situações onde os atores envolvidos em uma comunidade específica, ainda que sejam detentores de recursos, físicos ou monetários, não são capazes de coordenar tarefas grupais, mesmo que estas tarefas não possam ser realizadas de maneira isolada.

Gordon (1964) analisou, sob a ótica de um modelo econômico de regulação e organização, um sistema pesqueiro marinho como um bem que pertence a todos, onde foi possível delinear que a receita obtida na pescaria tinha relação com o volume de peixes e o esforço de cada pescador. O sistema estabelece um rendimento sustentável máximo aos pescadores, considerando a relação proporcional da receita e dos custos obtidos com a produção e o esforço empregado na pesca.

Gordon (1954) considerava que em ocasiões onde a pesca ocorre livremente, sem regras, essa condição levaria à exaustão dos recursos da área uma vez que a falta de peixes por um período provocaria a migração para outra área. A partir de então Gordon (1954) sugeriu que o acesso aos recursos comuns, como a pesca, fosse administrado por um único proprietário, fosse este um particular ou o Estado. Gordon (1954) associava os dilemas comportamentais à ação coletiva, já que o equilíbrio na pesca, na propriedade comum, dependia das ações dos pescadores, as quais afetavam a produtividade. Assim, se houvesse consenso na quantidade permitida para pesca, haveria quantidade de peixes suficiente para garantir renda a todos os pescadores por longos períodos.

Posteriormente Olson (1965) focava em explicações do comportamento individual dos membros em relação ao grupo, indicando que a ação coletiva só é efetivada quando o potencial benefício para um agente supera os custos de participação. Nessa direção, os grupos pequenos tendem a ser mais eficiente para obter os benefícios da ação coletiva (OLSON, 1965).

Nesse sentido entendia o autor que uma vez que os interesses fossem comuns ao grupo e aos indivíduos, os benefícios que o indivíduo consegue por meio da ação grupal são maiores

do que os obtidos de forma isolada (OLSON, 1965). Isso não limita a existência de outros interesses individuais, fato que fica evidenciado quando os indivíduos são convidados a pagar pelos benefícios que obtiveram de forma coletiva. Olson (1965) destaca o conceito de free-

rider carona” que é entendido como o indivíduo que recebe o benefício, mas não paga pelo

mesmo, não tendo que arcar com sanções ou penalidades.

Ao afirmar que o homem é cativo de um sistema que o sujeita a aumentar cada vez mais o seu rebanho em um mundo limitado, Hardin (1968) observa que o indivíduo é estimulado a competição dentro do grupo. O autor reconhece que essa competição iria acelerar o uso dos recursos naturais, o que geraria um caos, uma vez que os recursos naturais são finitos. Assim, o aumento da competição concretizaria a tragédia aliada à degradação dos recursos comuns, através de um sistema, que por evolução, seleciona os que mais produzem (HARDIN, 1968).

Hardin (1968) formula a expressão “tragédia dos bens comuns”, indicativa de que onde os recursos escassos de uso comum tendem a degradação e os indivíduos não seriam capacitados para se organizarem e solucionar o problema, que em sua obra se trata da superlotação de animais em pastagens (HARDIN, 1968). Assim, o problema não seria resolvido pelos indivíduos, pois exaltaria uma individualidade onde as ações tenderiam para os próprios interesses pessoais e não para os interesses coletivos de longo prazo. Hardin (1968) propõe que os indivíduos tenham sua liberdade reduzida a fim de solucionar o problema insistindo, como meio para evitar a tragédia, na propriedade privada dos bens comuns e leis coercitivas ou mecanismos de taxação.

Para o autor o uso de recursos escassos importa em destruição desse recurso. O exemplo do autor é um pasto de uso comum onde cada pastor, com a finalidade de aumentar o seu lucro individual, deposita uma quantidade cada vez maior de animais sem observar a capacidade do pasto. Essa ação, cujo suporte está em considerar somente os ganhos individuais não levando em consideração nem a quantidade de animais e nem a necessidade de outros pastores. (FARIAS, 2018). Esta é a tragédia segundo Hardin, onde “cada homem está preso em um sistema que o compele a aumentar seu rebanho sem limites, em um mundo que é limitado” (Hardin 1968, p. 1244). Ainda segundo Hardin (1968, p. 1244), “a ruína é o destino para o qual todos os homens correm, cada um perseguindo seu próprio interesse em uma sociedade que acredita na liberdade dos bens comuns, liberdade em um terreno baldio (comum) que traz ruína para todos”.

Para Hardin (1968) somando as utilidades parciais dos componentes, o pastor racional chegaria à conclusão de que o único caminho sensato a ser seguido é adicionar outro animal

ao seu rebanho e continuar adicionando outros. No entanto, essa conclusão seria a mesma de todos os pastores. Devido a isso é que ocorreria a tragédia. Os indivíduos são impelidos a aumentar seu rebanho em um sistema natural que é limitado. Nas palavras do autor “cada homem está fechado em um sistema que o compele a aumentar cada vez mais suas posses sem limites” (HARDIN, 1968, p. 51).

Para Hardin (1968) tendo a liberdade para usufruir dos bens comuns, a ruína é o destino para o qual todos os homens correm por perseguirem seus interesses individuais. De forma categórica: a liberdade no uso dos commons traz ruína para todos, uma vez que cada um defendendo seus interesses é impossível a ação coletiva, o que levaria à “uma consequente inevitabilidade da destruição ambiental nos casos de exploração em pastagens abertas submetidas ao uso desregrado” (PEREIRA, 2013, p. 51).

Em geral, percebe-se que há um entendimento de que os indivíduos não são capazes, por si só de se organizarem e irem além do dilema da ação coletiva. Posteriormente, Vincent Ostrom e Elinor Ostrom desenvolveriam na Universidade da Califórnia – Los Angeles, outros estudos sobre a gestão da água, acreditando na “[...] possibilidade de superação do dilema da ação coletiva, sobretudo por meio da auto-organização” (CAPELARI; CALMON; ARAÚJO, 2017, p. 208).